terça-feira, janeiro 31, 2006

Decência


[758]

Cada vez dou mais valor à decência, ao mesmo tempo que cada vez mais acho a decência uma das coisas que menos contam no dia a dia das pessoas. Não que isto seja verdadeiramente novidade para mim, mas tenho sempre aquela ideia (esperança) de que tal como precisamos de uma forma para fazer um bolo, também muitas situações que atravessamos na vida precisam de um forma. De preferência bem untada de manteiga quente para que possamos desenformar o bolo sem calamidades de monta.

A realidade, porém, é bem diversa. A cada dia que passa, a cada hora do dia, há mais e mais situações que me fazem pensar numa total inversão de valores e que a decência é substituída pela necessidade de nos ajustarmos a uma série de situações indecentes. Das mais intrincadas e importantes situações profissionais ao mais simples e comezinho café que se tome com um amigo e colega discutindo “abobrinhas”. Tanto numas como noutras situações, cada vez mais a indecência é uma forma de vida. Mais grave. Não só forma de vida, como absolutamente vital para a sobrevivência. Ontem, então, foi um dia indecente a cada minuto. Cheio de pequeninas coisas, manhas, artimanhas, jogos de cintura, mentirinhas, mentironas, sacanices, hipocrisias e uma tendência quase patológica para o maior desporto nacional –a filhadaputice militante, perdoe-se-me o termo.

Quando este tipo de situações vai incidir sobre terceiros, a coisa então torna-se-me quase insuportável. Ou serei eu que estou a ficar um coração mole?

Optimismo?


[757]

O facto de
Vasco P. Valente ter aderido à “Blogoesfera” poderá ser (como já li por aí, se bem me recordo, no Bloguítica) uma indisfarçável prova de optimismo por parte do “pessimista oficial do regime”.

Por mim, e apesar da opinião temporã, estou muito agradado. Este
post, por exemplo, deliciou-me e é de uma argúcia tremenda. Mas começa a levantar-se uma dúvida no meu espírito. Não estará VPV a arriscar-se a ter uma caixa de comentários a abarrotar de opiniões? E ele vai gostar? E se se farta? E se, farto, se vai embora? Daí que acho urgente e avisado o Espectro retirar a caixa de comentários. Já. Até porque dos comentários todos que lá vão aparecer, muitos terão uma base genuína, outros (alguém com mais traquejo nos blogues que explique a VPV) não serão mais que um movimento esperado de blog-climbers encartados. Aumentam as próprias visitas e, em conversa de café, vão poder dizer que são tu cá tu lá com VPV. Vão por mim…

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Imaginação


[756]

Contei pelo menos seis transcrições da “Balada da Neve” do Augusto Gil, em seis blogues diferentes, a propósito do nevão de ontem. Isto quando eu esperava (era o mínimo…) que a Madalena publicaria o "Tombe la Neige" do Adamo.

Not fair…

Pasa nada...


[755]

Ontem li, algures, que se não tivesse nevado e não tivessem andado a medir as radiações dos telemóveis nas grandes superfícies, ter-nos-íamos arriscado a ficar sem telejornais durante o fim de semana.

Estou com a mesma sensação hoje, no início de mais uma semana. Ou neva outra vez, ou Manuel Alegre melhora da “baixa” e regressa ao trabalho, ou, sei lá… a Fatinha aparece mais magra logo no “Prós e Contras”, ou arriscamo-nos mesmo a uma semana assim para o enfadonho.

Ou então sou eu que ando enfastiado. Até a neve já derreteu

domingo, janeiro 29, 2006

Cascais. Nem neva... nem sai de cima


[754]

A neve quando cai devia ser para todos. Mas não é…

Neva a metros de minha casa. Neva em Sintra, em Lisboa e em Cascais, nicles. Nem um floquinho, pífio que fosse, para enfeitar uma tarde de lareira e DVD’s. Até na Encarnação e Olivais neva, disse-mo a minha mãe ao telefone, no momento exacto em que se ia saber quem era o assassino num thriller a preceito.

Só em Cascais não neva. Sempre achei que o Capucho não dava conta do recado!

Foto tirada do Diario Digital

sábado, janeiro 28, 2006

Down a chick...


[753]

... feel satisfied!

1 3

Tugir em português


[752]

O
Tugir celebra hoje o segundo aniversário.

Daqui deste modesto canto o que posso dizer-lhes, ao
Luis Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, é que os leio desde sempre, todos os dias, porque gosto e porque os considero um espaço elegante e cívico de discussão política e um dos melhores blogues da minha lista de links. Mesmo discordando de muito do que escrevem. E que, por isso, daqui lhes envio uma saudação amiga de apreço e felicitações por estes dois anos a tugir em português.

Tchi tchin


F... (freezing, freezing) cold


[751]

A minha sessão velocipé-
dica desta manhã fez-me perceber, em toda a sua extensão, porque é que as grandes "Voltas" (Tour, Giro, Volta à Espanha) são feitas no Verão, com temperaturas de 30 graus e banhos de sol.

Irrrrrrrrrrrrrrrrrrrrra, que cheguei encolhido (literalmente) a casa. Transpirado, mas encolhido…

Achei pouco...


[750]

Do que tenho ouvido, a melhor proposta musical da blogosesfera é a da
bj, o que só abona a ideia de que os melómanos de Alguidares andam de passo certo e têm gosto apurado.

Falando de música, surpreende-me que numa efeméride tão marcante como o 250º aniversário de um génio maior como foi Mozart, não tenha ouvido por aí nos blogs com música uma sinfonia qualquer. Aparte um ou outro encómio (alguns de gosto duvidoso) num ou noutro blog, não dei por nada. Espero bem que a
bj se redima e nos dê Mozart a partir de Alguidares.

A
Madalena fez uma chamadinha de atenção…

Foto: Mozart, ainda uma criança

sexta-feira, janeiro 27, 2006

A Melhor da Semana


[749]

ESTA GENTE NÃO CAI COM OS MUROS: "Cavaco não pode esquecer que a maioria do povo português não votou nele", Ruben de Carvalho dixit, hoje, no DN.

Filipe Nunes Vicente, no
Mar Salgado.

ADENDA: Um toque de primor, no destaque também dado pelo João Gonçalves do
Portugal dos Pequeninos, titulando o post com "A muralha de Aço".

A Blogoesfera vale a pena...

Brrrrrr


[748]

Temperaturas generaliza-
das abaixo de zero, em Portugal? Picos de 6º negativos?

