terça-feira, novembro 30, 2004

Uff... Mas...




Pronto. Aconteceu o esperado, Santana Lopes foi despedido e não me ocorre outra situação em que o aportuguesamento de uma expressão fosse tão aplicável como o conhecido “Princípio de Peter”, que podia bem passar a ser conhecido por “Princípio de Pedro”.

Pela minha parte há um genuíno sentimento de alívio pelo desenlace da coisa, pois não vejo como fosse possível manter por muito mais tempo este clima de guerrilha e uma clara inépcia do governo que tínhamos.

Isto é o “Uff” mas o “Mas” faz-me conter algum sorriso que ingenuamente me assomasse aos lábios. É que prevejo um período (incontornável) de paralisação enquanto durar o governo de gestão - e um outro que não me augura nada de bom. Surpreende-me a exultação que reina nalgumas pessoas, com excepção das claques do costume, claro, pelas eleições que se aproximam, como se elas fossem a barrela salvífica para os nossos males. É que não consigo convencer-me que o PS nos traga de algo de novo em relação à dose que já tivemos com Guterres. Vai ser a época dos chavões, da melhor democracia, da melhor justiça, da melhor saúde, da melhor educação, da melhor justiça social, da melhor tudo e mais Vangelis, mudado de Donas para a Covilhã. Não creio mesmo que nem as tais “fronteiras” gerem um naipe de políticos competentes e rigorosos que nos possam guindar a índices de desenvolvimento desejáveis em face aos desafios da Europa. Vamos provavelmente ter mais do mesmo, o “desfazer” do que estava feito e nada me diz que vá ser melhor. A memória nem sempre é tão curta como se diz e as pessoas lembrar-se-ão de que o Partido Socialista foi o responsável directo pelo descalabro das Contas Públicas ( e não é um anónimo cidadão como eu que o diz, mas sim eminentes vultos da economia, mesmo na esfera do PS) e, consequentemente, por uma recessão de que não sabemos ainda como sair dela. Para não falar na mais descarada teia de cumplicidades de que tenho memória desde que temos democracia. Por desgraça adicional, o PSD está a atravessar um período mau, sem vultos e o mais certo é o mesmo PSL ir a votos. Votemos, pois – e esse acto constitui a mais pura expressão da democracia. O meu problema é saber em quem. Ou, melhor, “ter” em quem. Como diria Chico Buarque, “a coisa aqui está preta” e nem uma Marieta existe para nos mandar um beijo de esperança.

domingo, novembro 28, 2004

"Mapling"



O meu gene de rena faz-me gostar destes dias frios, de chuvisco civilizado, céu tapado e rua coberta das folhas dos plátanos à volta de casa. Já pensei em ir ao médico... toda a gente gosta de sol, da areia, da manga curta em camisa frú-frú e do nosso calor no limiar tropical. Eu sou assim desde pequenino e lembro-me do fascínio daqueles 25 de Dezembro em que a chuva caía na vidraça enquanto que, com os meus irmãos, me entregava à volúpia da abertura das prendas (isto mudou um bocadinho depois de casar, as prendas passaram a ser abertas na véspera e não me consta que tenha vindo mal ao mundo). Curiosamente, não mudei. Gosto do frio, de ligar o aquecimento do carro, vestir um sobretudo e de ser noite às cinco e meia.

Hoje é um desses dias. Dia de leituras, da estimável prática do mais inteligente exercício inventado pelo homem e que dá pelo nome blazé de “mapling”, uma volta pela blogoesfera e dizer à filha que tome cuidado com o carro porque esta a chover. Dia ainda de telefone, conversas em dia, amizades remanescentes e cumplicidades recorrentes e um filme de segunda linha que não excite muito os neurónios. Sobretudo passar ao lado da permanente intriga política em que vivemos. E, depois, tenho o privilégio de viver perto do mar... até pode dar para fechar o circuito com uma volta ao Guincho e Malveira da Serra.

Afinal havia outro...



Por uns tempos andei convencido que Sá Fernandes ( o do túnel) era Sá Fernandes (o da Casa Pia). Afinal não era, o homem hoje (o do túnel) é devidamente conhecido pelo seu zelo, consciência cívica e carácter impoluto que levaram os lisboetas a sete meses de caos citadino, prejuízos de monta e stresse renovado. Já aparece, até, em jornais e televisão.

É difícil falar nisto sem deixar a suspeita de que se gosta do actual governo. Eu não gosto, mas não me interessa que pensem que gosto. E gosto ainda menos de ver que vivo num país de merda, de gente de ar pimpão, mentalmente pelintra e perigosamente ressabiada que faz de tudo para dar nas vistas e lixar a vida aos seus concidadãos. É absolutamente insuportável que um cidadão (que eu passei a conhecer) consiga medidas cautelares através de duas instâncias de tribunal, até o Supremo Tribunal Administrativo achar que não senhor, que está tudo bem e que as decisões e medidas anteriores é que estavam erradas. Porque de duas uma: Ou a matéria anterior estava correcta e o STA está errado e vamos estar todos em perigo daqui por uns meses quando circularmos no túnel, ou o STA está certo e fomos vítimas de um cenário surrealista de vaidades, ódios e egos inflados. Quem souber que responda. Assim como me repugna ter assistido a sucessivas parangonas de jornais sobre a interrupção das obras e agora descortinar por aí pequenas “locais” a noticiarem o recomeço das mesmas.

Qualquer jurista recém-formado me explicaria, paternalmente, que a justiça é assim, que os juizes julgam em função de produção de prova e/ou convicção formada. Eu aceito a regra, sei que é o percurso e a forma de um Estado de direito, mas façam-me o favor de explicar que não estamos perante um evidente caso de julgamento em função de ópticas partidárias.

