Se eu tivesse uma farmácia e sentisse que 24% do meu volume de negócio, até aqui assegurado por um escândalo proteccionista de vários governos e lóbis, estava em risco, faria o seguinte:
- Aceitaria as regras do mercado e do bom senso e procuraria ajustar-me à nova situação;
- Procuraria um espaço maior e adequá-lo-ia a algumas alterações que pudessem servir melhor os meus clientes, provavelmente fidelizando-os, gerar clientes novos e alargar a minha gama de oferta de produtos, para além da simples linha de medicamentos, meia dúzia de chás para emagrecer e de frascos de vitaminas;
- Para isso, estabeleceria um espaço próprio com um letreiro bem visível a dizer
DISPENSÁRIO ou
EXECUÇÃO DE RECEITAS, onde os meus clientes poderiam levantar os medicamentos prescritos e ser devidamente aconselhados, sendo caso disso;
- Complementaria depois o espaço da farmácia com uma série de prateleiras de fácil acessibilidade, onde os medicamentos de venda não condicionada seriam criteriosamente agrupados; por exemplo, antiácidos, analgésicos, pomadas e cremes, artigos de penso, etc. e, ainda, grupos de artigos para os mais variados fins, desde dietéticos a produtos de higiene e beleza (cremes, dentífricos, óleos de banho, sabonetes normais e medicinais, escovas de cabelo, perfumaria, produtos para bebé, etc., etc., etc. - não faltariam produtos que tornassem a minha farmácia atractiva e funcional - de que o cliente se serviria, retirando-os das prateleiras;
- Contrataria um/a assistente simpático/a, bem vestido/a e educado(a que poderia ajudar os clientes na localização dos diferentes produtos, dar aconselhamento básico sobre alguns deles e, até, fazer a promoção da sua venda;
- Contrataria, finalmente, um caixa à saída da farmácia que fizesse os recebimentos. Tanto os das receitas como dos outros artigos expostos;
Tenho a certeza que, fazendo isto, não só estaria a compensar a “quebra” de vendas temida pela benvinda moralização do sistema como, provavelmente, melhoraria até as minhas receitas, tornando a minha farmácia um local aprazível, apetecível, funcional, bem sortida e de garantido sucesso comercial. Certamente preferível a uma grande superfície ou a uma estação de serviço.
De repente, reparo que não criei nada, não inventei nada nem descobri a cana para o foguete. O que atrás escrevo já vi em muitas farmácias, em muitos locais. Infelizmente, não em Portugal – com a honrosa excepção de um par de farmácias amplas, bem localizadas, eficientes e de pessoal educado e com sistema
farma-drive. Em Cascais, para que conste. Mas como dizia, não estou a inventar nada. Lembrei-me apenas de sítios e gentes onde servir o cliente e aceitar as regras do mercado são meio caminho andado para o sucesso empresarial. Além, claro, de uma forma de estar na vida... sem necessidade da promiscuidade de lóbis nem da complacência de governos inanes.