ESPUMADAMENTE
puro auto-entretenimento
quarta-feira, agosto 31, 2005
Reconciliação
[537]
A reconciliação é um estado de alma. Um estado de alma bom. E em dias azedos, uma ida ao Jardim da Estrela tem a suprema faculdade de nos reconciliar com a vida. O jardim está bonito, as árvores de grande porte e folha persistente estão frondosas, muito verdes e cheias de sombra aprazível que vertem na relva, muito verde também, e nos bancos de jardim, reparados de novo, envernizados, muito lisboetas e confortáveis. Os patos estão calmos e gordos, a água dos lagos está limpa, os pombos arrulham em jogos de amor sem hora marcada nem "room service" e até os pardais perderam o medo e vêm comer à mão de idosos que se habituaram a gostar mais deles do que dos homens. As pessoas circulam em passeio despreocupado, umas, ou sentam-se preguiçosamente nos bancos. Os mais velhos lendo a Bola, os mais novos falando ao telemóvel. Mas todos, surpreendemente, em voz baixa. Por isso se ouvem os pombos e os rodados dos eléctricos a passar em frente à Basílica. João de Deus mantém-se imperturbável a olhar em direcção ao rio, indiferente ao facto de quase ninguém olhar para ele. Mas lá está, guardião do seu pequeno território.
Surpreendente e inexplicavelmente não há obras. Aquelas obras que me habituei a ver dezenas de vezes… acabaram. Tudo está limpo, arrumado, varrido, verde, deliciosamente calmo e esmagadoramente bonito. Não – não estou a ser irónico. Não há obras no Jardim da Estrela e o jardim está lindo.
Curiosamente há mais mulheres que homens. Muitas são idosas e trocam conversas cúmplices com os companheiros, mais idosos ainda. Outras são raparigas da minha idade (!…) ou, perigosamente, dez anos mais novas, sentadas nos bancos com displicência e uma aparente indiferença pelo mundo, embora seja certo que prescrutam o "ecossistema" circundante por detrás de uns convenientes óculos escuros. Quase todas bonitas. Dentro de um pequeno quiosque (Biblioteca do Jardim) dormita um velhote, gordo e triste, com os braços apoiados no parapeito onde uma pequena tabuleta tem escrito, à mão, "Novidades". As "novidades" são National Geographic dos anos 90, Selecções do Reader’s muito antigas e muitas, muitas revistas femininas, todas elas datadas e sebentas. Ainda parei a dar uma vista de olhos e tentou-me a possibilidade de um pequeno diálogo, de ocasião como as revistas, com o idoso. Mas os olhos dele lançaram-me uma adocicada súplica para não o perturbar – não devia estar com paciência para conversas, cansado que parecia estar da vida.
Ainda hoje não consigo perceber porque é que não vou mais vezes ao jardim depois de almoçar e acomodo tantos azedumes. Com o jardim ali tão perto…
terça-feira, agosto 30, 2005
Dizer não...
[536]
"Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não"
Parece-me que me enganei no post aqui em baixo. Ainda não estou totalmente certo disso, mas só a surpresa do discurso de Alegre é razão suficiente para que me retracte do que aqui escrevi. Mesmo que Alegre não se candidate, prestou já um inestimável serviço ao pais e à democracia. Independentemente do facto de não receber o meu voto.
Chapeau!
Epitáfio
[535]
Estou em pulgas para ouvir o Manuel Alegre, logo à noite no jantar de Viseu, dizer que visto isto e os factos e atendendo a que a baleia é um animal anfíbio, mamífero e respira por guelras, perguntou ao vento que passou e o vento lhe disse que a hora é curta e difícil e que Soares será o garante da unidade da esquerda. Como tal, retira-se da cena com a dignidade dos impolutos e prestará o seu incondicional apoio ao camarada de armas.
Nota: Manuel Alegre merecia um epitáfio mais digno!…
Não nos obedecem, é o que é...
[534]
Estou a ver se entendo bem e se digiro a notícia convenientemente antes de ir para o duche.
- "Um juiz do Constitucional foi apanhado a 200 km/ hora mas recusa-se a admitir a culpa. Diz que realmente ia cheio de pressa mas a culpa é do motorista".
Sempre achei que estes motoristas são uns mal mandados. A gente diz-lhes as coisas mas eles não nos ligam nenhuma.
segunda-feira, agosto 29, 2005
Palmas correctas
[533]
Não conheço os critérios de Fátima Campos Ferreira na selecção da plateia ao "Prós e Contras". Tenho para mim, porém, que o critério não é importante. A verdade é que neste programa, tal como aliás em muitos outros do género, eu sei EXACTAMENTE quando é que a assistência estreleja em aplausos. É um fenómeno que eu gostaria de ver analisado por alguém que perceba da poda. Na verdade, o que levará as nossas plateias a aplaudir TUDO o que seja politicamente correcto ou tudo o que se compagine com facilidade numa percepção das massas relativamente aos clichés de uma sociedade correcta?
Está neste momento a decorrer um "Prós e Contras" sobre os incêndios (inevitavelmente...). Cada vez que se fala na "eucaliptização" ou "pinheirização" do país, a assistência desfaz-se em palmas... perceberão eles alguma coisa de floresta? Cada vez que se fala nos lóbis (sejam eles quais forem... basta a enunciação do vocábulo), aí está o aplauso frenético. O professor Varela Gomes insurge-se com a excessiva carga de futebol das televisões e rádios em desfavor de programas pedagógicos e aí está a plateia zangadíssima com as televisões porque dão futebol a mais (provavelmente a pensarem que "aquilo" nunca mais acaba para irem para casa ver um joguinho qualquer).
O fenómeno das palmas pelas causas correctas é realmente descoroçoante e remete para uma sociedade, bem no fundo, gelatinosa, pateta e inquinada por anos e anos de uma verdadeira agressão de causas boas e justas, frequentemente sem que as pessoas façam a menor ideia do que se está a tratar. Como poderá ser o caso dos eucaliptos e dos pinheiros. As pessoas sabem que estas árvores são más... porque significam lóbis. E isso é que é importante. No campo não saberão distinguir um carvalho de um castanheiro, mas sabem que os grandes interesses preferem os eucaliptos. E se eles preferem os eucaliptos, as árvores não podem prestar, Em linha, aliás, com as malfeitorias próprias dos "poderosos" que todos os dias acordam a pensar como é que vão lixar o pessoal.
É claro que todos temos culpa. Porque num debate como o de hoje raramente se ouviu falar no ordenamento caótico do nosso país, na ausência de espírito de cidadania dos portugueses, da nossa desorganização, laxismo e incumprimento das leis. Falou-se muito dos tais lóbis, dos tais poderosos e as pessoas bateram muitas palmas.
Assim, realmente, não vamos lá!
Multitrabalhismo
[532]
Hoje tive uma reunião de trabalho com dois italianos. Como a reunião deu para o tarde, numa passagem pelo corredor cruzei-me com uma das funcionárias da limpeza do escritório. Brasileira. À saída do escritório entrei na pastelaria da esquina e reparei que tem uma empregada nova, após este período de férias em que esteve fechada. A empregada em questão é moldava e fala português escorreito. Cheguei a casa, liguei mecanicamente o televisor. Estava sintonizado no Canal1 a dar aquele concurso do Fernando Mendes do "preço em Euros" e a concorrente, na altura, era uma brasileira radicada em Faro há três anos, os prémios iam sendo apresentados por uma tal Lenka (não sei se é assim que se escreve...), uma checa bonita que já tenho visto mais vezes na TV. Enquanto olhava, entra a Júlia na sala (a minha empregada ucraniana) a comunicar-me que na próxima Sexta feira segue de férias para a Ucrânia... interrompida pela campainha. Era uma senhora, angolana, do Círculo de Leitores.
Por um momento passou-me pela cabeça que vivo num país rico. Mas não vivo. Há é este fenómeno gratificante de eu ver que afinal há lugar em Portugal para todos. Desde que se queira trabalhar, claro...
domingo, agosto 28, 2005
9.000.000
[531]
A tragédia dos fogos teve, pelo menos, um aspecto positivo. Se repararem bem, de repente toda a gente fala em hectares, quilómetros quadrados e os mais paternalistas e jornalistas que estudaram ainda antes do evento da calculadora têm sempre o cuidado de pôr em parêntesis (1 ha = 10.000m2 = 1 campo de futebol). Ora, a partir daqui surgem os mais mirabolantes cálculos sobre a área de Portugal continental – há quem misture quilómetros com quilómetros quadrados, com hectares e não faltará muito para meterem os esteres que, se alguns de nós bem nos lembramos nos remete para uma longínqua medida de volume de madeiras, mesmo arriscando que alguns dos jovens correspondentes da RTP achem que "estere" terá a ver com a colega que a antecedeu e, da TVI, aproveitarão a embalagem para dizer que a Ester deu uma sacholada no vizinho por cauda de uma disputa sobre a propriedade de uns quantos malditos pinheiros.
