segunda-feira, dezembro 20, 2004

Telefonia Sem Fio



A TSF deu, em dois serviços noticiosos consecutivos (18:00 e 18:30), a notícia do chumbo do Eurostat à pretensão do Governo Português em negociar a alienação de imóveis do estado para não ultrapassar os 3% do défice.

Após a notícia, pediram a opinião de Francisco Louçã, do BE e de Silva Pereira do PS. Ponto final. Mais ninguém.

Num país normal, eu gostaria de ter ouvido um pedido de esclarecimento ao próprio Governo. Ao Ministro das Finanças ou alguém a ele ligado. E perguntar-se-lhe-ia simplesmente: - “E agora Sr. Ministro? Qual é a opção alternativa do Governo?” Esta seria a atitude que eu esperaria de uma rádio isenta. Mas não foi o que ouvi. Interessava ouvir de imediato a opinião da oposição. Oposição que, claro, se lambeu a ridicularizar o Governo. Palavras como “rasteiro” "estapafúrdio”, "manigância", "trafulhice" e outras pérolas foi o que me ficou do arrazoado de Louçã. De Silva Pereira, já nem me lembro bem. Mas a coisa andou pelo “estado crítico da situação financeira” e da incapacidade do Governo de, nestes dois anos e meio, ter podido sanear as finanças públicas.

O à vontade com que estas criaturas se aprestam a debitar vacuidades, sem qualquer substância, opções, alternativas ou medidas construtivas já causa náuseas e aconselha medidas preventivas do tipo Kompensan no porta luvas ou um pacotinho de sais na embaladeira da porta do carro. No que se refere ao Bloco de Esquerda, a coisa nem é muito grave... digere-se, habituados como estamos a ouvir aquilo em que nem eles próprios acreditam. Mas que do PS, responsável directo e objectivo pelo verdadeiro descalabro financeiro (não sou eu a dizê-lo, que sei eu... diz quem sabe) tenhamos de ouvir críticas numa altura em que o Governo tem pouca ou nenhuma margem temporal para actuar (esta ideia peregrina de “vender” os direitos da exploração dos imóveis dá bem a ideia da balbúrdia que por lá vai, leia-se, falta de dinheiro...) é coisa que roça já o obsceno.

Infelizmente os nossos media continuam a “pegar” no efeito imediato da notícia, sem qualquer preocupação por um esclarecimento cabal e sério deste tipo de situações. A acrescentar, a forma quase de gozo com que a seguir se noticiava que “Sampaio tinha mandado chamar a Belém o Primeiro Ministro e o Governador do Banco de Portugal. É a atitude de uma esquerda que eu continuo a não conseguir entender, este figurino da barba e sandália de argola no dedão que me tira do sério e me faz descrer em absoluto na viabilidade deste país como sítio decente para se viver.

NOTA: O Telejornal do Canal 1 refere que o Governo e o Presidente da República se recusaram a comentar o assunto. Pelo menos, já é alguma coisa...