quarta-feira, outubro 18, 2017

Já não dava mais...



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Não conheço Constança Urbano de Sousa de lado nenhum, mas confesso que achava suspeito aquele ar desolado e a pender para o trágico que ela apresentava nas suas aparições. Custava-me a acreditar que a teimosia em não se demitir fosse genuína.

A carta de demissão publicada no Expresso revela que a mulher não era assim tão estúpida e que tudo remetia para o calibre de uma criatura como Costa. Um biltre. Um tipo sem carácter e com as barbas a arder por ser o responsável pela nomeação de uma colecção de patetas que percebem tanto de protecção civil como eu de ponto cruz e que haviam sido nomeados por ele, não por Constança. Ainda ontem ou anteontem, Costa afirmava sobranceiro  que a demissão de Constança seria uma infantilidade.

As tragédias deste Verão/Outono não são o azar de Costa. São o azar de quem morreu, o azar de quem perdeu familiares, haveres, tudo. Esses são os verdadeiros azarados, por causa das trafulhices partidárias de Costa que, esse sim, se tivesse aquilo que sabemos que não tem – vergonha, apresentaria desde já a sua demissão.

Não sei bem o que se vai passar. Não confio totalmente em Marcelo e peço desculpa se me enganei. Mas acho que a firmeza de ontem não joga muito com os seus ziguezagues recentes. Posso estar enganado e, se estiver, penitenciar-me-ei com sinceridade. Mas acho isto tudo esquisito. O homem zanga-se, troca as selfies por uma “reprimenda” (termo usado por António Vitorino, ontem), Constança demite-se, os figurantes canhotos votam contra a moção de censura e fica tudo na mesma.

E acho que não devia ficar tudo na mesma. Marcelo teria razões fortes para dissolver a Assembleia e acabar com esta marmelada de um gripo de gente amoral que não tem qualquer noção de competência ou de sentido de Estado. E depois venham as eleições. E se o PS ganhar outra vez, espero bem que lá entre eles arranjem maneira de extirpar meia dúzia de furúnculos que continuam a infectar um Partido que, apesar de tudo, há-de ter gente decente.


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domingo, setembro 03, 2017

Os "tudólogos" a piar com alacridade e violentos fluxos hormonais



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Não sou obrigado a simpatizar pessoalmente com Cavaco para admitir, sem rebuço, que foi um homem sério, não me roubou (como aconteceu com inúmeros casos de socialistas), produziu obra válida (mau grado a corrente que o acusa das maiores malfeitorias relativamente às pescas e à agricultura) e demonstrou sempre um elevado sentido de Estado, ao mesmo tempo que era frequentemente acossado, como uma lebre perseguida por uma matilha de cães treinados e respectivos caçadores, tocando cornetas e montando cavalos ajaezados de hipocrisia e mau perder.

Cavaco fez um discurso na Universidade de Verão. Li, reli e tornei a reler. Não consegui encontrar qualquer mentira, num discurso meio pobre, num estilo conhecido (mas é o seu estilo) e sem ofensas, mas com evidentes referências a factos que todos nós conhecemos mas que todos nós parecemos perdoar ou, até, achar graça.

O Carmo caiu, a Trindade ruiu. O homem usou o termo “piar”, o homem não citou nomes e estabeleceu paralelismos com outros políticos, incluindo Macron (um presidente de quem ainda não se sabe o que sai dali, Daniel Oliveira dixit)), o homem foi grosseiro e, heresia provinciana, não guardou o respeito institucional devido à forma de referência a sucessores e a antecessores.

Em dois programas de ontem, o Governo Sombra e o Eixo do Mal, Cavaco foi atacado com ferocidade e, que me lembre, apenas Luís Pedro Nunes achou o discurso apropriado e isento dos pecados que os companheiros da alegria do Eixo apontaram com mesquinhez, maldade e evidente parvoíce. Pedro Marques Lopes, um homem que me faz questionar a minha secreta dose de masoquismo por conseguir, ainda, vê-lo ou ouvi-lo, esse então estava possesso e com o seu grau de fúria, se comparado a uma bebedeira, era de coma alcoólico. No Governo Sombra a coisa não foi tão mazinha, até porque razoavelmente disfarçada pelo toque de humor sempre presente, mas isso não amenizou a verrina do RAP, genuinamente embevecido por malhar em Cavaco.

Num país em que abundam a má criação, o mau perder, o vernáculo, a mesquinhez, a ameaça de uns murros, a fraude e a chocarrice idiota de um primeiro-ministro a que se convencionou chamar de hábil, acolitado por uma colecção de “kiss-asses” sem pudor, é estranho ver um grupo de personalidades de televisão explanar uma crítica tão virulenta e com sanha e rancor contra quem mais não fez que um comentário político, em que o pecado maior parece ter sido dizer que os revolucionários “piavam”.


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terça-feira, setembro 15, 2015

Já fede


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Provavelmente poderá parecer herético ter dúvidas sobre se os «Gato» têm graça ou acham que são engraçados. Não é de agora, de há muito que acho que os membros do grupo, com particular destaque de RAP, antes de serem humoristas são, sobretudo activistas. Fica na dúvida se são porque são, se são porque acham que vende ou se são porque sim.

Isto a propósito do novo programa (pomposamente, mas com uma conveniente falsa modéstia, comparado ao «Daily Show») dos GF na TVI, a que assisti por curiosidade, especialmente para ver se havia ali algo de novo. Não havia. Uma espécie de rábula do costume sobre a idiossincrasia nacional, a exploração do episódio da pizza de Sócrates e uma permanente atitude chocarreira sobre a nega de Passos Coelho, foi tudo quanto consegui lobrigar.

É o que acontece quando algumas personagens se auto classificam na categoria de «vacas sagradas», uma estirpe que medrou em Portugal com o aplauso generalizado da grei. E aqui cabem humoristas, jornalistas, comentaristas e outras figuras similares. Ao ponto de, no caso dos humoristas, basta dizer mal de um governo geralmente tido como de direita, porque se sabe que o povo gosta. E ri.

Já vi alguns episódios do RAP genuinamente divertidos e inteligentes. Acho, porém, que foi chão que deu uvas. O homem tem-se eclipsado gradualmente e até os indefectíveis parecem ser cada vez menos. Costumo dizer que todos os perus têm o seu Natal. Mesmo os grandes humoristas, como foi o caso do Herman, hoje por hoje, na minha opinião, o nosso maior humorista de sempre. Mas o Herman, pelo menos, perdido o chão firme da televisão, continua a encher salas de espectáculo por esse país fora. Toca viola, piano, canta e produz piadas sem usar da muleta, batoteira, das personagens que para renderem juros, basta que se diga mal delas. Duvido que o RAP consiga fazer o mesmo. A menos que ele ache que, numa qualquer manhã que cante por aí, lhe apareça um dos amigos de cada esquina e lhe ofereça um job a preceito.

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