Coisas simples
É do conhecimento geral que o maior produtor mundial de café,
o Brasil, tem estado a sofrer uma seca muito severa, em consequência da qual
poderá haver uma queda abrupta na produção, que se situa para além dos três milhões
de toneladas por ano. O que é que acontece? Falta café no mercado, a procura
aumenta, a oferta diminui, a cotação internacional sobe e o custo da bica
agrava-se. A isto chama-se mercado e coisa mais simples e mais justa não há. As
pessoas que gostam de café vão pagá-lo mais caro ou, alternativamente, não
tomam café. Os produtores terão prejuízos, mesmo assim minorados pelos preços
mais altos que vão obter por uma produção mais baixa e toda a gente fica contente,
para o ano chove outra vez e se os deuses quiserem as coisas voltam ao normal.
É o sistema, os mercados e o regime de livre iniciativa funcionando.
Se Portugal produzisse café, a alternativa socialista passaria
por:
1 – Os agricultores queixam-se da falta de chuva;
2 – A comunicação social manda os seus repórteres fazer
perguntas capciosas aos produtores e pergunta-lhes o que é que o Estado já fez
para resolver a situação;
3 – Os deputados socialistas mandam chamar o ministro de agricultura
ao parlamento para explicar porque é que o governo não preveniu a falta de
chuva. Exigem;
4 – Mário Soares escreve na sua piedosa página do DN que não
chove por causa dos mercados;
5 – Galamba, Bagão Félix, Ferreira Leite e similares dizem
que a culpa é da Merkel e a Ana Lourenço pergunta, no noticiário, se a culpa não
será da Merkel;
6 – O ministro da administração interna manda abrir um
processo para averiguar das razões por que os serviços de meteorologia não
previram a seca;
7 – A ministra da agricultura sente-se coagida pela opinião
pública e pelo seu chefe de Partido e, em nome da lavoura, convence a ministra
das finanças a disponibilizar uma linha de crédito com juro bonificado e um
fundo perdido para ajudar os cafeicultores;
8 – Parte desses fundos chegam aos agricultores e desata a
chover de novo. Aí os beneficiários acham que dá mais jeito comprar um tractor
ou mesmo, quem sabe, um jipão à maneira;
9 – Os milhões disponibilizados saíram do orçamento de
estado e custou aos cidadãos três vezes mais do que se tivessem aumentado o
preço da bica. Aos que bebem e aos que não bebem bica;
10 – O povo continua feliz, continua a pedir uma bica bem
escaldada ao mesmo preço e acha que assim é que é, o Partido do governo dá uma
conferência de imprensa dizendo que resolveu a situação e os socialistas fazem uma
declaração onde demonstram ter tomado as dores dos produtores de café, dos
cidadãos em geral e dos mais desfavorecidos em particular, o esquadrão socialista das redes sociais enche os seus murais com críticas ao sistema e ao aquecimento global que provoca as secas e Jorge Sampaio diz
que há vida para além da seca.
Uma «seca», dirão alguns. E uma «seca» bem cara diria eu.
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Etiquetas: café, coisas simples, mercado
6 Comments:
E o BE exigia uma comissão parlamentar de averiguação a S. Pedro, sob o pretexto de açambarcamento de chuva.
Muito bom!
está-nos no adn!
erro primeiro o mercado mundial não é dominado por empresas brasileiras apesar do brasil produzir 15 a 16 das 45 a 50 milhões de sacas anuais
e o arabica domina o brasil
e não é apenas o café que sobe são os seus sucedâneos pois há um movimento especulativo muito forte
não que interesse muito mas só o mercado congelado dos grandes lagos comprou posições neste mês de 120 milhões de sacas
e curiosamente nem há tanto café pra meter nas sacas né
sakanas dos japs
Daily Commodity Futures Price Chart: May 2014
Coffee (ICE Futures)
TFC Commodity Charts
basta comparar com outros gráficos onde a escassez do produto jogou muito pouco com a especulação
March 2000 2013 Coffee Historical Prices / Charts (ICE Futures)
ou quando o mercado nacional quis escoar o açúcar e iniciou um boato que o açúcar ia desaparecer
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