Voltando aos hectares... mesmo sabendo como somos dados a números (que saudades de Guterres, esse sim, dominava a coisa...) já li que Portugal tem 9.000.000 hectares, 90.000.000 hectares e outros ainda que, prudentemente, falam na coisa assim por alto e prometem a eles próprios que se vão agarrar à calculadora. Ora, admitindo que a área é de 90.000 quilómetros quadrados (há quem diga que são 89.000, há quem diga que são 92.000, nestas coisas o melhor mesmo é ficar pelo meio que é onde se erra menos, embora me arrepie ainda não termos chegado a uma conclusão ao fim de 800 anos, mas para quem teve a feira popular, provisoriamente, 40 anos em Entre-Campos, as célebres obras de Santa Engrácia, 5 km de CRIL para acabar há 15 anos, uma Casa da Música para acabar que era suposta estar aberta na Porto Capital da Cultura e um desgraçado de um cidadão açoreano há 20 anos para receber o que um banco lhe roubou, esperar 800 anos para sabermos o número exacto de quilómetros quadrados nem é assim muito grave. Não nos esqueçamos que tivemos aquela cena lá de Olivença, perda de praia na Costa da Caparica e uma Quinta de uma tia minha perto de Bragança que ainda não se sabe bem se está em Espanha se está em Portugal. Mas pronto. Fiquemos pelos 90.000 km2 e assentemos desde já que 90.000 km2 correspondem a 9.000.000 has. Se 1 ha corresponde mais ou menos a um campo de futebol (e assim já "a gente nos entendemos...") já pensaram bem o que é que podemos fazer com espaço para 9.000.000 de estádios? Ein? Já pensaram? Humm... pensem lá... já pensaram bem? 9.000.000, repito: - 9.000.000 de hectares, ou seja o equivalente a mais ou menos 9.000.000 de campos de futebol?
sábado, agosto 27, 2005
Oh! Enganei-me outra vez...
[530]
Li isto e salivei. Ia haver matéria de debate. E quando eu pensava que o Xavier ia arranjar uma resposta apropriada, num post à maneira, enfeitado com um comboio de comentários anónimos... eis que se remete ao silêncio. Ou melhor... envereda pela poesia de Pablo Neruda.
"Oh... que chatice, enganei-me outra vez!..."
sexta-feira, agosto 26, 2005
Excelência
[529]
Há mais vida para além da intriga política e da maledicência nacional.
Vale a pena vir aqui fazer uma visita. Além de que o Carlos Romão é um excelente anfitrião.
quinta-feira, agosto 25, 2005
A execração dos EUA
Tokyo - 2005
[528]
A execração dos Estados Unidos, da Coca Cola à bomba atómica, é um fenómeno estranho para o qual procuro, talvez com demasiada frequência, alguma explicação. Sem grande êxito, aliás. Pois se entendo com relativa facilidade sentimentos anti-americanos em específicas partes do Globo, já a Europa se constitui, para mim, um verdadeiro "case study" que, muito provavelmente, se manterá para além da minha existência física. É evidente que tenho algumas ideias sobre a raiz do referido fenómeno mas gostaria de um dia poder chegar a uma conclusão sólida e detalhada sobre ele e, com isso, sentir-me-ia certamente muito mais completo.
Vale-me a existência de gente documentada, séria de propósitos e de ideias escovadas que, aqui e ali, me concede o privilégio de oferecer matéria factual suficiente para eu não pensar que ando sozinho na noite da desgraça e de repor verdades históricas, muito acima da intriga e conveniência política e, sobretudo, imune ao politicamente correcto.
Sem mais delongas, transcrevo um notável artigo de Luciano Amaral, no DN de hoje, para o qual, apesar dos esforços, não consegui link.
«Como se sabe, passaram 60 anos sobre o lançamento das bombas de Hiroxima e Nagasáqui. Ajudados pelo carácter único do evento (jamais o mesmo tipo de arma voltaria ser usado) e pela fotogenia do cogumelo atómico, sucederam-se por esse Ocidente fora (incluindo por cá) os exercícios mórbidos de condenação de mais um horror da autorias dos facinorosos "americanos".
Lá apareceu uma ou outra alma caridosa disposta a explicar aos moralistas de ocasião que, na II Guerra Mundial, as bombas atómicas não causaram mais vítimas do que bombardeamentos convencionais ou outras operações militares, e que, no ambiente moral daquela guerra, o género de destruição trazido pelas bombas desde cedo foi aceite e praticado pelos vários contendores.
Para dar apenas um de entre muitos exemplos possíveis, só no desembarque americano em Okinawa terão morrido, para além de uma multidão de soldados, cerca de 140 mil civis, os mesmos de Hiroxima e Nagasaki. Eis um tipo de correctivo perfeitamente inútil. Porque, entendamo-nos, os que condenam a Bomba não estão efectivamente preocupados com horror nenhum, tendo apenas como objectivo acrescentar mais um elemento (em conjunto com o Patriot Act, os restaurantes MacDonald’s, o massacre dos índios, o porte de armas ou o aquecimento global) ao processo de execração dos Estados Unidos da América.
A prova disso mesmo está no facto de ninguém se ter lembrado de falar em horror quando, alguns dias depois do aniversário das bombas, e a pretexto do aniversário da rendição japonesa, o primeiro ministro Koizumi veio pedir desculpa pelas acções do seu país durante a guerra. Talvez valha a pena lembrar exactamente de que é que Koizumi estava a pedir desculpa.
Koizumi estava a pedir desculpa pelas atrocidades cometidas no âmbito da então chamada "Esfera de Co-prosperidade Asiática", um eufemismo para o imperialismo japonês. Construída por um regime mlitarista e racista, a dita "Esfera" ia da China à Indonésia (Timor, por exemplo, conheceu directamente os seus efeitos) passando pela Coreia, a Birmãnia, as Filipinas ou a Malásia, e nela os japoneses não se pouparam a brutalidades, seja por motivos de exploração económica, seja por razões gratuitas.
O trabalho forçado de autóctones (a juntar ao dos prisioneiros de guerra aliados), por exemplo, foi usado de forma maciça, tendo ficado famosa a sua utilização na construção do caminho de ferro da Birmânia (retratada no livro e no filme A Ponte do Rio Kwai) onde se estima tenham morrido cerca de 100 mil pessoas. Contrariamente às convenções militares, inúmeros soldados aliados foram chacinados após as suas rendições. As experiências clínicas do exército japonês, em locais como a Unidade 731, terão utilizado de forma recorrente a dissecação de soldados vivos, havendo mesmo suspeitas de práticas de canibalismo.
Tanbém se sucederam os massacres gratuitos (em particular de chineses) em toda a região, de que ficou mais conhecido o massacre de Nanquim (1937), onde se estima terem morrido cerca de 100 mil pessoas. Diz-se que durante a ocupação da China, o Japão usou armas biológicas, com as quais terá envenenado a população de aldeias inteiras do país. Não se sabe ao certo, mas aponta-se para um número de cerca de 400 mil mortos por mês a taxa a que civis das áreas ocupadas e soldados aliados estavam a morrer, ao longo do Sudeste asiático, pouco antes do lançamento das bombas atómicas. Deste conjunto de actividades, estima-se que tenha resultado um número de mortos civis, de responsabilidade japonesa, algures entre os 10 milhões e os 30 milhões. Não admira que alguém já tenha chamado a isto " o outro holocausto".
Relembrar estas coisas permite devolver à sua correcta proporção o horror efectivo das bombas atómicas, para além de ajudar a explicar porque foram utilizadas. Argumenta-se muitas vezes, em favor da futilidade da sua utilização, com o facto de o Japão pretender então a rendição. A verdade é que nada disso é certo. Na estrutura político-militar japonesa havia os que queriam render-se e os que não queriam, e os que queriam não estavam dispostos a aceitar uma rendição incondicional. Ora, sem rendição incondicional as belas práticas humanitárias da Esfera de Co-prosperidade certamente prosseguiriam.
Foi o poder militar sem paralelo das bombas que levou o Japão à rendição incondicional. E só esta rendição permitiu aos EUA imporem a revolução institucional que substituiu o militarismo expansionista do general Tojo pela próspera democracia japonesa que ainda hoje conhecemos. Sem bombas atómicas, Koizumi não andaria agora a pedir desculpa em nome do seu país.
Claro que de pouco serve recordar estas trágicas verdades históricas. As almas sensíveis aos horrores de Hiroxima querem lá saber dos outros (incomensuravelmente mais horrorosos) horrores a que a dita bomba pôs termo. Se se lhes desse importância, como seria então possível continuar a condenar a "barbárie americana" que por aí continua a vigorar no mundo? Claro que não seria. E isso é que interessa.»
Horrores, Luciano Amaral in DN – 25/8/05
Luciano Amaral escreve também habitualmente no O Acidental e O Insurgente
Vem aí mais sol... chiça!
[527]
"Um pouco mais de sol (...e ele era brasa)
Um pouco mais de azul (...e ele era além)"
Já não bastava a seca! José Sócrates achou que um cheirinho de Mário de Sá Carneiro era exactamente o que os nossos empresários precisavam para reanimar a nossa economia. Vai daí, pumba. Mais sol, mais azul, mais confiança, que aquilo da tanga era tanga. Nada como um pensamento positivo nestes dias de canícula e de palha para o gado ao preço dos cereais para as crianças, transmitido aos papalvos com aquele ar de que só Sócrates é capaz: - Confiança nele e portem-se bem senão levam porrada!
Palavra de honra que o que mais gostei foi a expressão de grata surpresa de Sócrates depois de dizer aquilo, mais ou menos ao estilo "afinal tenho jeito para isto, poesia e assim..."
quarta-feira, agosto 24, 2005
Frango-Léo
[526]
Dias da Cunha, precavido, mandou toda a equipa ser vacinada contra a gripe das aves.
Ricardo, está bem de ver, está de quarentena!
