...é tudo o que a nossa vista alcança!
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O meu país está triste e amargurado. Está, ainda, desconfiado, truculento e agressivo. Como é basicamente impreparado, nenhum daqueles estados de espírito é minimamente mitigado por uma desejável racionalidade para os tempos difíceis. Pelo contrário - os ânimos estão exacerbados e é pela contestação (frequentemente gratuita) que a eles se dá vazão.
Acontecimentos recentes comprovam isso mesmo. Desde o ataque a tiro a uma caravana de campanha autárquica, à turbulência e à sanha dos apaniguados de alguns clubes de futebol, passando pelo assassinato de um autarca que resolveu retirar as pedras que delimitavam o espaço de parqueamento do homicida. Para não falar na onda de constestação patética que grassa um pouco por todo o país.
A crise, impreparação e o mau feitio, porém, não explicam tudo. Escamotear a irresponsabilidade da generalidade dos nossos agentes políticos na forma como objectivamente contribuíram para esta situação será sempre um mau serviço à verdade e a nós próprios enquanto sociedade. Eles cultivaram o laxismo, a mentira, a irresponsabilidade, a benesse, o arranjinho, nutriram o caciquismo e exploraram a iliteracia e a ignorância dos simples. Distribuíram prebendas e promessas irrealizáveis, promoveram e engordaram privilégios e fecharam Portugal à dinâmica gerada na Europa a que passámos a pertencer, através de um discurso retrógrado, bafiento, supostamente solidário e mentiroso.
Agora já não há revoluções, golpes de estado, salvadores da Pátria, cravos nas espingardas e amigos a cada esquina. Há, sim, uma situação que reputo de gravíssima e perigosa, ao ponto de se poder vir a questionar a verdadeira dimensão e aptidão de Portugal no seio de um conjunto de nações que partilham o espaço europeu. Tal como não acredito em soluções unipessoais ou sebastiânicas que possam reconduzir este país a uma trajectória de progresso e credibilidade internacional.
Tenho dois filhos fora e uma ainda cá dentro que, sem que eu a influencie minimamente para isso, se dispõe a rumar ao estrangeiro assim que acabar a faculdade. E eu não mexerei uma palha para a contrariar...
6 Comments:
Eu também optei por sair do país. Não sei se fiz bem ou mal, sei somente que é agora uma escolha sem retorno. Por vezes sinto saudades, por vezes sinto-me só mas posts como este teu fazem-me ver a justeza da minha escolha.
Beijos
Se todos abandonarmos o País, quem é que perde?
Os que saem, perderão um País, os que ficam, restar-lhes-á servir de comida para os abutres que continuarão a engordar, porque os que lhe poderão fazer frente irão ser cada vez menos.
...fiquei amargurada ... como canta Ney Matogrosso "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
Mas acho que vou arriscar pois não quero "perder um País"...
Pitucha
Estas coisas não são a papel químico...
Mas o desencanto actual é tão grande que acabo por perceber a miúda. E se ela estiver bem... eu estarei bem também!
Teófilo m.
Confesso que perdi espírito de missão. E em se tratando de filhos, desde que eles estejam bem, eu estarei bem...
Xana
É isso mesmo que dizes...
:))
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