Os meus carros (2) Autobianchi Primula
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Depois deste, tive este, reproduzido lá em cima. Verde azeitona metalizado, o bólide luzia no stand, mais por ser novo, «zero km», como dizem os brasileiros do que pelo gabarito do carro. No fundo, era um vulgar Fiat 1200 c.c. mas ostentando o sonante nome de Autobianchi, um fabricante entretanto comprado pela Fiat. O nome do modelo já não impressionava tanto… «Primula», assim se chamava ele. Vim a saber que era o nome de uma flor, família das primuláceas, o que tornou o carro mais «abichanado», que era uma coisa que se podia pensar na altura sem risco de sermos política e socialmente excomungados. Com optimismo, admiti que muito pouca gente saberia o significado de Primula, pelo que quando me perguntavam que carro é que eu tinha eu podia sempre dizer que era um Autobianchi, «tout court», sempre cheirava a técnica, a «racing» a «sportif»… enfim tinha uma sonoridade diferente.
Tinha acabado de me nascer um filho e com algum pesar percebi que colocar e tirar uma alcofa de bebé num Mini era uma tarefa só comparável à desmontagem de uma roda de coroa de um relógio suíço, pelo que as quatros portas do Autobianchi e o facto de o agente em Nova Lisboa ser meu amigo pessoal (pagamento tipo nada à vista, um tanto por mês e depois uma letra enorme para o fim, reformável, que era uma coisa que dantes existia, inventada pelos bancos, muito antes de se instalar a ideia de que os bancos e o seu apelo ao consumismo eram os responsáveis directos por estarmos todos tesos e endividados.
Circular com o carro «0 km» não deixava de ser esfuziante. Ainda não tinham filmado o «When Harry met Sally», portanto eu ainda não conhecia o orgasmo da Meg Ryan num restaurante, mas tenho de confessar que percorrer as ruas de Nova Lisboa num Autobianchi verde metalizado, novo e ainda por cima uma marca/novidade era uma experiência marcante e a «atirar» assim para a célebre cena idealizada pelo Bob Reiner.
O carro durou pouco. Com seis meses de uso, o Sr. Esperança, dono da estação de serviço da Mobil ao cimo da 5 de Outubro, onde eu deixara o carro a lavar, bateu-me à porta dizendo que o sr… não me ocorre o nome, um fotógrafo na Chianga, distraiu-se, travou tarde, bateu-me no carro que estava na box a mudar o óleo, o carro foi batido por trás, foi empurrado para a frente e o resultado foi uma monumental amolgadela atrás e à frente. Ainda não havia declarações amigáveis… mas o facto de eu estar a almoçar e do tal fotógrafo da Chianga ser o mesmo a quem eu iria dar o trabalho da revelação das fotos do meu relatório de fim de curso, ajudou a resolver a questão, sem mortos nem feridos.
Carro arranjado, deu para mais dois meses. Numa viagem entre Caconda e a Chicuma, numa estrada boa, mas de saibro, perdi o contacto do terreno, o «grip» como se diz hoje. Muitas voltas ao volante, muito pó, muita confusão, dou comigo dentro do carro sentado no tejadilho e a apanhar um banho de gasolina. Percebi que o carro estava de pernas para o ar. Um segundo e meio mais tarde lembrei-me que a gasolina ardia…e é aí que eu me esgueiro para o exterior por uma das janelas, rezando um Pai Nosso em voz alta.
Sentado na berma da estrada, quedei-me a olhar para o Autobianchi Primula 0 km, verde azeitona, de quatro portas, à espera que aquilo fizesse PUM. Não fez… e a partir daí achei que os filmes americanos eram uma fraude e passei a vê-los com desconfiança. Qualquer toque e os carros explodiam sempre, com o bandido lá dentro. O meu deu uma data de cambalhotas, a gasolina jorrava para cima de mim e … nada.
Foi o fim do meu segundo carro. Ia sendo o meu também. Não foi. Esperei por socorro e pouco depois percebi que estava sem carro. Talvez eu não gostasse assim tanto dele. Não tive pena por aí além.
