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Parabéns a mim. Que faço hoje um ano que deixei de fumar. Foi a 3 de Novembro de 2005 que eu disse “nem mais um cigarro para as colónias”, sendo que as colónias, no caso, eram uma massa esponjosa onde se fazem as trocas gasosas do sangue que me corre numas artérias finórias de nome e coronárias de apelido que, por acaso, estavam um bocadinho para o apertado. Feitios! Ele há artérias para tudo e quando menos esperamos lá aparece uma ou outra com um claro ideário suicida e, sem avisar, resolve rebentar só porque amuou por lhe termos andado a dar nicotina durante uns anos.
Dizer que hoje sou outro homem não chega. É preciso fumar e deixar de fumar para percebermos que é possível viver com novos cheiros, sabores e fazer exercício físico até partir a cantareira, que é uma maneira menina de dizer que é possível cansarmo-nos estupidamente sem arfarmos, tossirmos, cuspirmos e pigarrearmos. É tudo bom. Fica, eu sei e confesso, uma nostalgia muito grande do cigarro entre os dedos, que levamos à boca para uma formidável fumaça que nos inunda o corpo de prazer. Fica uma sensação “tartamudeante” e idiota de quem não sabe bem o que fazer no fim de certas tarefas, tais como comer, tomar um café, sentarmo-nos ao volante do carro ou atender o telefone. Fica ainda desfeita a mais famosa trilogia universal, as melhores três coisa do mundo que são, como se sabe, um wisky antes e um cigarro depois. Para mim já não há depois, tive de inventar posfacios que não têm nada a ver com um cigarro. Como há muito que não bebo, também já não tinha prefácio. Fica-me o “entretanto”, o “in between” que, espero, me não pareça despiciendo para quem dispensou o “antes” e o “depois”. Quando me faltar o “in between”, atirar-me-ei, provavelmente, duma ponte, não sem que, antes, acenda e aspire um formidável cigarro.
Visto isto e tudo somado, quero deixar um conselho amigo para todos os que fumam. Por muito que a vida nos pareça sem sentido, por muito que a bica nos puxe, que o atender do telefone nos empurre, que as outras duas melhores coisas do mundo nos tentem ao acender de um cigarro, quero aqui deixar bem expresso que abandonar o cigarro foi talvez a mais avisada decisão que tomei na minha vida. Não era muito difícil, eu sei, tão poucas foram as decisões avisadas que tomei, mas tenho de reconhecer que hoje sou outro homem. E não sabia que era possível tantas coisas serem tão boas. Pelo menos, andava esquecido.
Vão por mim. Parem o cigarro. Já. Sobretudo não recorram a adesivos, pastilhas nem posturas programáticas que tudo isso é um factor de stress acrescido. Deitem o cigarro fora, period. E daqui a um ano falem comigo.
PS. E agora vou para casa que hoje é fim de semana e trabalhei demais para o meu gosto. Bom fim de semana para todos.