An Englishman in King's Road
A jóia da Coroa...
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Eu sei que o país está de rastos, a arder, que estamos a ser governados por uma colecção de inaptos arrogantes e, frequentemente, venais, que a justiça leveda decisões espúrias e aberrantes, que as autarquias gastam o dinheiro que não temos, que cada vez há mais rotundas, pagamos uma das gasolinas mais caras da Europa, estamos a atravessar a maior seca dos últimos sessenta anos, que o défice está de saúde e recomenda-se, que os nossos filmes (subsidiados) são uma merda, que o jet set nacional é a coisa mais pirosa desde a invenção das meia brancas, que as praias da linha estão poluídas, a TAP dá prejuízo, Lisboa está a esboroar-se de velha e de suja, que o Mário Soares quer tomar conta de nós outra vez, que a nossa produção literária está reduzida a duas ou três cronistas do Expresso e um comentador da TVI, que as condecorações nacionais estão em saldo, o nosso melhor actor de cinema teve de ir para os USA para fazer um filme ou outro e abrir um restaurante para sobreviver, que o país inteiro é um verdadeiro estaleiro nacional – em harmonia, aliás, com os patos bravos que somos, que a caça vai abrir outra vez, enfim, sei isto tudo e , até aqui, tudo bem. Eu até tolero e costumo dizer que quem está mal muda-se e não se fala mais no assunto.
Agora, que apareça um tal AA Gill que parece ser um crítico de gastronomia que diz dislates deste tipo é que não me conformo. Que isto de bolirem com as nossas tradições da comidinha fia fino. E logo um súbdito de Sua Majestade Britânica, daqueles que julgam que a gastronomia se resume a um "bedum smelling" roast lamb apaparicado numa mistela verde a saber a menta, que adoram bacalhau fresco "deep fried em óleo" e acompanhar com chips (os americanos, pelo menos, têm a honestidade de lhes chamar french fries…), que acham que a sobremesa universal é o rice pudding (para quem não saiba, arroz cozido com açucar) e que o Yorkshire pudding é o expoente máximo da boa mesa, isto, meus amigos, já não é tolerável.
Além de que AA Gill permite-se fazer observações sobre a gesta heróica das lusas gentes, chegando a afirmar que a única e verdadeira motivação dos portugueses em se lançarem aos descobrimentos foi a de conseguirem dormir com alguma mulher… e eu, aqui, afino. Não admito isto nem ao menino Jesus. Eu… que a última inglesa a quem concedi o privilégio de se deitar comigo lhe autorizei a que ela desse livre curso á sua forma peculiar de líbido, leia-se abrir as pernas, segurar o copo com a mão esquerda e o cigarro com a direita, não sobrando mão alguma para qualquer outra coisa nenhuma, restando-me a mim dar o material, mão de obra e os acabamentos, enquanto ela se entretinha a falar da Victoria Beckham (*). E AA Gill (cujos conhecimentos gastronómicos e pela leitura da crónica se devem restringir a King’s Road e a um restaurante de um português que resolveu ganhar umas massas com uns pastéis de nata) desdobra-se ainda numa série de observações que só lidas. Notícia descoberta aqui via Vitriólica, onde vale a pena ler os comentários, também
Por acaso gosto de Inglaterra e dos ingleses. Mas por vezes sai-nos cada um na rifa que eu quase (só quase, admito…) consigo gostar de franceses!
(*) Esta parte não tem que ser necessariamente verdade. Pode ser apenas uma forma de retórica ou de "ouvir dizer". Mas vai bem com o texto, contexto e pretexto!...
5 Comments:
Partilhei a leitura e partilho da tua indignação (sim mais uma vez concordo contigo espumante ;)). Pode lá ser que um qualquer inglês, ainda por cima confessando nunca ter vindo a Portugal, faça a mais pequena ideia do que é a Portugalidade? Ainda menos a Portugalidade gastronómica. Haja estômago para tanta azia....
A propósito de rotundas...
Estive uns dias no Algarve, em zona que costumo frequentar, e reparei que, em certa estrada com pouco mais de 3 km, foram (apenas num ano!) construidas 8 (oito!) rotundas...
Alguém me disse que, em cada rotunda, vai ser erguido um "monumento" (presumo que ao 25 de Abril, etc.).
Ó meu caro, isto não é um país, pois não?
t-shelf
Eu não estou indignado. Conheci muitos ingleses e não há como os levar a sério:)) desde que conheci uma família que partilhava (marido, mulher e dois bebés) a água do banho, deixei de me indignar :))) De outra vez andei 4 (QUATRO) dias seguidos a comer steak and kidney pie... fiquei formado em cozinha inglesa.
beijinho :)))
torquato da luz
estamos "rotundamente" lixados :))))
aqui pleas minhas bandas todos os dias nasce uma!
Um abraço
Dada a elevada qualidade da gastronomia inglesa, esse tal Gill deve ser um rico espécime, aliás na senda de muitos dos nossos criticos gastronómicos, onde todos os restaurantes são bons ou razoáveis e geralmente baratos!!!!
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