Depois deste, tive este, reproduzido lá em cima. Verde azeitona metalizado, o bólide luzia no stand, mais por ser novo, «zero km», como dizem os brasileiros do que pelo gabarito do carro. No fundo, era um vulgar Fiat 1200 c.c. mas ostentando o sonante nome de Autobianchi, um fabricante entretanto comprado pela Fiat. O nome do modelo já não impressionava tanto… «Primula», assim se chamava ele. Vim a saber que era o nome de uma flor, família das primuláceas, o que tornou o carro mais «abichanado», que era uma coisa que se podia pensar na altura sem risco de sermos política e socialmente excomungados. Com optimismo, admiti que muito pouca gente saberia o significado de Primula, pelo que quando me perguntavam que carro é que eu tinha eu podia sempre dizer que era um Autobianchi, «tout court», sempre cheirava a técnica, a «racing» a «sportif»… enfim tinha uma sonoridade diferente.
Tinha acabado de me nascer um filho e com algum pesar percebi que colocar e tirar uma alcofa de bebé num Mini era uma tarefa só comparável à desmontagem de uma roda de coroa de um relógio suíço, pelo que as quatros portas do Autobianchi e o facto de o agente em Nova Lisboa ser meu amigo pessoal (pagamento tipo nada à vista, um tanto por mês e depois uma letra enorme para o fim, reformável, que era uma coisa que dantes existia, inventada pelos bancos, muito antes de se instalar a ideia de que os bancos e o seu apelo ao consumismo eram os responsáveis directos por estarmos todos tesos e endividados.
Circular com o carro «0 km» não deixava de ser esfuziante. Ainda não tinham filmado o «When Harry met Sally», portanto eu ainda não conhecia o orgasmo da Meg Ryan num restaurante, mas tenho de confessar que percorrer as ruas de Nova Lisboa num Autobianchi verde metalizado, novo e ainda por cima uma marca/novidade era uma experiência marcante e a «atirar» assim para a célebre cena idealizada pelo Bob Reiner.
O carro durou pouco. Com seis meses de uso, o Sr. Esperança, dono da estação de serviço da Mobil ao cimo da 5 de Outubro, onde eu deixara o carro a lavar, bateu-me à porta dizendo que o sr… não me ocorre o nome, um fotógrafo na Chianga, distraiu-se, travou tarde, bateu-me no carro que estava na box a mudar o óleo, o carro foi batido por trás, foi empurrado para a frente e o resultado foi uma monumental amolgadela atrás e à frente. Ainda não havia declarações amigáveis… mas o facto de eu estar a almoçar e do tal fotógrafo da Chianga ser o mesmo a quem eu iria dar o trabalho da revelação das fotos do meu relatório de fim de curso, ajudou a resolver a questão, sem mortos nem feridos.
Carro arranjado, deu para mais dois meses. Numa viagem entre Caconda e a Chicuma, numa estrada boa, mas de saibro, perdi o contacto do terreno, o «grip» como se diz hoje. Muitas voltas ao volante, muito pó, muita confusão, dou comigo dentro do carro sentado no tejadilho e a apanhar um banho de gasolina. Percebi que o carro estava de pernas para o ar. Um segundo e meio mais tarde lembrei-me que a gasolina ardia…e é aí que eu me esgueiro para o exterior por uma das janelas, rezando um Pai Nosso em voz alta.
Sentado na berma da estrada, quedei-me a olhar para o Autobianchi Primula 0 km, verde azeitona, de quatro portas, à espera que aquilo fizesse PUM. Não fez… e a partir daí achei que os filmes americanos eram uma fraude e passei a vê-los com desconfiança. Qualquer toque e os carros explodiam sempre, com o bandido lá dentro. O meu deu uma data de cambalhotas, a gasolina jorrava para cima de mim e … nada.
Foi o fim do meu segundo carro. Ia sendo o meu também. Não foi. Esperei por socorro e pouco depois percebi que estava sem carro. Talvez eu não gostasse assim tanto dele. Não tive pena por aí além.
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