Bloguem-nos bué
[525]
Hoje é que é. Se a Lolita o diz, é porque é. Da outra vez foi só fumaça do Besugo e eu fui atrás dela.
Um abraço de parabéns pelos dois anos do Blogamemucho de um indefectível leitor.
Tchin-tchin
An Englishman in King's Road
A jóia da Coroa...
[524]
Eu sei que o país está de rastos, a arder, que estamos a ser governados por uma colecção de inaptos arrogantes e, frequentemente, venais, que a justiça leveda decisões espúrias e aberrantes, que as autarquias gastam o dinheiro que não temos, que cada vez há mais rotundas, pagamos uma das gasolinas mais caras da Europa, estamos a atravessar a maior seca dos últimos sessenta anos, que o défice está de saúde e recomenda-se, que os nossos filmes (subsidiados) são uma merda, que o jet set nacional é a coisa mais pirosa desde a invenção das meia brancas, que as praias da linha estão poluídas, a TAP dá prejuízo, Lisboa está a esboroar-se de velha e de suja, que o Mário Soares quer tomar conta de nós outra vez, que a nossa produção literária está reduzida a duas ou três cronistas do Expresso e um comentador da TVI, que as condecorações nacionais estão em saldo, o nosso melhor actor de cinema teve de ir para os USA para fazer um filme ou outro e abrir um restaurante para sobreviver, que o país inteiro é um verdadeiro estaleiro nacional – em harmonia, aliás, com os patos bravos que somos, que a caça vai abrir outra vez, enfim, sei isto tudo e , até aqui, tudo bem. Eu até tolero e costumo dizer que quem está mal muda-se e não se fala mais no assunto.
Agora, que apareça um tal AA Gill que parece ser um crítico de gastronomia que diz dislates deste tipo é que não me conformo. Que isto de bolirem com as nossas tradições da comidinha fia fino. E logo um súbdito de Sua Majestade Britânica, daqueles que julgam que a gastronomia se resume a um "bedum smelling" roast lamb apaparicado numa mistela verde a saber a menta, que adoram bacalhau fresco "deep fried em óleo" e acompanhar com chips (os americanos, pelo menos, têm a honestidade de lhes chamar french fries…), que acham que a sobremesa universal é o rice pudding (para quem não saiba, arroz cozido com açucar) e que o Yorkshire pudding é o expoente máximo da boa mesa, isto, meus amigos, já não é tolerável.
Além de que AA Gill permite-se fazer observações sobre a gesta heróica das lusas gentes, chegando a afirmar que a única e verdadeira motivação dos portugueses em se lançarem aos descobrimentos foi a de conseguirem dormir com alguma mulher… e eu, aqui, afino. Não admito isto nem ao menino Jesus. Eu… que a última inglesa a quem concedi o privilégio de se deitar comigo lhe autorizei a que ela desse livre curso á sua forma peculiar de líbido, leia-se abrir as pernas, segurar o copo com a mão esquerda e o cigarro com a direita, não sobrando mão alguma para qualquer outra coisa nenhuma, restando-me a mim dar o material, mão de obra e os acabamentos, enquanto ela se entretinha a falar da Victoria Beckham (*). E AA Gill (cujos conhecimentos gastronómicos e pela leitura da crónica se devem restringir a King’s Road e a um restaurante de um português que resolveu ganhar umas massas com uns pastéis de nata) desdobra-se ainda numa série de observações que só lidas. Notícia descoberta aqui via Vitriólica, onde vale a pena ler os comentários, também
Por acaso gosto de Inglaterra e dos ingleses. Mas por vezes sai-nos cada um na rifa que eu quase (só quase, admito…) consigo gostar de franceses!
(*) Esta parte não tem que ser necessariamente verdade. Pode ser apenas uma forma de retórica ou de "ouvir dizer". Mas vai bem com o texto, contexto e pretexto!...
Bloguices
[523]
Em face do registo suicidário que se observa por aí relativamente à Blogoesfera, Jorge Sampaio está a planear um discurso onde apelará aos portugueses para fazerem dos respectivos blogues um desígnio nacional.
Para o efeito, JS tem mantido um severo e introspectivo recolhimento, irá ouvir várias figuras (espera-se que Mário Soares e, para que não digam que ele só faz fretes ao Partido Socialista, Aníbal Cavaco Silva, apesar deste último ter afirmado que não tem tempo para ler blogues). Após as consultas, julga-se que Jorge Sampaio apele em horário nobre e aproveite para conceder a medalha da Ordem da Liberdade ao Barnabé.
José Sócrates discursará depois e ralhará com os portugueses, explicando-lhes qual o número mínimo de blogues necessário para que seja considerado o estado de desistência nacional, a fim de não beneficiar os grande lóbis da comunicação social. António Costa já concordou, tendo acrescentado que encomendou um estudo de apoio à Blogoesfera, para o que nomeou um comissão, presidida por Joana Amaral Dias.
domingo, agosto 21, 2005
Intervalo
Interlude
O Espumadamente vai parar um pouquinho. Por mim, gostaria que a paragem fosse curta. Farei os possíveis para que assim seja.
Até breve.
quinta-feira, agosto 18, 2005
Patético II
[521]
Uma professora da Póvoa do Varzim, mulher dos seus (dela) cinquenta anos, achou que quem pintou os azulejos da Estação do Metro do Colégio Militar foi Rafael Bordalo Pinheiro. Isto num programa de perguntas na RTP.
As outras opções eram Cargaleiro e Pablo Picasso.
À guiza de desculpa, a senhora professora disse que era do norte e nunca tinha ido à tal estação.
Depois achamos que a actual geração é que é rasca...
Tire a senha, saxavor
[519]
Está prestes a entrar em vigor a legislação que permite a venda de medicamentos não sujeitos a prescrição médica e não comparticipados.
Como não sou médico nem farmacêutico, tenho de encarar a questão na minha condição de mero utente que parte do princípio que há regras e instituições que regem a minha vida em sociedade e, por isso, se um medicamento é classificado como de venda livre é porque as associações e instituições públicas entenderam que esse medicamento não oferece perigo. Se os tais "panadois" (designação usada com alguma ironia para os medicamentos que dispensam receita médica mas que prefiguram o perigo de efeitos secundários) são perigosos, e tanto quanto o meu entendimento e sensibilidade me permite ajuizar, pois que passem a precisar de receita médica. Tão simples como isso. E quem tem conhecimentos científicos sobre a matéria que decida. Agora, passarmos a vida a dizer que é perigosíssimo vender panadois, que o público é idiota e se vai enfrascar em venenos, criar habituação e desenvolver resistências é que me parece falacioso.
Os médicos são um bocadinho como os pilotos de aviação e adquirem, com alguma frequência, aquela atitude de criarem uma espécie de reserva de conhecimento sobre as matérias que dominam. Daí que aconteça, quase sempre, alguma sobranceria sempre que um leigo discuta cúmulo-nimbos ou a queda de cabelo provocada por um molécula destinada à neutralização dos sucos gástricos. Eu entendo que o uso do medicamento é uma matéria sensível e cabe aos médicos e aos laboratórios decidirem sobre se um medicamento pode ou não ser vendido sem prescrição. Mas não façamos do debate uma montra de conhecimentos em regime de exclusivo, uma feira de vaidades ou uma descarada defesa de interesses por parte das várias partes envolvidas.
Quanto aos farmacêuticos, eu entendo alguma reacção corporativa. Tanto quanto entendo, o facto insofismável de o utente, em geral, e ao contrário do que li neste post do Besugo, ser frequentemente mal servido por muitas farmácias, ainda de má qualidade, mal localizadas, algumas delas em instalações tipo vão de escada, com quase permanentes bichas de utentes que esperam horas para ser atendidos, sujeitos ao cerimonial indescritível de corte de cartões de preços, fita-cola, chisato, contas, cálculos, fraco domínio do uso de computadores e longas discussões sobre profilaxia e terapêutica que, no meu modesto entender, deveriam ter lugar nos consultórios médicos e não ao balcão de uma farmácia.
Por outro lado, se existissem regras mínimas de licenciamento de farmácias, uma das quais deveria ser a obrigatoriedade de espaços reservado á venda dos tais medicamentos não sujeitos a prescrição, assim como produtos dietéticos, higiene, etc., onde um utente se pudesse servir e pagar num caixa à saída, em vez de ter de esperar pela sua vez, talvez não fosse sequer necessário equacionar a venda de medicamentos em super mercados e/ ou bombas de gasolina.
No fundo, nas farmácias, como em tudo, bastaria que existisse rigor, pragmatismo e, sobretudo, respeito pelos utentes. O que na maioria dos casos, não há. Por mais que me digam que as farmácias são de boa qualidade e que os farmacêuticos cumprem um papel social e blá blá blá.
Está prestes a entrar em vigor a legislação que permite a venda de medicamentos não sujeitos a prescrição médica e não comparticipados.
Como não sou médico nem farmacêutico, tenho de encarar a questão na minha condição de mero utente que parte do princípio que há regras e instituições que regem a minha vida em sociedade e, por isso, se um medicamento é classificado como de venda livre é porque as associações e instituições públicas entenderam que esse medicamento não oferece perigo. Se os tais "panadois" (designação usada com alguma ironia para os medicamentos que dispensam receita médica mas que prefiguram o perigo de efeitos secundários) são perigosos, e tanto quanto o meu entendimento e sensibilidade me permite ajuizar, pois que passem a precisar de receita médica. Tão simples como isso. E quem tem conhecimentos científicos sobre a matéria que decida. Agora, passarmos a vida a dizer que é perigosíssimo vender panadois, que o público é idiota e se vai enfrascar em venenos, criar habituação e desenvolver resistências é que me parece falacioso.
