domingo, junho 30, 2013

Pertinho do mar



[4921]

Almoço sozinho (por opção), virado para o mar. A brisa morna soprava do Atlântico como que trazendo uma carícia à mesma temperatura. Mas a disposição não era recomendável. Mal dormido e com uma incómoda dor lombar, nem sequer amortecida na habitual caminhada da manhã, fui comer quase que por obrigação.

Sentado pertinho do mar, degustei uma saladinha de grão com cebolinha e fiapos de bacalhau, após o que me serviram uma fabulosa posta de garoupa. O empregado sorriu e disse-me que eu podia até nem acreditar, mas que aquele peixe lhes fora trazido de manhã bem cedo. A posta era grande e cortada à altura ideal para proporcionar uma boa assadura e vinha ornamentada com vulgares vegetais. Bróculos, grelos, cenourinhas e quatro quartos de uma batata assada em brasas. Tudo seco, a pedido prévio, sem sabores adulterados por molhos de manteiga ou outros, encarreguei-me eu de temperar o manjar com azeite de boa qualidade e vinagre. Nada mais.

A primeira página do jornal falava da grande preocupação que ia pelo Egipto, pois esperava-se grande arruaça ao fim da tarde. Comi o peixe, olhei o mar e senti o conforto de viver numa zona calma, saboreando o que há de melhor em matéria de peixe e espraiando o olhar pelo mar fora. O olhar e o pensamento, não há como olhar o mar sem pensar em alguma coisa, quanto mais não seja pensar como é bom não ter necessariamente que pensar em coisa nenhuma e entregar-se a estes momentos de torpor e bem-aventurança.

Reconfortado, levantei-me e caminhei algumas centenas de metros até casa. Senti-me bem. A brisa do mar deve-me ter trazido um carinho, disfarçado no momentâneo odor a maresia que, por um curto momento, inalei com deleite e serenidade.
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Grunters


[4920]

Ontem, no Eixo do Mal, a Dª Clara achou que Sócrates foi uma vítima da inconstância da finança internacional que tanto mandava o povo gastar, gastar, como logo mandou, parem, parem, poupem, chegou a austeridade. Para além de ter sido perseguido por uma infame acção policial (SIC) perpetrada por gente que não gostava dele, não gostava das camisas, das unhas, da voz, não gostava, pronto (SIC).

Sobrou uma réstea de bom senso no programa, quando Pedro Marques Lopes lhe questionou o facto de ela atacar Passos Coelho por não reagir à pressão internacional e, ao contrário, defender Sócrates tão veementemente pelas mesmas razões.

A Dª Clara embatucou e emitiu uma sinfonia de ruídos muito semelhantes aos de um roncador, peixe saboroso e muito resmungão, tipo Zangado dos Sete Anões, quando o tiramos do anzol e o atiramos para a areia.

Já lhe fica mal, Dª Clara!
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sábado, junho 29, 2013

Brasil do c...




[4919] 

Lá longe, no país das pernas para o ar, a ignorância sobre conhecimentos de ordem geral, muito peculiar nos ingleses e seus herdeiros naturais, refina-se e dá para o disparate. Um grupo de gente bem apessoada, do Today Show, vacila sobre se no Brasil se fala espanhol ou italiano. Espanhol, diz um… hummm… italiano, diz outro. Outro ainda diz que se fala brasileiro. Uma das mocinhas arrisca um portugueix e nesta sabatina o pivot diz que aprendeu uma expressão interessante. Do c…. (ele pronuncia courâulho). Quando lhe perguntam o significado, ele diz que é o que os brasileiros dizem quando se referem a qualquer coisa…«amazing». No fim, o homem pede desculpa, diz que o termo é português e muito feio. Um amigo que lhe mandou um mail a corrigir. São do c… estes australianos.
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A camaleónica leveza de sermos. Ou de como os povos atrasados continuam a ter eleitorado de dois dígitos em Partidos não democráticos


[4918]

Um excelente trabalho do José no Porta da Loja revela a génese das gentes que comandaram e decidiram sobre o futuro dos portugueses, no período crítico da década de setenta. Valor acrescentado, porque não se limita a pura retórica, inclui documentos, fotos, excertos de artigos e muito outro material (de salientar a longa lista de «fassistas» presos arbitrariamente, com Artur Agostinho à cabeça) que a curta e estouvada memória dos portugueses convenientemente esbate.

