sexta-feira, dezembro 31, 2004

O Sol Nasce Todos os Dias



Acabei de retirar um post brejeiro a glosar a ajuda da cozinheira do nosso embaixador na Tailândia. Cinco minutos depois de o ter publicado. É que a tragédia realmente foi tão grande que não dá sequer para brincar com as nossas tradicionais insuficiências de rigor e a nossa proverbial pouca vergonha.. E prefiro manter-me no recolhimento em memória dos infelizes que pereceram nesta tremenda catástrofe. Sobretudo não ceder à tentação de análises capciosas sobre as “nossas” culpas, entenda-se dos ocidentais que, do conforto dos seus sofás e da tecnologia avançada dos teclados dos seus computadores, se lançam agora em considerações filosóficas sobre o assunto e sobre a contumácia das nossas responsabilidades.

E que amanhã o sol nasça de novo, para todos, como na foto acima e que com ele venha a esperança de tempos melhores.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Feliz Ano Novo



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Como já sou grande para pôr o sapatinho na chaminé, costumo transferir os desejos de Natal para alguns votos de melhoria ambiental dos meus pontos de vista pessoal. Assim, aqui listo as coisas que eu gostaria que acontecessem, ou não acontecessem, em 2005. Sem cronologia, prioridades nem ordenamento alfabético, assim "à medida que me for lembrando".

1) Que os meus amigos continuem a merecer-me e eu a merecê-los, na expressão duma amizade sincera e leal, bem como lhes não falte a saúde e melhorem os que dela vão precisando;

2) Que nada nem ninguém ensombre um desenvolvimento normal da vida dos que amo;

3) Que o PS ganhe depressa as eleições, que tenha uma maioria absoluta muito absoluta que lhes permita fazer as asneiras mais depressa, para termos eleições outra vez, preferencialmente após um período de reapetrechamento e reorganização por parte de quem possa conseguir pôr ordem na tal choldra e consiga criar nas pessoas uma consciencialização política mais eficaz e desapaixonada e o sentido cívico que nos falta. E já que estou com a mão na massa…

4) Que a Leonor Coutinho arranje um namorado sem carta;

5) Que alguém explique a João Cravinho esta coisa das SCUT e lhe diga que a política e o interesse dos cidadãos não se compadecem com ressabiamentos nem problemas mal resolvidos de pequenino;

6) Que a Maria de Belém não faça beicinho e lhe arrangem outra vez um Ministério qualquer de Igualdade;

7) Que Sócrates case e tenha um filho… ou dois, que eles se dêem bem com os irmãos e passemos a ter um primeiro ministro com família e isso…

8) Que o Jorge Coelho não vá cantar o Only You outra vez e aprenda a conjugar o verbo Haver;

9) Que não caiam pontes nem viadutos e que desembaralhem de vez aquela alhada que o PS arranjou lá com o metro do Terreiro do Paço;

10) Que os blogues continuem bem de saúde, que eu continue a deliciar-me com alguns deles e consiga gerir (ou aumentar) o meu capital de paciência para outros (eu sei que ninguém me obriga a lê-los, mas eu tenho esta mania idiota de ler o que gosto e o que não gosto, que me lembre só consegui descontinuar a leitura dos artigos de Mário Soares);

11) Que os escritores interventivos e lutadores de causas não sejam extremados quando morrem, cantados à exaustão e considerados irrepetíveis, sobretudo se forem americanos, só porque disseram mal de Bush, acharam que o Iraque e o Afeganistão são atentados às liberdades e são dados à cultura europeia, leram Joyce e Becket e acharam que a sociedade americana é esquizóide e inculta, independentemente da sua qualidade literária;

12) Que o desemprego decresça em Portugal, por acção de políticas económicas e sustentáveis e não através de políticas proteccionistas, demagógigas e fatalmente condenadas a agravar a situação;

13) Que os jornalistas melhorem de nível. Da substãncia da intervenção à expressão oral e escrita;

14) Que, de uma vez por todas, eu deixe de ouvir na rádio ilecóptero, juniores com acentuação fonética no U, consígamos, desde logo, é assim, póssamos e correlativos;

15) Que uma fada qualquer corra com a varinha de condão os caciques profundos, parolos, insuportavelmente incultos e objectivamente responsáveis por muito do atraso que ainda hoje se verifica em Portugal;

16) Que acabem de vez com a treta do túnel do Marquês. Acabem-no ou fechem aquilo;

17) Que Lisboa se dispa de tapumes, gruas, andaimes, montes de areia, carros amontoados, betoneiras e contentores imensos cheios de imenso lixo…já agora, o país inteiro, transformado no maior estaleiro de que tenho memória e sem paralelo em nenhum dos países que conheço;

18) Que o meu país consiga dar um salto de vinte anos na forma e no conteúdo de fazer oposição, sem os tiques terceiro mundistas de uma esquerda obnóxia, obscena e ultrapassada, já sem paralelo na Europa…

19) Que não se arranje tricas com Scolari e o deixem ganharmos o Mundial de 2006… nem que tenhamos de pôr as bandeiras à varanda outra vez;

20) Que os processos do Apito Dourado e da Casa Pia sigam o seu rumo e a gajada seja condenada e que os inocentes saiam em liberdade;

21) Que os restaurantes da Estrela e da Lapa melhorem o sistema de exaustão e não continuem a fazer do Óleo Fula um desodorizante – entranhado na roupa até a mesma ir para a máquina.

22) Que o meu país continue a ter as mulheres mais bonitas do mundo, vestidas com gosto e com aquele não sei quê que só as portuguesas têm… (algumas não têm, mas eu hoje estou assim!)

23) Falando de mulheres… que aquelas com que me cruzo diariamente ao volante não sintam aquela vontade intestina de me provarem que guiam pelo menos tão bem como eu. Eu nem sou machista, até acho que elas guiam bem e não precisam de mo demonstrar;

24) Que o pessoal das comerciais com rede ao meio não faça do seu período de trabalho e do carro que conduzem um objecto diário de masturbação, ziguezagueando por Lisboa e olhando para mim com cara de tira-me essa merda da frente, ó marreco;

25) Que, finalmente, toda a gente de quem gosto e não gosto se reveja em 2005 em mais uma etapa de luta, mas também de reconhecimento pelo seu trabalho e pelo seu esforço.

Dada a acentuada crise criativa que se vai verificando aqui no Espumadamente, nada mais me ocorre a não ser este genuino voto para 2005. Podia fazer votos para a Saúde, Educação, Justiça e o menu do costume. Mas não creio que 2005 traga novidades neste domínio por razões complexas que têm mais a ver com pessoas do que com estratégias ou reformas. Talvez com o tempo…2005 será um ano em que não votarei…não consigo votar em Santa Lopes e rejeito liminarmente votar no PS. O que é que eu faço?

Uma chamada final para os blogues que me habitualmente me lêem. Que me lincaram ou não, mas que me lêem regularmente, o que é gratificante. Um Bom Ano para todos vocês e que mantenham a qualidade e o humor a que me habituaram. Tudo de bom.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Por de trás de um homem...



Luisa Godinho, no último “Notícias Magazine”, abalança-se a considerandos sobre o tal tema “por de trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”.

Não podia discordar mais. A ideia é sexista, sectarista, egoísta (ela é mulher...), maternalista, papista (o Papa é homem, mas serve para a ilustração), egocentrista e está para o conceito como o canário está para a alpista. Além de distorcida. No meu caso particular sempre me deu mais jeito ter uma mulher “por de frente” do que “por de trás”, mas sou um homem cordato, há gostos para tudo e quem sou eu para os discutir.

