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Uma achega de serviço público, em transcrição literal em baixo, pelo Alberto Gonçalves no DN, pela «crapulice» corrente, pelo sórdido ambiente em uso na paróquia e pela já insuportável arrogância do califado socialista, que lhe deu para se reunir com o propósito de derrubar este governo, contando com a tribo de neo-socialistas (também posso ajuntar «neos» a conceitos diversos do liberalismo, posso?) avulso, jovens Raquéis e reciclados Pachecos.
Com o pretexto explícito de libertar Portugal da austeridade e o pretexto implícito de demitir o Governo, Mário Soares reuniu na Aula Magna o tipo de gente que hoje consegue reunir: socialistas do calibre de Ferro Rodrigues, comunistas do PCP e do Bloco, o redimido poeta Manuel Alegre e, através de mensagem escrita, Pacheco Pereira a título de pechisbeque dissidente.
Deve ter sido um espectáculo gracioso. O dr. Soares recuperou a tese do regicídio e, dando voz a um eleitorado que não lhe liga nenhuma, ameaçou Cavaco Silva com a violência popular caso não enxote depressa o dr. Passos Coelho. As menções ao presidente da República suscitaram gritos de "Palhaço!" na audiência. Uma senhora do Bloco declarou-se pronta para integrar a "convergência de esquerda" mal esta comece a mandar. Um deputado do PCP exigiu a devolução do que foi roubado. Cantou-se em coro a Grândola, vila morena. Queriam mais?
Queriam, com certeza. Um académico, por exemplo. A intervenção que emocionou a noite coube ao reitor da Universidade de Lisboa, um tal Sampaio da Nóvoa. O dr. Nóvoa parece carenciado em matéria de ligações à realidade, mas pródigo em lirismo. Sempre sob intensos aplausos, explicou que "Agora é preciso construir caminhos". E que "Um encontro [das esquerdas] pode decidir uma vida". E que "Não podemos perder a Pátria nem por silêncio nem por renúncia". E que "Abril abriu-nos à vida". E que "Sentimos este desespero de quem está a morrer na praia às mãos de visões curtas, estreitas e desumanas". E que "Podemos falar, podemos conversar e agir em conjunto". E que "É preciso renovar a política".
Convém notar que a reitoria da UL continua a primar pela excelência intelectual: a verborreia do dr. Nóvoa mantém os níveis estabelecidos por José Barata Moura, autor de Joana, come a papa. Convém notar ainda que a única esquerda assumida capaz de chegar ao poder esquivou-se, horrorizada, à demonstração de arrogância antidemocrática levada a cabo pelos diletantes da Aula Magna: até António José Seguro percebe que, a existir um dia, a sua legitimação nunca advirá da vontade de uma clique privilegiada e caduca que brinca, felizmente sem consequências, a decidir quem manda à revelia dos cidadãos. Não sei se António José Seguro percebe que, pelas comparações que suscitam, brincadeiras assim constituem uma rara justificação para a sobrevivência de um Governo em frangalhos.
À mesma hora, não muito longe do encontro salva-vidas, a direcção do Benfica jantava no Estádio da Luz com um grupo de deputados benfiquistas, lóbi que presumo informal. Os nossos políticos oscilam entre a ancestral promiscuidade com o futebol e uma intermitente promiscuidade com a demência.
Domingo, 26 de Maio
Direito ao trabalho, dever do ócio
É escusado lembrar a história, não é? Numa edição recente do Prós e Contras, uma alegada professora universitária interrompeu o proprietário de 16 anos de um alegado sucesso comercial no sector dos têxteis para o interrogar sobre as condições dos trabalhadores chineses que fabricam as roupas que o rapaz, Martim Neves, vende. O rapaz esclareceu que as roupas são feitas em Portugal. A alegada professora saltou para o ataque à pequenez do nosso salário mínimo. O rapaz opinou que o salário mínimo é preferível ao desemprego. A alegada professora calou-se. Nos dias seguintes, os amigos e camaradas da alegada professora não se calaram.
Nas profundezas da internet, ociosos diversos recorreram a extraordinários argumentos para concluir que o negócio em causa é repugnante. Um dos argumentos, digamos, é o de que Martim Neves é, ou parece ser, um "menino da Linha" (do Estoril, presumo, e não da cocaína), logo um filho de privilegiados que beneficiou de ajuda paterna para realizar os seus sonhos empresariais. Não importa se isto é ou não verdade. Importa que para a esquerda a descendência da classe média ou média-alta está impedida à partida de trabalhar, excepto, claro, se se considerar trabalho ensinar insanidades na universidade, promover acções de protesto e verter ódio às próprias origens no Facebook ou em programas televisivos. Por motivos óbvios, a descendência das classes baixas também é desaconselhada a meter-se em trabalhos.