É necessário ler estas coisas por quem sabe explicar e, mais importante, por quem tem meios suficientes para demonstrar o que escreve. Da mesma maneira, recordar que temos dois Partidos na Assembleia que só existem porque vivem, de facto, num regime democrático que eles, já agora, se esforçaram por destruir, ao mesmo tempo que reduziram a cacos a economia. Avulso, tropeça-se com mais individualidades que tiveram a subtileza e a habilidade de ziquezaguear pelos pingos da chuva da altura sem se molhar e que, mais tarde, se dedicaram a fazer opinião e, em alguns casos, a atingir cargos de relevo, incluindo o da Presidência da República. As mesmas que, com a sua superior luminosidade intelectual, conferida e reiterada pelo «socialismo democrático», continuam a acomodar e incensar o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, os dois Partidos que nos «consomem» um tempo precioso com as suas permanentes diatribes e a que a Comunicação Social acha imensa graça.
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sexta-feira, junho 28, 2013

Desokupados


[4917]

Um bando de «desokupas», termo que julgo apropriado para os que não têm mais com que se ocupar, resolveu bloquear o acesso à ponte sobre o Tejo, ali às Amoreiras. Eram cerca de duas centenas, não chegavam para encher um avião. A polícia veio, cercou-os, «desokupou» a via e identificou-os.

Até aqui, tudo muito bem, apesar do absurdo do bruaá que se verificou com o uso de imagens não editadas pela RTP (e que incluiu a demissão de um director de programas) e a impunidade com que a CGTP e o PC filmam e entregam as filmagens à pressurosa comunicação social, que se pela por estas coisas, sobretudo pertinho da hora dos noticiários. Mas o que choca, depois, é o ar apologético da polícia, perante as câmaras. Uma ladainha monocórdica, como que pedindo desculpa por ter cumprido a lei. Mais patético, só o violado sodomizado, pedindo desculpa por estar de costas.

Da parte dos «desokupados», as intervenções do costume. Que não retive porque eles (eles e elas, como agora se diz) mal sabem falar, são incapazes de usar uma frase completa, com sujeito, predicado e complemento directo. Apesar do seu ar, em geral, compostinho.
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Massa falida


[4916]

A Quadratura do Círculo está a tornar-se mais do mesmo da SIC, uma estação que começa a roçar a náusea. Mas registo uma brisa de bom senso, quando Daniel Bessa apresentou considerandos estimáveis sobre o conceito em que tem as greves, mais uma forma de dirimir conflitos laborais do que instrumentos de objectivos políticos. Mais adiante, referindo-se ao governo, achou que este era, no fundo, um administrador de massa falida e como tal deveria ser levado em conta.

Pacheco Pereira, com a sua recente compleição e António Costa, com a sua habitual inocuidade, «cilindraram» Daniel Bessa (termo do próprio) com uma argumentação estafada e repulsiva. O primeiro porque tinha obrigação de ser mais isento e objectivo, em vez de se perder em labirínticas vias de ódio pessoal. O último… já nem me lembro, tal o vazio do que diz na sua perpétua defesa do governo anterior e ataque ao governo que está.

