terça-feira, novembro 09, 2004

Liberdade




Faz anos que o muro de Berlim, foi derrubado. Há hoje várias alusões ao facto na blogoesfera e dela retive os seguintes aspectos que me parecem relevantes:

1) – Há referências tímidas e tergiversadas num registo apologético;

2) – Quem não resista a estabelecer paralelos com o actual muro da Palestina;

3) – Quem, ainda, e de uma maneira mais ou menos velada, se aventure em reflexões sobre se não seria melhor que tudo tivesse ficado como dantes, evitando as ainda hoje “flagrantes” diferenças sociais e económicas entre as duas metades de Berlim e falando mesmo em duas Alemanhas.

Generalizadamente, porém, poucas foram as referências à genuína alegria de um povo dividido e reencontrado. E, mais grave, um implícito branqueamento do mais odioso regime que tive oportunidade de conhecer na minha vida. Tive a privilegiada oportunidade de conhecer, por incidências da minha carreira profissional, representantes de várias comunidades de expatriados de Países do Leste Europeu, Cuba e, até, União Soviética. Independentemente da doutrina enformada pelo regime, pelas barbaridades que continha através do mais gritante desrespeito pelos direitos humanos (em nome, cinicamente, desses mesmos direitos humanos), prisões, assassinatos, tortura, genocídios e toda uma série de arbitrariedades sobre a vida e condição humanas, retenho hoje, na perspectiva de quase vinte anos, talvez a pior de todas as torturas e o mais hediondo dos crimes. A verdadeira deformação de mentalidades, alienação de vontades, intoxicação política de gerações distintas. E a forma como cidadãos daqueles países, homens como eu, “achavam” que aquele era o sistema “correcto” e que haveria de conduzir a uma verdadeira justiça social no mundo, para o que contribuiriam com o seu espírito "internacionalista". Era deprimente, trágico. E ocorria-me que aquela gente pensava mesmo assim e que os filhos deles haveriam de pensar como eles.

Hoje vou rever o “Adeus Lenine” no Canal 1. Para além de o considerar uma obra prima do cinema alemão, “está lá tudo”.