Comentar em feminino




Há por aí uma Cláudia Gomes que me fascina. Primeiro porque é mulher e eu peço desculpa por ser sensível ao facto. Segundo, porque comecei a ouvi-la a comentar eventos desportivos na RTP. Já a tinha ouvido num jogo de futebol e, há pouco, a comentar um Porto vs Benfica em hóquei . A verdade é que a Cláudia tem uma voz de timbre bonito, não fala com erros, tem humor e ganha em toda a linha aos comentadores (homens)cinzentos, férteis naquele palavreado idiota das tácticas, dos “erros da defesa”, das compensações, do primeiro e do segundo poste, da atitude, da postura e do patatipatatá. Ela fala com naturalidade, diz coisas giras, ri e, curioso, sempre a propósito do que está a ver. Também não se perde a comentar se o jogador A abriu uma loja em Campolide ou se o jogador B teve um acidente de carro, precisamente no momento em que se desenrola uma jogada emocionante. Por mim, long live Cláudia! É uma cláudia frescura nos comentários desportivos da RTP.

sábado, novembro 27, 2004

Mais baba



Protea cynaroides

(Protea are the world's most unusual flowers. They are native to South Africa but have been found to grow especially well in the Kula Area of Upcountry Maui. They are particularly suited to convey your love, sympathy, joy, and best wishes to those close to you) - In "Sunrise Protea Farm"



Passam hoje dezanove anos sobre o dia em que “voei” 50 km, de um hotel para uma clínica, em Johannesburg, após ter recebido um telefonema anunciando “there she comes...”. Foi chegar, esperar dez minutos e ouvir, profissional e amavelmente: Everything went perfect and a girl she is!

And a girl she was. Born in Johannesburg, bred in Maputo, gone around many places as far as Macau and finally settled in Portugal. She’s a girl, she’s beautiful and she’s my daughter. E peço desculpa pela lamechice.
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quinta-feira, novembro 25, 2004

Imeiles



Eu recebo zilhões de mails de gente que gosto e conheço. Conheço e não gosto, não conheço e gosto e não conheço nem gosto. Muitos deles são giros e bem humorados, outros nem por isso. Muitos, ainda, repetidos, como é natural. O resultado é que o meu PC entope... e entope por longos minutos cada vez que recebo séries imensas de infindáveis fotos da Terra vista do espaço, de bungalows das Maldivas, de “Portugal no seu melhor”, do Bush, do Santana Lopes, do Papa, de criancinhas com cancro, mensagens do dia, flores, Bin Laden, manifestos políticos e uma ou outra missiva amiga e interessante. Claro que achei que devia fazer qualquer coisa, em nome do meu equilíbrio e sanidade mental.

Comecei por me queixar a um mocinho lá do escritório que sabe da poda mas que, como todos os informáticos, olha e trata um computador como um brinquedo ou uma namorada nova. O resultado é que cada vez que lhe peço ajuda (como foi agora o caso) ele acha que devo “abrir uma conta” mudar para banda larga, banda estreita, ADSL, Sapo, wireless... e quem acaba por ficar “wired” com o assunto sou eu. Dou-lhe um desconto, claro, pois sei que conversar com informáticos é o mesmo que fazê-lo com um piloto - acaba inevitavelmente em cumulo-nimbos, borregagens e milibares, com um médico acabamos em neoqualquercoisa do pulmão, borbulhas no esófago ou degenerescências do martelo (para quem não sabe e seja dirty minded, é um osso qualquer lá para o ouvido), com um advogado já a coisa muda para prazos, incidentes de recusa , patatipatatá... e eu recuso-me a alimentar esta autêntica configuração da mente em função do que sabemos fazer, passando logo para pesca, acasalamento de flamingos ou corridas de fórmula 1. Em casos extremos, entro mesmo em programas de controle integrado da cochonilha vírgula sp. ou explico em pormenor, com bolinha vermelha ao canto e tudo, como é que o cumacloro mata um rato aos bocadinhos, rebentando-lhes a veias, uma a uma, lentamente, até o pobre ser uma papa de sangue por dentro. Mas enfim, voltando ao tal informático, o rapaz é esforçado, mas fiquei na mesma, para além de que se quisesse impedir o entupimento do meu PC teria que... já nem me lembro. Como achei que tinha de tomar medidas drásticas, sob pena de ficar com olhar bovino colado ao monitor t-o-d-o-s o-s d-i-a-s durante longos minutos, resolvi mandar uma espécie de circular aos meus bem intencionados entupidores de PC, pedindo-lhes alguma contenção na coisa. Coisa cruel o meu pedido, pois acho que a coisa deve ser usada sem contenção coisa nenhuma, deve ser usada desabrida e empenhadamente, mas “prontes”. Para grandes males, grandes remédios e fico agora a aguardar a tal contenção. Eventualmente serei votado ao desprezo virtual, pois há pessoas que respiram mails e acham que se não receberem um mailinho de manhã a mandar flores e a pedir para as reenviarem ao remetente, vão ter muito azar durante a semana e o pai deles é gato.

Pausa



Acordei com a Casa Pia no quarto. Estremunhado, olhei para o televisor e vi cada um dos arguidos, advogados, repórteres e os inevitáveis mirones que “iam para o trabalho mas, já agora, pararam para dar uma olhada”. Nada de muito assinalável para além de uma repórter correr atrás de uma senhora de casaco amarelo aos gritos, “e ali vai a juíza Ana Peres”. Senhora Juíza, tem alguma coisa a dizer-nos sobre o julgamento? E a resposta abrupta: - Ó menina deixe-me da mão. A repórter, arfando, lá se foi queixando da falta de urbanidade da juíza até que a referida senhora de casaco amarelo regressa do café, a jornalista ataca outra vez e ouve: - Ó menina eu não sou senhora juíza nenhuma, trabalho no tribunal mas não tenho nada a ver com isto!
No mais, Santana Lopes vai ter direito a intervalo no bombardeamento do costume. O tema Casa Pia está aí de novo e até a remodelaçãozinha do governo vai passar despercebida. Por um lado vai saber-me bem. Mudar de assunto é coisa que às vezes sabe bem e é oportuno.

terça-feira, novembro 23, 2004

One For The Road



It's quarter to three, there's no one in the place except you and me
So, set 'em up, Joe, I got a little story you oughta know
We're drinkin', my friend, to the end of a brief episode
Make it one for my baby and one more for the road

I got the routine, so drop another nickel in the machine
I'm feelin' so bad, wish you'd make the music pretty and sad
Could tell you a lot, but you've got to be true to your code
So, make it one for my baby and one more for the road

You'd never know it but buddy, I'm a kind of poet
And I got a lot of things to say
And when I'm gloomy, you simply gotta listen to me
Till it's all talked away

Well that's how it goes and Joe, I know your gettin' pretty anxious to close
So, thanks for the cheer, I hope you didn't mind my bendin' your ear
This torch that I found must be drowned or it soon might explode
So, make it one for my baby and one more for the road
That long, long road

PRIME ARTIST: Frank Sinatra
ARRANGER : Nelson Riddle
LYRICS BY : Johnny Mercer
MUSIC BY : Harold Arlen

Música do filme "The Sky's Limit"

- É impossível ler "isto" sem nos lembrarmos da música...


