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Os portugueses são exímios na arte de falar bem o falar mal. Porque há coisas que relevam do nosso feitio em forma de assim e que nos leva a dizer mal aquilo que sabemos dizer bem. Um exemplo corrente é o helicóptero, cuja leitura atenta deveria corresponder a uma fonética adequada e correcta em vez do vulgar ilecóptero.
Por vezes, o erro gira à volta de pessoas com menos qualificações académicas mas mesmo essas são ordinariamente descuidadas e não reparam que se uma cliente de charcutaria pede duzentos gramas de fiambre, elas poderiam, pelo menos, reparar na diferença e pensar, antes de repetirem perguntando: - duzentas gramas? Mas, enfim, este é um caso menor, mesmo atendendo que conheço gente de cátedra que sabe que grama é masculino mas fá-lo feminino, porque dá mais jeito. Não é verdade, João? Sem link, por se ele ler isto sabe que é ele.
Hoje de manhã, a notícia era de que um bebé tinha saído do hospital com uma hemorragia no umbigo. Inevitavelmente, a repórter da RTP disse que o bebé saiu com uma grande hemorregia, como lhe competia, não fosse ela licenciada em comunicação social. O caricato da coisa foi a repórter entrevistar a mãe da criança, a mãe ter dito três ou quatro vezes hemorragia e a repórter continuava alegremente a dizer hemorregia, se a hemorregia era grande, se achava que a hemorregia era perigosa e se achava que a hemorregia se devia a erro médico. E a mãe lá ia dizendo que sim, a hemorragia era grande, a hemorragia era perigosa, a hemorragia isto e a hemorragia aquilo.
Pontos nos i’s e traços nos t’s. Eu jurava que a repórter sabe escrever hemorragia, mas por que carga de água tem que dizer hemorregia? Preguiça mental, descuido, desleixo, falta de rigor, enfim tudo o que caracteriza este bom povo português, lá diz Gaspar, e que, neste momento, está causando uma verdadeira hemorragia de cérebros por falta de condições de trabalho. Tenho a certeza que os hemorrégicos da paróquia passam a hemorrágicos, mal tenham necessidade de aprender a trabalhar, agir e actuar com rigor e eficiência.
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