Eu, se fosse mulher, fugiria sempre desta asserção. Quando John Kennedy afirmou (em Paris, salvo erro) que quem ali estava não era o presidente dos USA mas sim o marido da primeira dama, foi machista, sobranceiro, populista e, ainda por cima, fez figura de galanteador.

Além de que se aprofundarmos a coisa, tanto há uma grande mulher por de trás de um grande homem, como há sempre um grande homem por de trás de uma grande mulher, sendo que, neste caso, as coisas me pareçam mais lineares ( e apelativas, digo eu...).

Tenho para mim que a mulher é demasiadamente importante para o homem para que seja remetida a uma posição de retaguarda para justificar a proeminência do androceu. Acho que nestas coisas de sucesso, a cumplicidade e o apoio existem independentemente da posição estratégica de cada um dos cúmplices e é líquido que há homens de sucesso sem mulheres por de trás e mulheres de sucesso sem homem pela frente. Pelo menos em condições sociais que justifiquem a ideia.

Do artigo de Luisa Godinho fica a reflexão de que três homens portugueses sem mulher por de trás vão em breve disputar eleições. Santana, Portas e Sócrates. Mas também, quem disse que eles eram grandes?

Homens e mulheres da paróquia. Deixemos de estar por de trás uns dos outros e remetamo-nos ao posicionamento que nos der mais jeito e de que mais gostemos. E os grandes homens e as grandes mulheres vão, aqui e ali, aparecendo, para nosso contentamento!

E um beijinho à Luisa Godinho, que o texto estava saboroso. Estou aqui atrás a aplaudir...

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Pimpões e Nobres Telúricos



O espírito natalício dos portugueses esvai-se de imediato com a primeira oportunidade.

Os trágicos acontecimentos do Sudeste asiático proporcionaram as habituais quezílias entre nós, desta vez o adido de imprensa Carneiro Jacinto vs um jornalista de Macau. Que eram 6 desaparecidos portugueses, nao era não senhora, não devemos entrar em pânico, as coisas estavam a ser "controladas" pela representação diplomática na Tailândia e o jornalista de Macau não tinha nada que meter o bedelho.

Foi, uma vez mais, a expresão repulsiva da nossa pequenez.

Entretanto, à guiza de humor negro, uma das celebridades da nossa quinta falou demoradamente sobre as suas necessidades fisiológicas, Júlia Pinheiro ajudava à festa e o homem (um nobre...) dizia que quando precisava de ir à casa de banho, "aquilo era um abalo telúrico". Ainda fiquei à espera que a telúrica condição peristáltica de tão potente e nobre cagão se consubstanciasse numa apropriada explosão e enchesse o estúdio de merda. Não aconteceu...

Venha de lá o Natal 2005, para termos mais uma pausasinha na nossa idiotice!

domingo, dezembro 26, 2004

Saudades do Boxing Day

O JPT no seu Maschamba deu-nos conta da sua ida de férias para Cape Town. Nota aliás ilustrada com uma belíssima foto da cidade protegida pela Serra da Mesa.

Por isso é dele a culpa de eu me recordar de três Natais que lá passei (era para ser um mas gostei tanto que lá passei os outros dois seguintes), no menos africano de todos os Natais que vivi abaixo do Equador.



Vista aérea de Cape Town-Sul, vendo-se em primeiro plano a zona das docas, hoje totalmente adequada a centro comercial e onde as focas se passeiam livremente pelas águas gélidas do porto



Cape Point, residência oficial do Adamastor, onde se desfruta uma das mais belas e bem conservadas reservas naturais do mundo e onde os babuínos costumam sentar-se junto do monumento a Bartolomeu Dias, a comer frutos silvestres



Stellenbosch wine route, Visita obrigatória, prova obrigatória das melhores castas francesas e remate na fábrica de queijos de Stellenbosch e na Universidade. Correcção: é melhor começar pela Universidade e ir às vinhas depois...



Universidade de Cape Town. Uma das mas prestigiadas da República. Todo o conjunto faz parte das instalações da UCT, na vertente norte da Table Mountain



Ahhh... as praias.... brrrrrrrr


Ainda só foi há 10 anos e que saudade...

sábado, dezembro 25, 2004

Uff...



Estou comido até à Páscoa!
(salvo seja, não desfazendo...)

sexta-feira, dezembro 24, 2004

É Hoje...



Aí vem ele...

Será que ele se lembrou de trazer alguma coisa para mim?

B O M-N A T A L-P A R A-T O D O S

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A Mentira Sincera



Dei comigo ainda agora a ouvir “isto”...


Você foi o maior dos meus casos;
De todos os abraços, o que eu nunca esqueci.
Você foi, dos amores que eu tive,
O mais complicado
E o mais simples para mim.
Você foi o maior dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu!
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu,
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo
Que me apareceu!
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter,
Só assim, sinto você bem perto de mim
Outra vez!
Esqueci de tentar te esquecer;
Resolvi te querer por querer,
Decidi te lembrar tantas vezes
Eu tenho a vontade sem nada a perder!
Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o melhor dos enganos
Que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida,
Você é a saudade que eu gosto de ter!
Só assim sinto você, bem perto de mim,
Outra vez...


Gal Costa

(como é que com palavras tão simples os brasileiros conseguem dizer coisas assim...)

O Encarte



Calculei que o “Encarte” iria provocar azia a muito crítico encartado da nossa praça. Mesmo assim, atrevo-me a dizer o seguinte:

1) O governo gastou um pouco menos de € 100.000 num folheto de divulgação da “espinha” do orçamento. Afinal bem menos do que o custo do trespasse duma pastelaria manhosa, numa zona manhosa de Lisboa, pago por um putativo e manhoso industrial de hotelaria que, mais tarde, irá reclamar contra a Lei do Arrendamento que lhe vai subir a renda mensal de cerca de € 10 para 100 ou 200. O folheto pareceu-me bem feito e, sobretudo, útil. Em linguagem clara e acessível o português médio ficou a saber o que é “isto” de um orçamento e poude ganhar alguma consciencialização sobre alguns custos sociais, por exemplo quanto custa ao Estado cada estudante, cada doente, entre outros;

2) Achei, assim, uma medida acertada e pedagógica e, pela minha parte, dou por bem empregue o cêntimo que me custou ( € 100.000 : 10.000.000 portugueses = € 0,01), independentemente de haver ou não uma estratégia eleitoralista por trás;

3) No que se refere à “propaganda ilícita” aduzida pela Partido Socialista...talvez que um pouco de vergonha o lembrasse de cenas de um passado recente em que me ocorre ter visto soldados da GNR a tratar cidadãos com mercurocromo e sulfamidas das equimoses por eles próprios infligidas, a ser filmados pelos prestimosos repórteres. Ou ainda a célebre “Fundação de Prevenção Rodoviária que deu emprego ao refilão e consciencioso Armando Vara e a mais uns quantos boys atentos veneradores e obrigados e que acabou por ser declarada ilegal, inútil e despesista;

4) Por último, o Governo estaria a fazer propaganda de quê? De um orçamento mau? Afinal o PS tem medo de propaganda das coisas más? Não tem meios para explicar aos cidadãos porque é que ele é mau e porque é que Jorge Sampaio rezou às alminhas para que fosse aprovado?

O que tenho lido e ouvido sobre o “Encarte” é, na minha modesta opinião uma “encartada” tolice e de um descaramento eczémico (passe o palavrão que nem sei se existe mas, se não existe, devia existir).