Cristina II



Esta Cristina irrita-me. Tão depressa aparece todos os dias, no seu cantinho preferido, calma, relaxada, bonita, olhando com simpatia os presentes na sala, como desaparece sem aviso nem endereço. É inconstante, travessa e derrama coquetterie na forma como se vai deslocando um palmo todos os dias, até desaparecer da sala. Para aparecer, dias depois, piscando o olho e abanando a cauda. As suas ausências são misteriosas, ou nem por isso, julgo que haverá por aí “osgo” escondido com rabo de fora algures no seu universo e a Cristina não foge a um bom desafio, que é lá isso, há que ir à luta, mesmo que efémera e desigual. É preciso é que ela ganhe – e deve ganhar, porque acaba por regressar com ar inocente, embora eu já a conheça e lhe vislumbre no olhar aquele ar de “patifaria” recente. Ela volta porque deve gostar da sala e porque a sala deve ser, ela própria, um outro desafio. Um dia destes zango-me, corto-lhe o rabo e dou-o às gatas...

segunda-feira, novembro 22, 2004

A Alquimia Da Asneira



Há dias assim. Devíamos ter um chip qualquer, um parafuso, um platinado, um redutor contínuo de impedância mental que adivinhasse a propensão para que, às vezes, se instale no nosso subconsciente uma tendência letal para a asneira. Eu sei que há o stress, o trânsito, os idiotas, a política, os acidentes de trânsito, a desilusão do momento ou o fracasso do dia e, talvez por isso mesmo, o tal chip deveria existir mesmo e pôr-nos o corpo de sobreaviso em situações desta natureza e enviar uma voz de comando ao sistema nervoso, do tipo: “Hoje estás proibido de acordar”. E então dormiríamos até que todos os mecanismos da asneira se diluíssem e acordássemos, enfim, como pessoas normaizinhas e nos entregássemos ao dia a dia sem turbulências de maior. Mas não há. O tal chip, digo eu. E os resultados são frequentemente desastrosos. Serei, eventualmente, um dos mortais que têm dentro de si o disparate latente, a atitude impensada, o fluxo sanguíneo demasiadamente torrencial que pode embotar a razão e tolher o discernimento. E como não tenho o tal chip, sou – felizmente, não muitas vezes – sujeito aos desmandos dos tais mecanismos e passo dias de horror. Disparate atrás de disparate. Ainda por cima sou de emendas... pensando que emendar arranja o soneto e esquecendo-me do provérbio da nossa velha sabedoria popular. Por isso, nada a fazer. Terei de viver com os tais mecanismos e sem o chip. Chip esse que seria o mínimo que eu esperaria duma época de tamanhos avanços científicos e tecnológicos. Ainda por cima cultivo, subconscientemente, a emoção. E os resultados são, via de regra, maus. Quando o prejuízo é só meu, a coisa não é grave. Quando a minha fábrica de reacções, “enguiçada” pelos genes e acicatada por razões, por vezes extrínsecas para além do que seria consensualmente razoável, vai bolir com terceiros, sinto-me mal, tenho azia e apetece-me bater em alguém. Posto isto, resta-me esta modesta contrição, escrevendo aqui o que escrevi. Não vou exorcizar os “diabinhos” que me atacam de vez em quando mas, pelo menos, vou-me sentir melhor com certeza.

domingo, novembro 21, 2004

Fins de semana...



Victoria Falls - Zimbabwe
(vista da ponte sobre o Rio Zambeze, que liga o norte do Zimbabwe à Zâmbia)


Deus quer, a obra nasce...e o sonho do homem não é aqui para aqui chamado. A não ser, talvez, depois da obra feita! E que me perdoe Pessoa pela aleivosia.

E num fim de semana que já foi devidamente estereotipado aqui pela blogoesfera, recordar gentes e locais bonitos, que dão raiva por ser tão apaixonantes (!...), é sempre uma boa opção!

sábado, novembro 20, 2004

Rotinas



Cezanne (Coisas boas)

Tenho uma mãe lindíssima que nasceu, viveu e morrerá na mais fiel obediência às rotinas. Ela espirra de 9 em 9 dias, trezes espirros intervalados respectivamente de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 segundos. Se espirrar catorze, preocupa-se e acha que deve estar a fazer uma gripe. Se os espirros forem doze, preocupa-se e acha “que as coisas estão a mudar” e está a ficar velhinha (ela já é, mas não convém dizer-lho em voz alta). Come invariavelmente uma peça de fruta depois da refeição, tomada impreterivelmente à mesma hora todos os dias o que é um motivo de potencial mal estar se, em viagem, por exemplo, a rotina for quebrada por um minuto que seja. NUNCA teve azia e, portanto, não conhece a sensação da acidez gástrica. Levanta-se à mesma hora, vê as mesmas novelas e é fiel à rotina de ler todos os dias. Só não lê o mesmo livro, o que já é uma saudável alteração da mesma. Depois do banho matinal, arranja-se meticulosamente, maquilha-se, vá sair a algum lado ou fique em casa.

Anteontem fui almoçar com ela. Fazia 13 anos que a mais forte e intensa rotina que teve foi abruptamente cortada pela morte de meu pai. Resistiu bem e até essa resistência configura a rotina do estoicismo que sempre revelou nos momentos mais difíceis da sua já longa vida.

Não sou muito destas lamechices de falar de assuntos pessoais mas ao vê-la levantar-se após o almoço e ir retocar a pintura porque ia cumprir uma nova rotina dos últimos trezes anos, com determinação e uma expressão feliz, - ir ao cemitério colocar umas flores - achei que tinha uma mãe muito forte, bonita e uma grande exemplo para os quatro filhos que teve. Mas isso achamos todos, não é?

Uma breve nota final para referir que até o meu peculiar desrespeito pelas rotinas é por ela acolhido com um sorriso benevolente e cheio de carinho. A sua rotina, afinal...

Especialistas




“Especialistas” decretaram e celebraram um dia de greve aos TPC para as crianças.