Uma coisa, porém, ressalta. Neste programa, como na quase totalidade dos programas de análise política. Pegando no termo massa falida, o que repugna é a forma como toda a gente fala como se este governo, o que governa a massa falida, fosse o grande responsável pela angustiosa situação em que nos encontramos. O que ninguém parece lembrar-se, ou deliberadamente escamoteia, é quem é que faliu o país. E não se trata de ir buscar erros do passado, trata-se de «ordenar» um pouco as ideias para que, de preferência, nunca mais se deixe que um grupo de arrivistas ambiciosos, incompetentes e corruptos, mesmo que bonzinhos, o volte a fazer.
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quinta-feira, junho 27, 2013

De volta. Coisas más e coisas boas



[4915]

Nunca estive dezasseis dias sem escrever um post. «Inho» que fosse. Mas desta vez deu-me para aqui. Algumas vezes me sentei para escrever uma linha mas havia sempre uma força estranha a encarreirar-me para as teclas do costume. O que já cansa. Cedo, quiçá por preguiça, e faço uma súmula dos assuntos que mais me sensibilizaram, para o bem e para o mal, desde que saí da«oficina».

PATETICE.- A patetice é um fenómeno. Não é propriamente uma substância. Mas existe. Tal como a sarna, a caspa ou o pé-de-atleta. A diferença é que se para os últimos podemos usar um acaricida, um champô ou um fungicida, já a patetice não tem tratamento possível. A solução é ignorá-la, ao contrário do que faz a generalidade da nossa comunicação social que, pateticamente, dá guarida às patetices diárias de Mário Soares. As enormidades que produziu sobre Dilma e o Brasil ultrapassam tudo o que a paciência à patetice pode comportar.

SINDICATOS.- Alguém se lembrou de questionar quanto é que nos custam os sindicatos. Caiu o Carmo, a Trindade e deve ter caído mais coisas a gente que eu até leio com prazer e regularidade como Vasco Pulido Valente, que aproveitou para dar uma sova à rapaziada das «jotas». Melhor, aos «jotas» do PSD, já que bater no PSD é o desporto nacional corrente. Por entre tanta gente escandalizada fiquei, porém, por saber quando é que nos custa ter MILHARES de sindicalistas a viver do erário público. A isso parece-me que ninguém respondeu cabalmente. Apenas se zangaram imenso, não percebi foi bem porquê.

BRASIL.- É fácil escalpelizar agora a bolha que rebentou no Brasil. Difícil era fazê-lo antes, quando muita gente de boa fé atingia o Nirvana com Lula, Dilma e correlativos. Uma vez mais, para esta ínclitas criaturas, se estabeleceu uma raia bem nítida entre os corruptos maus, os «fassistas» de direita, e os corruptos bonzinhos, aqueles que se abotoam com umas massas mas são muito bons para os pobrezinhos e se interessam imenso pelo povo. Muito se escreveu sobre os acontecimentos no Brasil, curiosamente a esquerda inteligente «martelo-pilão» do FB não se manifestou muito. Por mim, esta crónica do FJV diz tudo. E bem.

PROFESSORES.- Tenho tantos amigos e familiares professores que me arrisco a levar um estalo. Mas não há como aceitar esta cada vez mais na mesma situação em que os nossos professores se mantêm, no quentinho e na zona de conforto, como se a nobreza da sua missão fosse diferente de outras profissões e merecesse, por isso, tratamento especial. Não é aceitável. O cume da repugnância, na parte que me toca, foi o boicote aos exames, sem qualquer respeito por alunos que para eles estudaram e se prepararam. A outra parte repulsiva é a facilidade com que a maioria (ao que parece) da classe se encosta a um comunistóide encartado (toda a diferença para um comunista convicto), com o ego do tamanho de um mamute da Sibéria e se entregue aos desígnios de gente como Mário Nogueira. Uma parte final, de preocupação, é a de que com professores assim, não sei que «tipo» de jovens «fabricamos» para entrarem nas universidades. Mas isso não se deve só aos professores obtusos que insistimos em ter e pagar.

SPORTING.- Estou mais animado. E mais não digo.

COISAS BOAS. – Sem dúvida o facto de eu poder voltar a correr, caminhar e entregar-me a esforços vários sem ter uma manápula a apertar-me o gasganete e a espetar-me um escopro nas artérias coronárias. Fica aqui uma palavra encomiástica para o nível de competência e humanismo do corpo médico e de enfermagem do Hospital de Santa Marta. A segunda coisa boa foi a estrondosa vitória de Michelle Larcher de Brito ontem, em Wimbledon, batendo a excelente russa. A menininha vive nos USA, mas tem raízes na A. do Sul (apesar de ter nascido em Lisboa) e tem um ADN da antiga Nova Lisboa. Por isso me deu uma particular alegria, a genica e a técnica daquela miúda. Quanto aos gritinhos… bom… cada qual grita pelo que gosta. E, vistas bem as coisas, tanto guinchava ela como a Maria!