Os médicos são um bocadinho como os pilotos de aviação e adquirem, com alguma frequência, aquela atitude de criarem uma espécie de reserva de conhecimento sobre as matérias que dominam. Daí que aconteça, quase sempre, alguma sobranceria sempre que um leigo discuta cúmulo-nimbos ou a queda de cabelo provocada por um molécula destinada à neutralização dos sucos gástricos. Eu entendo que o uso do medicamento é uma matéria sensível e cabe aos médicos e aos laboratórios decidirem sobre se um medicamento pode ou não ser vendido sem prescrição. Mas não façamos do debate uma montra de conhecimentos em regime de exclusivo, uma feira de vaidades ou uma descarada defesa de interesses por parte das várias partes envolvidas.
Quanto aos farmacêuticos, eu entendo alguma reacção corporativa. Tanto quanto entendo, o facto insofismável de o utente, em geral, e ao contrário do que li neste post do Besugo, ser frequentemente mal servido por muitas farmácias, ainda de má qualidade, mal localizadas, algumas delas em instalações tipo vão de escada, com quase permanentes bichas de utentes que esperam horas para ser atendidos, sujeitos ao cerimonial indescritível de corte de cartões de preços, fita-cola, chisato, contas, cálculos, fraco domínio do uso de computadores e longas discussões sobre profilaxia e terapêutica que, no meu modesto entender, deveriam ter lugar nos consultórios médicos e não ao balcão de uma farmácia.
Por outro lado, se existissem regras mínimas de licenciamento de farmácias, uma das quais deveria ser a obrigatoriedade de espaços reservado á venda dos tais medicamentos não sujeitos a prescrição, assim como produtos dietéticos, higiene, etc., onde um utente se pudesse servir e pagar num caixa à saída, em vez de ter de esperar pela sua vez, talvez não fosse sequer necessário equacionar a venda de medicamentos em super mercados e/ ou bombas de gasolina.
No fundo, nas farmácias, como em tudo, bastaria que existisse rigor, pragmatismo e, sobretudo, respeito pelos utentes. O que na maioria dos casos, não há. Por mais que me digam que as farmácias são de boa qualidade e que os farmacêuticos cumprem um papel social e blá blá blá.
Brrrrr....
[518]
De cada vez que a Quercus "descobre" que muito do nosso mar se encontra enriquecido de coliformes fecais (o que acontece mais ou menos todos os anos por esta altura e prova que a Quercus não dorme em serviço), os jornalistas percorrem umas praias por aí e disparam aquelas perguntas inesperadas aos banhistas, e que fazem toda a diferença do bom jornalismo:
- E então como é que acha a água?
- Friiiiiiiia - dizem os banhistas com ar aborrecido, friorento e rebelde – de quem acha que as praias em Portugal já não são o que eram e o governo deu cabo disto tudo. Até a água já é fria...
De cada vez que a Quercus "descobre" que muito do nosso mar se encontra enriquecido de coliformes fecais (o que acontece mais ou menos todos os anos por esta altura e prova que a Quercus não dorme em serviço), os jornalistas percorrem umas praias por aí e disparam aquelas perguntas inesperadas aos banhistas, e que fazem toda a diferença do bom jornalismo:
- E então como é que acha a água?
- Friiiiiiiia - dizem os banhistas com ar aborrecido, friorento e rebelde – de quem acha que as praias em Portugal já não são o que eram e o governo deu cabo disto tudo. Até a água já é fria...
Uff...
[517]
"Esta situação dos fogos diz-nos que está na altura de encararmos o reoordenamento do território. E da floresta, também."
António Costa, MAI - RTP, logo de manhã, para uma pessoa acordar com esperança.
Estava a ver que nunca mais diagnosticavam a coisa. Vai-se a ver, este governo ainda vai concluir que está na altura de acabar o alargamento do IC 19, a CRIL e resolver o estacionamento em Lisboa...
terça-feira, agosto 16, 2005
Estragaram-se as sardinhas...
[516]
O barco tinha cozinha, ou não tinha, não se sabe bem, mas tinha ido à inspecção em Maio, estava tudo bem, nessa altura. Não havia bóias, quer dizer parece que havia algumas mas era difícil soltá-las, os extintores é que kaput, quer dizer ...eles estavam lá, na inspecção de Maio. Portanto, se estavam é porque deviam funcionar, salva vidas é que não havia mesmo, ou havia...parece que havia dois... coletes é que não, quer dizer um passageiro disse que havia seis, os passageiros é que eram oitenta e nove, quem os manda ser exagerados?
Bom, mas a culpa parece ser dos passageiros mesmo, não é que resolveram assar sardinhas, que é giro e sabe bem no mar e com jeito ainda se assavam uns pimentos e depois... aquilo era tudo ali á volta, perto da praia e assim, parece que havia um skipper também, tinha de haver, não acredito que não houvesse, mas o homem só pode ter achado graça àquela coisa das sardinhas e aí... isto das sardinhas deve ser boato, o que se sabe é que houve muita solidariedade. As sardinhas é que devem estar estragadas. Mas prontos, outra vez calhará!
É espantoso como uma cena destas ainda pode acontecer assim, num destino turístico de um país europeu. Ainda não se sabe bem o que se passou, mas descansai gentes, já se mandou abrir um inquérito.
NOTA – Madalena, um beijinho para ti que, de tudo isto, te fica o registo da solidariedade verificada.
O barco tinha cozinha, ou não tinha, não se sabe bem, mas tinha ido à inspecção em Maio, estava tudo bem, nessa altura. Não havia bóias, quer dizer parece que havia algumas mas era difícil soltá-las, os extintores é que kaput, quer dizer ...eles estavam lá, na inspecção de Maio. Portanto, se estavam é porque deviam funcionar, salva vidas é que não havia mesmo, ou havia...parece que havia dois... coletes é que não, quer dizer um passageiro disse que havia seis, os passageiros é que eram oitenta e nove, quem os manda ser exagerados?
Bom, mas a culpa parece ser dos passageiros mesmo, não é que resolveram assar sardinhas, que é giro e sabe bem no mar e com jeito ainda se assavam uns pimentos e depois... aquilo era tudo ali á volta, perto da praia e assim, parece que havia um skipper também, tinha de haver, não acredito que não houvesse, mas o homem só pode ter achado graça àquela coisa das sardinhas e aí... isto das sardinhas deve ser boato, o que se sabe é que houve muita solidariedade. As sardinhas é que devem estar estragadas. Mas prontos, outra vez calhará!
É espantoso como uma cena destas ainda pode acontecer assim, num destino turístico de um país europeu. Ainda não se sabe bem o que se passou, mas descansai gentes, já se mandou abrir um inquérito.
NOTA – Madalena, um beijinho para ti que, de tudo isto, te fica o registo da solidariedade verificada.
A Marta tá djanivérsáriô...
Rosa de Porcelana - Benguela, Angola
[515]
O que vale é que há rosas. Senão como é que poderia ter havido o milagre das rosas e a piedosa mentirinha da Rainha Santa ao Senhor seu Rei e marido? Ou os socialistas… que seria deles sem rosas? Isto para não falar numa Rosinha que conheci na minha juventude e que convidei para irmos juntos ao "dia da espiga" (no Brasil não há dia da espiga, mas é uma festinha assim do género vai tudo para o campo no Verão apanhar papoilas e espigas de trigo e depois acaba tudo na maior desbunda debaixo de uma oliveira, os moços e as moças, todos com muitas espigas, muito calor e muitas papoilas – e está explicado porque é que no Brasil não há dia da espiga, de tudo o que mencionei só há mesmo o calor… e um pouco de desbunda, espero!) e com quem perdi para aí uma hora a dizer-lhe para olhar para o fundo de um poço para ver as alcatruzes, mas isso é um história que não vem agora para o caso e ainda não é meia-noite e as crianças ainda não se foram deitar e isso... e, acima de tudo, se não houvesse rosas como é que se dava os parabéns a uma mulher bonita quando ela faz anos?
Mas a Marta é tropical. Não parece, mas é. Daí que a rosa que aqui deixo seja tropical também e eu tenho a certeza que ela vai gostar.
Um dia muito bom junto de teu marido e amigos é o que te desejo, Marta. Sei que irás sentir-te um pouco só… ninguém fuma, vais ter que te envenenar sozinha num ambiente demasiado asséptico para o gosto de um fumador. Mas também, não se pode ter tudo, né?
Beijinho grande, conta muitos e que passes este dia com muita alegria.
Roses are red
Violets are blue
I gave up smoking
What about you?
segunda-feira, agosto 15, 2005
Himalaias de disparates...
[514]
Uma coisa será um lapso. Outra... uma autêntica charada. Vejamos:
"A tripulação e passageiros da Helios morreram congelados devido á despressurização do aparelho quando viajava a 35.000 pés, ou seja 10 quilómetros acima do ponto mais alto do planeta" (sic).
Ou é muito lapso junto ou na RTP não têm a mínima noção do que dizem...
Uma coisa será um lapso. Outra... uma autêntica charada. Vejamos:
"A tripulação e passageiros da Helios morreram congelados devido á despressurização do aparelho quando viajava a 35.000 pés, ou seja 10 quilómetros acima do ponto mais alto do planeta" (sic).
