Começar (mal) o dia
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É impossível passar ao lado desta tragédia e vergonha (vergonha, mesmo) dos fogos.
Esta manhã acordei com um cheiro a fumo entranhado pela casa dentro e ao abrir a janela diria que estava um dia de nevoeiro, não fosse o cheiro a fumo, a brasas, a coisas ardidas. A televisão encarregou-se de me informar que toda a grande Lisboa estava “assim”.
Já uma vez deixei por aqui um empírico exercício sobre as causas desta chaga que nos envergonha, nos mata gente e nos destrui património. Desta vez, porém, a coisa parece estar fora de controle – como fora de controle me parece estar o próprio país. Há uma sensação de ingovernabilidade, de estupro das minhas prerrogativas como cidadão, de autêntica irresponsabilidade numa situação que muitas pessoas consideraram já de emergência.
Eu sei que Sócrates não resolveria nada – anda pelo Kenya a fotografar Kudus, gnus, zebras e elefantes. Mas soa a escândalo verificar que temos a nata (azeda, eu sei, mas nata...) dos nossos dirigentes a banhos enquanto o país se debate com a verdadeira tragédia dos fogos. Uns ateados por maluquinhos que não são nem presos nem tratados, outros por gente sem escrúpulos na mira de um rápido retorno económico mas todos eles enquadrados pela mais vergonhosa balbúrdia de métodos, desorganização e clara suspeita de dolo.
Vou para o duche, fechar bem as janelas do carro, ligar os médios e seguir para o trabalho. Triste. Envergonhado. Descrente. Zangado.
2 Comments:
Triste. Envergonhado. Descrente. Zangado. - como te entendo, Espumante... isto não é um país, é um inferno... abraço, IO.
IO
Tens, infelizmente, razão. É trágico. É miserável!
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