Batota à portuguesa
A batota não é um exclusivo nacional. Arriscar-me-ia a dizer que há batota em todo o mundo e desde que o mundo existe. Porém, a batota portuguesa tem um não sei quê que a torna mais repulsiva que outras batotas que conheci. Talvez porque os batoteiros nacionais afivelam a máscara angélica da virtude com um esgar ou outro pelo meio a querer dizer “aqui quem manda sou eu”.
Convenhamos que o nosso país é um campo fértil para este desiderato. Fazer batota e achar que os outros é que a fazem. Sobretudo, convencê-los disso. E é isto que me irrita. Habituei-me a ver a batota “limpa” do jogador de poker que esconde o ás na manga e leva um “farwéstico” tiro entre os olhos se é descoberto e que lava a honra de toda a gente. Não me ocorre a imagem de batoteiros que a façam e que, com olhos merinos e trejeitos de esperto, nos acusem de sermos nós que a fazemos. Por qualquer razão que me escapa, ser batoteiro português não é o mesmo que ser batoteiro noutras latitudes. E não me venham os espíritos iluminados dizer que isto é “vontade de dizer mal” do produto nacional. Tenho sempre dificuldade em maquilhar as verdades em nome de um pretenso espírito de defesa das virtudes que não temos. A coisa é factual e, em face disso, não há que escamotear nem “make up the truth”.
Está-nos nas tripas e não há nada a fazer. Um batoteiro que se preze fá-la, a batota, na legítima esperança de que a consiga fazer e recolha os benefícios dela decorrentes e, de preferência, que ninguém dê por isso. Mas nós, não. Fazemos batota e não resistimos a transmitir ao próximo a ideia de que é estúpido porque se deixou levar na batota.
Não há como fugir de dizer que isto tem a ver com o que se passou no Domingo passado. O futebol não é uma escola de virtudes, todos nós o sabemos. E o espectáculo pré e pós jogo foi degradante. Falou-se de fuga ao fisco, esposas legítimas e namoradas em pecado, apitos azuis, houve um claro apelo à violência e os representantes do Benfica (pobre Benfica...) mostraram à saciedade o que é ser-se boçal e cheio de defeitos de linha de montagem. Sobretudo quando se metem à liça com um espírito arguto, matreiro, inteligente e com outra “fibra” como o de Pinto da Costa. Mas o facto fulcral permanece. Independentemente de todas aquelas manifestações de boçalidade e total ausência de civismo a que assistimos foi claro que houve batota e da grossa. Por mais que venham agora associações disto e daquilo, ministros e exposições à Uefa e à Fifa. Houve um golo claro não validado e um jogador do Benfica agarrado e impedido de chutar sem que o F.C. Porto fosse penalizado. E agora, quanto maior for o barulho e a referência às relações ilegítimas de Pinto da Costa mais depressa se esquecem da batota.
Uma nota final. Sou lagarto, nem sei porquê, mas sou...
1 Comments:
há dias também me fizeram essa pergunta "porque era eu lagarta?". Primeiro tive uma vontade desértica de responder pelo lado reptil sobrevivente, mas fiquei-me pelo "gente fina é outra coisa...!"
Agora a batotice tem nome: chico esperto! Ando a tentar tipificar as coisas dada a tremenda confusão reinante aqui e aí.
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