Produtos ecologicamente correctos
Os chamados “produtos ecológicos” estão na moda. Mais ao menos na mesma linha do multiculturalismo, da invasão do Iraque, do combate à Sida, da reserva civilizacional da Mesopotâmia, da globalização e do QI de G.W.Bush. Ou seja, muitos falam e poucos sabem do que estão a falar.
O que parece uma heresia – misturar produtos ecológicos com a Mesopotâmia - não o é tanto assim. Existe uma verdadeira dinâmica de intoxicação publica sobre os produtos ecológicos, não se sabe donde, não se sabe de quem, mas existe. E as pessoas acham que é um tema estimável porque, a priori, releva uma malfeitoria de gentes ou grupos que acordam todos os dias dispostos a liquidar a humanidade com produtos cheios de porcarias tóxicas e cancerígenas. É, assim, um tema apetecível.
Ora, nada de mais errado (eu não escrevo assim, costumo ser mais palavroso, isto hoje está a sair assim ao estilo do José António Saraiva, mas juro que não é de propósito). Uma planta é um ser vivo, do reino vegetal que, tal como os homens – e por muito estranho que possa parecer - tem doenças bacterianas, micoses, é atacada por ácaros, pragas, tem anemias, deficiências, stresse (sim stresse, hídrico, de seca, de podas violentas) e necessidades nutricionais, em que os elementos básicos são o azoto (N) o fósforo (P) e o potássio (K). Há ainda, tal como nos humanos, necessidades imperiosas de microelementos (oligoelementos) como o ferro, o zinco, o magnésio, o cálcio, o boro, o molibdénio e outros, muitos outros. Os aminoácidos essenciais têm, igualmente um papel importantíssimo no metabolismo. Nada que um homem não tenha ou não sofra. Ora, salvo melhor opinião, quando uma pessoa está doente, trata-se. Se está debilitada, é compensada com medicação adequada e se uma criança tem um surto de piolhos, matam-se os piolhos, se está stressada toma antidepressivos e por aí fora. Por outras palavras... não há uma substancial diferença entre um “pé de atleta” nos homens e uma ataque de míldio ou oídio numa videira, uma tuberculose pulmonar e uma podridão da macieira. As pessoas deprimem-se com o stresse e são medicadas. E como acham que uma planta se sente se estiver submersa durante dias, sujeita a um sol inclemente durante semanas ou for sujeita a uma poda violenta ou a uma transplantação? O homem tem sarna, os citrinos têm ácaros e afídeos, o homem está anémico e uma laranjeira está desesperadamente carente em ferro. E até os pessegueiros têm lepra e o castanheiro tem “tristeza”... a linha de comparação é extensa e é melhor ficar por aqui.
Míldio da videira
A protecção fitossanitária é indispensável para a SAÚDE das plantas. Ingerir produtos ecológicos pode significar estarmos a comer cenouras raquíticas, deficientes em vitaminas ou sais minerais, batatas com fungos ou pomoídeas com bactérias, Não me parece que nada disto seja ecológico. Depois, há a questão económica. Independentemente de um produto ecológico não ser TÃO BOM como um produto devidamente tratado, acresce que quem dependa de uma economia agrícola não tem um futuro viável se não proceder a um criterioso programa de protecção fitossanitária. E não menos importante é o facto de que à utopia de se fazer agricultura sem o recurso a produtos químicos corresponderia a IMPOSSIBILIDADE de se alimentar populações ainda famintas e de aumentar exponencialmente a malnutrição.
A maioria dos fitofármacos são sujeitos a longos períodos de testes e são produzidos por empresas multinacionais que gastam milhões de Euros em pesquisa e desenvolvimento, antes de serem colocados no mercado e só depois de serem homologados pelos respectivos departamentos estatais de cada país. Cada molécula é criteriosamente criada (por síntese ou recorrendo a produtos naturais, como a flor de piretro, por exemplo) de acordo com extensivos programas de investigação e definição do problema. É acompanhada de fichas técnicas, rótulos e instruções que a serem escrupulosamente observadas a torna segura para ser utilizada em produtos de alimentação humana. De resto, a maioria dos fitofármacos são biodegradáveis ou arrastados para o solo pela sistemia das plantas e, por isso, o espaçamento entra as últimas aplicações e o consumo dos produtos deve ser escrupulosamente observado.