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Um (des) conto de Natal



Isto anda fraco... não acontece nada. Isto é, há “acontecências” avulso, umas esperadas, outras nem por isso, mas todas incapazes de fazer soltar o cão para o fulminante, que é uma forma militarona de dizer que ando com falta de engenho para aqui deixar alguma coisa que mereça ser lida. Há o recurso aos poemas, eu sei, vai-se ao Google e tal, search em quadros célebres ou lyrics de alguém que gostemos, selecciona-se uma foto ou, em última análise, falamos do Bagão ou do Santana. Mas nem isso me apetece. Deve ser o espírito natalício a inundar-me as entranhas que faz com que nem me apeteça seleccionar fotos nem dizer mal de alguém. Os dias têm passado fastidiosos, apesar do sol e das iluminações natalícias. Uma vez por outra apetece-me escrever uma coisinha assim tipo conto de Natal, sei lá, homem cinzentão, barba de dias, casaco coçado, fim de uma tarde triste e fria e o homem, cenho carregado com a desilusão de coisas e gentes, deambula por Lisboa, senta-se num banco de jardim e adormece. Quando acorda, repara que o dia está luminoso, a cidade está limpa. Não há carros nos passeios e as pessoas circulam ordeiramente, bem dispostas, de ar escovado, não há “graffiti” nem motoristas de taxi malcriados, as esplanadas estão repletas de gente contente a ser atendida por empregados simpáticos e eficientes. O homem levanta-se, vê um cinema e resolve entrar. Não lhe importa que filme vai ver. Só sabe que se sente bem e lhe apetece ver um filme, um filme qualquer que ligue com o estranho bem estar que sente. Entra e vê um filme de que nem sabe o nome... só sabe que, de repente, o filme lhe mostra imagens de sítios que conhece e de gente que ele conhece também. Sítios lindos e tão diferentes como desertos, florestas densas, grandes cidades, monumentos belíssimos, montanhas de neve e mares de azuis de que ele já nem se lembrava. E viu gente que conhecia... estranhou o filme, mas o prazer e a paz eram grandes pelo que nem se quedou a pensar nas razões por que o filme lhe dispunha todas aquelas imagens familiares e, sobretudo, tão gratas. E essa gente que conhecia era-lhe mesmo chegada. Amigos, vivos e falecidos, mulheres lindíssimas que conhecera, viu os filhos, ora pequenos a brincarem no jardim ora já grandes a conversar...viu pais, tios e mesmo parentes mais afastados numa sequência que mais lhe parecia uma retrospectiva cuidada e cronologicamente mostrada. O filme acabou abruptamente e o homem saiu do cinema, caminhou pela cidade, chegou ao Tejo. As águas do rio estavam limpíssimas e muito azuis, tão azuis que algumas crianças brincavam na margem e miravam-se na sua superfície, vendo o seu próprio reflexo. O homem aproximou-se então e quis ver-se reflectido também. Mas, quando olhou, em vez da sua imagem reflectida, o que viu foi uma carrinha do INEM... meia dúzia de mirones a olharem um corpo inerte num banco de jardim, enquanto os paramédicos abriam as portas da ambulância e falavam ao telemóvel. Reparou então que era ele próprio... inerte naquele banco de jardim. Confuso, olhou para o céu e de um lado viu uma luz muito brilhante que parecia chamá-lo. Do outro lado viu terra. Montes e vales, florestas, mares e até conseguiu descortinar pássaros esvoaçando. Por um momento vacilou...a luz era muito mais bonita e apelativa mas qualquer coisa falou mais alto. O homem, resoluto, caminhou firmemente para a terra. A terra e a vida que ele conhecera e amara com paixão e alguma correria. E foi com a mesma resolução e firmeza que à terra voltou por achar ter sido dela que viera. Ainda olhou para trás, a tempo de “se” ver a ser depositado na ambulância...

Este seria o tal conto de Natal, que podia ser bonito se eu tivesse jeito e uma pontinha de espaço para acreditar em luzes brilhantes.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Bruxo



Quinze para vinte e um igual a seis – SEIS - dias foi quanto levou o vaticínio do meu post de 15 de Dezembro “Uma Questão de Higiene” a concretizar-se. Não é que o Barnabé (link ao lado que esta coisa dos http dá uma trabalheira dos diabos...) já aceita comentários outra vez? Em novo formato, claro, mas já aceita.

Um dia destes a RTP ainda me leva para a Praça da Alegria fazer concorrência à Maya...

Monovolumosas receitas



Estou descoroçoado. Eu, que em “reflexão profunda” até achava que o princípio de utilizador-pagador era justo e lógico... eu que me habituei a não embarcar em reacções massivas e a pensar por mim... eu que até achei que as SCUTS eram uma fraude burlesca de raiz eleitoralista e uma das mais expressivas manifestações de irresponsabilidade de Cravinho... eu que... por aí fora! Eis senão quando, oiço António Mexia a dar-me uma capciosa explicação sobre as razões e a forma pelas quais os monovolumes vão pagar menos pelas portagens e que os veículos normais, não sei quê... aumentos diluídos em sete anos... aumentos anuais equivalentes a 90% da inflacção anual agora passam a 100%, coisital, breu-béu-béu, peixe é agua e toma lá, comprem um monovolume que a AutoEuropa é que é bom. Por outras palavras, o feliz utilizador dum monovolume (espero que a medida não seja só aplicável ao Sharan e abranja também, a Espace, a Voyager e outras) utiliza e eu, utilizador de um Punto, de um Corsa ou de um Twingo pago pela minha utilização e pela utilização do tal feliz utilizador de um monovolume. Pois... uns são mais utilizadores que outros.

Mas isto nem é o que me arrepia mais. Eu gostava de saber, conhecedor da chicoespertice nacional, que contas foram feitas, como foram feitas e se vai haver proporcionalidade entre o número de monovolumes que pagam menos e o número dos outro veículos que pagam mais. Sabendo como as coisas funcionam e como a impunidade impera, receio o pior. O pior, para mim, claro, que não tenho um monovolume, para a Brisa, será o melhor, com certeza. E esta manobra vai representar, seguramente, um aumento de receita para a Brisa. Ainda que servisse, mas que não nos chamassem parvos e, sobretudo, que se calassem com a treta do utilizador-pagador.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Boas Festas



A todos os que me lêem ( é preciso pachorra...), a todos os que me lincaram, sendo da mais elementar justiça realçar o primeiro blogue que o fez, o Guarda Factos, (link à direita) a todos os que me habituei a ler com prazer e mesmo àqueles que não me dão gozo nenhum e apetece esganar, mas que fazem parte deste universo sui generis da Blogos, queria aqui deixar a expressão sincera do meu reconhecimento pelo bocadinho de espaço que me foi disponibilizado e os meus sinceros votos de uma quadra festiva plena de conforto e alegria e um 2005 cheio de coisas boas! E ainda um beijinho muito grande, desculpem a mariquice, para a Passada e para o Diz que sim (links à direita).

Telefonia Sem Fio



A TSF deu, em dois serviços noticiosos consecutivos (18:00 e 18:30), a notícia do chumbo do Eurostat à pretensão do Governo Português em negociar a alienação de imóveis do estado para não ultrapassar os 3% do défice.

Após a notícia, pediram a opinião de Francisco Louçã, do BE e de Silva Pereira do PS. Ponto final. Mais ninguém.