Sempre achei que esta coisa do aquecimento global nos traria desgraças destas, para um país de brandas temperaturas como o nosso…


ADENDA:
2 da tarde, fui almoçar. A coisa hoje está brava... não sei se andaremos longe dos zero graus e já se diz por aí que vai nevar em Lisboa. Parece que a última vez que nevou nesta cidade foi em 1954. Não que eu visse mas porque ouvi o Rui de Carvalho dizer na televisão.

Por acaso podia nevar um bocadinho. É fino, primeiromundista e muito bonito. Nem que fosse só um bocadinho!

O Hamas



[747]

No dia em que alguma esquerda conseguir resistir a não dissimular ou escamotear realidades como estas
(extractos do Hamas Convenant, seleccionados pelo jcd do Blasfémias, aqui), em nome dos seus próprios interesses e desígnios, talvez vivamos todos muito melhor. Com mais segurança, mais desenvolvimento e, sobretudo, com mais justiça social.

Macacadas



[746]

Os portugueses sempre tiveram a fama e o proveito de engendrarem a anedota rápida, o chiste oportuno e, factor não despiciendo, com um apurado sentido de humor.

De vez em quando, porém, lá aparecem uns
desmancha-prazeres que resolvem inventar piadas como achar que “Macaco na Selva” podia substituir o Acabado Silva do “Contra” ou, mais brilhante ainda, que Cavaco é macaco como o Bush.

Entre tanta macacada, resta-me pensar que há por aí muita gente que bem se podia mudar para Sete Rios – para a Aldeia dos Macacos, precisamente.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Lusofonia e onomástica



[745]

Para os detractores da Lusofonia, um exemplo de como ela funciona em Moçambique. Com verdade e, até, com uma ponta de ternura (esta da ternura só poderá ser eventualmente entendida na sua plenitude por quem conhece a África Lusófona).

Notícia do Jornal Noticias de Maputo, de 04/11/05, roubada do Passada, com a devida vénia.

Nota à margem da notícia: - Os números a servirem de nomes são relativamente correntes em Moçambique. São frequentes os Catorze, os Sete, os Oito, pelo menos destes lembro-me bem, incluindo um ex-director do jornal Notícias (José Catorze). Daqui que o Dois da Notícia não é totalmente de estranhar. Tal como Sabonete, aliás, muito comum no Norte do País

Meteorologia da verve


[744]

O aquecimento global do planeta parece estar a causar a maior vaga de frio na Europa dos últimos trinta anos e um considerável aumento da massa de gelo da Antártida.

Portugal, país de brandos costumes, mesmo os meteorológicos, voltou ao conforto dos 15 graus C, ao sol, depois de uns dias de uns quase insuportáveis (!...) oito ou nove graus.

Talvez pela cálida temperatura que se faz sentir, as minhas meninges estejam hoje preguiçosas. Não propriamente "espapassadas" mas, no mínimo e por certo, algo cansadas. Têm estado submetidas a trabalho intenso nestes últimos dois ou três dias e um homem não é de ferro.

Assim, não “sai” mais nada hoje mas pode ser que para amanhã já dê para falar mal de alguma coisa ou de alguém, se a depressão centrada a nordeste dos seios nasais se desanuviar um pouco.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Aprendam


[743]

Segundo o
Dr. Medeiros Ferreira, as eleições presidenciais resultaram numa situação peculiar, na qual, contados os votos, só os setecentos mil em Mário Soares parecem sólidos em termos de defesa do regime democrático representativo. Do mais de um milhão que cifrou Manuel Alegre, por muito cívicos que sejam, ninguém saberá quantos se apresentariam para soerguer o sistema de partidos .Os populistas que levaram Cavaco Silva aos ombros, desde que este escondesse os apoios do PSD e do CDS-PP, também não morrem de amores por aparelhos partidários e gostariam de ver o PR eleito ao leme . Embora Jerónimo de Sousa tenha andado de Constituição na mão, ninguém em consciência acha que se deve pedir aos comunistas que sejam convictos defensores dos regimes pluralistas, representativos e ocidentais, ou meramente europeus.Descontados esses quatrocentos mil votos, resta-nos os trezentos mil de Francisco Louçã cuja estadia no pórtico do sistema não permite um sono prolongado ao relento.

Ora aqui temos um democrata esclarecido, tolerante, pluralista, solidário e de gabarito intelectual superior à da manada ignara que resolveu tirar o sono aos portugueses com uma votação idiota e que, um destes dias, ainda escreverá um livro sobre um período negro em que os portugueses elegeram um presidente, embalados pela influência dos grandes grupos económicos e numa deplorável óptica partidária. Com lançamento na Fnac e direito a autógrafo.

Mas o melhor é lerem o
post todo e depois... cultivem-se, não sejam estúpidos. Nem distraídos.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Beijolas


[742]

Sorrateiro. Sorrelfa. De mansinho. Pezinhos de lã… tudo expressões em discurso directo ou subentendidas na verrina da
Carlota. E isto para me acusar de entrar no Lote, olhar, ver, cheirar… e ir-me embora. De mansinho, como convém e porque a conversa, provavelmente, não me interessará.

Minha querida Carlota. Eu adoro o
Lote, e gosto de mulheres. Juro. Foi coisa a que nunca pude (nem quis, já agora…) fugir. Mais. Adoro sentir-me no meio delas. Muitas (…). Mas, convenhamos, há determinados códigos que não são de conduta (sempre me marimbei nisso) mas, diria eu, genéticos, que eu não só não me preocupo em nivelar como me dá um supremo gozo perceber que são diferentes de outros códigos. Na circunstância, femininos e que dão o sal, o sol, o tempero, a graça, o chiste, o encanto, o charme, o mistério, o prazer, a beleza, a poesia, o encanto e o complemento dos meus. Daí que me interesse tanto o preço dos cabeleireiros de Bruxelas como a ti te deve interessar que a Ferrari vai estrear este ano o Ferrari 248, sigla que pretende identificar a cavalagem de uma nova máquina de oito cilindros que vai substituir os dez e os doze anteriores. Mas é claro que posso muito bem ir ao cabeleireiro acompanhar uma mulher (mesmo em Bruxelas…) que vai fazer madeixas ou discutir o preço de um corte e sentar-me à espera, enquanto leio um magazine de automóveis. E, no fim da sessão, fazer qualquer coisa em comum. Ela com as madeixas e eu com o magazine de automóveis, os dois em coro.

