Elogio da carica
Não, não é a tampinha da cerveja. Refiro-me, nem mais nem
menos, à papaia, ao mamão, uma fruta tropical a que se decidiu dar estes dois
nomes em função da sensualidade bruta das gentes angolanas (África, terra
bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta…) que por razões de morfismo
erótico de uma variedade de papaia mais… hum… parecida com… hum…um redondo e
atraente seio feminino resolveram chamar de mamão. Parece que este termo
derivou para o Brasil onde, de resto, medrou uma militante ortodoxia em relação
ao facto de papaia e mamão serem diferentes. Não são. Apesar de uma diferente morfologia, a fruta é a mesma (literalmente), tal como se comparássemos duas mulheres, uma
magra, outra gorda, ou uma oriental e outra ocidental, uma esquimó ou uma filha
da Papua. O mamão e a papaia são uma caricácea, do género carica, e as
variedades é que mudam.
Isto a propósito de eu ter passado uns dias em Luanda, onde
degustei o mais delicioso mamão angolano. Na minha opinião, claro, que eu
nestas coisas de mamões sou muito democrata e flexível e aceito a militância de
gentes oriundas do Huambo, de Benguela ou do Bié que se aqui estivessem neste
momento me esconjurariam, defendendo a sua dama (entenda-se, defendendo o seu
mamão) e reclamando a primazia dos seus conterrâneo mamões.
É curioso, porque a primeira vez que comi mamão, tinha eu uns
oito anitos, por aí, a «coisa» me soube e cheirou a qualquer coisa esquisita,
entre um beijinho de uma tia com hálito de quem parecia nunca ter lavado os
dentes até aos 90 anos que tinha, ou uma molécula que dá pelo nome de tiocolquicosido,
uma coisa de gosto horrível com um nome estranhíssimo e que nós passamos a
conhecer quando, com o avanço dos anos, começamos a ranger das dobradiças. Mas
é a verdade. A coisa sabia mal e hoje questiono-me como era isso possível, já
que me habituei a deliciar com uma sumarenta, macia e doce fatia de mamão de sabor
absolutamente sui-generis. Não há nada que substitua, em vantagem, uma fatia de
mamão para iniciar um tropical matabicho. E, já agora, mamão de Luanda. Por
acaso, nesta minha passagem por Angola, comi mamão no Huambo, em Benguela e em Luanda.
Veredicto: Mamão de Luanda, sempre.
Hoje deixo este país, em direcção a outras latitudes e
longitudes, aquelas coisas que inventámos a partir do equador e de Greenwich (que os ingleses nestas coisas, e desde que decidiram guiar pela esquerda, acharam que eles é que deviam mandar nas longitudes), não
fosse isso e não saberíamos bem por onde andamos…). E por onde vou, de uma
coisa tenho a certeza. Por muitos mamões que coma nenhum deles será como este
que acabei de, uma vez mais, comer ao pequeno-almoço. O de Luanda.
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Etiquetas: África terra bruta que até à papaia lhe chamam de fruta, angola, coisas boas
4 Comments:
Maravilha de crónica. Obrigada.
Maravilha de crónica. Obrigada.
Este comentário foi removido pelo autor.
...desculpe...o blogger percebeu tão bem o meu entusiasmo que até o publicou 3 vezes...e não consigo apagá-los !!
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