Tenho estado a trabalhar e a ouvir em ruído de fundo um
comentário da actualidade feito pela actriz Maria do Céu Guerra. No miolo de
tal comentário subjaz algumas das razões que justificam o nosso atraso e o
ambiente conflitual em que todos vivemos. Quando uma actriz de reconhecido mérito
e cultura afirma que o mundo está complicado porque a culpa dos acontecimentos
na Ucrânia é dos poderosos, a primavera árabe surgiu porque os árabes
conseguiram libertar-se dos carniceiros que os governavam mas os poderosos
também não sei quê não sei quantas… e em África… e os poderosos… e na América latina…
os poderosos, embora (este embora é importante no contexto e demonstra bem o grau de
entendimento da senhora) a Venezuela seja uma excepção, porque Chávez sabia
muito bem o que queria, mas este actual presidente, o Maduro, está um pouco…
imaturo, mas os poderosos… enfim, uma cantata de poderosos e , nem por isso, a
sonata conduzida pela pivot se opôs muito no concerto porque se complementavam, nunca se opondo. A actriz também falou muito do nosso país, isto está podre e
perigoso… veja bem o que aconteceu agora ao banqueiro Jardim Gonçalves que a
justiça deixou escapar.
De resto este escapar, logrou fugir e outras expressões
semelhantes são frequentes hoje na nossa já insuportável media. Aquela velha
corrente da presunção de inocência até a condenação transitar em julgado, bem
assim como a ilegalidade de provas (ocorre-me, assim de repente, as gravações
de Sócrates e Pinto da Costa, apenas para falar em pormenores) aplica-se apenas
aos presumíveis criminosos bons, porque aos maus, como Jardim Gonçalves não é aplicável.
O homem devia ser preso e, quem sabe, aproveitando até alguns daqueles polícias
que telefonam para a SIC dizendo que é preciso começar a matar por aí,
apedrejá-lo, castrá-lo e dar o dinheiro dele aos pobrezinhos. E isto não dando
sequer confiança à ligeireza com que alguns jornais misturam habilmente
condenações com contra-ordenações do Banco de Portugal. Enfim, a miséria da vergonhosa
comunicação social que temos.
A propósito de Jardim Gonçalves, ler aqui. E aqui. Vale a
pena.
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Etiquetas: brincar com coisas sérias, chique comunista, sociedade