Quanto ao facto de eu não fazer sala no
Lote e mesmo deixar um ou outro comentário… não ligues. Aliás, tu SABES que eu gosto do Lote, já to disse, já to demonstrei num par de comentários mais ou menos jocosos que te fiz. Se não te faço comentários todos os dias (lá está… coisas de “gaijas” ou, eventualmente, de homens atentos, veneradores e obrigados) é só porque não faz o meu feitio, mas isso não significa que eu não tenha o Lote no maior apreço.

E com esta me vou. Com estrondo, sem ser de mansinho. Com uma grande “beijola” e muita amizade!

Felicidades...


[741]

A menina da foto vai muito bem. Não podia concordar mais com a
Miss Pearls. É uma interpretação espantosa de Emily Mortimer de uma personagem comum que todos nós, de uma forma ou outra já conhecemos na vida.

Mas é redutor afirmar
...fascinam-se [os homens] pela loura com t-shirt de alcinhas mas sem dinheiro ou no fim acham que aquilo não é vida para ninguém.

Eu acho que falta dizer aí que a menina normal que
só quer o kit da felicidade: casar com o homem que ama, filhos e um casamento feliz é um exemplo vivo de um conjunto circunstancial de tiques e idiossincrasias que ajudam (quiçá induzem…) os homens a fascinar-se pela tal loura… não se trata de defender os homens neste pormenor, mas tão somente de colocar alguma disciplina na dinâmica da análise, para que os homens não surjam sempre como o motor de arranque das maiores vilanias e, pior ainda, detentores de inteligência engarrafada no pénis.

Acho mesmo que a grande virtude do filme é mostrar isso mesmo. É que ninguém está livre de culpas. Nem o rapaz bonito, sem escrúpulos, ambicioso e a transbordar de testosterona, nem a menina prendada que queria filhos (ainda que programados ao milímetro - e este milímetro, aqui, vem no sentido literal da "coisa"), nem a "loura burra" que afinal não era tão burra assim e se cansou de fazer abortos dos homens que antes conhecera.

Fica a ideia, mesmo assim, ou por isso mesmo, que é, realmente, um filme de elevada craveira!

Foto: Emily Mortimer
Roubada da
Miss Pearls

Tenhamos esperança


[740]

Muitas mulheres
andam horrorizadas com a perspectiva (agora, certeza) de termos uma primeira dama que usa o pronto-a-vestir e que tem tanto jeito para escolher a roupa como eu para fazer um “vol au vent”.

Não advogo atitudes acríticas, acho saudável o escrutínio permanente em que as nossas figuras públicas vivem e acho a cusquice um estimável desporto nacional. Quem me conhece sabe que não perco uma boa sessão de má língua e desiludam-se as mulheres de pensar que este é um exercício a elas reservado em regime de exclusivo.

Voltando a Maria Cavaco Silva, eu concordo com a essência da coisa. A senhora em questão é de um gritante mau gosto, frequentemente tenho dúvidas se ela está a usar um vestido ou uma bata, uma blusa ou um xaile. Mas não façamos disto uma tragédia nacional. Há assessores de imagem, há livros e cursos rápidos de etiqueta, há ferramentas essenciais de polimento do corpo e da alma e estou certo que Cavaco Silva não deixará de se submeter as exigências do cargo. Nem que isso signifique pedir a Maria que se deixe vestir – coisa que, admito, pode ser bem mais difícil que pedir a uma mulher que se deixe despir. Mas isto digo eu, que não tenho assessor de etiqueta aqui para o blog.

Confiemos, pois, no marketing e na assessoria presidencial. E, por um dia destes, teremos uma primeira dama resplandecente a ilustrar a capa da "Caras"…

Foto acima roubada da Carlota, com o devido respeito!

Convenhamos que há um longo caminho a percorrer…

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Défice democrático?


[739]

As mais altas votações de Francisco Louçã e de Garcia Pereira foram obtidas... lá mesmo. 7% e 1%, respectivamente.

Na Madeira. Na terra do défice democrático!

Eminência tutelar e mau perder


[739]

Há duas facetas particularmente irritantes (entre outras) na esquerda moderna que, frequentemente, roçam mesmo a fronteira do insuportável. Uma é a grosseria e a falta de nível, patentes, aliás, na atitude de Mário Soares durante a campanha. Isto só para citar um caso recente. Outra é aquilo que eu chamaria de eminência tutelar, caldeada numa superioridade moral que não admite nem acomoda tergiversações do pensamento que se estabelece como correcto.

A verve grosseira de
Ana Gomes exigindo o apuramento de responsabilidades a Manuel Alegre pela derrota de Mário Soares e estes posts inqualificáveis de Vital Moreira são exemplos muito vivos do que acabei de escrever.

Tanto um como o outro me fazem lembrar o comportamento de claques de futebol – a diferença é que ambos são intelectuais, uma é, mesmo, diplomata e não andam propriamente a partir cadeiras nas áreas de serviço da A1. Mas haja esperança. Com tempo e pela expressão de Ana Gomes, um dia poderão lá chegar.

Mar Salgado

[738]

O melhor respigo da noite eleitoral.
Aqui.

domingo, janeiro 22, 2006

Oralidades

[737]

O Presidente eleito já está a falar de improviso há dez minutos.

Ou lhe dão posse com urgência e ele vai para o gabinete fazer contas para ajudar o Sócrates a tapar o buraco das SCUT ou, continuando ali a improvisar, ainda pedem uma recontagem de votos!

"Safa", que o homem fala mesmo mal!

Boas maneiras


[736]

Mário Soares ainda não se portou mal. Falou bem e foi educado. Se não fosse Sócrates ter escolhido, por coincidência, claro, o momento exacto em que Alegre falava para fazer, ele próprio, uma comunicação, eu diria até que o Partido Socialista deve andar a ter umas lições com a Paula Bobone...

Sampaio fez escola... só pode


[735]

Cavaco Silva está a fazer agradecimentos, emociona-se e está quase a chorar.
Está aqui está a dizer pá...

Mãos


[734]

Há coisas bonitas que nem sempre recebem a atenção que as coisas bonitas merecem. Umas mão bonitas de mulher, por exemplo…

Um dia bom


[733]

Cavaco ganhou. Acho que todos ganhámos.
Da reportagem das eleições retive alguns pontos que espero não esquecer para amanhã. Até lá, vou descansar porque, entre outras coisas, saltei dos doze para os vinte quilómetros de bicicleta e depois… há ali qualquer coisa que tenho de verificar: - Ou estou a ficar mais velho ou a bicicleta precisa de mais uma mudança!