Num país normal, eu gostaria de ter ouvido um pedido de esclarecimento ao próprio Governo. Ao Ministro das Finanças ou alguém a ele ligado. E perguntar-se-lhe-ia simplesmente: - “E agora Sr. Ministro? Qual é a opção alternativa do Governo?” Esta seria a atitude que eu esperaria de uma rádio isenta. Mas não foi o que ouvi. Interessava ouvir de imediato a opinião da oposição. Oposição que, claro, se lambeu a ridicularizar o Governo. Palavras como “rasteiro” "estapafúrdio”, "manigância", "trafulhice" e outras pérolas foi o que me ficou do arrazoado de Louçã. De Silva Pereira, já nem me lembro bem. Mas a coisa andou pelo “estado crítico da situação financeira” e da incapacidade do Governo de, nestes dois anos e meio, ter podido sanear as finanças públicas.

O à vontade com que estas criaturas se aprestam a debitar vacuidades, sem qualquer substância, opções, alternativas ou medidas construtivas já causa náuseas e aconselha medidas preventivas do tipo Kompensan no porta luvas ou um pacotinho de sais na embaladeira da porta do carro. No que se refere ao Bloco de Esquerda, a coisa nem é muito grave... digere-se, habituados como estamos a ouvir aquilo em que nem eles próprios acreditam. Mas que do PS, responsável directo e objectivo pelo verdadeiro descalabro financeiro (não sou eu a dizê-lo, que sei eu... diz quem sabe) tenhamos de ouvir críticas numa altura em que o Governo tem pouca ou nenhuma margem temporal para actuar (esta ideia peregrina de “vender” os direitos da exploração dos imóveis dá bem a ideia da balbúrdia que por lá vai, leia-se, falta de dinheiro...) é coisa que roça já o obsceno.

Infelizmente os nossos media continuam a “pegar” no efeito imediato da notícia, sem qualquer preocupação por um esclarecimento cabal e sério deste tipo de situações. A acrescentar, a forma quase de gozo com que a seguir se noticiava que “Sampaio tinha mandado chamar a Belém o Primeiro Ministro e o Governador do Banco de Portugal. É a atitude de uma esquerda que eu continuo a não conseguir entender, este figurino da barba e sandália de argola no dedão que me tira do sério e me faz descrer em absoluto na viabilidade deste país como sítio decente para se viver.

NOTA: O Telejornal do Canal 1 refere que o Governo e o Presidente da República se recusaram a comentar o assunto. Pelo menos, já é alguma coisa...


sábado, dezembro 18, 2004

Happy Birthday



Com que então caíu na asneira...



Muitos anos de vida!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

O Nosso Fado



Não há uma razão especial para usar este quadro como mote para um post pobrezinho como o de hoje. Apenas porque é vivíssimo e pintado com génio por um pintor genial. Das Caldas...

Tenho a certeza que se ainda fosse vivo, em vez do quadro ele deixaria uma bem mais significativa lembrança regional, como apropriado legado ao nosso momento actual.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Começa... outra vez!



Duas de Sócrates:

1. “...Santana e Portas não fizeram um casamento. É meramente uma união de facto...”. Por outras palavras, nada de confusões, aquilo não é de papel passado, é ilegítimo, conveniente e, provavelmente, inconsequente. Será que Sócrates se apercebeu da enormidade do que disse? Ainda o cadáver de Butigglione está quente e já se dizem (não acredito... estou a ouvir “a coisa” de novo no telejornal...) coisas destas! Por uma questão de decoro, espero bem que só os casados de papel passado votem nesta versão portuga de Butgglione distraído.

2. Sócrates acha que algumas coisas do governo cessante eram boas. E, cheio de sentido de Estado, ele preservá-las-á. O Serviço de Saúde SA , por exemplo, poderá haver uns ajustes, mas a ideia tem substância, talvez substituir os privados pelo Estado...em vez de SA ser EP... ou talvez não... um caso a ver. Este homem saberá do que está a falar?

É este tipo de discurso, esta elasticidade felina (no mau sentido) que me faz sentir saloio e a que me habituei com Guterres que me faz esperar o pior. E ainda agora a procissão vai no adro.

Uma Questáo de Higiene



O Barnabé está a “considerar” ( a considerar, atenção) não aceitar comentários na caixa. Uma questão de higiene, dizem os próprios. Mas não se entre em pânico. A coisa está em regime experimental. Portanto, os que o lêem (e eu sou um deles) passarão a “reflectir” sobre alguns posts de cinco palavras e um sinal ortográfico no meio, tipo “O Santana? É uma besta”. Pena que posts destes passem a desmerecer os comentários, mas fica a reflexão. Ainda por cima, dizem eles, os comentários eram anónimos... que chatice! Se a moda pega, há por aí uns blogues que perdem 99% dos comentadores!

Os comentários anónimos têm dois aspectos fascinantes. Primeiro, o próprio blogger pode dizer o que lhe der na gana, em apoio do post ou, como convém, de vez em quando, mas não muitas, contra. Dá um ar democrático e tolerante. Além de que os comentários contra são, normalmente, grosseiros, boçais e demonstram como os adversários são estúpidos. O outro aspecto não é menos fascinante. Um comentário anónimo sugere ter sido feito por pessoas que sabem da poda mas que, por esta razão ou aquela, resguardam a identidade, não vá o diabo tecê-las, leia-se a porra do regime em que vivemos é ainda suficientemente fascista e fascizante ao ponto de termos que manter o anonimato para salvaguardar o leite das criancinhas lá em casa.

Enfim, tácticas velhas de gente nova e velha que respira este tipo de estratégias de conflito sem o qual não sabem viver, frequentemente porque não têm capacidade para mais.

Estejamos atentos agora e vejamos durante quanto tempo os comentários estarão vedados. A parte boa é que enquanto o estiverem, seremos poupados ao martírio dos idiotas que, como eu, ainda os lêem. A outra parte boa é... uma questão de higiene, como eles próprios dizem.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Soltem os prisioneiros...



Como dizia T. Talbot (não sei quem foi este tipo nem se existiu, mas aproxima-se a época das citações e quem sou eu para deixar créditos por mãos alheias?), não há mal que sempre dure nem pior que não nos fure. O Santana femeeiro, apreciador de violino, ex DJ de bares de frequência duvidosa, patrono de túneis inacabados, casinos virtuais, coscuvilheiro, cabelo de incipiente rabo de cavalo, intriguista, mediático e cheio de caspa vai-se embora por indecente e má figura. Com ele, vai Portas, o da cabeleira, o da Vichyssoise, dos ataques destemperados no Independente, o (alegado) gay que escandalizou as mais conscienciosas claques defensoras do direito à diferença e outras virtudes. Por mim, tudo bem. Já vão tarde. Ainda que a sua saída provenha de um parto da mais descarada natureza, de um embuste grosseiro, de uma autêntica fraude e ao arrepio do mais elementar bom senso, foram bem e foram tarde. Estes são co-responsáveis pela lastimosa situação a que chegámos. Tanto como Durão Barroso, aliás. Confesso que, sabendo o que sei hoje, me teria insurgido contra a decisão de Barroso que, na altura, achei normal e até honrosa.

E hoje, inevitavelmente e pela primeira vez, ouvi na TV o que mais receava. Sócrates já admitiu uma possível coligação com o Bloco. Sim, porque lá dizia (deixa lá ver... de quem terá sido a citação??) vale mais um pássaro na mão que a mão na pássara e não vá a vitimização de Santana roubar-lhe a maioria absoluta, nestas coisa nunca se sabe, o povo é estúpido, pensará ele e ainda é capaz de ter pena e votar no homem outra vez...