Ou é muito lapso junto ou na RTP não têm a mínima noção do que dizem...
Sebastião
[513]
Hoje acordei a pensar que uma das razões por que há muitos homens de bigode em Portugal, pode muito bem ser a popular expressão não és homem não és nada. Por outro lado, atente-se na elevação desta canção de embalar que ainda há poucos anos se cantava às criancinhas:
Sebastião come tudo, tudo, tudo.
Sebastião come tudo sem colher,
Sebastião fica muito barrigudo
E depois dá porrada na mulher!
Ou seja, o Sebastião come que nem uma besta (tudo, tudo), não precisa de colher para nada, pode muito bem comer à mão, depois fica com uma barriga de respeito e dá uma carga de lenha na mulher que é assim que as coisas devem ser!
Se compararmos isto com um qualquer
Twinkle, twinkle, little star
Now I wander where you are...
Com cantigas destas para as criancinhas, aqueles ingleses só podiam mesmo era sair uma colecção de maricas...
NOTA IMPORTANTE. Para que conste, tenho amigos de bigode, que não se chamam Sebastião, outros chamam-se Sebastião e não têm bigode e amigos de bigode que comem pouco e outros sem bigode que são verdadeiras gadanheiras. Nenhum deles, porém, e que eu saiba, dá porrada na mulher e todos eles são uns gajos porreiros e comem de garfo e faca...
Canhotos
[512)
Fiquei a saber pela Ana que hoje é dia internacional do canhoto.. A Madalena foi claramente passada pela Ana nesta coisa de registos, mas acontece ao mais pintado. Beijinho para ti Madalena e tenho a certeza que recuperas da falha!
Eu gosto de canhotos. Tenho até um filho canhoto que desenha magistralmente, aparentemente como qualquer canhoto que se preza – sempre ouvi dizer que os grandes artistas, pintores, arquitectos, matemáticos são canhotos. Dá-me um gozo especial ver o meu filho escrever de baixo para cima – quiçá uma estimável razão para se pensar que todos os canhotos são bons amantes também mas isto é um campo algo fluido, já que é tudo uma questão de perspectiva...
Há também muitas actrizes e actores canhotos. A Sandra Bullok, por exemplo, é canhota. Palavra de honra que já reparei. A Julia Roberts também. Assim de repente, são os de que me recordo, mas estou certo que haverá mais. Tenho uma vaga impressão (quase certeza) que a Meg Ryan é igualmente canhota...
Até há poucos anos atrás os canhotos eram perseguidos. Na escola, no emprego e até na tropa... lembro-me de um sargento açoreano que achava que os canhotos deviam ser mandados todos para a mata a ver se não lhes passava a canhotice, mas havia que lhe dar o desconto, o homem era de Pico Ruivo e uma vez teve a humildade de dizer: - Meu alferes, tinha razão, a água ferve a 100º, o que ferve a 90º é o ângulo recto.
Já de canhotos modernaços e que misturam motricidade humana com ideias e dogmas não gosto tanto. Sobretudo os que são tão canhotos como eu mas fazem questão de demonstrar o contrário. Gente azeda que se levanta todos os dias a pensar no que vão fazer, dizer ou pensar, desde que seja canhoto, contra e botaabaixista. Qualquer coisa serve. Santana Lopes, Cavaco Silva, Bush, Blair, independência das colónias há 30 anos, acidentes de viação, madeiras da Amazónia, focas do Alaska, buraco de ozone, inépcia da Nasa que deixa morrer astronautas, energia atómica (a do Irão e da Coreia do Norte ainda passa, mas com alguma dificuldade...), terroristas presos em Guatanamo (a propósito, li no Expresso que as preferências literárias dos cerca de 500 terroristas presos em Guantanamo vão para o Harry Potter. Agatha Christie, vem logo a seguir, sempre achei alguma perfídia na J.K.Rawlings...), qualquer coisa, enfim, que lhes masturbe a consciência e lhes dê razão à existência. Destes não gosto. São azedos, implicativos e áridos de ideias.
Um dia morrem (como eu, como todos nós) e descobrem que no dia do funeral está um pôr de sol lindíssimo mas, então, será tarde!
domingo, agosto 14, 2005
You too...
[511]
... Sampaio, não resististe a uma condecoraçãozita em nome da política dos bons costumes.
That was cool, pal. The blokes wearing casual in their jeans and hats, beautiful tattoos and sun glasses, being decorated after that brilliant speech of yours in the purest English accent. Mind you, bro, the guys are Irish but who cares? In the end what I have to say is that it was absofuckinglutely cool and if I could speak portuguese "diria muita obrigado mr presidente".
More important was the wise advice of Mr Bono. I must help Africa, says he... good people é outra coisa!
Baden Powel revisitado
[510]
Como o meu pai achava que eu merecia uma escola privada (ou as escolas oficiais, chamadas "da Câmara" não mereciam o seu primogénito), vi-me desde a primeira classe confrontado com reuniões de escuteiros.
Recordo-me, com sete anos, uma escuta perguntar que tipo de coisas é que um escuteiro jamais deveria esquecer. Um canivete, disse um...um lenço, disse outro... um lápis... e eu estava logo a seguir na roda e soltei, pensando que tinha descoberto a cana para o foguete: - uma borracha!
Foi o fim do mundo. A "chefe" não usava bigode. Mas, no mínimo, não se depilava e, olhando-me de frente, vociferou: - Um escuteiro NUNCA se engana!
Tomei o devido registo da infalibilidade que eu deveria observar a partir dali e lá assisti ao resto da reunião (foi a última...) a perceber a dureza dos escuteiros, a forma como eles deveriam estar sempre preparados para TUDO, arrostando com os problemas e, principalmente, resolvendo-os. Nada daquilo fazia já muito o meu feitio, ser bonzinho por encomenda e assim, mas sempre ficou a ideia de que um escuteiro deveria estar sempre preparado para as contrariedades da vida, além de ajudar velhinhas a atravessar as ruas, claro.
Pois bem. Já são três as vezes que vejo na TV a espantosa notícia de que um grupo de trinta escuteiros portugueses ficou retido em Heathrow por causa de uma greve qualquer. E a notícia era detalhada. Vibrante. Desde intervenções vivas de como ninguém lhes dava informações sobre horários até ao facto, exasperante, de que estiveram VINTE E QUATRO HORAS SEM MUDAR DE ROUPA. E entre cantares e farnel (este não podia faltar) à chegada a Portugal (vieram de autocarro), ainda apareceu um escuteiro quarentão, careca e bigode e ar de canivete suiço, zangadíssimo porque as malas não puderam vir mas, claro, iam pedir responsabilidades.
O quadro ficou completo com um diligente médico a auscultar os escuteiros e a dizer para a reportagem que estavam todos bem.
Ou os escuteiros já não são o que eram ou eu estou, definitivamente, a enlouquecer aos bocadinhos...
Como o meu pai achava que eu merecia uma escola privada (ou as escolas oficiais, chamadas "da Câmara" não mereciam o seu primogénito), vi-me desde a primeira classe confrontado com reuniões de escuteiros.
Recordo-me, com sete anos, uma escuta perguntar que tipo de coisas é que um escuteiro jamais deveria esquecer. Um canivete, disse um...um lenço, disse outro... um lápis... e eu estava logo a seguir na roda e soltei, pensando que tinha descoberto a cana para o foguete: - uma borracha!
Foi o fim do mundo. A "chefe" não usava bigode. Mas, no mínimo, não se depilava e, olhando-me de frente, vociferou: - Um escuteiro NUNCA se engana!
Tomei o devido registo da infalibilidade que eu deveria observar a partir dali e lá assisti ao resto da reunião (foi a última...) a perceber a dureza dos escuteiros, a forma como eles deveriam estar sempre preparados para TUDO, arrostando com os problemas e, principalmente, resolvendo-os. Nada daquilo fazia já muito o meu feitio, ser bonzinho por encomenda e assim, mas sempre ficou a ideia de que um escuteiro deveria estar sempre preparado para as contrariedades da vida, além de ajudar velhinhas a atravessar as ruas, claro.
Pois bem. Já são três as vezes que vejo na TV a espantosa notícia de que um grupo de trinta escuteiros portugueses ficou retido em Heathrow por causa de uma greve qualquer. E a notícia era detalhada. Vibrante. Desde intervenções vivas de como ninguém lhes dava informações sobre horários até ao facto, exasperante, de que estiveram VINTE E QUATRO HORAS SEM MUDAR DE ROUPA. E entre cantares e farnel (este não podia faltar) à chegada a Portugal (vieram de autocarro), ainda apareceu um escuteiro quarentão, careca e bigode e ar de canivete suiço, zangadíssimo porque as malas não puderam vir mas, claro, iam pedir responsabilidades.
O quadro ficou completo com um diligente médico a auscultar os escuteiros e a dizer para a reportagem que estavam todos bem.
Ou os escuteiros já não são o que eram ou eu estou, definitivamente, a enlouquecer aos bocadinhos...
quinta-feira, agosto 11, 2005
Bed sepeling
[509]
How well can you spell?
Make your test here.
Great work!
You are practically a human dictionary! You got 15/15 correct.
1 - Correct!
The correct answer: B Absorption
Your answer: B Absorption
When purchasing towels, it is best to look for ones with high absorption rates.
2 - Correct!
The correct answer: B Satellite
Your answer: B Satellite
The Moon is a satellite of Earth.
3 - Correct!