O dia foi muito bom Há dias em que é bom sentirmos a bondade dos dias. Nostálgico, mas bom.

Felizmente há luar...


sábado, janeiro 21, 2006

Fui ver...


[731]

Ontem sempre fui ver o Match Point. Na minha modestíssima opinião é o melhor filme de Allen. Se mais não houvesse no filme (e há muito…) bastava-me a facilidade com que WA, um novaiorquino de gema, consegue retratar a upper classe londrina, o dia a dia da “city” para achar o filme superlativo. Depois há o casting, simplesmente brilhante. Há a Scarlett que arranca uma interpretação soberba. Em cima disto tudo, há um argumento com o qual WA se arrisca a, uma vez mais, ser nomeado para a estatueta de melhor argumento. Falando de estatuetas, também, não me admirarei se Scarlett Johansson for nomeada. É capaz de ser ainda muito jovem, mas a nomeação vai-lhe ter às mãos, com toda a justiça. A cereja no bolo é Allen ter conseguido ainda dar um toque "Hitchcoquiano" à parte final e presentear-nos com um remate surpreendente. Remate onde reside, aliás, a reflexão maior sobre o conteúdo da história.

E como ele se deve ter divertido a escrever e a realizar “aquilo tudo”…

Dia de reflexão


[730]

Cheguei a casa e era uma reflexão profunda. Filha, gatas, tudo a reflectir e até eu resolvi reflectir um bocadinho. Depois cheguei à conclusão que não faço outra coisa na vida - reflicto, reflicto, reflicto e como não tenho dúvidas em quem vou votar achei que não era preciso reflectir coisa nenhuma.

E aí, sentei-me no sofá, comecei a ver um filme e reflecti, reflecti, reflecti…


Nota:

"Pensador", peça de arte angolana.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Match point


[729]

Com aquela velha história do fulano que me precede na bicha do multibanco ter mil contas para pagar, um movimento de conta para pedir e se enganar no código duas vezes, não é difícil eu saber que, numa bola à rede, para que lado do court cai ela.

Mas a fidelização ao tipo único de fazer cinema e génio de Woody Allen, a crítica de hoje, a Scarlett (21 anos, valha-me Deus…), o cenário londrino e a história (uma história tão de tantos de nós em tantos dos nossos dias) farão com que levante âncora por volta das cinco para ir ver o Match Point num cinema perto de mim.

Depois digo qualquer coisa, mas só pode ser bom. E bom fim de semana para todos e os votos de que votem bem!

Brilhozinho nos olhos


[728]

Há dias em que acordamos, como hoje, olhamos para o espelho (sim, sou dos que olham para o espelho quando me levanto…) e reparamos num brilho inusitado nos olhos.

O pessimismo patológico dos portugueses aconselhar-me ia a pensar em ir ao oftalmologista, não vá eu estar com uma queratite, com o saco lacrimal entupido, um derrame, sei lá…

Mas como não sou um caso patológico e português (português daqueles que vão no metro a discutir a dor nas costas ou na esplanada a dizer que “isto” está cada vez pior, no resto, sou portuga até morrer) já nem por isso, reparei melhor e vi que era brilho mesmo.

Ainda bem. Afinal os olhos brilham. Aqui e ali. Mas brilham!

A trapaça


[727]

Meu caro
António Gamboa Chaves da Fonseca Ferrão.

A questão de se assinar ou não o próprio nome é questão velha aqui na Blogos. A mim nunca isso me tirou o sono já que sou um modesto “blogger” que, tal como o “template” refere, me entretenho por aqui a dizer o que me vai na cabeça, sem ofender ninguém e com uma caixa de comentários abertos a quem o desejar. Mesmo para os que, como tu, fazem questão de usar o Bilhete de Identidade. Isso não significa que não tenha ideias próprias sobre a responsabilidade de se usar ou não a identidade e até dou de barato que em alguns casos, como dizia há pouco o José Pacheco Pereira, há pelo menos um imperativo moral de assinar por baixo um nome verdadeiro. Mas o Espumante…

Já quanto ao teu argumentário
aqui, a verdade é que me passa ao lado a questão de Mário Soares ser de direita (que não é, o que torna a direita mais higiénica) ou de esquerda (que ainda o é menos). A mim o que me fere é a trapaça, o trambique e a ingenuidade dos portugueses ao terem eleito este homem como uma personalidade de referência quando, afinal, ele há o retrato vivo da trapaça, do trambique e da exploração viva da tal ingenuidade dos portugueses. Isso, sim, fere-me, irrita-me e dá-me vontade de bater nas gatas. A actuação de Mário Soares na campanha teve o mérito de ser reveladora quanto a isto mesmo que digo. Mostrou a génese do homem que passou pela nossa história e a quem, contrariamente ao que me disseste ao telefone, eu acho que não devo nada. Para além de uma série da tragédias da descolonização (e dizer-se isto é sempre confundido com o facto de dever ou não ter havido descolonização e é claro que sim, que deveria, mas no respeito de um milhão de portugueses e de muitas dezenas de milhões de africanos) e de um comportamento no governo e na presidência da república que é consabidamente um exemplo vivo de inoperância, de bloqueio (sim, de bloqueio) de medidas de maior bondade e eficiência mas que não eram as dele e, por isso, o irritavam – Mário Soares é assim, irrita-se com o mérito dos outros e isso causou muitos danos aos portugueses.

Por isso, Mário Soares foi, é e queria continuar a ser uma trapaça. O facto de afirmares que ele terá sido, como dizes e em determinada altura, o estandarte de toda a direita carece de fundamento, não concordo. Sobretudo
“das direitas” que referes!

O resto é história. E espero bem que a rejeição que se tem notado a Mário Soares ultimamente na campanha tenha a ver com alguma eventual introspecção que se tenha feito à figura deste senhor e não ao pormenor (de somenos, dada a sua reconhecida vitalidade) de ter oitenta e dois anos.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Malmequeres


[726]

Minha querida amiga Laura Lara

Só tu para me fazeres escrever sobre malmequeres, com o veemente pedido/comentário no post anterior. É que nem sei bem o que dizer, falhado que sou nas coisas de jardinagem e mesmo nas ciências agrícolas, onde seria suposto saber um pouco mais por razões óbvias e inerentes (esta do óbvias e inerentes, aprendi com um profesor de Fitopatologia e que usava a expressão, sempre que não fazia a mínima ideia do que estava a dizer…).

