Home sweet home
Uma pessoa anda circunstancialmente retirada da intriga política
paroquial, regressa a casa e esbarra num círculo para o qual não há quadratura
que chegue. Ainda que o quadrado tente avidamente uma geometria impossível,
percorrendo os círculos possíveis que, apesar de possíveis, acabam sempre por
não ter arestas, vértices e por ter os 360 graus que lhes caíram em sorte.
E foi embrenhado nesses círculos que voltei, com algum
deleite, a ouvir a argumentação de Pacheco Pereira, hoje resumida a pouco mais
que a imagem de um garoto a quem lhe roubaram o arco. E ela continha um novo
conceito filosófico que vou gravar a ouro na minha memorabilia televisiva: - A
realidade é um fenómeno meramente interpretativo, disse Pacheco Pereira. Em
português de pastelaria às nove da manhã a coisa significa que eu empresto
quinhentos euros a um amigo e ele depois interpreta essa dívida da forma que
achar mais conveniente, em nome da tagarelice do costume à volta da dignidade,
da fome, das penhoras e do mais que os sábios da paróquia usam e abusam para
envergonhar uma direita que só acredita em mercados.
Houve mais, houve outras tiradas de estirpe, tudo à volta das linhas programáticas de um exercício que não é programa, muito menos a Bíblia,
em que Centeno, Galamba e comandita emitem as epístolas, mesmo não sendo os apóstolos.
Mas o que me ficou gravado foi mesmo a realidade levada à potência de fenómeno
interpretável, longe da figura imutável do espectro político que a actual
maioria nos proporcionou com o cortejo de constrangimentos que se conhece, com
o aval da tróica versão António Costa, qual seja a formada por Passos Coelho,
Portas e Cavaco. O que realmente me tolhe a paciência é não haver alguém que
peça a Pacheco Pereira, desejavelmente até o moderador do programa, que «se explique» e que
interprete a realidade lá à maneira dele para nós percebermos bem o que ele
pretende. Ou, quem sabe desvende o segredo de Polichinelo que ele parece ter
engasgado e que, por razões que me escapam, ele não consegue consubstanciar e
detalhe, por fim, a unidade dos contrários de Polichinelo que ele parece
defender com uma reserva assaz irritante, todavia teoricamente aceitável e própria dos eleitos.
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Etiquetas: a mim já nada me espanta, comentaristas, Pacheco Pereira, Quadratura do Círculo
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