O DN é como o algodão. Não engana. Ou melhor, engana só um
bocadinho, não se nota. Melhor ainda… engana que se farta, mas persegue a sua
infrene luta com o Público para ver qual deles é o pasquim mais pestilento.
De há pouco tempo a esta parte, porém, a coisa torna-se
insuportável. Tendo desistido, em permanência, do Público, tenho comprado o DN.
Até porque tem uma página de passatempos meritória, melhor que a do Público o
que, na obediência diária que um cidadão saudável deve ao seu trato intestinal
pode ser de elementar utilidade. Sentado na “privada” e a fazer as palavras
cruzadas do DN, eis um binómio que cada vez reflecte com mais nitidez o uso
diário do euro e vinte.
O problema é que a “coisa” está que não se pode. Todos os dias,
repito… todos os dias há notícias lindas, fofas, segundo as quais os portugueses
vivem no melhor dos mundos, nada que se compare com as tragédias do governo
anterior. Ele é o metro que vai abrir mais duas estações (em 2018, eu sei, mas
o Costa é especialista nesta forma de dar notícias boazinhas) ele é o passe
social que vai ser mais caro mas, segundo Costa, vai ser mais barato (não estou
a brincar, o homem faz para ali umas contas e no fim bate certo…) ele é os
lesados do BES que ainda NINGUÉM percebeu quem é que lesa quem, o que não
inibiu um lesado de dizer que “aquilo era uma bênção” ele é as máquinas dos
bilhetes do metro que vão, finalmente, ter bilhetes, ele é a Carris que vai ter
mais de para cima duma quantidade de autocarros e dará emprego a muitas famílias (nunca
o termo famílias se usou tanto), ele é isto, ele é aquilo, ele é tudo o que um
português pode aspirar para ser um homem feliz.
Mas hoje, convenhamos. O DN abusou. Tirou partido de mim…
abusou…tra-la-la que eu já nem sei se é meninice ou cafonice o meu amor… e vai
daí logo na primeira página, afirma (ipsis literis):
- Há seis anos que não se gastava tanto no Natal;
- Consumo registado ao nível das compras antes da crise (entenda-se
por antes da crise, o ultimo ano de Sócrates, é preciso ter lata, mas é o que o
Jornal diz);
Há menos pessoas a escolher centros comerciais, enquanto o
comércio tradicional está a ganhar clientes (eis aqui, sem mais, o espírito de cidadania
dos portugueses, contra os capitalistas);
- Em 2011, 47% dos consumidores diziam fazer as compras exclusivamente
em centros comerciais, mas este ano apenas 29% dão esta resposta (fantástica,
esta mudança dos portugueses).
E por aí fora, confesso faltar-me a paciência para mais.
Não comprem o jornal. Não vale a pena. É sempre igual. E a crónica
do Alberto Gonçalves vem na net, de qualquer modo. Portanto, não vale a pena, a
menos que se tenha adquirido o saudável hábito de fazer palavras cruzadas durante
o acto. Esse. O da “privada”. E aí recomenda-se o DN.
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Etiquetas: brincar com coisas sérias, comunicação social