Mas, no limite, malmequeres é um bocadinho como o chapéu do Vasco Santana – chapéus há muitos mas, de verdade, só há um, o do Vasco e mais nenhum. Com os malmequeres, passa-se a mesma coisa, malmequer só há um, o da desfolha do amor e mais nenhum. O problema é que vai-se a ver e é TUDO margaridas, uma planta da família das Asteraceae e com uma multidão de espécies e variedades de fazer inveja ao mercado do Bulhão em dia de lota de peixe. Desde os malmequeres às margaridas, passando pelas gerberas e crisântemos e até pela "Barberton Daisy" (uma variedade muito conhecida num país que conheço bem, África do Sul, e de que te deixo lá em cima uma foto, a florear o post) é tudo gente da mesma família, com algumas diferenças mas isso até nas famílias nobres se nota (as diferenças) quanto mais numa vulgar e plebeia margarida. O que não quer dizer que não haja poesia e beleza no malmequer (aparentemente o parente pobre das margaridas), ora repara neste poema do nosso Pessoa:

É boa! Se fossem malmequeres!
E é uma papoula
Sozinha, com esse ar de "queres"?
Veludo da natureza tola.

Coitada!
Por ela
Sai da marcha pela estrada
Não a ponho na lapela.

Oscila ao leve vento, muito
Encarnada a arroxear,
Deixei no chão o meu intuito.
Caminharei sem regressar
.


Eu não sei mais o que te dizer sobre margaridas. Desculpa,
querida amiga, que eu de margaridas pouco mais sei. Dizem que é flor da alegria e que pouco lhe ligamos. Mas tenho a certeza de que haverá muito mais a dizer, quanto mais não fosse pelo conhecido desfolhar da flor para saber se o nosso amor gosta ou não gosta de nós…

Ficaste na mesma, não é? Mas a intenção foi boa!

ADENDA
: - Alguma coisa se passa com o teu blogue. Já tentei por três vezes ver quem é que faz anos mas quando clico nos comments... dá erro fatal e a net desliga-se (sempre desconfiei da fatalidade de me meter contigo ou com os teus...).
Presumo, mesmo assim, que deve ser o filho porque elas, uma é mais suecos, outra é mais japoneses. De qualquer forma, parabéns à Mãe e ao aniversariante.

Campo de margaridas


[725]

Dizem ser as flores da alegria. Serão? Às vezes está tão frio e cinzento que nem reparamos nelas...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Uma questão de perspectiva


[724]

Acabei de falar ao telefone para S. Tomé. O meu interlocutor, pessoa importante na terra, tinha uma informação incompleta que só me poderia fornecer amanhã. Em face disso, diz-me ele:

- Olhe, então eu amanhã de manhã telefono-lhe e já o informo, ok?
- Ok, disse eu. E liga a que horas?
- Às sete!
- Às sete? Mas não me pode informar de manhã?
- Claro… às sete da manhã, que é quando nós abrimos e começamos a trabalhar.
- Ahhh… disse eu!


NOTA: Não há diferença horária entre Portugal e S. Tomé nesta altura do ano!

Americanos - esses incultos produtores de excelência


[723]

Homem que é homem não vê "Desperate Housewives". De preferência, nem sabe o que isso é. Pelo menos a avaliar por opiniões de colegas e amigos meus homens, que não fazem a mais remota ideia de que esta série existe, sequer.

E apesar de tudo, "Desperate housewives" é não só uma "juicy piece of sheer entertainment" como é uma das mais conseguidas séries televisivas, com um inteligentíssimo trato de crítica social, fino humor e um elevadíssimo nível de profissionalismo e talento por parte de todos os seus intervenientes. E não só as housewives. Os maridos, namorados, vizinhos e personagens afins não lhes ficam atrás.

"Desperate Housewives" acabou de ganhar o prémio de
Best Television Series - Musical or Comedy na Golden Globe Awards da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, referente a 2005. Para mim, uma das melhores séries televisivas de sempre, juntamente com o já "velhinho" Jerry Seinfeld.

Democrata?


[722]

Há quem diga que a atitude recente de Mário Soares prometer que os estaleiros de Viana não seriam NUNCA privatizados remete, aparentemente, para a sua provecta idade, perda de sentido de racionalidade e convencimento de ser ele que manda no Partido, no Governo, no País e que tudo isso, afinal, teria a ver com indícios claros de senilidade.

Eu não acho. Se há coisa que admiro em Soares é a sua vitalidade física e intelectual. Tenho a ideia muito clara de que Mário Soares sabe bem o que diz e sabe bem o que faz. Faz é mal e diz pior. Pela simples razão de que tem uma visão distorcida das realidades, pela simples razão de que o seu raciocínio assenta em premissas viciadas por um moralismo que, no seu próprio entendimento, lhe permite fazer e dizer o que lhe apetece, pela simples razão de que Mário Soares não é, na essência, um democrata. É um monarca requentado e pesporrente que usa exactamente as virtudes da democracia para se insinuar como aquilo que, na essência, ele não é. Um democrata.

O episódio de Viana de Castelo é um bom exemplo disso
.

Limbos e purgatóros


[721]

Quando eu era miúdo e andava na catequese, para não me arriscar a sevícias morais (!...), tive sempre uma certa dificuldade em descortinar as diferenças entre o limbo e o purgatório, embora me fosse dito que as palavras eram sinónimas. Não são. O purgatório remete-nos (mesmo que não de um posto de vista semântico) para a expiação de males por nós cometidos, conscientemente ou não. Já o limbo tem uma conotação mais suave, de maior justiça e esperança. E que sugere menor sofrimento.

A verdade é que me parece não haver grandes diferenças – porque fica o essencial. Fica a ideia de uma etapa não atingida quando a meta estava ali tão pertinho. Acenando, acenando, acenando e depois afastando-se lentamente, incompreensivelmente, inexoravelmente. E uma pessoa lá fica a purgar penas nem sempre cometidas – por vezes penas que possivelmente viria a cometer! Ou, mais grave, porque a meta não parava quieta.

