terça-feira, julho 26, 2016

Julgava que só vinham de avião



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Há uns meses atrás, Guterres “o bonzinho” soltou um dos seus inconfundíveis «sound bytes», afirmando que não havia terroristas entre os refugiados. Porque os terroristas deslocam-se de avião, disse ele. O «politicamente correcto» paroquial exultou com o impacto desta sábia asserção do antigo primeiro-ministro, ao mesmo tempo que fazia juízos de valor sobre quem quer que fosse que não pensasse assim. Só poderiam ser «direitolas», xenófobos, extremados políticos e, no fim das contas, uns boçais empedernidos naquela ignorância atávica herdada dos hediondos regimes da direita trauliteira.

O tempo passava e o pessoal engajado na esteira deixada por Guterres desdobrava-se em acções múltiplas a favor dos refugiados, enquanto a comunicação social ia acompanhando a sinfonia, salpicando-a com fotos de crianças afogadas, barcaças viradas no mediterrâneo e a xenofobia espumante dos húngaros, dos austríacos, polacos e mais uns quantos.

Entretanto, até o nosso sorridente Costa se armou em agente de viagens e foi por essa Europa fora tentando angariar emigrantes os quais, diga-se de passagem, não se mostravam muito excitados com a ideia. Alguns deles deram mesmo às de Vila Diogo, depois de serem instalados melhor que os nossos atletas olímpicos no Rio de Janeiro.

As bombas começaram, neste ínterim, a rebentar, as facas, catanadas, tiros e atropelamentos passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia e mesmo com uma parte da nossa comunicação social totalmente estupidificada e em desenfreada diagnose do fenómeno, a triste realidade acabou inevitavelmente por vir ao de cima e até Merkel o admite. Os nossos D. Quixotes também se calaram e hoje é como se nunca tivessem dito nada. Ficam calados que nem ratos desconfiados da estricnina e é como se não fosse nada com eles. Sobrevivem uns quantos comentadores televisivos mantendo um extraordinário poder de diagnóstico e que continuam a avisar o pessoal de que não podemos ter medo, porque ter medo é dar razão aos terroristas e, sobretudo, não devemos embarcar na opinião fácil de que todos estes actos são terroristas, não vá a gente mudar para estados securitários. Muitos deles provêm de razões diferentes, presume-se que da malévola extrema-direita.

Em nome dos infelizes que morrem continuamente, esta gente devia estar calada. Isto inclui Guterres que, já homenzinho, continua a pensar que estas coisas se resolvem ouvindo Vangelis e mandando umas bocas, isto para não «partir as fuças à direita», como ele costumava dizer enquanto se ia entretendo a tornar este país no pântano de que fugiu.

Uma nota para os infelizes refugiados, aqueles mesmo a sério, que fogem da fome e da guerra. Esses acabarão por conseguir um tecto, pão e escola e hospitais para os filhos. E esses, sim, têm de ser ajudados. Dispensavam era os florilégios guterristas e afins que só acabam por prejudicá-los na busca da segurança das suas famílias. Só atrapalham.


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quarta-feira, janeiro 06, 2016

Guterrar outra vez


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Este homem, hoje por hoje, é um dos principais artífices do destrambelhamento do nosso país, como é do conhecimento geral. Desde o dia em que alegremente debitava discursatas hiperbólicas de êxito assegurado durante a campanha eleitoral, intervaladas pelo trauteio de Vangelis entre as suas deslocações, até ao dia de juízo final em que, com ar grave (mas acusatório) fugiu da vida política, acusando o país de se encontrar no pântano que ele próprio nutriu.

Agora, liberto das suas funções profissionais, resolveu regressar às origens, começando por fazer estrondosas acusações à Europa de falta de solidariedade para com os refugiados. Não lhe passa pela cabeça acusar seja quem for, quiçá os verdadeiros causadores de toda esta tragédia, mas sim uma Europa quase exaurida de recursos (e de paciência) perante a magnitude do êxodo. Só em 2015, entraram cerca de um milhão de refugiados que a Europa, com os recursos disponíveis e manejando diferenças naturais de posicionamento político numa manta de mais de uma vintena de retalhos, foi absorvendo. Apesar de tudo, entenda-se os trágicos acontecimentos de percurso. Este, noticiado ontem, acaba por ser pequeno, se comparado com contínuos assassinatos e comportamentos inadmissíveis que a falta de solidariedade europeia não conseguiu acomodar satisfatoriamente. Paralelamente, a Europa teve de aguentar ainda o percurso viral do politicamente correcto, onde nem o Papa faltou com algumas diatribes e em que qualquer gesto recriminatório contrário á torrente politicamente correcta era de imediato considerado fascista, chauvinista, xenófobo, racista e o mais que fosse apropriado.

