sexta-feira, março 09, 2012

Os meus carros (2) Autobianchi Primula



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Depois deste, tive este, reproduzido lá em cima. Verde azeitona metalizado, o bólide luzia no stand, mais por ser novo, «zero km», como dizem os brasileiros do que pelo gabarito do carro. No fundo, era um vulgar Fiat 1200 c.c. mas ostentando o sonante nome de Autobianchi, um fabricante entretanto comprado pela Fiat. O nome do modelo já não impressionava tanto… «Primula», assim se chamava ele. Vim a saber que era o nome de uma flor, família das primuláceas, o que tornou o carro mais «abichanado», que era uma coisa que se podia pensar na altura sem risco de sermos política e socialmente excomungados. Com optimismo, admiti que muito pouca gente saberia o significado de Primula, pelo que quando me perguntavam que carro é que eu tinha eu podia sempre dizer que era um Autobianchi, «tout court», sempre cheirava a técnica, a «racing» a «sportif»… enfim tinha uma sonoridade diferente.

Tinha acabado de me nascer um filho e com algum pesar percebi que colocar e tirar uma alcofa de bebé num Mini era uma tarefa só comparável à desmontagem de uma roda de coroa de um relógio suíço, pelo que as quatros portas do Autobianchi e o facto de o agente em Nova Lisboa ser meu amigo pessoal (pagamento tipo nada à vista, um tanto por mês e depois uma letra enorme para o fim, reformável, que era uma coisa que dantes existia, inventada pelos bancos, muito antes de se instalar a ideia de que os bancos e o seu apelo ao consumismo eram os responsáveis directos por estarmos todos tesos e endividados.

Circular com o carro «0 km» não deixava de ser esfuziante. Ainda não tinham filmado o «When Harry met Sally», portanto eu ainda não conhecia o orgasmo da Meg Ryan num restaurante, mas tenho de confessar que percorrer as ruas de Nova Lisboa num Autobianchi verde metalizado, novo e ainda por cima uma marca/novidade era uma experiência marcante e a «atirar» assim para a célebre cena idealizada pelo Bob Reiner.

O carro durou pouco. Com seis meses de uso, o Sr. Esperança, dono da estação de serviço da Mobil ao cimo da 5 de Outubro, onde eu deixara o carro a lavar, bateu-me à porta dizendo que o sr… não me ocorre o nome, um fotógrafo na Chianga, distraiu-se, travou tarde, bateu-me no carro que estava na box a mudar o óleo, o carro foi batido por trás, foi empurrado para a frente e o resultado foi uma monumental amolgadela atrás e à frente. Ainda não havia declarações amigáveis… mas o facto de eu estar a almoçar e do tal fotógrafo da Chianga ser o mesmo a quem eu iria dar o trabalho da revelação das fotos do meu relatório de fim de curso, ajudou a resolver a questão, sem mortos nem feridos.

Carro arranjado, deu para mais dois meses. Numa viagem entre Caconda e a Chicuma, numa estrada boa, mas de saibro, perdi o contacto do terreno, o «grip» como se diz hoje. Muitas voltas ao volante, muito pó, muita confusão, dou comigo dentro do carro sentado no tejadilho e a apanhar um banho de gasolina. Percebi que o carro estava de pernas para o ar. Um segundo e meio mais tarde lembrei-me que a gasolina ardia…e é aí que eu me esgueiro para o exterior por uma das janelas, rezando um Pai Nosso em voz alta.

Sentado na berma da estrada, quedei-me a olhar para o Autobianchi Primula 0 km, verde azeitona, de quatro portas, à espera que aquilo fizesse PUM. Não fez… e a partir daí achei que os filmes americanos eram uma fraude e passei a vê-los com desconfiança. Qualquer toque e os carros explodiam sempre, com o bandido lá dentro. O meu deu uma data de cambalhotas, a gasolina jorrava para cima de mim e … nada.

Foi o fim do meu segundo carro. Ia sendo o meu também. Não foi. Esperei por socorro e pouco depois percebi que estava sem carro. Talvez eu não gostasse assim tanto dele. Não tive pena por aí além.

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