Assim, dificilmente se chega ao céu
.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Consoniamente

[720]

O Senhor Carlos Beato, que eu não conheço mas que a TSF me informou ser presidente da Câmara Municipal de Grândola, afirmou alto e bom som que o projecto turístico da Costa Alentejana (Melides) tinha sido planeado (e cito) em perfeita consonia com as exigências ecológicas da Rede Natura.

Pestanejei e admiti que o homem se enganara. Mas não. Logo o Senhor Beato voltou à carga e disse:

- Em consonia E em consonância.

Pelo que fiquei a saber que muita coisa poderia muito bem ser feita em consonia com as exigências antropomórficas do meu país, nem que para isso as exigências ecológicas fossem postas um pouquinho de lado.

P.S. Já agora se foi tudo assim tão by the book, porque carga de água o projecto anda há quinze (q-u-i-n-z-e) anos a ser estudado?

Endireitar as coronárias



[719]

É mentira. Ficamos mais gordos mas voltamos ao sítio. Quando eu pensava que me estava perigosamente a começar a parecer com um dado, tinha de parar a respiração para apertar as calças e desapertá-las era um exercício tão libertador quanto ser desamarrado por um punhado de sequestradores numa qualquer favela do Rio de Janeiro, eis que, de mansinho, a roupa me serve de novo e o espelho enorme da minha casa de banho me confirma que continuo detentor de toda as protuberâncias do corpo, numa altura em que eu alimentava já sérias dúvidas sobre o assunto e sobre se a anatomia topográfia não seria uma blague para tornar os cursos de medicina difíceis.

Portanto, deixar de fumar engorda, sim. Mas vai tudo ao sítio de novo, tal e qualzinho como o médico me disse. Não há, pois, desculpa, para não deixarmos de fumar. Ao fim e ao cabo deixei de fumar há exactamente dois meses, quinze dias, seis horas e meia dúzia de minutos, já engordei e já voltei ao normal, sem que voltasse sequer a pegar num cigarro.

E isto para vos dizer que está tudo bem, não virei fundamentalista idiota, convivo de perto com fumadores (acho até uma operação de elevada estética…), ainda mando uma cabeçada ou outra na parede mas, basicamente, a ideia de que tinha uma coronária torta e agora tenho uma coronária direita dá-me alento e vontade para continuar a não fumar. E todos sabemos como qualquer homem que se preze sente o ego afagado quando lhe dizem qualquer coisa do género "então já sei que tens a coronária direita". Ter qualquer coisa direita é um factor de grande importância no nosso amor próprio e, mais importante que isso, nós sentirmos que temos qualquer coisa direita. Bem inestimável.

Portanto, vamos acabar com desculpas esfarrapadas. O cigarro faz mal e, entre outras coisas menores como o cancro do pulmão ou da garganta, enfisemas e pericardites, põe-nos muitas coisas tortas. As coronárias, por exemplo. Não fumemos, pois. Vão por mim e depois digam-me alguma coisa!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Fugas e escondidelas


[718]

Ao lado, debandada da esquerda, não vá ser apanhada pelas sondagens!

Está explicada a correria de gente por tudo o que era sítio. Dos hospitais às grandes superfícies, dos jardins públicos às bichas para os barcos do Barreiro era algo que mais parecia um carreiro de formigas em debandada quando uma delas é pisada.

Eu não fazia ideia nenhuma do que quereria significar tal afã de gente a correr, a fugir e a esconder-se. Medeiros Ferreira esclareceu-me agora: - Afinal era o povo de esquerda a esconder-se das sondagens – não fossem elas dar vantagem a Mário Soares o que, como se depreende, seria gravoso e prejudicaria de todo a estratégia do Dr. Medeiros Ferreira.

Mas a coisa está a compor-se. O povo de esquerda está, estrategicamente, a reorganizar-se desde este último fim de semana.

Eternal sunshine of the spotless mind


[717]

E o DVD de fim de semana tinha a seguinte história. Um casal (Jim Carrey e Kate Winslet) submete-se a um procedimento médico para erradicar as memórias de cada um, quando a sua relação se torna demasiado azeda e a raiar o insuportável, mas acaba por ser através deste processo que eles descobrem por onde e como recomeçar.

E a cena final do filme mostra-nos um diálogo entre os dois, depois de dois apagões de memória e de, finalmente, se reconhecerem de novo, mais ou menos nestes termos:

Jim – Wait. Please wait.
Kate – But… why?
J – I don’t know, just wait. Don’t go.
K – Don´t ask me that. You know, if I stay I’m a compulsive tangled mind, too complicated and boring I never know what’s right or wrong, hardly know what I want, I make everyone unhappy around me and will turn you tediously sad…
J – That’s ok!


Uma forma de amar que já não se usa?

domingo, janeiro 15, 2006

Revista da semana


[716]

A ler:

1) – A sementeira.
No Portugal dos Pequeninos.

2) –
Blogues, Anonimato e Corporativismo no Blue Lounge. De notar que é a segunda vez, salvo erro, que RAF se refere ao Saúde SA (com toda a propriedade, diria eu) e que, de então para cá, o Saúde SA quase duplicou as visitas.

3) –
Amnesia histórica y política o doctrinación? No Insurgente.

4) –
A Novela da Emaudio, ou de como Mário Soares sempre passou incólume nestas turbulências, no Faccioso.

A registar:

1.- Entradas

Alice in BlogLand.
Aqui. É ainda muito cedo mas pelo que conheço da criatura, vai sair coisa boa e fresca com certeza.

2.- Saídas

A minha, da lista de links de um blog que eu muito estimava, após cerca de 18 meses de cordial vizinhança. Parece a história do gorila do Congo. Nem um telefonema, um postal, um mail… mas alguma coisa devo ter feito ou dito, com certeza
.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

120.000 machambeiros

[715]

Parece que servi de ponto de partida ao
visitante 120.000º do Ma-schamba. Alguém da Abuxarda (para quem não saiba é aqui pertinho de mim, ali para os lados do Estoril), equipado de Mozilla partiu do meu tasco para o Ma-schamba, sem fazer a mínima ideia que era ele depois de 119.999 antes dele.

Fico satisfeito pela curiosidade (devidamente registada pelo
JPT) e fico à espera que venha a partir do Ma-schamba o número… digamos… 100.000, que espero aconteça dentro de três ou quatro meses. E, já agora, que venha de Maputo.

Entretanto parabéns ao
JPT pelo excelente blog e pelo número de visitas já alcançado.

