Julgava que só vinham de avião
Há uns meses atrás, Guterres “o bonzinho” soltou um dos seus
inconfundíveis «sound bytes», afirmando que não havia terroristas entre os
refugiados. Porque os terroristas deslocam-se de avião, disse ele. O «politicamente
correcto» paroquial exultou com o impacto desta sábia asserção do antigo
primeiro-ministro, ao mesmo tempo que fazia juízos de valor sobre quem quer que
fosse que não pensasse assim. Só poderiam ser «direitolas», xenófobos,
extremados políticos e, no fim das contas, uns boçais empedernidos naquela
ignorância atávica herdada dos hediondos regimes da direita trauliteira.
O tempo passava e o pessoal engajado na esteira deixada por
Guterres desdobrava-se em acções múltiplas a favor dos refugiados, enquanto a comunicação
social ia acompanhando a sinfonia, salpicando-a com fotos de crianças afogadas,
barcaças viradas no mediterrâneo e a xenofobia espumante dos húngaros, dos
austríacos, polacos e mais uns quantos.
Entretanto, até o nosso sorridente Costa se armou em agente
de viagens e foi por essa Europa fora tentando angariar emigrantes os quais, diga-se
de passagem, não se mostravam muito excitados com a ideia. Alguns deles deram
mesmo às de Vila Diogo, depois de serem instalados melhor que os nossos atletas
olímpicos no Rio de Janeiro.
As bombas começaram, neste ínterim, a rebentar, as facas,
catanadas, tiros e atropelamentos passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia e
mesmo com uma parte da nossa comunicação social totalmente estupidificada e em
desenfreada diagnose do fenómeno, a triste realidade acabou inevitavelmente por
vir ao de cima e até Merkel o admite. Os nossos D. Quixotes também se calaram e
hoje é como se nunca tivessem dito nada. Ficam calados que nem ratos desconfiados
da estricnina e é como se não fosse nada com eles. Sobrevivem uns quantos
comentadores televisivos mantendo um extraordinário poder de diagnóstico e que
continuam a avisar o pessoal de que não podemos ter medo, porque ter medo é dar
razão aos terroristas e, sobretudo, não devemos embarcar na opinião fácil de
que todos estes actos são terroristas, não vá a gente mudar para estados
securitários. Muitos deles provêm de razões diferentes, presume-se que da
malévola extrema-direita.
Em nome dos infelizes que morrem continuamente, esta gente
devia estar calada. Isto inclui Guterres que, já homenzinho, continua a pensar
que estas coisas se resolvem ouvindo Vangelis e mandando umas bocas, isto para
não «partir as fuças à direita», como ele costumava dizer enquanto se ia
entretendo a tornar este país no pântano de que fugiu.
Uma nota para os infelizes refugiados, aqueles mesmo a
sério, que fogem da fome e da guerra. Esses acabarão por conseguir um tecto, pão
e escola e hospitais para os filhos. E esses, sim, têm de ser ajudados.
Dispensavam era os florilégios guterristas e afins que só acabam por prejudicá-los
na busca da segurança das suas famílias. Só atrapalham.
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