domingo, outubro 24, 2004

Falta de "coidado"





Sempre achei que pior do que falar mal é poder falar bem e não reparar, ou não sentir, que se está a falar mal.

À ideia recorrente de que se fala mal em Portugal escapa uma vertente de análise pela qual nos poderíamos aperceber de que muita gente com responsabilidades , sobretudo gente da rádio, televisão e imprensa, fala mal porque “não repara”. A isto eu chamaria uma gritante ausência de rigor e laxismo que tem mais a ver com as nossas características (seja lá o que for que entendamos pelas nossas características) do que termos sido mal ensinados. Alguém acredita, por exemplo, que Jorge Coelho do PS não saiba que não se diz “hadem”? Ou “póssamos”? Que F. Thomaz não saiba que “iriam-se” é incorrecto? Ou que Helena Vieira da TSF seja recorrente em dizer “ilecóptero”? Alguém duvida que se esta senhora fizer um ditado escreveria helicóptero e não “ilecóptero”? Estes são pequenos exemplos de centenas em que eu não acredito que as pessoas não saibam, mas simplesmente não têm rigor no que fazem. Ausência de rigor que é igualmente aplicável a quem tem responsabilidades de chefia. Eu nunca permitiria, se fosse chefe de redacção, director de programas de televisão ou de rádio que um repórter ou apresentador fosse recorrente nos erros que dá. Pelo que acho que as chefias têm o mesmo grau de responsabilidade que os prevaricadores, Talvez mais.

Outro aspecto frequente e profundamente irritante é a forma rebuscada, elaborada e fastidiosa como se fala. Os políticos, autarcas, comentadores, repórteres em directo, chefes de brigada de trânsito, chefes de bombeiros, representantes de sindicatos, representantes de comissões de pais, de professores (de professores, meu deus...) e outras figuras de exposição mediática falam de tal maneira, “querem” falar de tal maneira que frequentemente perdem o fio da conversa, perdem-se no contexto, trocam o género dos adjectivos e acabam perdidos sem saber como acabar o que começaram. Isto sim, é falar mal e não tenho uma opinião formada das razões para que isso aconteça. Poderão, eventualmente variar com as pessoas e com a sua formação. Mas uma coisa é certa. Se a educação privilegiasse a dicção como uma prioridade na comunicação, este aspecto poderia ser substancialmente reduzido.

Ocorreu-me estas considerações a propósito do “Campeonato Nacional da Língua Portuguesa e deste post no Baleia que também se preocupa com estas coisas. E, ainda, porque ainda são 11 da manhã de um Domingo chuvoso e, por duas vezes, já ouvi na tv a expressão “tem a haver” e uma vez um “sob” que devia ser “sobre”. Bom Domingo para todos e hadem ver que a gente havemos de melhorar com o tempo...

2 Comments:

At 4:18 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

'Expresso' de 30 de Outubro de 2004, página 22 do 1.º caderno:

«Nota: A Comissão Técnico-Científica do Campeonato de Língua Portuguesa [mas que falta de rigor! É 'Campeonato NACIONAL dA Língua Portuguesa'. Enfim ...]lamenta o facto de o teste publicado na Única de [sic] dia 23 ter - na zona das instruções - um erro na palavra inclusive (com acento no e). A Comissão quer ainda esclarecer a dúvida já manifestada por vários participantes, relativa aos dois pequenos textos que antecedem a pergunta 1 e a pergunta 11, que mencionam a palavra «ditado» em vez de texto ou composição que seriam as expressões mais adequadas.»

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Já agora, lida a parte final do n.º 1 do Art.º 8.º do 'Regulamento' [ver http://194.65.57.196/misc/index.php?article=15&visual=2], pergunta-se:
- Em que categoria entram os concorrentes nascidos em 31 de Dezembro de 1986?

Tratando-se de um campeonato conduzido por um batalhão das mais luminosas inteligências deste país, que qualidade pode uma pessoa esperar noutros campeonatos?...

D.

 
At 3:57 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Para quem ainda não conheça, aqui está o dito cujo::

http://www.1000i-deias.com/ficheiros/old_devil/teste.pdf

D.

 

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