Obesa, sedada e com fome



[714]

Quando estamos parados num sinal vermelho (na 25 de Abril em Cascais, sentido poente/nascente, aprendi com a polícia) a pensar se é melhor ou pior o Beto ficar no Sporting, que a mulher que vai a atravessar a passadeira deve ter (de certeza absoluta...) uma gazela na família e levamos uma traseirada no carro, o assassino feroz que temos dentro de nós quer soltar-se e começar aos tiros na via pública.

Como não tenho pistola, saí do carro com o cenho mais façanhudo que poderia arranjar para a ocasião (já o tinha usado quando Guterres ganhou as eleições e Jorge Coelho cantou o "Only You") e dirigi-me para o condutor do carro prevaricador, com um ar de "ofaxavor, sua besta cavalar, não viu que eu estava aqui parado a cumprir diligentemente o Código de Estrada"?

Acontece que o condutor era uma condutora. Senhora obesa, sedada, olhos vermelhos e perfil rubicundo, cabelo tipo permanente dos anos sessenta, mal conseguia mexer-se num exíguo espaço que criara entre o peito (peito/abdómen?) e o guiador de um Renault Clio com ar de que não ia à inspecção há 10 anos.

Remetido o meu killer instinct para reservatório adequado, lá pedi à senhora uma declaração amigável de acidente, depois de verificar que o meu carro tinha os dois faróis de nevoeiro partidos (miraculosamente, nada mais sofrera). É aqui que a senhora obesa, sedada, etc., resolve dizer que aquilo não foi nada, que tinha de ir embora porque tinha de ir almoçar e começa mesmo a arrancar com o carro. Sem saber bem o que fazer, vejo um indivíduo "voar" na direcção da senhora, torcer-lhe o guiador e encurralá-la contra o passeio. Um guarda prisional do Linhó que conseguiu fazer o que eu, provavelmente, não conseguiria – imobilizar a senhora.

Chegada a polícia, foi evidente que a senhora em questão:

- Não tinha a mínima ideia de onde estava ou o que estava ali a fazer;

- Tinha evidentes sinais de estar sob forte medicação, como o indiciavam o tremor das mãos, os olhos vermelhos, o discurso entaramelado;

- Não tinha seguro em dia, não quiz sair do carro e repetia à exaustão que a deixassem ir embora porque tinha de ir almoçar.

Era por demais evidente que a obesidade e seu estado de saúde do momento desaconselhavam de todo que a senhora conduzisse fosse o que fosse, sobretudo um carro velho e sem qualquer segurança.

O fim da história salda-se por dois polícias de trânsito polidos e simpáticos que apreenderam os documentos à senhora e me explicaram como é que eu agora devo fazer, mas que contasse com uns meses longos antes de ver resolvido o pagamento dos farolins.

A parte pior foi a senhora meter-se no carro e ir-se embora. Quando perguntei aos polícias se não poderiam fazer alguma coisa sobre o assunto já que era evidente que a senhora não estava em condições de conduzir, foi-me dito que nada podiam fazer. E, assim, a senhora lá foi, claramente habilitada a saír da faixa de rodagem e matar alguém na faixa contrária.

Chquei ao escritório, abri o blog e vi que era sexta 13. É hoje que vou comprar um elefante com a tromba para cima e dar duas voltas à cadeira antes de me sentar á mesa
.

sexta feira 13

[713]

Hoje é sexta-feira. Tenho a sensação de se me estar a desenhar um longo, árido e chato fim de semana à minha frente. Mas é só impressão. Vai-se a ver ainda chove e eu desarrinco um bom filme para ver!

Mais velho?

[712]

O meu irmão mais novo vai ser operado hoje à coluna, a minha santa mãe viu os níveis de colesterol subirem um pouco, a minha irmã mais nova anda com uma artrose nos dedos, a outra irmã (também mais nova) anda com um não sei quê não sei quantos nas costas, a minha filha mirim subiu a graduação dos óculos e a sala, vistas bem as coisas, precisa mesmo de ser pintada.

Decididamente, acho que estou a ficar mais velho.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

O Menino Guerreiro ataca de novo


[711]

E não é que, de repente, Santana Lopes passou a ser uma voz autorizada, respeitada e transcrita em grande parte dos meios de comunicação social? Com direito a artigo no DN e tudo onde, entre outras coisas se diz que Santana Lopes, preenchendo o espaço dos que não combatem, ganha sempre.
Touché!

(Glosado da Eterna Poesia de João de Deus)


Com que então caiu na asneira
De falar na quarta-feira
De novo p’rá SIC! Que tolo!
Ainda se pouco falasse…
Ou, habilmente, mostrasse
Que ainda tinha algum miolo!
Mas não. E então tudo o que disse
Foi que era uma grande chatice
A eleição de Cavaco.
Seria a desgraça, a tragédia,
Uma triste e vil comédia
Futuro cruel e opaco.
Não faça tal: porque a asneira
O que nos traz? Tolices sobremaneira
Que fazem a gente pateta.
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma
Em si, é melhor que esta treta
Sobretudo nesta altura,
Que o povo precisa é de cura,
O melhor é estar calado.
Que as figuras que vai fazendo
Só podem fazer-nos ir crendo
Que você está ressabiado
.


(Espumante - 2006)

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Quotas


[710]

Há uma nova Lei da rádio, aprovada na Comissão Parlamentar de Educação e Cultura, segundo a qual as rádios deverão passar um mínimo de 25 % de música portuguesa na sua programação diária.

Independentemente das razões aduzidas por David Ferreira, da Plataforma, no inevitável Forum desta manhã, onde ele se zangou muito e nos ensinou como é que estas coisas devem ser feitas, eu não consigo perceber em que medida esta lei poderá ajudar a divulgação da música portuguesa. Pergunto ainda, que tipo de música portuguesa. Fado? Rui Veloso? Xutos? Mónica Sintra? Toy? Madredeus? Há critério?

Em qualquer dos casos, mesmo dando de barato que desconheço o que se passa lá fora neste domínio, acho esta exigência quase tão infeliz como infeliz era o tom de António José Seguro a explicar à maralha as razões de tão douta decisão.

Dá para nos questionarmos. Então e os livros? E os filmes? E, já agora, a banana da Madeira?

Um dia destes arrisco-me a ir comprar um livro e ouvir o empregado, solícito, dizer-me:

- Tenha paciência mas não pode levar este livro, porque é estrangeiro. Fechamos daqui a cinco minutos e ainda nos falta vender dois livros da Margarida Rebelo Pinto, um da Inês Pedrosa e três do... coméquesêlechama? Gil… qualquer coisa Gil…

Espumadamente mais rico

[709]

Não há blog nem blogança onde
ela não vá. E ainda bem. Estou a gostar mais dela aqui do que na TV.