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terça-feira, junho 11, 2013

Vou ali e já venho


[4914]

Mais uma revisão. Parece que  para limpeza do calo dos platinados. Ou um mero serviço de canalização. Nada que uma lima afinada ou um escovilhão e desentupidor não resolvam. Até já.
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Uma questão de dignidade


[4913]

Desde Abril deste ano que esta bandeira monumento flutua no topo da fortaleza de Luanda.

Pesem os vários aleijões de que padeça ainda a democracia neste país,  não deixa de ser confortante perceber o sentido de dignidade e simbologia que os angolanos prezam e de que este mastro e esta bandeira são um vivo exemplo.

Para um cidadão que se lembra ainda da cerimónia (!!!) pífia, decadente e vergonhosa que constituiu, há quase trinta e oito anos, o arrear da bandeira portuguesa, neste mesmo local, depois de cerca de quatrocentos anos de história de que nada temos que nos envergonhar, não há senão que manter em contenção um triste sentimento de penúria. Tanto mais quanto a simbologia em Portugal se vai convertendo cada vez mais num punhado de arruaceiros que correm o país a cantar a «Grândola» e a insultar os representantes das nossas instituições. Ou a caracterizar a toponímia de Lisboa com avenidas com o nome de Cunhal.
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terça-feira, junho 04, 2013

Back to basics




[4912]

De regresso à terrinha. Aos sindicatos. Aos sindicalistas. Às greves. Aos arruaceiros profissionais. Aos preguiçosos. Aos intelectuais de marmita. Aos noticiários idiotas e manipuladores. Ao Mário Nogueira (a propósito, vou de uma terra que precisa de professores como de pão para a boca e vai contratando professores oriundos de países onde não há idiotas vociferando que estão a dizer aos portugueses para se pirarem, e andam realizados trabalhando com afinco e ganhando bom dinheiro). Ao Arménio. Às manifestações que andam em maré de poucochinho, a penúltima porque estava frio e a última porque estava calor, eu seja ceguinho... eu li!). Às patetices de Soares e ao seu séquito de jacobinos. Ao Seguro que, coitado, até parece um rapaz sério mas não sabe para onde se virar. Aos espasmos telúricos da Constança Cunha e Sá. Ao professor Marcelo que inventou a expressão «bastante inútil» (eu, a ele, patenteava a coisa), referindo-se ao ministro das finanças. Ao «Eixo do Mal» para ouvir «desvairo» em pedromarqueslopês. Ao reino do absurdo, enfim. Lá vou eu. Tão absurdo como o reino. Porque, aqui e ali,muitas vezes penso o que é que ando por ali a fazer.
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domingo, junho 02, 2013

Refrigerio da alma

[4911]

Uma achega de serviço público, em transcrição literal em baixo, pelo Alberto Gonçalves no DN, pela «crapulice» corrente, pelo sórdido ambiente em uso na paróquia e pela já insuportável arrogância do califado socialista, que lhe deu para se reunir com o propósito de derrubar este governo, contando com a tribo de neo-socialistas (também posso ajuntar «neos» a conceitos diversos do liberalismo, posso?) avulso, jovens Raquéis e reciclados Pachecos.


