quinta-feira, agosto 04, 2005

Nie Rook Nie



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Anteontem fui ao médico.

É curioso sentir que sempre tive mais cuidado com os carros do que comigo próprio. Porque considero fundamental que um carro seja assistido regularmente e corrigidos alguns dos tiques que muitos gostam de ter. Já com o meu corpo, não tenho sido muito exigente. De vez em quando, uma vez por ano, ou uma vez de dois em dois anos, faço aquele exame que os homems devem fazer a partir de uma certa quilometragem e tenho tido a sorte de tudo estar carrilado, lubrificado e sem folgas de uso.

Mas ultimamente tenho-me sentido com algumas birras orgânicas que nem eu próprio sabia definir. Mais cansaço que o habitual, níveis de desbragamento físico preocupantemente abaixo do meu gosto e, mais grave, cheguei mesmo a ter uma dor tipo moinha na peitaça após a escalada de um longo, escarpado, íngreme e inocente primeiro andar.

E foi assim que achei que devia ir ao médico. Devidamente recomendado por um familiar lá me recenseei numa lista de pacientes que uma senhora de meia idade laboriosamente consultava (médico particular, há que referi-lo) até que, com um ar de complacência que deve ter aprendido nos tempos em que poderá ter sido atendedora de guichet de uma repartição de finanças, lá me "encaixou" para anteontem, fazendo uma cara mediante a qual eu achei que me deveria sentir atento, venerador e obrigado, ao mesmo tempo que me corrigia e dizia "professor" de cada vez que eu dizia doutor.

O médico era simpático, pareceu-me competente. Depois de um exame completo acabou por proferir o seguinte insulto que passo a reproduzir:

- Estou a entrar numa idade em que tenho de ter algum cuidado com os excessos e ver-me mais vezes (aqui ainda lhe pedi para repetir, não fosse haver erro de vogal e a coisa até soava bem…) mas não, era mesmo ver-me mais vezes – traduzido por miúdos, não deveria estar dois anos sem ir ao médico, como até aqui;

- Deveria parar de fumar. Como lhe disse que já fumava para aí há três dezenas de anos, aguardei pacientemente que ele me explicasse como é que se fazia. Se era assim tipo, saía do consultório e pronto, não fumava mais, ou se deveria seguir algum método específico. Ao que ele me respondeu que era assim mesmo. Nada de especificidades, saía dali e não fumava mais. Tão simples como isso e que tudo o mais era marketing e papas e bolos;

- Deveria perder quatro ou cinco quilos, . Quando lhe perguntei como é que se fazia para perder quatro ou cinco quiilos JÁ ele disse-me que era muito simples, saía do consultório e passaria a comer menos e melhor. Tudo o mais era marketing e papas e bolos;

- Finalmente iria dar-me uns quantos comprimidos para "soltar" a máquina e prevenir a hipertensão. Quando perguntei quando, ele disse-me que era simples. Saía do consultório, ia à farmácia e começava a tomar os comprimidos.

Confesso que comecei a olhar para a porta de saída com pavor. Senti que depois de o homem me ter chamado velho, idiota (porque fumava), gordo e a necessitar de cuidados regulares, para o que, ainda por cima, paguei, a transposição daquela porta iria significar um mundo novo, provavelmente não tão admirável como isso. De tudo, o que mais me preocupou foi a dúvida de como é que se deixa de fumar? Assim… sem mais nem menos… então e depois do café, como é que se faz? E quando atendemos o telefone? Como e possível não acender um cigarro naquele momento exacto em que lançamos mão do telefone? Como é possível acenderem-nos carinhosamente um cigarro e nós respondermos com um inqualificável "deixei de fumar"?

Bom, já lá vão dois dias e ainda não fumei. Acho que aquela dorzita me colocou em respeito. E não tem sido tão difícil como isso. O "isso" tem sido muito mais difícil, ou seja pensar se aguentarei continuar sem fumar e imaginar a cara de idiota que passarei a fazer nos restaurantes quando, acabado o repasto, fico assim… sem fazer nada, tipo refeição de avião de longo curso, quando acabamos de jantar e sabemos que, sem fumar, temos mais sete ou oito horas pela frente!