The correct answer: A Abundance
Your answer: A Abundance
There is an abundance of great Web sites on the Internet.
4 - Correct!
The correct answer: B Playwright
Your answer: B Playwright
Playwright Tennessee Williams won Pulitzer Prizes for A Streetcar Named Desire (1947) and Cat on a Hot Tin Roof (1954).
5 - Correct!
The correct answer: B Occurrence
Your answer: B Occurrence
Seeing a bald eagle is not as rare an occurrence as it once was.
6 - Correct!
The correct answer: A Warrant
Your answer: A Warrant
The police officers had a warrant to search the building.
7 - Correct!
The correct answer: B Pronunciation
Your answer: B Pronunciation
Correct pronunciation is a key to making yourself understood in French.
8 - Correct!
The correct answer: B Bureaucracy
Your answer: B Bureaucracy
In some political situations, bureaucracy seems to take over.
9 - Correct!
The correct answer: B Fiery
Your answer: B Fiery
She had a fiery personality.
10 - Correct!
The correct answer: B Vacuum
Your answer: B Vacuum
If you are shopping for a vacuum cleaner, look for one that has many attachments so that you have some versatility in what you can vacuum.
11 - Correct!
The correct answer: A Consensus
Your answer: A Consensus
The group of friends could not come to a consensus about which movie to watch.
12 - Correct!
The correct answer: A Definite
Your answer: A Definite
The boy was definite--he wanted a pet dog, not a pet cat.
13 - Correct!
The correct answer: A Embarrass
Your answer: A Embarrass
Parents often embarrass their children--especially if the children are teenagers.
14 - Correct!
The correct answer: A Mischievous
Your answer: A Mischievous
The mischievous girl caused trouble where she could.
15 - Correct!
The correct answer: B Weird
Your answer: B Weird
Weird is an exception to the "I before e" rule. Isn't that weird?
Also on Encarta
Even if you believe you know how to spell a difficult word, it's still a good idea to look it up. It's only a click away.
Eu çempre diçe que o purtuguês é defíssel. A falar estranjeiro é que eu sou bôm. Inté que já penssei imigrar mas inda hoije li que lá fora temos mênos dias de férias e eu num bou nessa. A gente çempre paçamos umas dificoldades por aqui mas temos mais férias e o Blair e o Bush são uns impirialistas qinté estão a favor da guerra do Iraque e eças coisas todas e a modos que bou ficando por aqui que quolquer dia inté temos éroporto nobo e tudo e inté pudemos ir de TêGuêBê ao Entroncamento, carago!
Make your test here.
Great work!
You are practically a human dictionary! You got 15/15 correct.
1 - Correct!
The correct answer: B Absorption
Your answer: B Absorption
When purchasing towels, it is best to look for ones with high absorption rates.
2 - Correct!
The correct answer: B Satellite
Your answer: B Satellite
The Moon is a satellite of Earth.
3 - Correct!
The correct answer: A Abundance
Your answer: A Abundance
There is an abundance of great Web sites on the Internet.
4 - Correct!
The correct answer: B Playwright
Your answer: B Playwright
Playwright Tennessee Williams won Pulitzer Prizes for A Streetcar Named Desire (1947) and Cat on a Hot Tin Roof (1954).
5 - Correct!
The correct answer: B Occurrence
Your answer: B Occurrence
Seeing a bald eagle is not as rare an occurrence as it once was.
6 - Correct!
The correct answer: A Warrant
Your answer: A Warrant
The police officers had a warrant to search the building.
7 - Correct!
The correct answer: B Pronunciation
Your answer: B Pronunciation
Correct pronunciation is a key to making yourself understood in French.
8 - Correct!
The correct answer: B Bureaucracy
Your answer: B Bureaucracy
In some political situations, bureaucracy seems to take over.
9 - Correct!
The correct answer: B Fiery
Your answer: B Fiery
She had a fiery personality.
10 - Correct!
The correct answer: B Vacuum
Your answer: B Vacuum
If you are shopping for a vacuum cleaner, look for one that has many attachments so that you have some versatility in what you can vacuum.
11 - Correct!
The correct answer: A Consensus
Your answer: A Consensus
The group of friends could not come to a consensus about which movie to watch.
12 - Correct!
The correct answer: A Definite
Your answer: A Definite
The boy was definite--he wanted a pet dog, not a pet cat.
13 - Correct!
The correct answer: A Embarrass
Your answer: A Embarrass
Parents often embarrass their children--especially if the children are teenagers.
14 - Correct!
The correct answer: A Mischievous
Your answer: A Mischievous
The mischievous girl caused trouble where she could.
15 - Correct!
The correct answer: B Weird
Your answer: B Weird
Weird is an exception to the "I before e" rule. Isn't that weird?
Also on Encarta
Even if you believe you know how to spell a difficult word, it's still a good idea to look it up. It's only a click away.
Eu çempre diçe que o purtuguês é defíssel. A falar estranjeiro é que eu sou bôm. Inté que já penssei imigrar mas inda hoije li que lá fora temos mênos dias de férias e eu num bou nessa. A gente çempre paçamos umas dificoldades por aqui mas temos mais férias e o Blair e o Bush são uns impirialistas qinté estão a favor da guerra do Iraque e eças coisas todas e a modos que bou ficando por aqui que quolquer dia inté temos éroporto nobo e tudo e inté pudemos ir de TêGuêBê ao Entroncamento, carago!
Gente Interessada e Interessante
[508]
Não tinha como – nem porquês para – resistir ao amável convite da Ti para almoçar, aproveitando a presença de eminentes bloggers da diáspora e que gostam de vir "à terra" comer uns jaquinzinhos e um arroz de grelos.
Sendo um fervoroso adepto de relações em directo, ao vivo e a cores, sempre mantive alguma reserva relativamente aos convívios ditos virtuais. Mas tenho de confessar que foi com muito gosto e privilégio que conheci duas das mais representativas detentoras dos meus links ali à direita.
Foi um momento muito agradável e, ainda por cima, divertido e, por tal razão, aqui quero deixar público testemunho disso mesmo. Foi pena que faltassem aguns dos "suspeitos" e fôssemos poucos mas, ao que parece, bons. Um beijinho à Pitucha e à Ti pela muito aprazível companhia.
Ahhh… e já agora, são lindas de morrer, e já o meu avô dizia, homem muito dado às coisas do gineceu, que não há morte mais linda que morrer por uma linda mulher. Ele lá saberia do que estava a falar…
Para a Pitucha, para quando a plantação de chá já estiver a render
Para a Ti, para quando aprender a gostar mais de Surf e descobrir mais um site qualquer na net com aquelas mariquices bordadas que ela sabe encontrar...
Não tinha como – nem porquês para – resistir ao amável convite da Ti para almoçar, aproveitando a presença de eminentes bloggers da diáspora e que gostam de vir "à terra" comer uns jaquinzinhos e um arroz de grelos.
Sendo um fervoroso adepto de relações em directo, ao vivo e a cores, sempre mantive alguma reserva relativamente aos convívios ditos virtuais. Mas tenho de confessar que foi com muito gosto e privilégio que conheci duas das mais representativas detentoras dos meus links ali à direita.
Foi um momento muito agradável e, ainda por cima, divertido e, por tal razão, aqui quero deixar público testemunho disso mesmo. Foi pena que faltassem aguns dos "suspeitos" e fôssemos poucos mas, ao que parece, bons. Um beijinho à Pitucha e à Ti pela muito aprazível companhia.
Ahhh… e já agora, são lindas de morrer, e já o meu avô dizia, homem muito dado às coisas do gineceu, que não há morte mais linda que morrer por uma linda mulher. Ele lá saberia do que estava a falar…
Para a Pitucha, para quando a plantação de chá já estiver a render
Para a Ti, para quando aprender a gostar mais de Surf e descobrir mais um site qualquer na net com aquelas mariquices bordadas que ela sabe encontrar...
terça-feira, agosto 09, 2005
Angústia... sem ser para o jantar
Discovery just before touch down Tuesday morning.
[507]
Um país que não consegue resolver o problema de trânsito e estacionamento nas cidades;
Que não consegue ter um troço de mais de 20 km de auto-estrada em que não haja, em regime de permanência, pelo menos uma obra de estimação;
Que não consegue estabelecer um mínimo de organização no combate aos fogos – muito menos prender e punir os maluquinhos do fogo;
Que não consegue evitar que todos os anos estoirem umas quantas "fábricas" de foguetes, localizadas a esmo e rodeadas de mato e de lixo;
Que não consegue evitar a permanente degradação do litoral, anualmente "comido" pelo mar e proibir a ocupação selvagem da orla marítima com caixotes para albergar gente de férias;
Que não consegue proporcionar os serviços mínimos de saúde, justiça e educação aos seus cidadãos;
Que não consegue atingir níveis de competitividade de mercado por força de políticas laborais de conflito, alimentadas por sindicatos ávidos de protagonismo e regalias;
Um país que não consegue nada disto dá-se ao luxo de ter profissionais de informação que noticiam a chegada da tripulação do vaivém, após mais uma extraordinária missão espacial, com uma verrina idiota, dando "ênfase" ao desastre da última missão, número de mortos, os problemas sentidos nesta missão, as medidas extraordinárias que tiveram de ser tomadas "para evitar" novo desastre e ao "ar angustiado da tripulação, à chegada" ao dirigir-se aos jornalistas.
