A arte de bem apalpar um melão
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E quando eu pensava que a expansão dos telemóveis e a democratização dos preços dos fatos de treino da Adidas tinham contribuído para a extinção da espécie, eis que verifiquei ontem que a sua continuidade está bem e recomenda-se.
Refiro-me ao português comprador de melões – exemplar único no planeta, estou certo. Porque comprar um melão exige uma ciência assente no conhecimento e na sensibilidade que só os portugueses têm, na ponta dos dedos. Sobretudo se usam bigode, condição que muito provavelmente lhes aguçará o olfacto, não sei, mas a verdade é que é corrente que um comprador-apalpador de melões desempenhará o seu mister com muito mais eficiência e segurança se usar um bigode de pelo grosso, bem preto e a tapar completamente o lábio superior.
Este exemplar lusitano, resistindo à normalização da fruta nas grandes superfícies, consegue distinguir um bom de um mau melão. Para isso exercita um ritual muito próprio, eu diria que único, que consiste em sopesar o melão com uma mão enquanto que com o polegar da outra vai exercendo pressão num dos pólos do melão e, com este gesto cheio de técnica e muito revelador dos seus conhecimentos, ele inicia o exame. Após premir o melão pelo menos umas dez vezes, ele gira o fruto e faz o mesmo no outro pólo, nunca se sabe, um melão pode ser bom de um lado e pepino do outro e era o que faltava estes malandros (sim, porque são todos uns malandros, que só não nos levam o dinheirinho se não puderem – esta característica herdámos e mantemos carinhosamente da nossa cultura judaico cristã que em se tratando do nosso dinheirinho temos de ter muito cuidado que ele custa muito a ganhar e há que desconfiar de toda a gente) venderem-lhe um melão que não prestasse, o que é que havia de dizer a mulher que se houve coisa que a cativou em solteira era a sua reconhecida competência em apalpar e escolher melões em Almeirim?
Portanto, o "comprador-apalpador de melões" continua o seu exame, com ar circunspecto, sobrancelhas franzidas e olhar penetrante, agora rodando o melão sobre si próprio uma, duas, três, quatro vezes, sopesa-o de novo e entra na fase oral. Entenda-se por fase oral aquela em que ele começa a falar para a mulher. Desbobinando as características de um bom melão mas, sobretudo, não divulgando o “segredo” da arte de se avaliar o dito. Falando. Falando muito por muitos minutos enquanto prolonga a “operação apalpar o melão”. Quando finalmente se decide, a mulher tem ainda de o ouvir desde a frutaria até à caixa a perorar sobre as características do melão, situação que se prolonga até ao “parking” e, em alguns casos até casa, altura em que se inicia a cerimónia da abertura do melão. Porque isto de abrir um melão tem também, a sua arte e, sobretudo, ciência, não é para qualquer um. Mas isso dava outra crónica e esta já vai longa.
Esta “acção apalpar melões” é exclusivamente reservada aos homens. Senão, experimentem perguntar a um deles se a mulher sabe apalpar melões e verão a resposta que levam. Mas não se riam as donas porque ninguém como a mulher portuguesa sabe examinar um carapau na praça. Pegar-lhe no rabo. Examiná-lo atentamente, verificar as cores das guelras, consistência do rabo e carregar-lhe num olho, até se decidir a comprá-lo. Não sem perguntar primeiro ao vendedor do lugar: - Ó senhor Fonseca o pexinho é fresco?
E quando eu pensava que a expansão dos telemóveis e a democratização dos preços dos fatos de treino da Adidas tinham contribuído para a extinção da espécie, eis que verifiquei ontem que a sua continuidade está bem e recomenda-se.
Refiro-me ao português comprador de melões – exemplar único no planeta, estou certo. Porque comprar um melão exige uma ciência assente no conhecimento e na sensibilidade que só os portugueses têm, na ponta dos dedos. Sobretudo se usam bigode, condição que muito provavelmente lhes aguçará o olfacto, não sei, mas a verdade é que é corrente que um comprador-apalpador de melões desempenhará o seu mister com muito mais eficiência e segurança se usar um bigode de pelo grosso, bem preto e a tapar completamente o lábio superior.