Sempre tive um ideal de educação em que o rigor e o trabalho fizessem parte das linhas mestras da educação de crianças. Mas parece que esta não é a doutrina de especialistas na matéria que acham que não. Eles acham que o direito à greve é uma coisa que as crianças devem conhecer e introverter desde pequeninos e que eles deviam, desde já, iniciar-se na nobre missão de estar contra. Não se sabe bem contra quem mas os putos devem saber que se deve estar contra, contestar, independentemente dos motivos. Ou melhor: - Neste caso devem estar objectivamente contra os professores que são uns malandros e lhes dão demasiados trabalhos para casa.

Uma jornalista, na notícia enfeitada das televisões – e após sábias reflexões dos especialistas que acham que as crianças estão sobrecarregadas de trabalho e não têm tempo para “se divertir e para gostar delas próprias”,(sic) - encarregou-se da tarefa de perguntar aos “grevistas” o que pensavam da greve e as respostas eram uns tímidos “não seeeeeeei”. A jornalista insistia, perguntando: - Por causa dos TPC ainda ficas com tempo para brincar? E a resposta, descoroçoante chegava: Fiiiiiiiiico, hoje brinquei com a playstation.

Independentemente de existir ou não uma carga demasiado pesada de TPC - não estou seguro nesta matéria - acho que se está a prestar um mau serviço às crianças, às escolas, aos professores e à Educação em geral tratando o assunto desta forma. Mas é o costume, afinal...

quarta-feira, novembro 17, 2004

Tamos aqui tamos nos búzios...



Santana Lopes quer os portugueses (e as portuguesas, claro...) em alto astral.

Depois de ler e me ter rido a bandeiras despregadas com este saboroso post do Fumaças que, naturalmente, me levantou o astral, pouco mais posso dizer sobre o assunto, a única coisa que posso acrescentar é o meu receio de que a Maya venha a ocupar uma secretaria de estado qualquer e que o professor Karamba dirija uma qualquer fundação de prevenção de abaixamento do Astral, ou seja nomeado Conservador da Capela dos Ossos.

Sou frequentemente acusado por amigos (e por amigas ,que isto de adjectivos comuns de dois acabou, já do tempo do Guterres) por ser demasiadamente sensível ao negativo. Incitam-me mesmo a ver Portugal e portugueses (e portuguesas, desculpem...) em diapositivo e, se possível, com legítimo orgulho no nosso cozido à portuguesa. Mas “isto” está a atingir os limites do aceitável. Eu já andava desconfiado com aquela cena da pulseirinha, mas ver o astral incluído num discurso do congresso de um dos dois partidos que me governam, ainda por cima da boca do respectivo presidente que, por acaso, até é primeiro ministro, faz-me recear o pior.

Eu sei que uma fatia muito grande dos portugueses (e das portuguesas) não dá um passo sem ir à net consultar o mapa astral; que os astros ocupam muito espaço na vida dos ditos (e das ditas): que a vida difícil, o stress, a necessidade de se acreditar em qualquer coisa; a permeabilidade que temos ao esotérico; a convicção de que os astros regem as nossas vidas; que antes de aceitarmos um emprego, escolher namorada ou tomar uma decisão importante, devemos confirmar se Júpiter está bem disposto, se a Lua está com o cio, se Marte acordou mal disposto e se a água não se interpõe entre o fogo e a terra; que a televisão do Estado concede generosos tempos de antena a videntes, cartomantes, astrólogos e correlativos em programas idiotas e imbecilizantes. Eu sei tudo isso... mas um primeiro ministro vir atirar com ao astral aos portugueses (e às portuguesas...) entre um par de incitamentos à retoma, cheira-me mal, deprime-me e faz-me pensar que corremos o risco de, muito em breve, as decisões dos conselhos de ministros serem tomadas depois de se lançarem os búzios...

terça-feira, novembro 16, 2004

Papagaio verde



O papagaio é um psitacídeo, vive muitos anos e, a maior parte das vezes, é verde. A fêmea do papagaio chama-se papagaia e também é verde. Talvez um pouco mais que o papagaio. Quando o papagaio está ao pé da papagaia o verde espraia-se por uma área semelhante à de um campo de futebol. Verde, claro. Estádio do Sporting, já agora. O papagaio reproduz-se por ovos (brancos) mas os papagaiozinhos nascem verdes, quer dizer leva uns dias até virem as penas verdes. O papagaio vive mais tempo que o homem o que é perfeitamente justo porque o papagaio é muito mais ecológico ( ou não fosse verde) que o homem. O partido “Os Verdes” não é formado por papagaios, mas anda por lá perto. O papagaio é uma ave apaixonante, o que causa uma certa raiva à papagaia mas esta perdoa-lhe porque é por uma boa causa. Pode ainda ser palavroso, mas no bom sentido. O papagaio serve para ter numa gaiola lá em casa, para dizer palavrões e para podermos contar anedotas quando não nos lembramos de anedotas de louras ou do Santana Lopes. O papagaio dispensa cortejar papagaias limitando-se a dizer (os papagaios falam...): - Querida vamos fazer um papagaiozinho. Ela acede, para não ficar mais verde. Também há papagaios cinzentos, mas esses não pertencem a este post. Só os que “ficam” cinzentos quando ouvem dizer que o Santana Lopes quer ser primeiro ministro até 2014. E se ninguém percebeu nada do que para aqui disse, bem podem ficar verdes de raiva porque eu não digo. Provavelmente porque nem eu sei... quer dizer, sei mas não digo. Não sei se diga, mas acho que não sei. Ou talvez saiba. Sei lá se sei...

Guerra, Mentiras e Vídeo?



Eu sei que há desmandos nas guerras. Eu sei que a guerra gera estados de espírito descarrilados da razão e da condição humana. Eu sei que o clima de guerra é propício às mais estranhas reacções dos homens, perante insondáveis e inesperadas situações. Eu sei que há loucos. Eu sei que há gente má. Eu sei do que falo, nesta matéria.

Mas também sei que me custa entender que um soldado, por mais louco que seja, se entretenha a matar inimigos indefesos à queima-roupa, solte impropérios animalescos e se deixe, calmamente, filmar, com câmara atenta e estrategicamente posicionada, a praticar atrocidades.

E ainda sei que são frequentes os mais desprezíveis meios de propaganda política e como é fácil levá-los a efeito. Ainda há poucos meses um patusco americano se entreteve a fazer um vídeo mostrando árabes a ameaçar americanos de eminente degola. O vídeo correu mundo e depois veio-se a saber que era forjado. O próprio autor o confessou.