E com a
Rititi (tem sido preguiça, neste caso, para além de falhar o blospot e eu estar a aloirar e só agora ter descoberto que era simplesmente .com…) passou a minha lista da direita a estar dois nomes mais rica.

Puta de vida


[708]

Quase sem dar por isso, tive o privilégio de conhecer e vir a gostar de um punhado de gente amiga aqui pela Blogos. Porque é que foram estes e não outros é assunto que não interessa – terão certamente existido algumas afinidades que assim o determinaram.

Pois deste grupo de amigos, há um considerável número delas (porque é delas que se trata) que emanam no momento presente uma onda de tristeza, zanga, depressão, descrença e muito mais do mal que a vida, puta como é, gosta de causar sem aviso nem remissão. É que a vida é puta, sim. Fina, porque é cara, não demasiado fácil e não tão fútil quanto se possa pensar. Não aceita cheques, nem American Express (como dizia a "private dancer" da Tina Turner), é tudo a contado. Dinheiro e tempo. Dinheiro para cobrar os salpicos de bem estar que nos proporciona e tempo para demarcar bem que o prazer acabou e que devemos todos voltar ao vale de lágrimas, para continuarmos uma penitência qualquer a que todos somos obrigados. Não que eu tenha muita experiência de putas, aliás nem muita nem pouca, mas estas coisas sabem-se e nós, os rapazes da minha idade, ainda nos lembramos de como era. E vi alguns filmes franceses, claro.

Voltando à actual onda de mal estar que eu sinto reinar por entre um grupo de pessoas a quem quero bem, gostaria de lhes dizer que de há muito deixei de pagar serviços à vida. Consegui descobrir nichos de prazer e bem estar, sem necessidade de os comprar. É uma questão de procurarmos bem e não perdermos aquela centelha que a vida, quando não é puta, nos dá. Porque se começamos a achar que isto é tudo uma chatice que a vida é "unfair", que quem guia uma determinada marca de automóvel só pode ser filho/a de uma senhora mal comportada, que o chocolate fugiu, "agora que me preparava para autorizar 200 g à cintura e mais uns pingos de celulite", que os homens são todos iguais, que a vida (quando é puta) é uma sequência infindável de desgostos, misérias, incompreensões e chicotadas, que isto só vai mesmo com a ajuda divina e pior que nós só a hiena que come m…, f… uma vez por ano e ainda se ri, então estamos a fazer o jogo dela, da vida quando é puta e a desperdiçar muito do bom que ela tem para nos dar, quando o não é.

Às vezes basta acreditar um pouquinho em nós próprios e, mais importante ainda, acreditarmos também naqueles que achamos que nos querem bem. É uma questão delicada, eu sei, mas vale a pena arriscar. E mesmo quando alguma coisa nos corre mal, é sempre melhor guardarmos o que de bom ficou do que nos remetermos a uma contínua autoflagelação, como se fôssemos culpados de a puta da vida ser, frequentemente, puta e filha de um comboio de putas.

Beijos a todas (porque é de todas que se trata e a quem objectivamente dirijo estas linhas) e não se zanguem comigo pela aparente superficialidade do tema. Façam de conta que se por acaso vos consegui arrancar, pelo menos, um sorriso, desta vez não foi a pagar. Foi por amor, mesmo!

terça-feira, janeiro 10, 2006

Colisão frontal

[707]

O Garfinho da Lapa era a mais simpática pastelaria de Lisboa. Espaço pequeno, banquinhos redondos, pastelinhos caseiros, café cheiroso, duas deliciosas anfitriãs e uma juventude permanentemente esvoaçada do Externato Fernando Pessoa, ali a meio da Buenos Aires. As paredes estavam cheias de citações de Álvaro de Campos, Pessoa lui-même, O’Neill e Cesário Verde, entre outras.

Conheci a pastelaria desde que vim de fora cá para dentro e fiquei cliente diário da bica e de um ou outro pastelinho de massa tenra. As donas, uma era morena, a outra loira, uma magra, a outra mais gordinha, ambas jovens e bonitas e com aquele tipo de simpatia que apetece segurar e não deixar ir embora.

Ambas de Universidade interrompida por causa da pastelaria recebida de herança dez anos antes, entre a bica e o pastelinho havia sempre uma conversa sobre política, sobre literatura e, principalmente, cinema. A morena era de esquerda e a loira de direita, pelo que elas próprias mantinham diálogos interessantes com os clientes (basicamente jovens do Fernando Pessoa e eu e uns tantos colegas meus, não falando de uns quantos adventícios que por lá apareciam) entre um folhado e uma sopa caseira que também serviam à hora do almoço.

E era mais ou menos neste ambiente que se trincava um salgadinho enquanto O’Neill nos perguntava se queríamos falar pela boca dele e assoarmo-nos pelo seu nariz…

Hoje foi o choque. Foi a colisão brutal com um homem gordo, de mangas arregaçadas e pelos no peito que, vim a saber depois, comprou a pastelaria na semana passada às duas sócias. Com uma empregada (cá para mim… cônjuge, a avaliar pelo tom sargento das ordens) com um bigode quase tão farto quanto o dele, iniciou desde logo o mais detestável movimento da indústria de restauração em Portugal, seja o de passar um pano imundo por cima do balcão de vidro que em menos de uma semana perdeu aquele ar de limpesa transparente, para ganhar aquele baço que deve ser uma mistura de gordura dos pastéis e de suor do novo dono.

Estas coisas não se fazem. Uma pessoa sobrevive a vários acidentes, mais ou menos inesperados. E, pela saúde, faz tudo, incluindo deixar de fumar. Mas devia haver legislação pertinente à distinta possibilidade de se trocar duas mulheres bonitas, cultas e simpáticas por um homem façanhudo, de bigode de piassaba, braços grossos, fio de ouro e que emite ruídos situados mais ou menos entre o pigarro e o puxar de um escarro. Sobretudo se isto se passa depois de nove anos consecutivos e sem pré-aviso…


P.S. E por falar em pastelarias. Quem se lembra desta?

Am I twisted

[706]



How evil are you?


Oh dear, oh dear, oh dear... Had this been known by Partido Socialista and I would certainly have been invited as a candidate!