Funeral de Txova
Era o que faltava – deixar o socialismo por mãos alheias. E
só elas, as mãos socialistas, poderiam fazer cabalmente jus à essência do
socialismo. Entenda-se, a mão do Estado em tudo o que mexe. Eu, que já vi
barbearias, pastelarias, capelistas e bancas de mercado serem nacionalizadas,
entendo bem a razão porque, tarde ou cedo, não há lâminas para fazer a barba,
pastéis, botões e alfinetes ou verduras. Depois…é só aplicar o método de análise
à agricultura, à indústria, às finanças, à justiça e a todas as mariquices que
os capitalistas inventaram e ver o resultado.
A tragédia da coisa é que gerações formatadas nestes
sistemas (e ainda há dias foquei esse aspecto) não só entendem as “insuficiências”
como acham que a culpa é dos corruptos capitalistas. Não fossem eles, os
capitalistas e o Jeep transportando as cinzas do ditador (um Jeep soviético
montado na Checoslováquia, com cerca de 50 anos de uso e certamente enviado
para Cuba por conta do açúcar a preços políticos) não se iria abaixo. Mas, lá
está. A multidão não teria como ulular as honrosas “insuficiências do
socialismo” (não é ironia, as insuficiências tinham um lugar de honra nos
regimes socialistas) e, muito menos, um motivo para vilipendiar o capitalismo.
Fidel vai para a cova de Txova, uma expressão moçambicana
que significa “empurrar”, Sukuma em vários países da África Oriental e cuja
equivalência não me ocorre para Angola. Vai-lhe bem com o caqui da farda, a barba,
o Cohiba e a garrafita da Laurent Perrier. Enquanto, cá fora, ainda vivas, as vítimas
berram, excitadas, Fidel, Fidel.
Em Portugal a coisa é mais sóbria mas nem por isso menos trágica.
Duas moções de pesar na Assembleia e a torrente de panegíricos na nossa já
insuportável comunicação social. Incluindo um sem número de comentadores televisivos. Bem que alguns deputados poderiam e deveriam ir a Cuba dar uma mãozinha ao féretro.
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Etiquetas: Fidel, insuficiências (honrosas) do socialismo
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