Este exemplar lusitano, resistindo à normalização da fruta nas grandes superfícies, consegue distinguir um bom de um mau melão. Para isso exercita um ritual muito próprio, eu diria que único, que consiste em sopesar o melão com uma mão enquanto que com o polegar da outra vai exercendo pressão num dos pólos do melão e, com este gesto cheio de técnica e muito revelador dos seus conhecimentos, ele inicia o exame. Após premir o melão pelo menos umas dez vezes, ele gira o fruto e faz o mesmo no outro pólo, nunca se sabe, um melão pode ser bom de um lado e pepino do outro e era o que faltava estes malandros (sim, porque são todos uns malandros, que só não nos levam o dinheirinho se não puderem – esta característica herdámos e mantemos carinhosamente da nossa cultura judaico cristã que em se tratando do nosso dinheirinho temos de ter muito cuidado que ele custa muito a ganhar e há que desconfiar de toda a gente) venderem-lhe um melão que não prestasse, o que é que havia de dizer a mulher que se houve coisa que a cativou em solteira era a sua reconhecida competência em apalpar e escolher melões em Almeirim?
Portanto, o "comprador-apalpador de melões" continua o seu exame, com ar circunspecto, sobrancelhas franzidas e olhar penetrante, agora rodando o melão sobre si próprio uma, duas, três, quatro vezes, sopesa-o de novo e entra na fase oral. Entenda-se por fase oral aquela em que ele começa a falar para a mulher. Desbobinando as características de um bom melão mas, sobretudo, não divulgando o “segredo” da arte de se avaliar o dito. Falando. Falando muito por muitos minutos enquanto prolonga a “operação apalpar o melão”. Quando finalmente se decide, a mulher tem ainda de o ouvir desde a frutaria até à caixa a perorar sobre as características do melão, situação que se prolonga até ao “parking” e, em alguns casos até casa, altura em que se inicia a cerimónia da abertura do melão. Porque isto de abrir um melão tem também, a sua arte e, sobretudo, ciência, não é para qualquer um. Mas isso dava outra crónica e esta já vai longa.
Esta “acção apalpar melões” é exclusivamente reservada aos homens. Senão, experimentem perguntar a um deles se a mulher sabe apalpar melões e verão a resposta que levam. Mas não se riam as donas porque ninguém como a mulher portuguesa sabe examinar um carapau na praça. Pegar-lhe no rabo. Examiná-lo atentamente, verificar as cores das guelras, consistência do rabo e carregar-lhe num olho, até se decidir a comprá-lo. Não sem perguntar primeiro ao vendedor do lugar: - Ó senhor Fonseca o pexinho é fresco?
(Ainda não perdi a esperança de, um dia, ver um senhor Fonseca qualquer responder: - "Não minha senhora. Não leve que o pêxe é uma merda". Um dia calhará…)
13 Comments:
No Brasil dizem que os portugueses usam bigode para ficarem parecidos com as mães; afinal, descubro agora, é para serem apalpadores de melão encartados! Contigo é sempre a aprender, apesar de não esclareceres aquilo das moldavas. Beijinhos, bom fim de semana.
Comecei a ler isto com uma ideia totalmente diferente. Afinal é um historinha inocente :D
IL
Grande crónica!! 5 stars again! :))
... tenho uma confissão ... eu não apalpo melões (na verdade, nem compro melões) nem meloas, ... mas ... cheiro os pólos às meloas, no supermercado ... aposto que os belgas ficam zonzos a olhar para mim!
Beijinhos, sem pevides,
Sinapse
p.s. - ... juro, juro, juro que não tenho bigode!! ;D ;D ;D
Adorei o post.
nb: tb não tenho bigode...
bjs
Ó sinhor enjinhairo o melão não é um fruto, é uma infrutescência. Atão? :D
Muito bem apanhado, sim senhor.
Mas olha que ontem, quando em resposta a um comentário mencionaste esta arte de apalpar o melão, quase que adivinhei que irias fazer um post sobre o assunto... :)
Também gostei muito da parte do carapau! :D
Beijola.
125_azul
A questão das moldavas eu explico-te quando organizares um jantar de bloggers que vai sendo tempo...
:)))
Beijinho
IL
És uma dirty minded, mas eu gosto de ti assim, no sweat :)))
Sinapse
Andas muito,... congratulatory :)))
Quanto aos belgas zonzos, já me tinha soado, mas não disse nada que eu não sou de cusquices, a minha política é o trabalho e dou-me bem com toda a gente :)))))Beijinho zonzos
lxexpo
Obrigado pela tua simpatia. Um beijinho
Nem um bucinho assim pequenino???
:)
anónimo das 3:06
Não respondo a provocações frutícolas
:))
Carlota
Não sei se vais acreditar mas quando escrevi o post e respondi ao tal comentário pensei que tu pensarias que...
Andamos a pensar muito. Faz mal e sinapses é com a Sinapse mesmo. Nós é mais bolos
:)))
Beijolas
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