Isto a propósito de uma peça em vídeo que as nossas televisões têm vindo a repetir à exaustão, onde se vê um soldado americano a insultar o inimigo indefeso, a humilhá-lo e a desfechar-lhe uns quantos tiros à distância de um metro. A televisão mostra-o, mostra-o... e mostra-o e mostra-o.

Fico à espera de uma das seguintes coisas:

1) O exército americano reconhece o vídeo como verdadeiro e pune o animal em Sede própria;

2) As televisões informarem que o vídeo era falso e constitui uma mera arma de propaganda anti-americana – e, já agora, pedirem desculpa pela falta de rigor na informação;

3) Que nada disto aconteça e eu ficar a pensar que vivo num país esquisito, de gente esquisita.

Lucidez

António Botelho de Melo. Não tem blog, colabora na "QUEPASSA", magazine Moçambicano, mas escreveu isto.

segunda-feira, novembro 15, 2004

A paixão



Para os que não lêem o DN, eis uma reflexão de João César das Neves sobre a Educação aqui que "explica" muita coisa. Quase tudo...

domingo, novembro 14, 2004

Castanhas, cherne, sol, Atlântico e grelos...



Há castanhas que não precisam de S. Martinho para brilharem. Brilham todo o ano!

E depois deste elevadíssimo pensamento, vou sair, que hoje estou sem assunto e estão à minha espera para ir ao Entráguas (mas porque carga de água haviam de mudar o nome ao Portal da Guia? E depois... entre águas? Quais águas? As águas estão só de um lado e do outro está um parque de estacionamento... ou será que é uma sugestão velada para tomarmos uma refeição entre uma água de luso e uma Frize? Mistérios dos industriais de restauração...) comer filetes de cherne com arroz de grelos. Para quem não for destas bandas, aqui fica um recado. Filetes de cherne com arroz de grelos. No Entráguas, ali mesmo na convergência da estrada do Guincho com a que vem da Boca do Inferno. Quando não há cherne, os filetes são de garoupa. O arroz tem a consistência ideal sem aquela mariquice portuga do arroz malandro a escorrer águas e com grelos sápidos que nos recordam as hortas da Lourinhã. E o cherne é fresco e ainda não foi convidado para ser presidente de coisa nenhuma deixando-nos entregues a um carapau de corrida qualquer, à espera de ir perder umas eleições para uma qualquer truta beirã, ainda por cima de aviário. E antes que me torne um Zé Quitério de pacotilha, deixemos as comidas para dizer que há dias que merecem isto mesmo. Filetes de cherne com arroz de grelos, uma visão magnífica do Atlântico (já repararam que o Atlântico tem o mais belo nome de todos os oceanos? É uma questão de os dizerem em voz alta e verão qual o que soa melhor) uma boa converseta com boa gente e “mainada”. É uma forma de nos lembrarmos que, apesar de TUDO, vivemos num dos mais bonitos países do mundo, com o melhor clima do mundo e com o melhor arroz de grelos do mundo e juro que esta coisa dos grelos não tem nada a ver com os posts da Vieira.

Bom resto de Domingo para todos...

sábado, novembro 13, 2004

Aqui há gato (as)

Hummm! Aqui há gato. Ou talvez gatas... acordei, fiz o meu café matinal e preparava-me para comer uma coisa que a pastelaria ali da esquina insiste em chamar pão de deus e eu acho que é uma vulgar arrufada com um bocado de doce de coco em cima e vi que:




- Uma moldura com uma foto está no chão (não sou muito destas coisas de molduras expostas na sala, assim tipo loja dos 300, mas transijo um bocado em nome de causas nobres);

- Uma jarra de flores no chão (sou muito destas coisas, mas nem sempre tenho paciência, tempo ou lembrança de ter flores em casa);


... e a Cristina lá está, no tecto. Mas falta-lhe o rabo e a Gray e a Twilight (juro que não fui eu que pus o nome às gatas) estão ali sentadas no chão da sala a olhar para o tecto, de olhos vidrados e esgar salivado.

Vou-me convencendo que há coisas que acontecem de noite que cada vez mais me passam ao lado...

sexta-feira, novembro 12, 2004

Diferenças




Arafat morreu (foi morto, diz muita gente, e é bem verdade que a tal autópsia , a ter sido feita, é de resultados desconhecidos) e as repercussões foram de um modo geral ajustadas a um enquadramento político de ocasião. Os palestinianos choraram a sua morte (nem todos...), os israelitas mantiveram um adequado low profile (com excepção daqueles quatro maluquinhos aos pulos e à guitarra que as televisões espanholas mostraram a “representar” o povo israelita) e os dirigentes mundiais proferiram palavras de circunstância, com o recolhimento e sobriedade que a morte exige.

Arafat morreu. Mas será recordado como um violento terrorista que não hesitou em deitar mão dos processos mais infames para continuar a sua – legítima - luta pelos interesses da Palestina, não hesitando mesmo em manipular crianças, treinando-as, mentalizando-as e convencendo-as da sublime missão de se rebentarem com explosivos à cintura em nome da libertação do seu povo e dos desígnios de Alá.

Ao contrário, recordo como Nelson Mandela conseguiu estabelecer pontos de equilíbrio num país profundamente instável após a sua tomada de poder e respectiva renúncia de F. deClerk. Mandela foi preso em 1962, condenado a prisão perpétua e encarcerado sucessivamente em Robben Island, Pollsmore Prison e Paarl até ser libertado em 1990. Encontrou um país fortemente dividido e em cima de um barril de pólvora. Com extrema argúcia, inteligência e sentido de Estado conseguiu conciliar a extrema direita branca com o radicalismo negro. As lutas que teve de travar dentro do ANC e no seio de uma comunidade branca, de profundo arreigamento religioso e notoriamente impreparada para tão radical mudança nas suas vidas foram épicas e a todas elas Nelson Mandela conseguiu acudir com sabedoria, serenidade e muita inteligência. Não beneficiou também de torrentes de dinheiro que financiassem a sua acção nem a sua mulher ficará a receber uma pensão milionária vitalícia. Pelo contrário, Winnie Mandela só lhe deu dores de cabeça e até nesse pormenor ele soube reagir com ponderação e a firmeza que a situação merecia. Muito menos se envolveu em escândalos financeiros.

Mesmo com muitos acidentes de percurso a África do Sul é hoje um país de economia pujante e com um tecido social impensável há dez anos atrás.

