terça-feira, agosto 03, 2004

When Harry met Sally

Lisboa transforma-se num meeting point de eleição. Harry e Sally, clonados em milhares de lisboetas, vagueiam por aí e contribuem decisivamente para a saúde económica de hotéis com mais ou menos estrelas, que acolhem os sonhos, a alegria e as ilusões que Bob Reiner consubstanciou, de forma deliciosa, através dos não menos deklciosos Billy Crystal e Meg Ryan há uns bons anos atrás num deivertido filme... mas existem algumas diferenças. Harry e Sally mantêm-se inalterados na essência do que querem, do que quereriam, da ilusão do amor, do prazer, do bem estar, do carinho, do colo e da confidência. Mas há diferenças. Não há Harry que se não canse nem Sally que não descanse. O ritmo vertiginoso dos dias, a corrida fugaz dos momentos oníricos contribuem para uma desmistificação deles próprios, naquilo em que eles pensam se mantém comno fermento da massa de que são feitos. Hoje, Harry meets Sally de fugida, em regime clandestino e a termo certo. Nada altera a sua forma de relacionamento, que mais não faz que mitigar o vazio, o enfado e o fastio de relações esgotadas frustres e sem sentido. E por algum tempo, apenas. Piorque quando Harry persiste na militância de um encontro amoroso que não devia ultrapassar o regime de uma vivência a tracejado, já Sally se empertiga e receia pela defesa de direitos adquiridos. Porque quando Sally se entusiasma e pensa que Harry é "the Harry", já este se recolhe na concha protectora da desconfiança ou do receio de (re) penetrar em regimes institucionais de má memória. Bem vão as coisas quando Harry e Sally permanecem imutáveis na sua idiossincrasia de formas e de formatos e se entregam à volúptia de um amor só possível nas horas livres duma vida presa por cometimentos não desejados. A questão é que quando as coisas vão bem por isso mesmo, pela imutabilidade de gestos e de atitudes, começam a ir tão bem que Harry se sente Harry e Sally cada vez mais Sally. E o resultado, inevitavelmente, remete para a repetição do vazio das relações frustres. Que fazer? Talvez... pois, tal qual como cantava Pedro Abrunhosa. "Isso" e nada mais que isso, ainda que aqui e ali com o colorido de um gesto brejeiro, dum diálogo carinhoso, duma ponta de humor. Mas nada mais do que "isso". Os Harrys e as Sallys já não são o que eram, quando Bob Reiner se lembrou deles...

1 Comments:

At 5:41 da tarde, Blogger GPC disse...

UM AMOR INEVITÁVEL

(Estas instituições - como a que dá estes títulos aos filmes - que não têm um só apoiante mas que atravessam incólumes e serenas o passar das décadas, são um mistério, não são?)

 

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