Temos assim a mais que provável hipótese de sermos comandados por Sócrates, Ana Gomes, Cravinho, M. de Belém, Souto Moura, Serginho (não o da TV, mas também servia...), Benavente. Guilherme Martins, um ou outro das “fronteiras” (quem sabe se um Vaz Guedes) e, cereja no bolo, Louçã e Portas (o outro, o “bom”), com F. Rosas e Fazenda na penumbra a comprar os árbitros. Todos eles juntos, bem agitados, levados a banho-maria e servidos quentes vão ser responsáveis por mais um período muito complicado da nossa periclitante existência e economia, até os “outros” (leia-se PSD) se reorganizarem e venham pôr a casa em ordem, outra vez. Como de costume, afinal.

Até lá, vamos entrar em sezões de estilo barnabético e orgasmos de esquerda evoluída e solidária. Múltiplos, claro.

Sampaio, ruivo e preocupado, com aquele ar “vigilante” que lhe ficou das reuniões no Flórida, vai assistindo e talvez daqui por ano e pouco vote em Cavaco como uma consciente e recatada atitude de verdadeiro sentido de Estado, convencido que contribuiu decisivamente para o fim de nova bandalheira e de novos pântanos. O seu último serviço à Nação!

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Ma-Schamba



Parabéns ao Ma-Schamba pelo primeiro aniversário. Como eu entendo bem JPT não saber exactamente quando nasceu! Mesmo que metafórico, está entendido...

Habituei-me a ler o Ma-Schamba por ser fresco, por não usar hífen na primeira pessoa do plural dos verbos, por fazer crítica inteligente sem algazarra, não ser insuportavelmente simbiótico, bajulador nem blog climber. E depois... há aquela circunstância quase orgástica de falar em sítios, coisas e pessoas que parece que ainda ontem as vi.

Parabéns

domingo, dezembro 12, 2004

Pois...

Do Elasticidade e com a devida vénia, a reflexão mais inteligente que li nos últimos tempos.

sábado, dezembro 11, 2004

Confusão de sentimentos


Renoir

O JPT na sua Ma-Schamba atribuiu um gandula à Passada, como o melhor blogue de uma tuga em Moçambique.

Eu não ganhei gandula nenhum (e não tinha que ganhar) mas o gandula da Passada dá-me algum gozo e, ao contrário de alguns bloggers da paróquia, eu pagava para ir a Maputo assistir ao evento.



A foto de cima é a Passada cromossomática. A segunda é a Passada de agora, como gosta de ser.

Se Stephan Zweig fosse vivo, numa das suas deambulações pelo Prater, ponderaria rescrever o seu belo conto "Confusão de Sentimentos", em que a Passada seria a personagem principal.



Almoço de Natal, brindes, animação...



Lá vou eu! Hoje é o tal almoço de Natal. O da empresa. O pessoal “maior” vai “casual wear”, como convém e o “menor” vai tirar uma gravata da naftalina. Ficaremos todos democraticamente sentados sob criteriosa distribuição, pelo que as conversas, em cada mesa, irão variar entre profundas estratégias de desenvolvimento (o “maior” a falar para o “basbaque” e uma avaria na unidade de enchimento de qualquer coisa lá na fábrica (o “menor” para o enfadado ”maior”, ainda que este vista uma expressão interessada). A ementa vai ser boa, há anedotas que vão ser contadas, alguma coscuvilhice, as mulheres bonitas vão achar que estão um horror porque dormiram mal e as feias vão achar-se lindas, no evento. Os homens vão passear a importância (os que a têm) e a barriga (têm quase todos). No fim, o maior de todos vai fazer um discurso de ocasião, a crise, o crescimento apesar de tudo, blá blá blá dificuldades aqui, blá blá blá esperança ali, a união o esforço, a dedicação e o reconhecimento a todos quanto contribuem para que o ordenadinho chegue direitinho ao fim do mês neste paisinho diminutivo.

Mas está sol e frio... uma combinação que me faz sentir bem! E prometo portar-me bem e assumir o meu papel, por exemplo, dizer à minha mesa que a situação política não está para graças, que as dificuldades são gerais, as eleições coiso e tal e, aqui e ali, até contarei uma anedota!

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Cascais, 8 de Dezembro de 2004. 18:00 às 21:30




Ontem estive “assim” entre as seis e as nove meia da noite.

O dia já tinha corrido mal. Foi o aspirador da vizinha, o cio das gatas, o torcicolo e outras desgraças avulso. Quando, depois de ter “fugido” de casa em busca de algum episódio balsâmico, reparador, regressei por volta das seis apenas para reparar que não tinha luz. Estava eu ainda no segundo palavrão, aparece gente em casa, gente boa com quem gosto de estar e que, lamentavelmente, acabou por ir embora, claro.

Sentei-me no sofá com aquele convencimento idiota de que a luz viria dentro de minutos... e acabei por estar três horas e meia (TRÊS HORAS E MEIA) sem televisão, sem computador, sem café, a ir à casa de banho às apalpadelas e cabeçadas nas ombreiras das portas, sem ler e sem saber rigorosamente o que fazer. Ainda estive quase a aceder a um convite de uma prima quase vizinha para ir até lá casa. Mas havia sempre aquela ideia de que luz estava a chegar. Já desesperado, tentei telefonar uma dúzia de vezes para o 800 505 505, número pomposamente anunciado nas facturas da EDP, aquelas que nos dizem que por falta de pagamento o fornecimento será interrompido. De cada vez que ligava para o tal número, atendia-me uma voz feminina ( ???) de uma mulher que só podia ser feia, ter cabelo oleoso e pé de atleta a dizer que “não é possível estabelecer ligação”.

Para quem, como eu, viveu no chamado terceiro mundo, sobretudo numa altura em que por questões de guerra civil a energia faltava com frequência e, por isso mesmo, a maioria dos expatriados tinha gerador, este episódio poderia até nem merecer referência. Mas eu vivo na Europa, que diabo. Num meio supostamente civilizado onde uma avaria pode acontecer. Mas... três horas e meia? E com uma idiota a dizer-me que “não era possível ligar” para o tal número da EDP?

São situações como esta que eu não sei se chore não sei se ria, não sei se diga, não sei se cale, não sei se peça para ser exportado para um país civilizado onde a luz até possa faltar aqui e ali e onde possa ligar para um número telefónico e ser informado de que “tivemos uma avaria assim e assado e contamos ter o problema resolvido dentro de “x” minutos".

Quando eu era miúdo habituei-me a ouvir que muitas das nossas deficiências eran devidas à nossa proverbial pobreza. Não havia dinheiro, era a versão corrente e atavicamente aceite. Isto não é verdade. Muito das coisas más que nos assolam relevam de uma insuportável falta de profissionalismo e de educação.

Falam tão pouco dela...



Ontem fez anos que nasceu e morreu...