É feio, define-nos bem mas fica-nos mal. Outras estações internacionais noticiaram o facto com naturalidade e realçaram o espírito da tripulação. Nós, achámos que estavam todos angustiados e borrados pelas calças abaixo.
Só faltou dizer que tiveram uma sorte do caraças em aquilo não "ter ido tudo pró camandro" outra vez...
Que é que vou chamar a isto?...
Serra da Estrela - Cântaro Magro
[506]
Quem conhece a Serra da Estrela sabe que desta vez a Serra foi atingida no coração.
O Vale do Zêzere. O Covão da Ametade, todo aquele vale glaciar entre os Cântaros e Manteigas está, desesperadamente, a arder. Este vale ardeu ou porque já não há mais nada para arder ou porque a sanha destes loucos pirómanos se compraz em atear locais que eu acho que nunca poderiam ou deveriam arder. A imagem mostrada pela TV a partir dos Cântaros mostra a insuportável desolação do vale a arder, desde o Poio do Judeu até Manteigas. Um vale riquíssimo em turfas, em zimbros, espécies florestais autóctones, e uma fauna tão diversa com a víbora, a rela e o lobo está arder. Totalmente a arder.
Quem conhece a Serra da Estrela sabe que desta vez a Serra foi atingida no coração.
O Vale do Zêzere. O Covão da Ametade, todo aquele vale glaciar entre os Cântaros e Manteigas está, desesperadamente, a arder. Este vale ardeu ou porque já não há mais nada para arder ou porque a sanha destes loucos pirómanos se compraz em atear locais que eu acho que nunca poderiam ou deveriam arder. A imagem mostrada pela TV a partir dos Cântaros mostra a insuportável desolação do vale a arder, desde o Poio do Judeu até Manteigas. Um vale riquíssimo em turfas, em zimbros, espécies florestais autóctones, e uma fauna tão diversa com a víbora, a rela e o lobo está arder. Totalmente a arder.
Serra da Estrela - Covão da Ametade - Nascente do Zêzere (ao fundo, O Cântaro Raso, à esquerda, o Cântaro Magro, ao centro e Cântaro Gordo, à direita)
Percorri, em miúdo, toda aquela região. Para cima, da nave de Santo António para a Torre, via Espinhaço do Cão e para baixo, até Manteigas, passando pela nascente do Zêzere, Boca do Inferno e Manteigas. Nadei na Lagoa Escura, na Lagoa dos Cântaros e o meu pai fez questão de escalar comigo, minha mãe e meus irmãos o Cântaro Magro, coisa que, ainda hoje, me parece não ser muito comum. Apanhei rãs e gafanhotos e ajudei o meu pai a apanhar trutas, Dormi em abrigos, escorreguei na Santa e tentei, sem êxito, escalar os Dedos do Viriato ou as Queijeiras.
Eu era muito miúdo, tudo isto se passou antes das feiras actuais de mel, queijo e broa, excursões de centenas de camionetas a entupir a estrada dos Piornos e, talvez, por isso, a Serra da Estrela tem (tinha) um lugar muito especial nas minhas recordações de criança. Lembro-me de uma manhã o meu pai nos acordar (dormíamos na Nave de Santo António) e, como só ele sabia fazer, ter criado um suspense tremendo sobre a expedição do dia. E a expedição era apenas descer a Serra, a pé, para irmos comer ovos mexidos e broa de milho a Tortozendo. Coisas simples de uma família muito, mas muito, feliz.
Quando acabava o tempo das coisas simples e boas, regressávamos a Lisboa, alfacinhas como éramos, tisnados do sol da montanha e, como dizia o meu pai, com o peito cheio de ar puro. Felizes.
Hoje vi tudo "aquilo" em cinzas. Merda!
segunda-feira, agosto 08, 2005
L'important...
[505]
Independentemente da competência e craveira de António Vitorino, a sua presença semanal na RTP é o mais descarado exercício de direito de antena que me foi dado ver. Absolutamente escandaloso.
Mais estranha é a forma pacífica como tudo se desenrola, não há uma palavra crítica, não há uma reclamação. Jornalistas, bloggers, comentadores... ninguém se pronuncia, pelo que presumo que achem tudo muito natural. Ou estarei a ver demais?
Neste preciso momento, Vitorino, com ar tutelar, "explica-me" as razões das nomeações para a CGD. Incluindo Armando Vara...
domingo, agosto 07, 2005
Torresmo
[504]
Países do Golfo... dunas e dunas de areia escaldante...deserto do Karoo em Janeiro... Lawrence de Arábia...fornos de lenha...chamas...sol a bater de frente e a não deixar ver nada para trás...labaredas...estufas de vegetais com os plásticos rotos e tomateiros castanhos de ressequidos...fita de asfalto a perder de vista num deserto, com a ponta a diluir-se no céu em ondas de calor... Tarrafal...
Não me lembro de mais nada, não me ocorre mais nada, não sou capaz de pensar em mais nada. Estou esvaído, gelatinoso, prostrado, acabado, cozido, kaput...
Apenas uma casa de banho com ar condicionado (que não tenho), de banheira de água fria comigo lá dentro, a beber um jarro de cubos de gelo e a ver um álbum de fotografias do Polo Norte poderia fazer alguma coisa para me espevitar.
Como é possível gostar de calor?
sexta-feira, agosto 05, 2005
O Ruido do Silêncio
[503]
Uma das coisas que mais me irritam e causam aguda dispepsia é a repentina mutação da esquerda para um estado "osteo-gelatinoso", sempre que figuras gradas da sua gesta internacionalista, iluminada e correcta são atingidas por episódios menos felizes, protagonizados por aqueles que mereceram tonitruantes loas e desmesurados encómios.
O caso de Lula da Silva ilustra bem esta reflexão, a avaliar pelo silêncio sepulcral que se faz "ouvir".
É o costume...
Nada a fazer...
[502]
Não é justo. Batotei, cuspi pró chão, despi todas as mulheres que me passaram pela mente enquanto fazia o teste, andei à porrada, discuti futebol, ultrapassei todos os carros que iam à minha frente, atirando com uma sorriso complacente para as ultrapassadas, insultei dois gajos que se roçaram por mim na pastelaria, fui, enfim, até, o mais tendencioso possível nas respostas a este teste, algo previsível, só para conseguir chegar aos almejados 100% de cérebro masculino. Não fui capaz. Tinham de aparecer , no veredicto, aqueles miseráveis 13,33% de gâmetas maricas a comprometer-me a reputação. Not fair…
Your Brain is 13.33% Female, 86.67% Male |
You've got the brain of a manly man Feelings, schmeelings... tears aren't for you. You could break both legs and not get misty eyed. A great problem solver, nothing ever phases you. |
Teste via Francisca
Começar (mal) o dia
[501]
É impossível passar ao lado desta tragédia e vergonha (vergonha, mesmo) dos fogos.
Esta manhã acordei com um cheiro a fumo entranhado pela casa dentro e ao abrir a janela diria que estava um dia de nevoeiro, não fosse o cheiro a fumo, a brasas, a coisas ardidas. A televisão encarregou-se de me informar que toda a grande Lisboa estava “assim”.
Já uma vez deixei por aqui um empírico exercício sobre as causas desta chaga que nos envergonha, nos mata gente e nos destrui património. Desta vez, porém, a coisa parece estar fora de controle – como fora de controle me parece estar o próprio país. Há uma sensação de ingovernabilidade, de estupro das minhas prerrogativas como cidadão, de autêntica irresponsabilidade numa situação que muitas pessoas consideraram já de emergência.
Eu sei que Sócrates não resolveria nada – anda pelo Kenya a fotografar Kudus, gnus, zebras e elefantes. Mas soa a escândalo verificar que temos a nata (azeda, eu sei, mas nata...) dos nossos dirigentes a banhos enquanto o país se debate com a verdadeira tragédia dos fogos. Uns ateados por maluquinhos que não são nem presos nem tratados, outros por gente sem escrúpulos na mira de um rápido retorno económico mas todos eles enquadrados pela mais vergonhosa balbúrdia de métodos, desorganização e clara suspeita de dolo.
Vou para o duche, fechar bem as janelas do carro, ligar os médios e seguir para o trabalho. Triste. Envergonhado. Descrente. Zangado.
quinta-feira, agosto 04, 2005
Nie Rook Nie
[500]
Anteontem fui ao médico.
É curioso sentir que sempre tive mais cuidado com os carros do que comigo próprio. Porque considero fundamental que um carro seja assistido regularmente e corrigidos alguns dos tiques que muitos gostam de ter. Já com o meu corpo, não tenho sido muito exigente. De vez em quando, uma vez por ano, ou uma vez de dois em dois anos, faço aquele exame que os homems devem fazer a partir de uma certa quilometragem e tenho tido a sorte de tudo estar carrilado, lubrificado e sem folgas de uso.
Mas ultimamente tenho-me sentido com algumas birras orgânicas que nem eu próprio sabia definir. Mais cansaço que o habitual, níveis de desbragamento físico preocupantemente abaixo do meu gosto e, mais grave, cheguei mesmo a ter uma dor tipo moinha na peitaça após a escalada de um longo, escarpado, íngreme e inocente primeiro andar.
E foi assim que achei que devia ir ao médico. Devidamente recomendado por um familiar lá me recenseei numa lista de pacientes que uma senhora de meia idade laboriosamente consultava (médico particular, há que referi-lo) até que, com um ar de complacência que deve ter aprendido nos tempos em que poderá ter sido atendedora de guichet de uma repartição de finanças, lá me "encaixou" para anteontem, fazendo uma cara mediante a qual eu achei que me deveria sentir atento, venerador e obrigado, ao mesmo tempo que me corrigia e dizia "professor" de cada vez que eu dizia doutor.
