Propus-me fazer uma resenha dos momentos mais significativos,
bons e maus, para mim, ao longo de 2013. Não deu. Pouco tempo e, mea culpa,
pouca disposição. E receei que acabaria por cair no discurso recorrente da
tremenda situação em que nos encontramos, por obra e artes de um socialismo
serôdio convencido da sua permanente actualização, sábia e democrática actualização,
por força de um aggiornamento que lhe é imposto pela realidade. No fundo, a velha
imagem do socialismo na gaveta de Soares. E não resistiria ainda ao registo de
duas camadas de gente, uma, nobre, superior, fadada para tratar de nós em
regime de manadio, por via da sua superioridade moral e intelectual. A outra,
mais truculenta e potencialmente torcionária se acaso obtivesse o poder.
Entretem-se a escaqueirar o que resta deste país, para o que conta com uma tribo
em estádio primário (e que convém manter como está) e com os tais seres
bafejados pela luz da moral, bons costumes e sabedoria que, neste caso, funcionam
como os conhecidos idiotas úteis. Que me parece, de resto, ser a única
utilidade de que dispõem.
A propósito destes últimos, não resisto a citar um (precioso) vídeo de um conhecido trio de eminentes artistas (Tordo, Paulo Carvalho
e Carlos Mendes) «explicando» às crianças portuguesas dos anos setenta a
verdadeira essência do Natal, substituindo-a por operários e lenhadores amigos
que, eles sim, lhes levavam o verdadeiro espírito de Natal. Até porque nessa
altura havia muitos amigos em cada esquina, como aqueles que já tinham atingido
a maioridade no 25 de Abril se devem lembrar. A gente dobrava uma esquina e
tropeçava nos amigos, presume-se que operários e lenhadores. Vale a pena vir aqui
e ler este post da Helena Matos e, importante, ouvir o vídeo. Uma prova viva de
como esta gente acha que deve cuidar de nós e, mais grave, se encontra ainda por
aí, engravatada pelo socialismo moderno mas, no fundo, levedando o sonho eterno
dos operários e lenhadores fazerem o Natal para a criança nova que o Portugal mereceria,
não fossem os poderosos, os bancos e o «Pingo Doce».
É isso… eu tenho este tremendo defeito, entre outros. Começo
a descrever algumas ideias e depois faço das palavras as cerejas do ditado
popular.
O melhor mesmo é ficar por aqui. E desejar, do fundo do meu
coração, a todos quantos por aqui passam, um Novo Ano sem operários nem lenhadores
a fazerem a festa, apenas com amigos e familiares queridos, E que entre eles
crepite sempre uma luzinha especial, alguém que sabemos que nos ama muito e que
nós amemos também *. Assim mesmo. Amar por amar, sem operários nem lenhadores,
apenas no decurso da nossa natureza, sobretudo mantendo a nossa intocável condição
de indivíduo. Cada qual com as suas características próprias (sem necessidade de
sermos criados em manadio) e, todos juntos, mesmo diferentes, consigamos o
respeito mútuo necessário para uma vida e um país melhores.
Sorrir continua a ser uma manifestação de carácter, cultura
e bonomia. Há sorrisos, mesmo, que desarmam, por tão lindos que são. Um bom
2014 para todos os meus amigos, com um franco e esperançoso sorriso.
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Etiquetas: coisas boas, coisas que só acontecem uma x ano