Devo dizer que em dois dias me sinto outro. Pode parecer exagero, mas não é. Vou mesmo torcer para que consiga não fumar mais. Quanto mais não seja para poder dizer ao doutor (professor) que velho era a mãezinha. Mesmo tendo de pagar outra consulta…

10 Comments:

At 4:43 da tarde, Blogger Torquato da Luz disse...

Não custa nada deixar de fumar. Eu deixei aí umas 50 vezes, em mais de 30 anos... Até que, há uns seis, fui "de charola" para o hospital e deixei mesmo.
O problema é que, entretanto, engordei uns bons quilos. Não estou, por isso, a ver como é que, ao invés, o meu caro Espumante vai emagrecer. Mas espero que sim e nos conte como foi.
Mais um abraço.

 
At 8:12 da tarde, Blogger Hipatia disse...

Eu estava a guardar-me para as férias para ver se me conseguia livrar dos cigarrinhos ou, pelo menos, reduzir o tamanho do vício.

Mas diz-me, Espumante, se já me tiraram o sal e, por isso, não me apetece comer quase nada, como faço eu depois do tal jantar? Duvido que a moral e os bons costumes me permitam saltar com o parceiro para cima da mesa do restaurante e pôr em prática, ali mesmo, o único prazer que, parece, ninguém me quer proibir...

E, aliás, depois ia-me apetecer um cigarrinho, como é óbvio.

(2 dias inteirinhos? Estou invejosa!)

 
At 10:36 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

torquato da luz

A minha determinação tem a ver com as razões que me levaram ao médico... não fui de charola, mas achei que me devia tratar. E parece que fui bem a avaliar pela colecção de comprimidos que o homem me deu. Quanto ao engordar... logo se vê :)))
Abraço amigo

 
At 10:38 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

hipatia
Eu não auero parecer vulgar e pode até ser psicológico, mas que até me sinto mehor ao fim destes três dias, sinto. Não tem sido difícil por aí além. Vejamos o que os próximos dias me trazem...
Beijinho para ti

 
At 12:08 da manhã, Blogger Madalena disse...

Normalmente as coisas acontecem depois de um susto. Vá lá que não foi valente. A ida ao médico está muito divertida. É difícil encarar os Kms já percorridos e pensarmos que começamos a ser tidos como usados...
Um beijinho solidário de quem também já tem que ter esses cuidados, mas em cor-de-rosa.

 
At 6:38 da manhã, Blogger lilla mig disse...

Força espumante! Para quem fumou tanto tempo deve ser mesmo complicado... Mas tenta imaginar que cada vez que fumas um cigarrito o teu pulmão se esmifra para assimilar tanto veneno! Demasiado forte a imagem? Bom, eu também cheguei a fumar uns tempos, mas era mais o prazer do dedo que o do fumo, e depois consegui achar totalmente ridículo o facto de engolir fumo só porque sim... Pode ser que consigas também! E compensa com massagens! Eu nunca disse que os gajos não precisavam! ;)

 
At 7:56 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Madalena

"Isto" não é velhice, é "erosão" :))) por mais que queiramos a ela não escapamos.
Esta coisa do cigarro está a ser complicada mas o sustozinho está a ajudar a eu ter juízo,
Benvinda a casa. Já li de fugida a efeméride ao champagne. Depois comento que agora tenho de ir trabalhar.
Um beijinho muito amigo.

 
At 7:58 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

lilla mig

Se eu pudesse substituir cada cigarro por uma massagem, seria mais fácil com certeza :)))
Beijinho para ti

 
At 10:21 da manhã, Blogger A. disse...

Deixa lá, pelo menos levas com esse tipo de recomendações uns 20 anos mais tarde que eu, porque cada vez mais novos nos vemos a braços com colesteróis e outros que tais. Eu sei que um dia destes hei de deixar de fumar, só não sei ainda é quando.
Bjinhos e boa sorte nesta nova etapa de vida saudável

 
At 10:24 da manhã, Blogger Passada disse...

Hi dad,
e porque te sou solidária te informo que o mesmo fiz eu deste lado, parei de fumar. Nos momentos mais duros acendo o cigarro dou a primeira passa e fico logo zonza, apago o cigarro inteiro. Vamos conseguir basta que acredites e recomendação: muita água, vita C e quando comeres pela ansiedade escolhe fruta!
beijos pa ti

 

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