sexta-feira, dezembro 06, 2013

Elogio da carica



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Não, não é a tampinha da cerveja. Refiro-me, nem mais nem menos, à papaia, ao mamão, uma fruta tropical a que se decidiu dar estes dois nomes em função da sensualidade bruta das gentes angolanas (África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam de fruta…) que por razões de morfismo erótico de uma variedade de papaia mais… hum… parecida com… hum…um redondo e atraente seio feminino resolveram chamar de mamão. Parece que este termo derivou para o Brasil onde, de resto, medrou uma militante ortodoxia em relação ao facto de papaia e mamão serem diferentes. Não são. Apesar de uma diferente morfologia, a fruta é a mesma (literalmente), tal como se comparássemos duas mulheres, uma magra, outra gorda, ou uma oriental e outra ocidental, uma esquimó ou uma filha da Papua. O mamão e a papaia são uma caricácea, do género carica, e as variedades é que mudam.

Isto a propósito de eu ter passado uns dias em Luanda, onde degustei o mais delicioso mamão angolano. Na minha opinião, claro, que eu nestas coisas de mamões sou muito democrata e flexível e aceito a militância de gentes oriundas do Huambo, de Benguela ou do Bié que se aqui estivessem neste momento me esconjurariam, defendendo a sua dama (entenda-se, defendendo o seu mamão) e reclamando a primazia dos seus conterrâneo mamões.

É curioso, porque a primeira vez que comi mamão, tinha eu uns oito anitos, por aí, a «coisa» me soube e cheirou a qualquer coisa esquisita, entre um beijinho de uma tia com hálito de quem parecia nunca ter lavado os dentes até aos 90 anos que tinha, ou uma molécula que dá pelo nome de tiocolquicosido, uma coisa de gosto horrível com um nome estranhíssimo e que nós passamos a conhecer quando, com o avanço dos anos, começamos a ranger das dobradiças. Mas é a verdade. A coisa sabia mal e hoje questiono-me como era isso possível, já que me habituei a deliciar com uma sumarenta, macia e doce fatia de mamão de sabor absolutamente sui-generis. Não há nada que substitua, em vantagem, uma fatia de mamão para iniciar um tropical matabicho. E, já agora, mamão de Luanda. Por acaso, nesta minha passagem por Angola, comi mamão no Huambo, em Benguela e em Luanda. Veredicto: Mamão de Luanda, sempre.

Hoje deixo este país, em direcção a outras latitudes e longitudes, aquelas coisas que inventámos a partir do equador e de Greenwich (que os ingleses nestas coisas, e desde que decidiram guiar pela esquerda, acharam que eles é que deviam mandar nas longitudes), não fosse isso e não saberíamos bem por onde andamos…). E por onde vou, de uma coisa tenho a certeza. Por muitos mamões que coma nenhum deles será como este que acabei de, uma vez mais, comer ao pequeno-almoço. O de Luanda.

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4 Comments:

At 11:11 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Maravilha de crónica. Obrigada.

 
At 11:11 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Maravilha de crónica. Obrigada.

 
At 11:11 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 11:13 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

...desculpe...o blogger percebeu tão bem o meu entusiasmo que até o publicou 3 vezes...e não consigo apagá-los !!

 

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