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Instintos assassinos

Hoje estou com instintos assassinos. Vejamos:

1) Por causa da invenção dos fusos horários, o telemóvel tocou (e acordou-me) às 5 e, depois, às 6 da manhã. Locais tão idiotas como a África do Sul onde entendem viver duas horas mais tarde que eu, ou a Índia (a Índia, senhores...) onde se vive num horário obsceno, com um adiantamento de cinco e horas e meia ( e meia, atenção!) em relação ao meu. Ainda por cima, por nada que não pudesse esperar até amanhã. Assuntos de trabalho vindos de gente que acha que toda a gente é como a gente que resolve trabalhar a horas impróprias;



2) Uma vizinha que comprou um carro há pouco tempo não esteve de cerimónias. Eram 9 horas da manhã quando decidiu “encostar” o carro à janela de casa e vai de aspirar o brinquedo. Não seria muito grave se a dita vizinha, três horas depois, não continuasse, neste preciso momento, com o aspirador ligado. Ou o carro estava imundo ou alguém lhe ofereceu um aspirador. É que não há como fugir... a minha casa é assim, como se diz...”em banda” e o zmzmzmzmzmzmzmzm do aspirador entra-me pela sala, sem cerimónias. Hesitei entre sair de casa e ir tomar um café ou cometer um vizinhicídio, nada de grave, quaisquer 10 horas de interrogatório num TIC perto de mim, um advogado diligente e 46 incidentes de processo (é assim que se diz??) depois, deveriam chegar para o caso prescrever... mas a vizinha até é simpática, cumprimenta bem e quando não está a aspirar carros até não vai nada mal com a Praceta e contive-me;



3) As gatas “resolveram” entrar em cio. Não tenho nada contra isso... mas hoje, em que verifico que as pílulas acabaram e que é feriado, vou ter de procurar uma farmácia de serviço. Para comprar pílulas, já se vê. Mas o que mais me irrita é que elas poderiam ter uma atitude mais compostinha. Estão com o cio, “prontes”, mas disfarçavam um bocadinho. Não tinham nada que andar para ali em correrias, miar (que é mais um esgar do que um miar) de 5 em 5 segundos, enroscarem-se uma na outra numa cena de claro incesto, já que são irmãs e entreterem-se a deitar jarras ao chão e a puxar pela roupa do cesto que espera pela engomadela da empregada. Não têm, maneiras. São uma fêmeas desbragadas e sem sentido de Estado. Eu até aceito que o apetite sexual seja um estimável estado de espírito, mas que diabo, um pouco de contenção só lhes ficava bem...



4) Acordei com uma dor no pescoço. Eu que nem tenho colchão de água, dormi o sono dos justos (pelo menos até ser acordado a partir de Bombaim...), acordei num normalíssimo decúbito ventral mas compostinho, civilizado, não descortino razão para esta dor no pescoço. Só pode ser uma praga qualquer de alguém zangado comigo por não acreditar em pragas e nos austrais altos de Santana Lopes. Um céptico, afinal. Como tenho de ir a uma farmácia de serviço comprar pílulas para as gatas, aproveito e compro um unguento para mim;



5) Cheguei à sala e tinha um bilhetinho da princesa (a filhota) que dizia textualmente: - Dad, afinal aquilo que me tinhas dito sobre as jantes de liga leve não é bem verdade. Dizias que as jantes de liga leve tinham a vantagem de nunca empenarem, só partirem. Mas estavas enganado. Vê lá tu que bati sem querer no passeio da marginal, por causa de um estúpido que me apertou contra a berma, bati no passeio e a jante não partiu, só empenou. Mas não há crise, o Ricardo ia connosco, mudámos a roda e está tudo fixe agora. Deitei-me tarde, Por isso não me acordes. Love you XXXXX” Estes X’s são uma maneira lá dela de me mandar beijinhos...

É quase meio dia e eu vou procurar aceitar estes “reveses” vestir a bonomia e acreditar que a vida é assim... a parte útil da coisa é que fiquei a saber que as jantes de liga leve também empenam e, imaginem, o Ricardo foi um tipo fixe que até trocou a roda e tudo! Alternativamente, vou para a cama outra vez. Mas... e se me ligam da Austrália?

ET. Já depois de escrever, fui ao Google procurar um par de fotos apropriadas ao texto. Como tenho gatas, no feminino, pesquizei isso mesmo: GATAS. O resultado foi extraordinário... como a coisa ficava um bocadinho fora do contexto, pesquizei em GATOS. Não que os machos tenham cio, mas lá que perdem a compostura de vez em quando, também é verdade. portanto, fica gatos e não se fala mais nisso!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Produtos ecologicamente correctos



Os chamados “produtos ecológicos” estão na moda. Mais ao menos na mesma linha do multiculturalismo, da invasão do Iraque, do combate à Sida, da reserva civilizacional da Mesopotâmia, da globalização e do QI de G.W.Bush. Ou seja, muitos falam e poucos sabem do que estão a falar.

O que parece uma heresia – misturar produtos ecológicos com a Mesopotâmia - não o é tanto assim. Existe uma verdadeira dinâmica de intoxicação publica sobre os produtos ecológicos, não se sabe donde, não se sabe de quem, mas existe. E as pessoas acham que é um tema estimável porque, a priori, releva uma malfeitoria de gentes ou grupos que acordam todos os dias dispostos a liquidar a humanidade com produtos cheios de porcarias tóxicas e cancerígenas. É, assim, um tema apetecível.

Ora, nada de mais errado (eu não escrevo assim, costumo ser mais palavroso, isto hoje está a sair assim ao estilo do José António Saraiva, mas juro que não é de propósito). Uma planta é um ser vivo, do reino vegetal que, tal como os homens – e por muito estranho que possa parecer - tem doenças bacterianas, micoses, é atacada por ácaros, pragas, tem anemias, deficiências, stresse (sim stresse, hídrico, de seca, de podas violentas) e necessidades nutricionais, em que os elementos básicos são o azoto (N) o fósforo (P) e o potássio (K). Há ainda, tal como nos humanos, necessidades imperiosas de microelementos (oligoelementos) como o ferro, o zinco, o magnésio, o cálcio, o boro, o molibdénio e outros, muitos outros. Os aminoácidos essenciais têm, igualmente um papel importantíssimo no metabolismo. Nada que um homem não tenha ou não sofra. Ora, salvo melhor opinião, quando uma pessoa está doente, trata-se. Se está debilitada, é compensada com medicação adequada e se uma criança tem um surto de piolhos, matam-se os piolhos, se está stressada toma antidepressivos e por aí fora. Por outras palavras... não há uma substancial diferença entre um “pé de atleta” nos homens e uma ataque de míldio ou oídio numa videira, uma tuberculose pulmonar e uma podridão da macieira. As pessoas deprimem-se com o stresse e são medicadas. E como acham que uma planta se sente se estiver submersa durante dias, sujeita a um sol inclemente durante semanas ou for sujeita a uma poda violenta ou a uma transplantação? O homem tem sarna, os citrinos têm ácaros e afídeos, o homem está anémico e uma laranjeira está desesperadamente carente em ferro. E até os pessegueiros têm lepra e o castanheiro tem “tristeza”... a linha de comparação é extensa e é melhor ficar por aqui.



Míldio da videira

A protecção fitossanitária é indispensável para a SAÚDE das plantas. Ingerir produtos ecológicos pode significar estarmos a comer cenouras raquíticas, deficientes em vitaminas ou sais minerais, batatas com fungos ou pomoídeas com bactérias, Não me parece que nada disto seja ecológico. Depois, há a questão económica. Independentemente de um produto ecológico não ser TÃO BOM como um produto devidamente tratado, acresce que quem dependa de uma economia agrícola não tem um futuro viável se não proceder a um criterioso programa de protecção fitossanitária. E não menos importante é o facto de que à utopia de se fazer agricultura sem o recurso a produtos químicos corresponderia a IMPOSSIBILIDADE de se alimentar populações ainda famintas e de aumentar exponencialmente a malnutrição.

