Baden Powel revisitado
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Como o meu pai achava que eu merecia uma escola privada (ou as escolas oficiais, chamadas "da Câmara" não mereciam o seu primogénito), vi-me desde a primeira classe confrontado com reuniões de escuteiros.
Recordo-me, com sete anos, uma escuta perguntar que tipo de coisas é que um escuteiro jamais deveria esquecer. Um canivete, disse um...um lenço, disse outro... um lápis... e eu estava logo a seguir na roda e soltei, pensando que tinha descoberto a cana para o foguete: - uma borracha!
Foi o fim do mundo. A "chefe" não usava bigode. Mas, no mínimo, não se depilava e, olhando-me de frente, vociferou: - Um escuteiro NUNCA se engana!
Tomei o devido registo da infalibilidade que eu deveria observar a partir dali e lá assisti ao resto da reunião (foi a última...) a perceber a dureza dos escuteiros, a forma como eles deveriam estar sempre preparados para TUDO, arrostando com os problemas e, principalmente, resolvendo-os. Nada daquilo fazia já muito o meu feitio, ser bonzinho por encomenda e assim, mas sempre ficou a ideia de que um escuteiro deveria estar sempre preparado para as contrariedades da vida, além de ajudar velhinhas a atravessar as ruas, claro.
Pois bem. Já são três as vezes que vejo na TV a espantosa notícia de que um grupo de trinta escuteiros portugueses ficou retido em Heathrow por causa de uma greve qualquer. E a notícia era detalhada. Vibrante. Desde intervenções vivas de como ninguém lhes dava informações sobre horários até ao facto, exasperante, de que estiveram VINTE E QUATRO HORAS SEM MUDAR DE ROUPA. E entre cantares e farnel (este não podia faltar) à chegada a Portugal (vieram de autocarro), ainda apareceu um escuteiro quarentão, careca e bigode e ar de canivete suiço, zangadíssimo porque as malas não puderam vir mas, claro, iam pedir responsabilidades.
O quadro ficou completo com um diligente médico a auscultar os escuteiros e a dizer para a reportagem que estavam todos bem.
Ou os escuteiros já não são o que eram ou eu estou, definitivamente, a enlouquecer aos bocadinhos...
Como o meu pai achava que eu merecia uma escola privada (ou as escolas oficiais, chamadas "da Câmara" não mereciam o seu primogénito), vi-me desde a primeira classe confrontado com reuniões de escuteiros.
Recordo-me, com sete anos, uma escuta perguntar que tipo de coisas é que um escuteiro jamais deveria esquecer. Um canivete, disse um...um lenço, disse outro... um lápis... e eu estava logo a seguir na roda e soltei, pensando que tinha descoberto a cana para o foguete: - uma borracha!
Foi o fim do mundo. A "chefe" não usava bigode. Mas, no mínimo, não se depilava e, olhando-me de frente, vociferou: - Um escuteiro NUNCA se engana!
Tomei o devido registo da infalibilidade que eu deveria observar a partir dali e lá assisti ao resto da reunião (foi a última...) a perceber a dureza dos escuteiros, a forma como eles deveriam estar sempre preparados para TUDO, arrostando com os problemas e, principalmente, resolvendo-os. Nada daquilo fazia já muito o meu feitio, ser bonzinho por encomenda e assim, mas sempre ficou a ideia de que um escuteiro deveria estar sempre preparado para as contrariedades da vida, além de ajudar velhinhas a atravessar as ruas, claro.
Pois bem. Já são três as vezes que vejo na TV a espantosa notícia de que um grupo de trinta escuteiros portugueses ficou retido em Heathrow por causa de uma greve qualquer. E a notícia era detalhada. Vibrante. Desde intervenções vivas de como ninguém lhes dava informações sobre horários até ao facto, exasperante, de que estiveram VINTE E QUATRO HORAS SEM MUDAR DE ROUPA. E entre cantares e farnel (este não podia faltar) à chegada a Portugal (vieram de autocarro), ainda apareceu um escuteiro quarentão, careca e bigode e ar de canivete suiço, zangadíssimo porque as malas não puderam vir mas, claro, iam pedir responsabilidades.
O quadro ficou completo com um diligente médico a auscultar os escuteiros e a dizer para a reportagem que estavam todos bem.
Ou os escuteiros já não são o que eram ou eu estou, definitivamente, a enlouquecer aos bocadinhos...
1 Comments:
Melhor ainda, lamentavam-se da falta de assistência da embaixada portuguesa. Como se a embaixada tivesse a responsabilidade de lhes dar uma muda de roupa e farnel. Inacreditável! Ainda mais surpreendente é a dimensão faraónica que a notícia adquiriu nas notícias em Portugal,l como se fossem os únicos portugueses desgraçadamente à espera do regresso. Só na fila para informações sobre voos houve quem esperasse mais de 9 horas... (sei-o de fonte seguríssima)sem chamar pela mãe ou pela embaixada ;)
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