Pessoalmente, embirro com estes espasmos de independência dos
Catalães. Não que não lhes faltem fortes argumentos nesse sentido, sobretudo
nos capítulos económico e financeiro, com a sua poderosa indústria e peculiar agricultura.
E o turismo, sim, já me esquecia, apesar da Sagrada Família (convenientemente
as obras de Santa Engrácia do burgo), de Miró, Dali, Caballé e do “catalunhado”
Picasso que, vistas bem as coisas era de de Málaga. Disto isto, não nego haver
razões poderosas para uma desejada secessão.
Mas a minha pergunta é: Porquê? Para quê? Não vivemos hoje
uma época cuja realidade não se compraz com romantismos independentistas quando,
afinal, há inquestionáveis razões para o estabelecimento de uma União Europeia,
sem fronteiras, com moeda única e com culturas diferentes sim, mas, no fundo,
com um substrato semelhante, tudo junto
e somado capaz de contribuir para um bloco económico e cultural capaz de
ombrear (e, eventual, vencer) os blocos americano, inglês e asiáticos?
Posta a situação nesta base simplista, e aceito haver questões
de acuidade e densidade que a destroem, promover e/ou apoiar a independência da
Catalunha é dar guarda a meia dúzia de loucos do "Podemos", tão interessados na
Catalunha como nos supermercados e farmácias de Caracas e uma elite razoavelmente
idiota portuguesa, que se esforçam agora por emular a “justiça” incontornável de
conferir à Catalunha o estatuto de país independente. Esquecem-se, uns e outros, que o
regime por que tão arduamente lutam agora, não permitia quaisquer veleidades de
autodeterminação e muito menos de independência não a regiões autonómicas, mas
a países a sério, como a Hungria, a Roménia a Bulgária, a antiga
Checoslováquia, metade da Alemanha e outros de onde os cidadãos eram
sumariamente abatidos a tiro de cada vez que tinham a fantasia de abandonar o
paraíso. E muitos deles lutaram mesmo pela restituição da independência (coisa
distinta de lha conferirem ideologicamente) ao que a sinistra União Soviética respondia
com tanques, espingardas e granadas. Mas isso para a esquerda pós-moderna são outros quinhentos.
Esta esquerda moderna, mesmo dando de barato que muita dela
é composta por jovens que porventura desconhecerão até estas minudências de
países subjugados pela URSS, revê-se em tudo que possa reduzir a cacos o
sistema actual, perigosamente neoliberal, aquele que lhes dá carros, telemóveis,
cultura, bem-estar e dinheiro para gastos. Tudo em nome de complexos
indefiníveis e de um ódio estranho que lhes eriça as vísceras. Não hesitando em
se aproveitar seja do que for, desde que razoavelmente posicionado para a
cacaria.
Este aproveitamento oportunista de uma Esquerda intrinsecamente
desonesta, ignorante, pestilenta e de má índole, na parte que me diz respeito é
uma razão suficiente para se tentar resolver a questão catalã. Não desminto que
não tenho qualquer experiência dos mecanismos que norteiam a resolução destes
conflitos, mas acho que Madrid está a morder um isco envenenado. Esta coisa de
pagamentos directos, envio de polícia e de prisões são exactamente coisas que
interessam aos “Podemos” e correlativos que encontram aí combustível para a fogachada.
Creio que ainda existe gente com suficiente formação intelectual, para
conduzir as coisas a bom termo, entendendo-se por bom termo a manutenção da Catalunha
como uma região autónoma, mas parte integrante de uma Espanha forte, unida e
democrática. Coisas que, com o andar da carruagem, a Catalunha parece começar a
deixar de ser.
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Etiquetas: Catalunha