Com o pretexto explícito de libertar Portugal da austeridade e o pretexto implícito de demitir o Governo, Mário Soares reuniu na Aula Magna o tipo de gente que hoje consegue reunir: socialistas do calibre de Ferro Rodrigues, comunistas do PCP e do Bloco, o redimido poeta Manuel Alegre e, através de mensagem escrita, Pacheco Pereira a título de pechisbeque dissidente.
Deve ter sido um espectáculo gracioso. O dr. Soares recuperou a tese do regicídio e, dando voz a um eleitorado que não lhe liga nenhuma, ameaçou Cavaco Silva com a violência popular caso não enxote depressa o dr. Passos Coelho. As menções ao presidente da República suscitaram gritos de "Palhaço!" na audiência. Uma senhora do Bloco declarou-se pronta para integrar a "convergência de esquerda" mal esta comece a mandar. Um deputado do PCP exigiu a devolução do que foi roubado. Cantou-se em coro a Grândola, vila morena. Queriam mais?
Queriam, com certeza. Um académico, por exemplo. A intervenção que emocionou a noite coube ao reitor da Universidade de Lisboa, um tal Sampaio da Nóvoa. O dr. Nóvoa parece carenciado em matéria de ligações à realidade, mas pródigo em lirismo. Sempre sob intensos aplausos, explicou que "Agora é preciso construir caminhos". E que "Um encontro [das esquerdas] pode decidir uma vida". E que "Não podemos perder a Pátria nem por silêncio nem por renúncia". E que "Abril abriu-nos à vida". E que "Sentimos este desespero de quem está a morrer na praia às mãos de visões curtas, estreitas e desumanas". E que "Podemos falar, podemos conversar e agir em conjunto". E que "É preciso renovar a política".
Convém notar que a reitoria da UL continua a primar pela excelência intelectual: a verborreia do dr. Nóvoa mantém os níveis estabelecidos por José Barata Moura, autor de Joana, come a papa. Convém notar ainda que a única esquerda assumida capaz de chegar ao poder esquivou-se, horrorizada, à demonstração de arrogância antidemocrática levada a cabo pelos diletantes da Aula Magna: até António José Seguro percebe que, a existir um dia, a sua legitimação nunca advirá da vontade de uma clique privilegiada e caduca que brinca, felizmente sem consequências, a decidir quem manda à revelia dos cidadãos. Não sei se António José Seguro percebe que, pelas comparações que suscitam, brincadeiras assim constituem uma rara justificação para a sobrevivência de um Governo em frangalhos.
À mesma hora, não muito longe do encontro salva-vidas, a direcção do Benfica jantava no Estádio da Luz com um grupo de deputados benfiquistas, lóbi que presumo informal. Os nossos políticos oscilam entre a ancestral promiscuidade com o futebol e uma intermitente promiscuidade com a demência.
Domingo, 26 de Maio
Direito ao trabalho, dever do ócio
É escusado lembrar a história, não é? Numa edição recente do Prós e Contras, uma alegada professora universitária interrompeu o proprietário de 16 anos de um alegado sucesso comercial no sector dos têxteis para o interrogar sobre as condições dos trabalhadores chineses que fabricam as roupas que o rapaz, Martim Neves, vende. O rapaz esclareceu que as roupas são feitas em Portugal. A alegada professora saltou para o ataque à pequenez do nosso salário mínimo. O rapaz opinou que o salário mínimo é preferível ao desemprego. A alegada professora calou-se. Nos dias seguintes, os amigos e camaradas da alegada professora não se calaram.
Nas profundezas da internet, ociosos diversos recorreram a extraordinários argumentos para concluir que o negócio em causa é repugnante. Um dos argumentos, digamos, é o de que Martim Neves é, ou parece ser, um "menino da Linha" (do Estoril, presumo, e não da cocaína), logo um filho de privilegiados que beneficiou de ajuda paterna para realizar os seus sonhos empresariais. Não importa se isto é ou não verdade. Importa que para a esquerda a descendência da classe média ou média-alta está impedida à partida de trabalhar, excepto, claro, se se considerar trabalho ensinar insanidades na universidade, promover acções de protesto e verter ódio às próprias origens no Facebook ou em programas televisivos. Por motivos óbvios, a descendência das classes baixas também é desaconselhada a meter-se em trabalhos.