O médico era simpático, pareceu-me competente. Depois de um exame completo acabou por proferir o seguinte insulto que passo a reproduzir:
- Estou a entrar numa idade em que tenho de ter algum cuidado com os excessos e ver-me mais vezes (aqui ainda lhe pedi para repetir, não fosse haver erro de vogal e a coisa até soava bem…) mas não, era mesmo ver-me mais vezes – traduzido por miúdos, não deveria estar dois anos sem ir ao médico, como até aqui;
- Deveria parar JÁ de fumar. Como lhe disse que já fumava para aí há três dezenas de anos, aguardei pacientemente que ele me explicasse como é que se fazia. Se era assim tipo, saía do consultório e pronto, não fumava mais, ou se deveria seguir algum método específico. Ao que ele me respondeu que era assim mesmo. Nada de especificidades, saía dali e não fumava mais. Tão simples como isso e que tudo o mais era marketing e papas e bolos;
- Deveria perder quatro ou cinco quilos, JÁ. Quando lhe perguntei como é que se fazia para perder quatro ou cinco quiilos JÁ ele disse-me que era muito simples, saía do consultório e passaria a comer menos e melhor. Tudo o mais era marketing e papas e bolos;
- Finalmente iria dar-me uns quantos comprimidos para "soltar" a máquina e prevenir a hipertensão. Quando perguntei quando, ele disse-me que era simples. Saía do consultório, ia à farmácia e começava a tomar JÁ os comprimidos.
Confesso que comecei a olhar para a porta de saída com pavor. Senti que depois de o homem me ter chamado velho, idiota (porque fumava), gordo e a necessitar de cuidados regulares, para o que, ainda por cima, paguei, a transposição daquela porta iria significar um mundo novo, provavelmente não tão admirável como isso. De tudo, o que mais me preocupou foi a dúvida de como é que se deixa de fumar? Assim… sem mais nem menos… então e depois do café, como é que se faz? E quando atendemos o telefone? Como e possível não acender um cigarro naquele momento exacto em que lançamos mão do telefone? Como é possível acenderem-nos carinhosamente um cigarro e nós respondermos com um inqualificável "deixei de fumar"?
Bom, já lá vão dois dias e ainda não fumei. Acho que aquela dorzita me colocou em respeito. E não tem sido tão difícil como isso. O "isso" tem sido muito mais difícil, ou seja pensar se aguentarei continuar sem fumar e imaginar a cara de idiota que passarei a fazer nos restaurantes quando, acabado o repasto, fico assim… sem fazer nada, tipo refeição de avião de longo curso, quando acabamos de jantar e sabemos que, sem fumar, temos mais sete ou oito horas pela frente!
Devo dizer que em dois dias me sinto outro. Pode parecer exagero, mas não é. Vou mesmo torcer para que consiga não fumar mais. Quanto mais não seja para poder dizer ao doutor (professor) que velho era a mãezinha. Mesmo tendo de pagar outra consulta…
quarta-feira, agosto 03, 2005
Latitudes Derivadas
[499]
Sobre o incêndio de hoje na região da Vila da Feira, ouvi esta pérola no Telejornal das oito:
"...e depois, derivado às várias latitudes do vento o fogo avançava por todo o lado. E eu a ver quando é que ele chegava à fábrica porque a fábrica está cheia de mato à volta, claro..."
Eventualmente, a fábrica (uma fábrica de pirotecnia, coisa em que parecemos continuar a ser excelentes) rebentou mesmo, conforme foi noticiado. Reflicto, independentemente das latitudes traiçoeiras dos ventos, sobre a expressão iracunda do dono da fábrica na televisão, genuinamente convencido que este "país é uma merda", em que até as fábricas de pirotecnia estão rodeadas de mato e ninguém faz nada, provavelmente o governo - corja de madraços que não manda limpar o mato à volta das fábricas de foguetes, neste caso da dele.
Não há quem se sinta um bocadinho, um bocadinho que seja, responsável por esta mentalidade? Sobretudo aqueles que cultivam uma permanente cultura de oposição, mesmo quando estão no poder?
O Tejo e Tudo...
[498]
"Ando numa" de margem do Tejo. Ali na esplanada do "Café In", onde se come uma lagostinha com salada fria a 1/3 do preço que custaria na secção de ar condicionado, dei comigo a pensar como Lisboa é, seguramente, uma das mais belas cidades europeias.
Se à sua beleza intrínseca juntarmos os sabores únicos da nossa comida e a luz (a célebre luz) que Deus nos deu num dia de boa temperança, poderemos sentir-nos o mais feliz dos cidadãos europeus. Apesar de tudo aquilo que torna Lisboa uma das mais caóticas, feias e sujas cidades europeias. Ali, ao abrigo das gruas, dos contentores de obras, bandeirinhas vermelhas e montes de areia, das buzinas e machões de camisa "bromelha" e pata de chumbo a fazer horrores nos Fiat Punto de rede ao meio, desfrutamos de um panorama ímpar e reconciliamo-nos com a pátria.
Tenho de lá ir mais vezes…
terça-feira, agosto 02, 2005
Home Sweet Home
[497]
"...Dad, vivo num país de grunhos peludos com mau hálito e de espírito mais pobre que os pobrezinhos da rua. Deus nosso senhor me ajude e ilumine o caminho para as beiras..."
Recebi esta mensagem de manhã, no telemóvel. Tem a ver com o facto de a minha júnior ter tido necessidade de apanhar um autocarro "Expresso" de Lisboa para Vila Nova de Cerveira a fim de acabar um trabalho da faculdade. E então, assunto esclarecido há pouco pelo telefone, havia uma senhora que estava sentada e depois veio outra e disse que o lugar dela e a outra disse que num se lebantaba e a outra chamou o homem da camionete e o homem veio e pediu o bilhete e a senhora não queria e a senhora disse que o lugar estava marcado e depois a outra disse que o dela também estaba marcado e mostre lá o bilhete e daí a sua vaca e puta é você foi um passo e depois apareceu um gajo a dizer que aquilo era um sítio de respeito e a senhora disse que respeito era a puta que o pariu e que dali num a tirabão que tinha pagado o bilhete e a outra dizia que sai sim senhor olhe quinda se me le bou aos cornos e a confusão instalou-se a minha filha pôs o discman ao máximo e ficou cheia de vontade de emigrar.
(Autocarro "Expresso" das oito da manhã, a partir de Sete Rios com destino a Vila Nova de Cerveira com paragem em Viseu pra buber um tintol e comer uma bucha, aos dois dias do mês de Agosto do ano da graça de 2005).
segunda-feira, agosto 01, 2005
Cedilhas e Sotaques
[496] - E ha aqueles que, por esta altura, vao a um cibercafeh, ou puxam do portahtil e desatam a escrever sem cedilhas, tis e, muito menos, acentos circunflexos, agudos e graves. Parte do texto, aliahs, eh composto em tom de reclamacao (leh-se reclamassaum) e isso, quanto mais nao seja, gera as invejinhas que os portugueses gostam que os outros tenham.
Pois aqui, onde me encontro, ha cedilhas, ha acentos, ha tis e ateh circunflexos e tremas. Ou nao ha? Hummm, tenho de confirmar com mais atencao! Mas pronto. Apeteceu-me mostrar que tambem sei escrever recorrendo aos agahs para acentuar as silabas e, alem disso, nada tenho de especial para dizer. Estou numa altura de ocio e de uma de um par de silly things que eu disse, ha dias, que me apetecia fazer. E depois, ainda nao tenho nenhum post em Agosto e isso nao se faz a um blogue que se preze.
Tenho passado por "aqui" e estah tudo, mesmo, de fehrias. Pelo menos de ideias. O Besugo ainda mandou uns bitaites giros sobre "Lxboa" e o "lxboetez" e apeteceu-me mostrar que sou filho de boa gente. E quem eh filho de boa gente, sente-se. Eh que nao se pode confundir sotaques com vicios ou afectacao de verbo. E Lisboa, a mim me parece, nao tem sotaque. Tem eh um punhado de gente que gosta de ir a "runioes", acha tudo girehrrimo, gosta de ir mostrar os "ilecopteros" aos "piquenos" e adora ir passar fehrias ah neve (aqui falta o tal circunflexo para fechar a primeira vogal). E mais, muita dessa gente nao eh sequer de Lisboa… mas estah bem. Depois da silly season e se for ainda oportuno, digo qualquer coisa sobre o assunto. Em nenhum caso lisboeta, porem, se trocam consoantes. O "v" nortenho, por exemplo, eh trocado pelo "b", nao por incapacidade fonehtica de quem o emprega para dizer "binho berde", por exemplo,mas por uma questao de sotaque. Sotaque mesmo. Porque se fosse por incapacidade, a mesma pessoa que diz "binho berde" não diria "travalho", em vez de trabalho. E isso... espanquem-me, mas nao consigo compreender! Pois… ha tanta coisa a dizer sobre o assunto. Fica para depois. Mas eh que me "piquei" um bocadinho por dizerem que ha sotaque lisboeta. Nao ha, tenham lah paciencia. Ha o tal "lxsboetehs" que nao eh, definitivamente, a mesma coisa.
Continuem a gozar as fehrias que eu na quarta-feira jah tenho cedilhas outra vez!