E eu não tenho qualquer problema em confessar o meu profundo cepticismo à altura da sua ascensão a presidente e admitir hoje que me enganei, nutrir por Nelson Mandela uma profunda admiração e considerá-lo um dos grandes estadistas do século XX. E reflectir que o seu único ponto de coincidência com Arafat foi o facto de ambos terem ganho o Prémio Nobel da Paz...

Começa...



O Professor Ferrinho, ministro-sombra do PS para a área económica e personagem emergente no forró que se avizinha, perante uma observação de Judite de Sousa de que um determinado índice económico tinha sido recentemente valorizado pela União Europeia. soltou esta pérola:

" Não é valorizado... mas vai ser mais valorizado. Mas não é valorizado...é um critério que existe... mas o engenheiro Sócrates irá, certamente, dar a volta ao assunto..."

quinta-feira, novembro 11, 2004

O Peso De Um Ego Vacum Amarfanhado




Tenho uma vaca dentro de mim!

Mas uma vaca amarfanhada!
Não muge...não rumina....
Não subsiste...definha...

E abre as patas ao céu,
Põe a sua alma ao léu
Diáfana...etérea...singela...

E, num grito vindo do nada,
Pleno de pena e calor
Brada em alto clamor:

A bovina é a minha sina!
É só ela...é só ela!

E a vaca que eu gritava
estar dentro do meu peito,
surte oca...esvaziada....

triste fado, triste sina....

E no leito em que me deito,
dorme uma alma bovina
singela...pura...cristalina
que muge, rumina e brada:

Sou bovina...sou bovina!

É um Santana incapaz,
É um Guterres falaz;
O Portas toda a semana,
E o Louçã, um bom sacana

É um presidente sem tino
E eu cada vez mais bovino.

É Marcelo, é Amaral
É uma porra de jornal
Do mesmo sempre falando
Enquanto nos vai mantendo
Ruminando, ruminando...

É o trânsito, as baralhadas
As mulheres complicadas.
É o túnel do Marquês, é o trabalho
A fazer-me apetecer
Mandar tudo pró... pois

E o tempo vai passando

E o espumante ruminando.

Mas na sua voz calada,
Há uma vaca...amarfanhada!

E o espumante desatina
Por ter tido esta sina
Desatina...desatina!

Brada em voz desnorteada:
Quem sou eu...quem sou eu?!...

E o eco responde do céu:
Nada...nada...nada...nada!...


O dia de hoje, então, foi catastrófico. Vejamos:

1) António Guterres falou no Congresso sobre democracia, na Gulbenkian, Dicicilmente terei assistido na minha vida a tão descarado discurso;

2) Leonor Coutinho, a tal secretária de estado de Habitação que deixou obra, tanto quanto me lembro, consubstanciada no empréstimo abusivo de um carro do Estado ao namorado de então, diz "que a primeira coisa que vai fazer é ANULAR a Lei do Arrendamento, quando o PS fôr Governo". Preocupa-me menos este terrorismo verbal do que este circo e esta feira de vaidades em que os partidos do Bloco Central se entretêm a desfazer o que os anteriores fizeram;

3) O professor ???? desculpem não me lembrar do nome, Ministro-sombra do PS para a Economia, acabou de dar uma entrevista à Judite de Sousa absolutamente aterradora pela série de vacuidades proferidas e por um claro desconhecimento dos grandes problemas económicos (foi frequentemente corigido pela Judite em coisas tão comesinhas como índices de crscimento económico, ao que o profesor contrapunha com um "acho que o engenheiro José Sócrates é capaz de dar volta ao assunto"...).

Temo o pior. Esta atitude despudorada do Partido Socialista tipo "desculpem lá qualquer coisinha do passado, mas agora é que vai ser" e a reconhecida ausência de valores e competências do governo de Santana Lopes fazem-me temer a proximidade de mais um período de desconchavo para os próximos seis anos. Pelo menos. Dois de Santana e quatro de Sócrates...

quarta-feira, novembro 10, 2004

A baba




Rosa de Porcelana
Nicolaia elatior


Eram seis e meia da tarde quando me bateram discretamente à porta do gabinete e me entregaram um magnífico ramo de rosas. Entrega do estrangeiro, informou-me a menina da Florista. Com elas vinha um cartão, cujo conteúdo omito por natural pudor... tudo isto porque num dos meus últimos posts deixei um ramo de rosas que alguém soube ler e "receber".

É bom ter filhas assim!

Para ela aqui fica uma rosa original do país onde nasceu, paredes meias com o país onde cresceu. Longe do país onde estudou e "do outro lado" do país onde vive. Com um grande beijo, claro!

Parabéns



Maputo faz hoje anos.
Parabéns à princesa do Índico, parabens a uma das mais belas cidades de África, senão a mais bela...que me perdoem Capetown, Luanda e Nairobi...
"...tem a graça e tem o tique, do sorriso de mulher..." (Velhinho Tudela)

terça-feira, novembro 09, 2004

Liberdade




Faz anos que o muro de Berlim, foi derrubado. Há hoje várias alusões ao facto na blogoesfera e dela retive os seguintes aspectos que me parecem relevantes:

1) – Há referências tímidas e tergiversadas num registo apologético;

2) – Quem não resista a estabelecer paralelos com o actual muro da Palestina;

3) – Quem, ainda, e de uma maneira mais ou menos velada, se aventure em reflexões sobre se não seria melhor que tudo tivesse ficado como dantes, evitando as ainda hoje “flagrantes” diferenças sociais e económicas entre as duas metades de Berlim e falando mesmo em duas Alemanhas.

Generalizadamente, porém, poucas foram as referências à genuína alegria de um povo dividido e reencontrado. E, mais grave, um implícito branqueamento do mais odioso regime que tive oportunidade de conhecer na minha vida. Tive a privilegiada oportunidade de conhecer, por incidências da minha carreira profissional, representantes de várias comunidades de expatriados de Países do Leste Europeu, Cuba e, até, União Soviética. Independentemente da doutrina enformada pelo regime, pelas barbaridades que continha através do mais gritante desrespeito pelos direitos humanos (em nome, cinicamente, desses mesmos direitos humanos), prisões, assassinatos, tortura, genocídios e toda uma série de arbitrariedades sobre a vida e condição humanas, retenho hoje, na perspectiva de quase vinte anos, talvez a pior de todas as torturas e o mais hediondo dos crimes. A verdadeira deformação de mentalidades, alienação de vontades, intoxicação política de gerações distintas. E a forma como cidadãos daqueles países, homens como eu, “achavam” que aquele era o sistema “correcto” e que haveria de conduzir a uma verdadeira justiça social no mundo, para o que contribuiriam com o seu espírito "internacionalista". Era deprimente, trágico. E ocorria-me que aquela gente pensava mesmo assim e que os filhos deles haveriam de pensar como eles.