A maioria dos fitofármacos são sujeitos a longos períodos de testes e são produzidos por empresas multinacionais que gastam milhões de Euros em pesquisa e desenvolvimento, antes de serem colocados no mercado e só depois de serem homologados pelos respectivos departamentos estatais de cada país. Cada molécula é criteriosamente criada (por síntese ou recorrendo a produtos naturais, como a flor de piretro, por exemplo) de acordo com extensivos programas de investigação e definição do problema. É acompanhada de fichas técnicas, rótulos e instruções que a serem escrupulosamente observadas a torna segura para ser utilizada em produtos de alimentação humana. De resto, a maioria dos fitofármacos são biodegradáveis ou arrastados para o solo pela sistemia das plantas e, por isso, o espaçamento entra as últimas aplicações e o consumo dos produtos deve ser escrupulosamente observado.

Há um aspecto particular com a questão dos adubos. Aqui, sim, a questão é mais controversa, sobretudo devido à nitrificação dos solos. Mas, mesmo assim, este risco pode ser bem controlado se se proceder a análises dos mesmos e, basicamente, incorporar no terreno as quantidades de nutrientes que as plantas precisam, nem mais, nem menos.

É evidente que tudo isto depende dos homens. O uso indiscriminado de fitofármacos ou de fertilizantes pode causar problemas graves. Mas o uso indiscriminado seja do que for conduz sempre a contrariedades.

Portanto, antes de comermos um morango azedo e enfezado ou uma pêra bonita por fora e com lagarta lá dentro, pensemos que podemos comer os mesmos produtos racionalmente equilibrados na saúde própria, além de que será um bom exercício para nos libertarmos de histerias colectivas e misturarmos a ferrugem dos cereais com a maldita da globalização que só nos traz chatices...



Milho são

ET – este é um campo muito vasto, onde cabem muitas opções. O controle integrado, por exemplo, é uma boa alternativa relativamente aos fitofármacos e que basicamente consiste na luta aos insectos através de outros insectos predadores. Mas o fio deste post tem mais a ver com o posicionamento das pessoas perante esta questão do que com vertentes puramente agronómicas.

domingo, dezembro 05, 2004

Pensamento de Um Final de Fim de Semana



Nada consegue eriçar mais o meu sistema nervoso central que, numa conversa pretensamente interessante sobre gays, sentir na pele a sobranceria do olhar piedoso que se concede a quem tem uma visão distorcida do fenómeno e revela perigosos sintomas de homofobia. E depois, quando a conversa resvala para a política, ouvir dizer que o governo é composto por uma cambada de “paneleiros de merda”...

Porque é Domingo...



Eu ontem vi uma multidão (25.000 pessoas, segundo a tv) a aclamar Pinto da Costa, acabado de ser constituído arguido num caso de corrupção, uma claque (as velhas claques, no futebol e na política...) a resguardar PC à entrada do TIC e a afastar os jornalistas e fiquei a saber que há fortes suspeitas de que PC tenha sido avisado a partir da PJ de que lhe iam revistar a casa e detê-lo...

Eu não tenho nada contra o homem, em si, acho-o um pacóvio esperto, que lê e declama José Régio, é de “boas famílias” e soube tirar partido dum microcosmos peculiar e intrínseco à nossa gema. Mas um país que gera e alimenta situações como aquela a que assisti ontem no estádio do Dragão deixa-me profundamente preocupado. E desiludido.



Não consegui entender bem as paixões que o artigo de Maria Filomena Mónica sobre Boaventura Sousa Santos, no Público, conseguiu desencadear aqui na blogoesfera...

O que ela diz parece-me transparente, bem articulado e pouco me interessa se ela gosta de BSS ou não. Mas a sua argumentação apresenta-se escorreita, linear e até na parte onde aborda o enquadramento que BSS dá à sua própria poesia juvenil (!...) me parece fazê-lo de uma forma apropriada e contextualizada. E não é por eu achar que BSS é um produto típico do nosso “activo” intelectual que eu digo isto. Mas pode ser eu não esteja a ver bem as coisas...




E agora...um bom Domingo para todos. As manhãs deste país conseguem equilibrar o nosso ph para índices invejáveis. Basta aproveitá-las e fazer uma sortida à esplanada mais bem situada do mundo, mandar vir um café e bater um bom papo, com o Atlântico a bater-nos nos olhos.



sábado, dezembro 04, 2004

Carta de Um Amigo



Maputo, 2 de Dezembro de 2004

Meu caro Espumante

Saúde por aí e por aqui tudo bem, apesar da chuva.

Escrevo-lhe porque tenho andado a seguir a situação política em Portugal e depois do que aconteceu com a saída de Santana Lopes pensei que poderia haver aqui a solução para alguns problemas que afligem o Maxaquene, que embora seja Maxaquene permanece intacto nas suas ligações ao Sporting daí, pelo menos foi o que disse Sousa Cintra da última vez que cá esteve.

Nós andamos um bocado por baixo, até Nampula agora consegue ser o campeão e eu julgo que talvez o amigo espumante pudesse ajudar, porque andamos maningue preocupados com o Maxaquene e achamos que a experiência de Santana Lopes podia ser de grande ajuda para nós, se ele aceitasse ser presidente do clube e a acumular o pelouro com uma equipa de futebol de praia que mando aqui a fotografia. Problema é que desconsegui de telefonar com ele e por isso o meu amigo talvez pudesse ajudar, por viver em Lisboa.

Já falei com os membros da Direcção e tudo está de acordo. Santana Lopes viria para presidente, nós já arranjámos uma casa ali no Malhangalene, só provisório, depois ele vai mudar para a Coop que não é bem o Sommershield, mas já está perto e talvez, talvez, mas talvez, daqui por um ano a gente possa lhe dar uma casa na avenida de Zimbabwe que já é Sommershield e o telefone já começa por 49. O carro é um problema porque o que tínhamos foi roubado e já deve estar na Swazi em peças, mas emprestámos aqui uma carrinha que está boa, até tem livrete e registo de propriedade, mas não pode passar a fronteira já sabe como é. Se ele quiser ir à África do Sul, a gente arranja um emprestado só para a viagem, com os papeis correctos. Também já arranjámos cozinheiro e lavadeira e um cão quando ele mudar para a avenida do Zimbabwe. Tem direito ao Notícias e ao Savana e quando tivermos fax ele também pode receber o MediaFax se a gente conseguir um desconto. Namoradas, isto está mal, tem muitos cooperantes e empresários, mas ele pode ir ao Minigolf todos os Sábados e talvez ele vai ter sorte. Até já pedimos para quando ele for ao Minigolf tocarem sempre “Olha a Bunda Dela” e o “Juro, Sinceramente, Palavra de Honra”. Pulseiras não tem igual. Mas no artesanato tem lá umas de pelo de elefante, talvez pode ser que dão sorte também. Ainda, para acabar, tenho um amigo no Savana que tem um amigo no Notícias que tem um primo no media fax e já prometeram que não atacavam muito ele. Salário é mais complicado, estamos a atravessar uma situação maningue complicada mas se começarmos a ganhar mais jogos talvez que ele possa começar a ter um. Mas como não paga renda, tem carrinha e tem cão a gente arranja maneira de ele poder almoçar no Costa do Sol e levar camarão para casa para o jantar. À tarde até pode ir ao Polana e talvez que ele vai encontrar amigos que lhe pagam lanche.

Meu caro Espumante. Gostava mesmo de poder saber que me ia ajudar, em nome do futuro do Maxaquene pois o Santana já foi presidente do Sporting e por isso a gente precisava da experiência dele.

Adeus irmão e felicidades aí na Tugalândia.

Assinado.

Nota: Sou muito amigo de Moçambique, do Maxaquene e deste meu particular amigo, pelo que lhe respondi dizendo que Santana Lopes vai provavelmente para presidente da Câmara de Lisboa, que é onde precisamos dele para acabar o túnel.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

No meu País...