Há um aspecto particular com a questão dos adubos. Aqui, sim, a questão é mais controversa, sobretudo devido à nitrificação dos solos. Mas, mesmo assim, este risco pode ser bem controlado se se proceder a análises dos mesmos e, basicamente, incorporar no terreno as quantidades de nutrientes que as plantas precisam, nem mais, nem menos.
É evidente que tudo isto depende dos homens. O uso indiscriminado de fitofármacos ou de fertilizantes pode causar problemas graves. Mas o uso indiscriminado seja do que for conduz sempre a contrariedades.
Portanto, antes de comermos um morango azedo e enfezado ou uma pêra bonita por fora e com lagarta lá dentro, pensemos que podemos comer os mesmos produtos racionalmente equilibrados na saúde própria, além de que será um bom exercício para nos libertarmos de histerias colectivas e misturarmos a ferrugem dos cereais com a maldita da globalização que só nos traz chatices...
Milho são
ET – este é um campo muito vasto, onde cabem muitas opções. O controle integrado, por exemplo, é uma boa alternativa relativamente aos fitofármacos e que basicamente consiste na luta aos insectos através de outros insectos predadores. Mas o fio deste post tem mais a ver com o posicionamento das pessoas perante esta questão do que com vertentes puramente agronómicas.
11 Comments:
Há pesticidas que permanecem nas culturas à data da colheita e do consumo. Reparemos no recente caso do dieldrin no tabaco. Por outro lado análises têm demontrado resíduos de pesticidas em hortícolas de consumo crú. As coisas não são assim tão lineares como diz.
JC Espinha (Oeiras)
E ainda outra questão. Não questiono o avanço técnico e científico da investigação. Mas a famosa sigla R&D não nos garante que a investigação seja feita em bases estritamente científicas. O D de desenvolvimento encerra várias componentes de mercado numa visão puramente de lucro, por outras palavras, se o problema não existe, cria-se. Isto, à partida, retira alguma credibilidade a esta matéria e suscita desconfianças sobre a comercialização de pesticidas.
J. Espinha
Este é um caso típico de globalização desenfreada sem quaisquer preocupações pelo bem estar das pessoas. Faz-se agora, vende-se agora e depois logo se vê. Não concordo com uma linha do que diz.
Maria Helena M.T. - Lisboa
Estão a dar na cabeça ao espumante. Ainda lhe salta a rolha :)
IL
J.C. Espinha
Eu nunca disse que os pesticidas não tinham acção residual nas plantas. Aliás, o espírito do post não era bem esse. De qualquer forma a biodegradação dos pesticidas varia com cada qual e com a própria planta onde é aplicado. Daí eu ter mencionada a necessidade de uma utilização criteriosa. Quanto aos departamentos de Investigação e Desenvolvimento (R&D), não poderíamos esperar que a indústria química fosse uma honrosa excepção a uma regra generalizada a muitos sectores de actividade. Obrigado pelo comentario.
A questão dos produtos ecológicos - eu diria produtos biológicos - é semelhante a muitas correntes de pensamento correcto. Parabens pelo que escreveu.
C.A.Reis - Maia
Maria Helena M.T. em Lisboa
Pois... eu também acho! Comente sempre.
IL
Minha querida amiga. A rolha não salta e estes assuntos não prescreven. E se a rolha não salta, é porque o espumante não é da malta :))) Porfiai, porfiai... :)
C.A Reis - Maia
Obrigado pelo comentário.
faz lembrar um pouco aquela história das pessoas utilizarem o adoçante no café e depois comem imensos bolos com imenso açucar e ovos. Apesar do teu post estar mais virado para a atitude das pessoas do que dos tratamentos, utilizações e suas consequências nos produtos, teremos penso de admitir que consumimos mais do que encomendamos. O equilíbrio é algo difícil. Este vou utilizar para a QP. Bjos
mmicr
Um dia aparece aí um grupo de holandesas de bibicleta para ensinarem agricultura biológica :))
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