Hoje vou rever o “Adeus Lenine” no Canal 1. Para além de o considerar uma obra prima do cinema alemão, “está lá tudo”.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Rosas



Há alturas na vida em que um ramo de rosas vale mais que mil palavras. A rosa é desculpa, é amor, é simpatia, é sedução, é poesia de aromas e cores, é tributo, paz, amizade, ciúme, saudade, respeito, é símbolo de tudo e de nada e é pretexto para a alegria de dar ou receber... é, sobretudo, uma flor lindíssima que sabe bem usar e cantar na sua extraordinária beleza, olor finíssimo e simbolismos carregados de desejo.

Porque cheguei tarde a casa e estou sem assunto, deixo aqui um bouquet delas. Remeto-as para as pessoas especiais e sensíveis que as sabem apreciar. Pessoas com o brilho raro que lhes permite receber rosas e ler nelas um poema bonito ou o tributo sentido que o autor não sabe escrever...

domingo, novembro 07, 2004

Sunny day



Eu gosto de frio, de “fogs e smogs”, neblinas e chuviscos, golas levantadas e chauffage do carro a funcionar, de sair de um teatro ou de um cinema e enfrentar o frio cortante até chegar à viatura estacionada, mas hoje rendi-me ao sol de Cascais. Porque parece ter nascido diferente. Com muita luz, que ilumina breus instalados e os remete para arquivo morto, e aquele calor de inverno que nos afaga o corpo que esta tarde vai ali à Guia tomar um café e olhar para o mar como eterna namorada, à espera de uma ou outra ideia compatível com o estado de espírito que o dia nos trouxe. Talvez ir ver o Denzel... ando um pouco cansado daquele tipo de filmes em que Jonathan Demme se esmera a explicar-nos que tal como Rangel acha que pode vender presidentes de república, os americanos (sempre eles...) um dia conseguirão dominar os povos, controlando-lhes a mente por controle remoto. Mas como tem o Denzel e a Meryl Streep... há filmes que interessam menos pelo que são do que pelo simples prazer de ver gente grande do cinema!

Eu te(i)nho(a) um Mercedes...



Razões inesperadas levaram-me a Coimbra ontem.

É um lugar comum falar-se do trânsito caótico e da nossa falta de civismo. Por mais que nos esforcemos a culpar o traçado das estradas, a deficiente sinalização das mesmas, penso que não restam dúvidas que a causa primeira da guerra civil em que estamos empenhados remete para o mais extraordinário comportamento dos nossos condutores. Conheço alguns países do terceiro mundo, conheço vários na Europa, também, em todos eles há trânsito difícil, engarrafamentos e dificuldades decorrentes disso mesmo. Mas o belicismo provinciano, o arreganho parolo e a ausência das mais elementares regras de respeito próprio e pelos outros serão dificilmente igualáveis noutros países. Não conheço Bombaim... nem o Brasil. Parece que há por lá alguma aproximação. Mas, de qualquer forma, os contextos são diferentes, hoje estamos inseridos no espaço europeu, temos estradas europeias e condutores supostamente europeus. Daí que eu considere que o trânsito automóvel deveria constituir um case study, não do trânsito em si mas de uma equipa competente de sociólogos, antropólogos, psicólogos, não esquecendo um par de sargentos da polícia da NYPD, por exemplo, que sei eu... dum grupo enfim, que conseguisse fazer um trabalho bem fundamentado junto das instituições competentes no sentido de se disciplinar o trânsito automóvel e, consequentemente, poupar muitas vidas, Na maioria, jovens, como se sabe.

Eu sei que é difícil. Há os que peroram sobre a educação de base, sobre a incompetência dos governos , os traçados das estradas, o stress e todo um ramalhete de razões que terão, obviamente, razão de ser e têm, sobretudo, a ver connosco, mas que não podem, não devem excluir a medida base que se me afigura urgente e, surpreendentemente, fácil – reprimir. Palavra feia mas se alguém se lembrar de outra melhor, eu agradeço. Porque mesmo admitindo que a educação e mudança de mentalidades funcione isso levará pelo menos mais uma ou duas gerações e entretanto, morrerão, estatisticamente, mais 30.000 pessoas. Não pode ser. Eu não posso ter medo de ir a Coimbra ou ao Porto, de automóvel. Posso ter consciência de que há riscos, avarias, distracções, doenças súbitas que poderão ocasionar acidentes, mas não posso ter medo de que um exército de grunhos continue a circular nas estradas em velocidades à volta dos 200 km/hora, ninguém lhes fazer nada e ter de ouvir gente supostamente responsável na televisão, com tempo de antena para dizer que tem um Mercedes, que é um carro seguro, coisa e tal e, por isso, não concorda nem cumpre o código de estrada.

Tenho uma filha que acabou de tirar a carta e que vai ser lançada às feras. Porque não lhe vou dizer para ficar em casa porque há assassinos à solta e comportamentos esquizóides... ou entramos na total perversão da vida em sociedade.

Tudo isto a propósito de eu ter assistido ontem a um condutor, à minha frente, em plena auto-estrada, que deliberadamente “obrigou” um outro condutor que o precedia a encostar à berma, assim ao estilo de um filme série B de polícias e ladrões, para tirar desforço... sabe deus de quê. Isto em pleno fluxo de dezenas de viaturas em velocidade de cruzeiro que se viram obrigados a travar, a desviar e, até, a abrandar... para ver “o que se passava” claro!

quinta-feira, novembro 04, 2004

Outonos



O Outono chega e a folha mirra, amarelece e cai. Por um momento a folha hesita e tenta segurar-se ao fuste protector que lhe deu a seiva, o amor, a vida e alegria, em troca da sombra amiga e dos afagos proporcionados pela brisa de todos os dias. Pensa na magia e na beleza de uma simbiose cúmplice que durante um tempo lhe deu o sorriso e a frescura da cor. Mas a inexorável marcha do tempo e a natureza das coisas não acomodam perturbações ao curso normal da vida. Mesmo que a folha chore e o tronco doa!



