quinta-feira, agosto 26, 2004

Já me rrrrio, carrrrraças

Hoje cheguei ao escritório bem disposto. Começo a verificar que as tripas se revoltam menos com os dislates que oiço todos os dias há anos. O que ouvi hoje no noticiário das 10 da manhã da TSF foi uma autêntica terapia de fígado e um bálsamo para os neurónios. É que dou comigo a rir com o que oiço, ao contrário de há alguns tempos atrás, em que coisas como as que ouvi hoje me davam direito, no mínimo, a dois konpensans, três cigarros furiosamente esmagados no cinzeiro e um palavrão (ou mais) a ecoar no sótão das ideias. Verifico, contente que nem um puto a quem a namorada disse que lhe dava um beijinho, que rio, o que é um assinalável progresso. Mas contemos: - A locutora de serviço (bem conhecida e que compete dignamente com Francisco Louçã naqueles tais “erres” tipo motorizada, se bem que esta senhora é mais tipo Zundapp, Louça é mais português, Famel Foguete) anunciou que “... Leonorrrrrrrrrrrr Coutinho, ex-secrrrrrrrrrrrrretárrrrrrrrrria de Estado de Habitação do goverrrrrrrrno de Guterrrrrrrrrrrrres disse à TSF que o prrrrrrrrrojecto de lei do arrrrrrendamento errrrrrrra uma “não lei” porrrrrrrrque...” e debitou umas quantas banalidades que a senhora terá dito a propósito. Ora, independentemente da bondade da lei em questão, do que me lembro de Leonor Coutinho é que era uma senhora com um nariz grande e que tinha um namorado a quem emprestava o BMW preto do estado para o piqueno dar umas voltas enquanto ela se ocupava a não fazer leis de arrendamento coisa nenhuma (este “coisa nenhuma” é benévolo, ia-me a saír “porra nehuma”, mas contive-me). Não me lembro de mais nada que ela tenha feito e o que me ficou foi um par de reportagens sobre o tal namorado que gostava de BMW. Tive de me rir, claro. Por que carga de água teria de ser Leonor Coutinho a dar o douto parecer sobre este projecto de lei do actual governo? Já agora, porque não me pediram a mim uma opinião sobre a lei? Não vendo? Mas olhem que eu era capaz de arranjar um currículozinho jeitoso. Tambem já emprestei carro a namoradas do estado (os carros, não as namoradas), há muito tempo atrás, não era bem um BMW, era um Land Rover e foi em condições especiais que não vêm ao caso, mas que emprestei, emprestei. Eu sei que nunca fiz nenhum projecto de lei de arrendamento, mas Leonor Coutinho, tambem não. Por isso, porque não eu? Mas a coisa não parou aqui. Logo na peça seguinte (acho que é assim que se diz), fico a saber que Vítor Baía ia receber um prémio no Mónaco, como o melhor guarda-redes europeu de 2003/2004 e que o enviado especial lhe ia fazer uma pergunta. E a pergunta era... um doce a quem adivinhar... “...Vítor Baía, como se sente por ter sido considerado o melhor guarda-redes europeu?...”. Excitei-me... fui invadido por uma orgásmica sensação e pensei: - É agora. É agora que Vítor Baía vai dizer que “...olhe, uma chatice, estou profundamente triste com a situação, esta coisa de ser o melhor guarda-redes europeu alem de ser uma seca tremenda vai prejudicar o meu propósito de low profile que assumi desde que Scolari achou que o Ricardo e o Quim eram melhores, e depois é uma trabalheira, sabe... a cerimónia, a medalha, o discurso, mas enfim, nem sempre as coisas nos correm como queremos e lá terei que ir receber o prémio...” Desilusão – Vítor Baía afinal só disse que estava muito feliz, que era uma honra para ele e para o futebol português e... o resto passou-me.
Já não ouvi bem o resto do noticiário... a senhora continuava a acelerar os erres e a fazer-me mesmo virar a cabeça com medo duma ultrapassagem ousada duma motorizada mais acelera numa altura em que me pareceu depois ela ter dito “rrrrrrrrrrrrrregrrrrrrrrrrrrressarrrrrrrrr”. Louçã... cuida-te. Ahhh, esta locutora é a tal que anda pelo menos há seis anos a dizer “ilecópterrrrrro”. E ainda não houve um chefe, um director ou mesmo uma mulher da limpeza, em seis anos, que lhe dissesse que “ilecóptero” se diz helicóptero. Já acabei de rir e o telefone já vai tocando furiosamente. Vou trabalhar...