segunda-feira, novembro 22, 2004

A Alquimia Da Asneira



Há dias assim. Devíamos ter um chip qualquer, um parafuso, um platinado, um redutor contínuo de impedância mental que adivinhasse a propensão para que, às vezes, se instale no nosso subconsciente uma tendência letal para a asneira. Eu sei que há o stress, o trânsito, os idiotas, a política, os acidentes de trânsito, a desilusão do momento ou o fracasso do dia e, talvez por isso mesmo, o tal chip deveria existir mesmo e pôr-nos o corpo de sobreaviso em situações desta natureza e enviar uma voz de comando ao sistema nervoso, do tipo: “Hoje estás proibido de acordar”. E então dormiríamos até que todos os mecanismos da asneira se diluíssem e acordássemos, enfim, como pessoas normaizinhas e nos entregássemos ao dia a dia sem turbulências de maior. Mas não há. O tal chip, digo eu. E os resultados são frequentemente desastrosos. Serei, eventualmente, um dos mortais que têm dentro de si o disparate latente, a atitude impensada, o fluxo sanguíneo demasiadamente torrencial que pode embotar a razão e tolher o discernimento. E como não tenho o tal chip, sou – felizmente, não muitas vezes – sujeito aos desmandos dos tais mecanismos e passo dias de horror. Disparate atrás de disparate. Ainda por cima sou de emendas... pensando que emendar arranja o soneto e esquecendo-me do provérbio da nossa velha sabedoria popular. Por isso, nada a fazer. Terei de viver com os tais mecanismos e sem o chip. Chip esse que seria o mínimo que eu esperaria duma época de tamanhos avanços científicos e tecnológicos. Ainda por cima cultivo, subconscientemente, a emoção. E os resultados são, via de regra, maus. Quando o prejuízo é só meu, a coisa não é grave. Quando a minha fábrica de reacções, “enguiçada” pelos genes e acicatada por razões, por vezes extrínsecas para além do que seria consensualmente razoável, vai bolir com terceiros, sinto-me mal, tenho azia e apetece-me bater em alguém. Posto isto, resta-me esta modesta contrição, escrevendo aqui o que escrevi. Não vou exorcizar os “diabinhos” que me atacam de vez em quando mas, pelo menos, vou-me sentir melhor com certeza.

9 Comments:

At 4:33 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Ficámos sem saber quais as horríveis asneiras ou quantas elas foram, mas também não importa. Não temos que saber da sua vida, além de que se as fez agora terá que as desfazer ou sofrer as consequências.
Mas uma coisa é certa: mesmo tão "asneirado" continua a escrever muito bem e é um prazer lê-lo!
- Gota

 
At 4:49 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Um homem tão compostinho, tão fato e gravata, tão-tão e a asneirar assim? Mas que asneiras foram elas, homem? Foi assim tão grave? E eu que já passei essa fase do remorso tenho de ler isto de uma criatura como o espumante? Ou será blablablabla?

 
At 4:51 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Ai que me esqueci duma coisa. E esse chip depois não se torna tão chato que até apetece deitá-lo fora? lol
IL

 
At 10:36 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Gota:
Obrigado pela simpatia. Não estou a asneirar...
É que há dias "assim" :)))

 
At 10:41 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL:
Compostinho, gravata e blá blá blá blá podrão ser já a génese de muita asneira :)) Mas remorso, não. Não sou homem de remorsos, porque tudo o que faço, bem ou mal, é genuino. E os chips não se deitam fora, nascem conosco e morrem conosco. Porta-te bem...
:)

 
At 1:14 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

às vezes, um simples "emendar" resulta, tudo depende da maneira como é feito... Não se preocupe, fê-lo bem.:)

 
At 10:11 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Vieiradomar:
Já dei o Kompensan às gatas...
:)

 
At 7:00 da tarde, Blogger Passada disse...

cá para mim deves ter pisado um tornozelo feminino!!! O pior disto tudo é que estas coisas passam de pai para filhos, é genético. Herditário!Nunca me diverti tanto a ler sobre asneiras!

 
At 11:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mmicr:
you bet...
:)

 

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