Trata-se da velha questão da igualdade de oportunidades: enquanto não existir em absoluto, ninguém deve mexer uma palha, uns porque estariam a aproveitar-se de vantagens injustas, os outros porque estariam a submeter-se ao jugo capitalista. Num sistema devotado às mais-valias, mais vale estar quieto. Para os militantes anti-Martim, o desemprego, sobretudo quando não os afecta directamente, é de facto preferível ao salário mínimo. E ao salário médio, que por cá é inegavelmente pequenino. E ao salário elevado, que como se sabe é típico de exploradores e - venha de lá a fatal palavra - "fascistas". O ideal é salário nenhum, já que além de evitar discriminações de berço alimenta a insatisfação popular necessária às revoluções e, consumadas estas, inaugura a sociedade perfeita. Isto na perspectiva do hospício.
No mundo real, os inúmeros defeitos do capitalismo são inegavelmente melhores para as pessoas do que as virtudes do igualitarismo. No primeiro caso, muitos arriscam a pobreza. No segundo, quase todos garantem a miséria - salvo pela nomenclatura de esclarecidos empenhada em provar que a fome sob os regimes comunistas constitui um triunfo moral sobre as dificuldades em pagar o Visa. Que, no Portugal de 2013, semelhante evidência ainda passe por polémica não abona em favor da "esperança" que as boas consciências gostam de convocar: a cegueira dedicada ao passado não é alheia ao presente nebuloso que temos e ao futuro radioso que não teremos. Pobre, mesmo que rico, Martim Neves.
Terça-feira, 28 de Maio
Com os azeites
Somos um país atrasado? Depende: há assuntos fulcrais nos quais estamos adiantadíssimos. A co-adopção por casais do mesmo sexo e os galheteiros, por exemplo. No último caso, a Comissão Europeia propôs recentemente a obrigatoriedade do uso de embalagens invioláveis de azeite nos restaurantes de todos os Estados membros. Logo de seguida, ouviu os resmungos destes e retirou discretamente a proposta. Portugal, que desde 2006 iniciou esse indispensável passo rumo à modernidade, continua portanto a ser um dos raros lugares do continente onde a selvajaria do azeite despejado em garrafinhas abertas não tem hipóteses.
Segundo o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, que ninguém percebia bem para que serve e afinal serve para coisas assim, o progressismo indígena na matéria não cederá às hesitações de Bruxelas. Galheteiros? Não, obrigado, mandamento que em vez de protestos suscitou, como é natural por cá, a apatia das massas e os aplausos da Confederação dos Agricultores de Portugal e de uma Casa do Azeite. O argumento, ao contrário do que se poderia pensar, não é o da protecção do lucro, mas o da protecção do consumidor.
Curioso. Seria de esperar que em largos séculos de provas a população de uma das principais nações produtoras de (óptimo) azeite já fosse capaz de distinguir entre uma maravilha de Mirandela e uma mistela adulterada. Pelos vistos, não é capaz, as mistelas abundam, as vítimas das mistelas acumulam-se nas urgências hospitalares e, durante a vigência da lei, a ASAE multou 69 estabelecimentos que ousaram servir o tempero nos bárbaros galheteiros. Enquanto aguarda que o cabrito chegue por esventrar à mesa, o povo, indefeso e cândido, agradece. É costume: sempre que os tratam como retardados, os portugueses fazem vénias. E uma linda figura.
Aprender com o Outro
Enquanto o parlamento nigeriano aprova a criminalização da homossexualidade, um escritor egípcio lançou uma campanha no Twitter para convencer as mulheres a deixarem os empregos em lojas e locais públicos que uma lei recente lhes concedeu. O sr. Al-Dawood, segundo a imprensa autor de livros de autoajuda, está preocupado com o assédio sexual que as senhoras sofrerão no trabalho, pelo que incentiva o povo a molestá-las de uma vez. É o velho método de dar um tiro na cabeça para evitar sofrer de pneumonia anos depois. Infelizmente, o Ocidente fechou-se numa redoma materialista e descura o enriquecimento espiritual que sopra do islão. Felizmente, o islão preocupa-se com o Ocidente e, com crescente regularidade, procura também autoajudar-nos.
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sábado, junho 01, 2013