E a folha caiu. No meio de outras folhas como ela, foi arrastada no turbilhão do tempo e das estações, deixou rasto e perfume, foi para longe... e nunca mais a vi!

quarta-feira, novembro 03, 2004

A esquerda inteligente



A esquerda “profunda” está genuinamente zangada com a re-eleição de Bush.Tenho por essa esquerda muito respeito e esta zanga é perfeitamente legítima, já que não é mais do que um exercício livre de opinião perante as suas própria convicções e pela informação que lhe é prestada. Mesmo que a informação esteja inquinada, como é o caso português, mas é a que tem.

Já a esquerda de sofá não está zangada. Exulta com a vitória de Bush que vai alimentar centenas de blogs, de artigos de opinião e expressões trauliteiras e idiotas. E isso, sim, irrita-me. Irrita-me porque não consigo acreditar que este tipo de reacções que se avizinham, ainda que legítimas do ponto de vista de livre expressão de ideias, sejam genuínas. Esta esquerda precisa de conflito para sobreviver, precisa de massa crítica para poder exercer e aplicar a cultura de reviralho de que se não consegue libertar e tem agora campo aberto para continuar a encher páginas de jornais, blogs, assistir a conferências e citar mil livros e jornais que leram e até os de que ouviram falar. Mesmo que digam rematados disparates, como ainda há dias Mário Soares o fez (aquela da igreja metodista estar aliada aos ortodoxos judeus é de cabo de esquadra e só conseguiu fazer esboçar um sorriso complacente a Martins da Cruz e Vasco Rato). Além de que a expressão de protesto faz parte de uma cultura muito própria da esquerda elegante, sobranceira e insuportavelmente idiota, cujo expoente maior situo na incontinência grosseira de Louçã e no cinismo arrogante de Rosas ou Miguel Portas. Apoiados no escarcéu de grupos organizados de reconhecida capacidade histriónica como o Barnabé, por exemplo.

A nossa esquerda vive de episódios que lhe possam alimentar o ego e os desígnios (às vezes, frustrações) e não contribuí com uma sílaba para o desanuviamento internacional e para um fluxo válido de informação junto daqueles que não tiveram o privilégio de acesso a meios de informação sofisticados e a leituras sérias. Foi degradante a expressão de desapontamento de Odete Santos e Helena Drago, depois do julgamento de uma jovem por alegada prática de aborto. A Juíz teve o bom senso de absolver a miúda, o que foi óptimo. Para a ré e para todos. Mas foi mau para a Odete... e para a Drago. Porque perderam uma oportunidade de oiro para mais uma sessão de berraria.

Pois a oportunidade para a berraria aí está. Bush na Casa Branca. E embora seja “none of our business” toda a esquerda se vai empertigar e envergar a vestimenta axiomática para nos explicar que tem tudo a ver conosco. Vão chover artigos de opinião, dichotes de acinte e baba de verrina. Em nome da pretensa superioridade intelectual e cultural dos europeus que observam com desdém e complacência mais de 70.000.000 de bárbaros que acharam que Bush é o homem que deve ocupar a Sala Oval e governar a casa que é deles. Esquecendo-se que faríamos bem melhor que procurássemos vias de entendimento com a administração americana, a que existe, onde o pragmatismo e o realismo ocupassem o lugar que merecem para se atingir resultados justos, humanos, dignos, civilizados, para a tremenda barafunda que reina no Médio Oriente e para a real ameaça de terrorismo que pende sobre todos nós, sem excepção. E, já agora, que salvaguardassem a nossa própria sobrevivência como povos livres e ciosos dos nossos valores de cultura e humanidade.

O Povo é Quem Mais Ordena



Ou está a passar-me alguma coisa ao lado?...

segunda-feira, novembro 01, 2004

Apoios de campanha



Kerry on Susan!

Com a devida vénia ao Pedro Mexia, que aparentemente leu o Times on Line antes de mim, não quero, mesmo assim, deixar de referir um comentário inteligente sobre a costumada cobertura de personagens do cinema, rádio e tv a campanhas eleitorais.
É certo que não temos Ben Affleks, Springsteens, Sarandons (excelente Susan...) nem deVitos por cá. Mas sempre temos Abrunhosas, Reprezas, Ágatas, Toys e Reininhos que vão fazendo o mesmo papel. Para mais, com aquele tique de encanto que faz toda a diferença...

Maningue naice

PRIMEIRO PASSO



CLUBE NAVAL DE MAPUTO

Telefonar ao Judas para pôr o barco na água, pegar no café, nos cigarros, chocolate e no carro e deslocarmo-nos para o clube.

SEGUNDO PASSO


ROBCRAFT 20', 2 x 90HP Yamaha, outriggers, trim & tilt. (Não é exactamente o da foto, mas foi o que encontrei mais aproximado...)

Barco na água, bússola a 90º (ou basta apontar para o sol...)e navegar durante cerca de 90 minutos a 25 nós. Por essa altura, um café e dois cigarros depois e quando já se não vê terra em 360º, olhos no ar à procura de pássaros, canas na água e um motor desligado, ficando o outro a 2.000 r.p.m.

TERCEIRO PASSO



WAHOO (Acanthocybium solanden) - Tunídeo tido como um dos mais velozes peixes, pode atingir os 2 metros e oitenta kilos de peso. Relativamente frequente no Baixo Danae, recife a cerca de 35 milhas NE de Maputo ou no Baixo de Santa Maria a cerca de 15 milhas do Canal do mesmo nome e que separa a lha da Inhaca do continente. "Pega" bem em pena, rapala ou peixe-agulha vivo. Dá uma luta magnífica, com saltos e "fugas" vertiginosas que podem levar mais de 100 metros de linha e deixar as embraiagens dos molinetes a escaldar.

QUARTO PASSO



HOTEL INHACA - Hoje do Grupo Pestana. "Escala" técnica para abastecimento do barco e do estômago. E um papo com o velho "Lucas", claro.

FIM DE FESTA



REGRESSO A CASA

Bússola a 270º ou... basta seguir o sol!

Deve ter sido deste sol da manhã. Porque diabo me lembraria eu de um dia como este? Porque não há wahoos na baía de Cascais? E porque é que um lugar na marina custa quase tanto como um T2 na Guia??
Vou pela aproximação. Bica na Guia e um peixinho fresco - no prato, claro e deixar-me de lamechices saudosistas. Afinal já lá vão meia dúzia de anos.Mas que era "maningue naice" lá isso era!...