Trata-se da velha questão da igualdade de oportunidades: enquanto não existir em absoluto, ninguém deve mexer uma palha, uns porque estariam a aproveitar-se de vantagens injustas, os outros porque estariam a submeter-se ao jugo capitalista. Num sistema devotado às mais-valias, mais vale estar quieto. Para os militantes anti-Martim, o desemprego, sobretudo quando não os afecta directamente, é de facto preferível ao salário mínimo. E ao salário médio, que por cá é inegavelmente pequenino. E ao salário elevado, que como se sabe é típico de exploradores e - venha de lá a fatal palavra - "fascistas". O ideal é salário nenhum, já que além de evitar discriminações de berço alimenta a insatisfação popular necessária às revoluções e, consumadas estas, inaugura a sociedade perfeita. Isto na perspectiva do hospício.
No mundo real, os inúmeros defeitos do capitalismo são inegavelmente melhores para as pessoas do que as virtudes do igualitarismo. No primeiro caso, muitos arriscam a pobreza. No segundo, quase todos garantem a miséria - salvo pela nomenclatura de esclarecidos empenhada em provar que a fome sob os regimes comunistas constitui um triunfo moral sobre as dificuldades em pagar o Visa. Que, no Portugal de 2013, semelhante evidência ainda passe por polémica não abona em favor da "esperança" que as boas consciências gostam de convocar: a cegueira dedicada ao passado não é alheia ao presente nebuloso que temos e ao futuro radioso que não teremos. Pobre, mesmo que rico, Martim Neves.
Terça-feira, 28 de Maio
Com os azeites
Somos um país atrasado? Depende: há assuntos fulcrais nos quais estamos adiantadíssimos. A co-adopção por casais do mesmo sexo e os galheteiros, por exemplo. No último caso, a Comissão Europeia propôs recentemente a obrigatoriedade do uso de embalagens invioláveis de azeite nos restaurantes de todos os Estados membros. Logo de seguida, ouviu os resmungos destes e retirou discretamente a proposta. Portugal, que desde 2006 iniciou esse indispensável passo rumo à modernidade, continua portanto a ser um dos raros lugares do continente onde a selvajaria do azeite despejado em garrafinhas abertas não tem hipóteses.
Segundo o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, que ninguém percebia bem para que serve e afinal serve para coisas assim, o progressismo indígena na matéria não cederá às hesitações de Bruxelas. Galheteiros? Não, obrigado, mandamento que em vez de protestos suscitou, como é natural por cá, a apatia das massas e os aplausos da Confederação dos Agricultores de Portugal e de uma Casa do Azeite. O argumento, ao contrário do que se poderia pensar, não é o da protecção do lucro, mas o da protecção do consumidor.
Curioso. Seria de esperar que em largos séculos de provas a população de uma das principais nações produtoras de (óptimo) azeite já fosse capaz de distinguir entre uma maravilha de Mirandela e uma mistela adulterada. Pelos vistos, não é capaz, as mistelas abundam, as vítimas das mistelas acumulam-se nas urgências hospitalares e, durante a vigência da lei, a ASAE multou 69 estabelecimentos que ousaram servir o tempero nos bárbaros galheteiros. Enquanto aguarda que o cabrito chegue por esventrar à mesa, o povo, indefeso e cândido, agradece. É costume: sempre que os tratam como retardados, os portugueses fazem vénias. E uma linda figura.
Aprender com o Outro
Enquanto o parlamento nigeriano aprova a criminalização da homossexualidade, um escritor egípcio lançou uma campanha no Twitter para convencer as mulheres a deixarem os empregos em lojas e locais públicos que uma lei recente lhes concedeu. O sr. Al-Dawood, segundo a imprensa autor de livros de autoajuda, está preocupado com o assédio sexual que as senhoras sofrerão no trabalho, pelo que incentiva o povo a molestá-las de uma vez. É o velho método de dar um tiro na cabeça para evitar sofrer de pneumonia anos depois. Infelizmente, o Ocidente fechou-se numa redoma materialista e descura o enriquecimento espiritual que sopra do islão. Felizmente, o islão preocupa-se com o Ocidente e, com crescente regularidade, procura também autoajudar-nos.
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