Faltava agora Guterres acusar a Europa, alto e bom som. Esta oratória já cansa e chega a nausear os mais resistentes. A Europa não só tem sido solidária, mau grado as dificuldades próprias de uma inusitada situação, como continua a ser o destino preferido de hordas de migrantes, uns trágica e genuinamente vítimas de regimes sanguinários, outros, com clareza, aproveitando a corrente para, com a maior desfaçatez, dar continuidade a este degradante processo dos valores que nos levou décadas a estabelecer. E fazem-no por estratégia ou meramente por ódio. 

E Guterres… que vá chatear o Camões. Ou que concorra a outro cargo qualquer na ONU. Por cá, tirando um ou outro crédulo (já cheguei a ler por aí que depois do que ele disse, apesar de beato até votavam nele para presidente), estamos cansados de guterrices.


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terça-feira, setembro 15, 2015

As papas e os bolos


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Desde que Guterres declarou que não se recandidataria a Alto-Comissário para os Refugiados, aparece nas nossas televisões à cadência de uma torneira de lavatório pingando por defeito da válvula.

O homem fala a todo o momento. É fluente em português, inglês e francês. E diz sempre mal das decisões e atitude da União Europeia. Ou seja, diz o que convém, ele sabe bem o que a casa gasta, só precisa de abrir o menu e o impacto está criado para a candidatura à nossa PR, que ele deve andar com saudades do cozido.

E eu já não sei o que me irrita mais. Se ouvi-lo ou se exprobar mentalmente a atitude da nossa comunicação social. Como sempre, actua por impulsos e ao gosto do freguês.


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terça-feira, setembro 08, 2015

A culpa é dos acontecimentos


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Estava Guterres posto em sossego, tratando dos refugiados e nós por aqui confortavelmente esquecidos do pântano, das paixões socialistas, de Vangelis e da melena. Mas eis que, de repente, soam as sirenes. O homem não se recandidata ao lugar que ocupa e quanto a candidatar-se a Secretário-Geral das NU… logo se vê, de resto uma atitude muito dele, com os resultados que se conhece e nos deixou de herança.

E foi o rastilho para que a nossa diligente comunicação social passasse, de há uns dias para cá, a dar notícias diárias sobre o homem. Em jornais e na televisão, estamos de novo soterrados em Guterres. Passámos a ter ração diária, em várias tomas ao dia. São opiniões, são críticas à Europa, é a torrente de vacuidades politicamente correctas em que a criatura é exímia. E em francês e inglês que é para nós não nos esquecermos como ele é, reconhecidamente, fluente.

Enfim, nada de novo na frente ocidental, a campanha começou. O andor saiu do adro mais ou menos esbatido em que ele se encontrava e a comunicação vai levá-lo às cavalitas até à campanha para a presidência.

Entretanto, não vá a gente esquecer-se como era, Guterres aumentou a intensidade do disparate. O último, que eu saiba, é que no «swarm» (thanks Cameron) de migrantes que entram na Europa diariamente não há terroristas. Porque os terroristas vêm de avião, não iam agora arriscar a vida em barcos perigosos. Esta é de cabo de esquadra. Mesmo falando bem e trauteando Vangelis.

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quarta-feira, abril 29, 2015

Resultados do «depois logo se vê»


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Estamos a horas de uma das mais devastadoras greves que nos trará (já está a trazer) uma monstruosa perda de muitos milhões de euros. Para além desta perda directa, há indícios de que os portugueses procuram nas agências de viagens transportadoras aéreas como opção às caravelas portuguesas com asas, cansados de tanta confusão e desconfiados do que possa vir a seguir.

A minha reflexão vai no sentido de que se em 1999 em vez do sorridente e do «depois logo se vê» Guterres e do moralista pedagogo Cravinho tivessem sido, por exemplo, Passos Coelho a estar no Governo e Portas a negociar o acordo com os pilotos, as nossas folgazãs repórteres de directos e os nossos concisos comentaristas/tudólogos/paineleiros não dariam  um minuto de tréguas a Passos e Portas e crivavam-nos permanentemente de perguntas e a CGTP já tinha de há muito revitalizado os seus arruaceiros encartados para insultarem os membros do governo de cada vez que fossem a qualquer lado.

Mas é o que se vê. Um silêncio (cúmplice?), uma bonomia exasperante perante um dos mais gravosos cometimentos socialistas que, para calar os pilotos, lhes «atirou» com 20% do capital da TAP. Este é um dos muitos exemplos que devemos aos socialistas como causa próxima do estado calamitoso em que nossa situação económica e atmosfera social se encontram. E quando os jornalistas, repórteres e comentaristas agem desta forma, quase num regime de concubinato político com um Partido que já nos deu três bancarrotas e nos legou problemas desta estirpe, há que os acusar também. Porque se os portugueses estivessem devidamente informados sobre o trambique, incompetência e ligeireza das manobras dos socialistas durante as suas legislaturas muito provavelmente não continuariam a dar-lhes mais de 30% dos votos.

José Manuel Fernandes, no Observador, é uma das poucas excepções ao silêncio dos jornais e das televisões por esta «Guterrice».


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