domingo, setembro 24, 2017

Uma opinião



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Pessoalmente, embirro com estes espasmos de independência dos Catalães. Não que não lhes faltem fortes argumentos nesse sentido, sobretudo nos capítulos económico e financeiro, com a sua poderosa indústria e peculiar agricultura. E o turismo, sim, já me esquecia, apesar da Sagrada Família (convenientemente as obras de Santa Engrácia do burgo), de Miró, Dali, Caballé e do “catalunhado” Picasso que, vistas bem as coisas era de de Málaga. Disto isto, não nego haver razões poderosas para uma desejada secessão.

Mas a minha pergunta é: Porquê? Para quê? Não vivemos hoje uma época cuja realidade não se compraz com romantismos independentistas quando, afinal, há inquestionáveis razões para o estabelecimento de uma União Europeia, sem fronteiras, com moeda única e com culturas diferentes sim, mas, no fundo, com um substrato semelhante,  tudo junto e somado capaz de contribuir para um bloco económico e cultural capaz de ombrear (e, eventual, vencer) os blocos americano, inglês e asiáticos?

Posta a situação nesta base simplista, e aceito haver questões de acuidade e densidade que a destroem, promover e/ou apoiar a independência da Catalunha é dar guarda a meia dúzia de loucos do "Podemos", tão interessados na Catalunha como nos supermercados e farmácias de Caracas e uma elite razoavelmente idiota portuguesa, que se esforçam agora por emular a “justiça” incontornável de conferir à Catalunha o estatuto de país independente. Esquecem-se, uns e outros, que o regime por que tão arduamente lutam agora, não permitia quaisquer veleidades de autodeterminação e muito menos de independência não a regiões autonómicas, mas a países a sério, como a Hungria, a Roménia a Bulgária, a antiga Checoslováquia, metade da Alemanha e outros de onde os cidadãos eram sumariamente abatidos a tiro de cada vez que tinham a fantasia de abandonar o paraíso. E muitos deles lutaram mesmo pela restituição da independência (coisa distinta de lha conferirem ideologicamente) ao que a sinistra União Soviética respondia com tanques, espingardas e granadas. Mas isso para a esquerda pós-moderna são outros quinhentos.

Esta esquerda moderna, mesmo dando de barato que muita dela é composta por jovens que porventura desconhecerão até estas minudências de países subjugados pela URSS, revê-se em tudo que possa reduzir a cacos o sistema actual, perigosamente neoliberal, aquele que lhes dá carros, telemóveis, cultura, bem-estar e dinheiro para gastos. Tudo em nome de complexos indefiníveis e de um ódio estranho que lhes eriça as vísceras. Não hesitando em se aproveitar seja do que for, desde que razoavelmente posicionado para a cacaria.

Este aproveitamento oportunista de uma Esquerda intrinsecamente desonesta, ignorante, pestilenta e de má índole, na parte que me diz respeito é uma razão suficiente para se tentar resolver a questão catalã. Não desminto que não tenho qualquer experiência dos mecanismos que norteiam a resolução destes conflitos, mas acho que Madrid está a morder um isco envenenado. Esta coisa de pagamentos directos, envio de polícia e de prisões são exactamente coisas que interessam aos “Podemos” e correlativos que encontram aí combustível para a fogachada. Creio que ainda existe gente com suficiente formação intelectual, para conduzir as coisas a bom termo, entendendo-se por bom termo a manutenção da Catalunha como uma região autónoma, mas parte integrante de uma Espanha forte, unida e democrática. Coisas que, com o andar da carruagem, a Catalunha parece começar a deixar de ser.


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