No meu País...
No meu País, o Presidente da República “esquece-se” de comunicar à segunda figura do Estado que dissolveu a Assembleia, quer dizer, que vai dissolver a Assembleia e acha que se comunicasse ao povo essa medida antes de consultar os líderes partidários e o Conselho de Estado seria um desrespeito, portanto dissolve, ou vai dissolver e só explica aos cidadãos lá para a semana, depois de proceder às respectivas consultas. Daqui ressalta que sabemos todos porque é que o Governo foi (vai ser) despedido mas não sabemos, quer dizer, sabemos pela comunicação social e mesma a medida de dissolução futura é-nos comunicada pelo Primeiro Ministro e, entretanto, “fala-se” que o Presidente quer que o orçamento seja aprovado, mesmo com um Governo de gestão. Fala-se, porque verdadeiramente não ouvi Jorge Sampaio dizê-lo. Entretanto o PS vai dizendo que chumba o Orçamento mas quer que ele seja aprovado, não vá depois ter de mexer nas SCUT, na Lei do Arrendamento e na embrulhada da Caixa Geral de Depósitos porque se correr o bicho pega e se parar o bicho come. No meu País dissolve-se uma Assembleia em plena discussão do orçamento porque o Primeiro Ministro é incompetente, mediático, tem mau perder e fala em bebés a levar estaladas e pontapés enquanto as figuras gradas da vida política nacional acham que os incompetentes têm de ser afastados pelos competentes, mas não dizem como, os comentadores procedem à mais feroz campanha de derrube, só comparável com a que fizeram a Cavaco Silva, o mesmo que agora querem que pegue “nisto”, mesmo a comer bolo-rei de boca aberta e com uma mulher feia. No meu País há partidos sem o menor resquício de decência que fazem do bota abaixo a sua missão nobre, sem qualquer linha de orientação sobre o que fariam se estivessem no poder. No meu País discute-se a pulseira do primeiro Ministro, as namoradas, os almoços, os fatos às riscas, os carros e o Presidente da República tão depressa é um homem sábio como um ancião decrépito que já não sabe o que anda a fazer. No meu País, as grandes questões da educação, da saúde, da justiça, das finanças, do ambiente e da integração europeia são discutidas entre a apreciação de um penteado de uma secretária de estado ou de uma peruca loira. E quando o são, a decência e o sentido de cidadania são sempre sobrepostos por uma mentalidade de claque de futebol e oscilam num quadro que vai de Catarina Eufémia à Nossa Senhora de Fátima, passando pelos cantores de intervenção, pelos cravos e pelas liberdades. Isto trinta depois de o capítulo dever estar enterrado e de se ter tirado dele todas as suas virtualidades, No meu País toda a gente sabe, toda a gente opina, toda a gente faz campanha, toda a gente insulta, toda a gente “muda” de acordo com o vento e assume invariavelmente aquele ar sobranceiro de quem foi iluminado pela sabedoria e resguardado da boçalidade dos outros. No meu País, a maior parte das pessoas ganha mal, toda a gente paga mais por muitas coisas em relação a muitos países da Europa, os empresários são, na generalidade, de uma mentalidade boçal e provinciana que acham que os empregados os andam a roubar e os empregados acham que os patrões os andam a explorar. Os Sindicatos são uma feira de vaidades, incipientes e defendem o primado da partidocracia em vez dos verdadeiros interesses dos trabalhadores. No meu País pouco se lê e os que lêem acham que os que o não fazem são umas bestas, sem se importarem com as causas do fenómeno. Assim não vamos lá... e o “lá” poderia muito bem ser já para os nossos filhos e não é. Há tantas coisa no meu País de que não gosto...
6 Comments:
coisa azeda! Mas vá lá, até concordo :)
IL
Muito bom! Nesse teu país, cada vez menos meu, a irresponsabilidade de um homem psicologicamente fraco que cedeu à pressão neblosa dos media e do seu partido pode levar-nos à maior sucessão de disparates depois do 25 de Abril. Arrepia pensar que os resquícios do Guterrismo vão de novo governar o país.
JM
IL:
A IL concorda comigo Hurray :)))))
JM
"Pressinto" que vive fora do país. No fundo o que se passa é um cenário de pura demagogia e vandalismo políticos com os quais estamos condenados a viver. Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa: apesar de tudo vale a pena este pa´´is. Talvez seja uma questão de tempo. Mas entretanto, concordo... arrepia :)
Artigo a não perder: Verdade e consequência de António Cunha Vaz http://www.diarioeconomico.com/edicion/noticia/0,2458,569444,00.html
MD
MD
Já li. Obrigado pela dica.
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