Que nem um limão azedo


[4910]

De vez em quando faz bem sair porta fora sem mesmo fechar a porta, a luz ou o portão da garagem. Faz bem sentir o ar de outras latitudes, mesmo que não isentas de problemas, mesmo que inquinadas de maleitas indesejáveis.

Desde Quarta-Feira passada que saí de Lisboa e não li uma linha de jornais portugueses ou vi um minuto de telejornais. E a vida rolou, tenho trabalhado o que tenho a trabalhar, encontrado quem devia encontrar e até socializado com quem devia socializar. Mas hoje, e depois de uma majestosa posta de garoupa fresca com batatinhas cozidas e umas couves cozidas ao ponto (ah! E sem virem a boiar na água da cozedura) num simpático restaurante da ilha de Luanda, vim descansar um pouco no quarto. E em má hora o fiz porque abri o televisor… estava sintonizado na RTP Internacional… e as notícias vinham em catadupa: afirmações idiotas e irresponsáveis de Mário Soares, a quem continuam a conceder um incompreensível tempo de antena, uma autêntica campanha de propaganda política do provedor de justiça, que se permitiu «judiciosas» considerações sobre a necessidade de derrubar este governo procedendo a novas eleições, mais umas notícias sobre o desemprego que atingiu novos recordes, com o esmiuçamento masoquista do número e natureza de desempregados, homens, mulheres, jovens licenciados, só faltou dizer quantos atacados com sinusite ou pé de atleta estavam desempregados. É aqui que mudo, em desespero, para a SIC, apenas para perceber que não sei quem se suicidou, certamente devido à crise, mais não sei quem bateu na mulher e mandou-a para o hospital, um homem aflitivamente atingido pelo desemprego e uma cadeia de notícias, que já nem recordo em pormenor, mas que batiam na tecla, mesmo que desgastada, da necessidade imperiosa do governo cair. Ainda me caiu no prato Cândida Almeida fazendo umas afirmações mais ou menos anódinas sobre a necessidade de a situação mudar. Passo aos blogues e vejo os suspeitos do costume a bater no ceguinho, como soe dizer-se, e o inesperado Pacheco Pereira, que agora deu em acordar todas as manhãs a explicar ao pagode que já Sá Carneiro dizia que o PSD não era a direita e a mandar uma missiva de respeitáveis cumprimentos a Mário Soares a propósito e uma reunião qualquer onde se quer descobrir uma esquerda qualquer, numa altura qualquer, mas que rapidamente deite abaixo este governo.

«Isto» é aflitivo, não me ocorre alguma vez em que os portugueses tenham demonstrado um tão vincado grau de morbidez ou de irresponsabilidade. Nem na guerra colonial, quando morria gente e Salazar nos mandava para Angola rapidamente e em força, me apercebi de tamanha inverosimilhança de lógica, aridez de ideias e perniciosa acção, muitas vezes objectiva e deliberada, sobre o futuro de Portugal e dos portugueses.

Por várias vezes me senti embaraçado quando confrontado com gente que vive fora do país, fazendo pela vida, arcando com as vicissitudes de quem se encontra deslocado e que me questionavam sobre a actual atitude dos portugueses. Mas, pior do que isso, tem sido este sentimento de raiva e frustração por me ver e sentir manejado pela mais vergonhosa colecção de crápulas que vão manipulando o destino do meu país e, consequentemente, dos meus e do dos meus filhos.

Quarta-Feira estarei de regresso. Espero que as séries da Fox estejam em pleno, que os filmes dos TVCine tenham melhorado um pouco e que o GP do Canadá não tenha sido cancelado ou adiado. Porque não consigo já ver televisão ou ler jornais. É mórbido, denota mentalidades obsessivas, incompetências e desonestidade intelectual. Não quero ver nem ler, não posso, não dá… isto vai acabar mal e, grave, muita gente sabe disso. E provavelmente é mesmo o que quer. FIM.

Estou cansado de me sentir o limão azedo em que me estou a tornar. E é preciso vir «cá fora» para nos apercebermos disso.
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