No meu País, o Presidente da República “esquece-se” de comunicar à segunda figura do Estado que dissolveu a Assembleia, quer dizer, que vai dissolver a Assembleia e acha que se comunicasse ao povo essa medida antes de consultar os líderes partidários e o Conselho de Estado seria um desrespeito, portanto dissolve, ou vai dissolver e só explica aos cidadãos lá para a semana, depois de proceder às respectivas consultas. Daqui ressalta que sabemos todos porque é que o Governo foi (vai ser) despedido mas não sabemos, quer dizer, sabemos pela comunicação social e mesma a medida de dissolução futura é-nos comunicada pelo Primeiro Ministro e, entretanto, “fala-se” que o Presidente quer que o orçamento seja aprovado, mesmo com um Governo de gestão. Fala-se, porque verdadeiramente não ouvi Jorge Sampaio dizê-lo. Entretanto o PS vai dizendo que chumba o Orçamento mas quer que ele seja aprovado, não vá depois ter de mexer nas SCUT, na Lei do Arrendamento e na embrulhada da Caixa Geral de Depósitos porque se correr o bicho pega e se parar o bicho come. No meu País dissolve-se uma Assembleia em plena discussão do orçamento porque o Primeiro Ministro é incompetente, mediático, tem mau perder e fala em bebés a levar estaladas e pontapés enquanto as figuras gradas da vida política nacional acham que os incompetentes têm de ser afastados pelos competentes, mas não dizem como, os comentadores procedem à mais feroz campanha de derrube, só comparável com a que fizeram a Cavaco Silva, o mesmo que agora querem que pegue “nisto”, mesmo a comer bolo-rei de boca aberta e com uma mulher feia. No meu País há partidos sem o menor resquício de decência que fazem do bota abaixo a sua missão nobre, sem qualquer linha de orientação sobre o que fariam se estivessem no poder. No meu País discute-se a pulseira do primeiro Ministro, as namoradas, os almoços, os fatos às riscas, os carros e o Presidente da República tão depressa é um homem sábio como um ancião decrépito que já não sabe o que anda a fazer. No meu País, as grandes questões da educação, da saúde, da justiça, das finanças, do ambiente e da integração europeia são discutidas entre a apreciação de um penteado de uma secretária de estado ou de uma peruca loira. E quando o são, a decência e o sentido de cidadania são sempre sobrepostos por uma mentalidade de claque de futebol e oscilam num quadro que vai de Catarina Eufémia à Nossa Senhora de Fátima, passando pelos cantores de intervenção, pelos cravos e pelas liberdades. Isto trinta depois de o capítulo dever estar enterrado e de se ter tirado dele todas as suas virtualidades, No meu País toda a gente sabe, toda a gente opina, toda a gente faz campanha, toda a gente insulta, toda a gente “muda” de acordo com o vento e assume invariavelmente aquele ar sobranceiro de quem foi iluminado pela sabedoria e resguardado da boçalidade dos outros. No meu País, a maior parte das pessoas ganha mal, toda a gente paga mais por muitas coisas em relação a muitos países da Europa, os empresários são, na generalidade, de uma mentalidade boçal e provinciana que acham que os empregados os andam a roubar e os empregados acham que os patrões os andam a explorar. Os Sindicatos são uma feira de vaidades, incipientes e defendem o primado da partidocracia em vez dos verdadeiros interesses dos trabalhadores. No meu País pouco se lê e os que lêem acham que os que o não fazem são umas bestas, sem se importarem com as causas do fenómeno. Assim não vamos lá... e o “lá” poderia muito bem ser já para os nossos filhos e não é. Há tantas coisa no meu País de que não gosto...

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Moçambique



Vivi e trabalhei em Moçambique no período pós independência. Criei genuinos laços com aquele país e não estou indiferente ao dia de hoje em que, mais do que escolher um novo presidente, tenho fundadas esperanças de que Moçambique continue a dar um exemplo africano de democracia parlamentar. Com as entorses do costume, claro, mas que país as não tem?

Um grande voto de sucesso neste processo eleitoral é o que desejo, independentemente do eleito.

P.S. "Esta" recebi de uma Moçambicana "postiça" que não resisto a transcrever, mesmo sabendo que só quem lá viveu vai achar graça:

"Cidadão Macua, comentando a demora nas bichas para a votação nas urnas: - Isto tuto é porobolema das fodações. Temos qui fasser carantes piças pra poter fodar."

Tradução, para quem nunca saíu da Betesga: "Isto tudo é problema das votações. Temos que fazer grandes bichas para poder votar"

A Gajada



A gajada está aí. Pronta para um Portugal melhor e mais solidário

Este post foi despudoradamete roubado ao PICUINHAS e discretamente publicado nesta minha modesta tribuna. Mas é por uma nobre causa. E nada como começar o trabalho com um sorriso nos lábios...

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Com Tudo



São coisas destas que me fazem sorrir e acreditar no génio português. Depois de me ter dado uma de patriota, leio este post que me fez pele de galinha pelo gozo que me deu e me trouxe a inveja de não ter sido eu a escrevê-lo. Confortou-me, ainda, porque baixou a fervura do leite relativamente ao cortejo de gritarias que vou lendo por aí sobre a dissolução do governo, sobre o que Sampaio fez de bem, de mal, morra Sampaio, Sampaio estás perdoado e viva Portugal que agora vamos ter uma justiça eficiente, um SNS competente e solidário, uma educação cream of the crop, uma democracia mais consolidada e todo o patatipatatá das claques do costume.

A minha Tribo



O feriado de hoje já quase passa sem repararmos. Salvo se calhar a uma Sexta ou a uma Segunda e der para fazer ponte.

Eu, que nem sou muito destas coisas de comemorações, devo confessar um carinho especial pelo aniversário do dia em que demos o chuto nos espanhóis, restabelecendo aquilo que era “nosso”. A nossa independência e os nossos destinos. Esta é a verdade insofismável que ultrapassa tudo o que de mau possamos ter (o meu amigo de estimação aqui ao lado, por exemplo, a corrigir-me para póssamos...). Cuspimos para o chão, deitamos sacos do Modelo-Continente pela janela do carro fora nas estradas, estacionamos nos passeios, somos frequentemente porcos, feios e maus, intriguistas, pimpões, contorcionistas de estilo, interesseiros, cúmplices, promíscuos, falta-nos rigor, competência, cultivamos a cunha e o “empurrãozito”, lemos pouco ou quase nada, somos vaidosos e arrogantes perante os fracos e servis apaniguados dos fortes, somos insuportavelmente marialvas, mentirosos... somos uma data de coisas horríveis.

Mas somos uma tribo. Com as nossas idiossincrasias, mas uma tribo. Com uma história longa de mais de oito séculos e que conseguimos o nosso lugar na história e no mundo através de poetas, escritores, cientistas, pintores, artistas, empresários (um ou outro...), vultos grandes da história que fomos fazendo e que desembocou até na democracia de que muitos duvidaram. E temos um país lindíssimo, o melhor clima do mundo, um mar magnífico, o peixe é mais fresco, Lisboa tem aquela luz só dela, mesmo “quando os barcos ficam no rio, parados sem navegar...”, o fado, as mulheres são lindíssimas, falamos a mesma língua e estamos irmanados por laços que ninguém poderá alguma vez dissolver, mesmo integrados no espaço da união Europeia. Os laços de uma nação.

Por isso o 1º de Dezembro tem um sentido especial para mim.