Os meus carros (4) - Symca 1501
[4601]
Os tempos iam maus. Três carros depois de eu ter tido o meu primeiro, via-me possuidor de um carro de luxo, ainda que com o diferencial gripado. Parei um bocadinho para pensar (coisa que nesta idade me dava uma incómoda dor de cabeça) e percebi que ainda devia metade do carro, tinha uma conta pesada para o conserto do diferencial e eu, acabado de sair da tropa, tinha um filho a gatinhar em casa, uma filha a caminho e era, ainda, funcionário público (assistente técnico de 2ª classe não sei quê não sei quantas… não é exagero, não me lembro mesmo, nesta altura a gente dizia baixinho que éramos funcionários públicos quando nos perguntavam a profissão, entretanto as coisas mudaram, como se sabe).
Um dia, numa manhã de pesca às tilápias numa barragem do Uíge, tropecei num enfermeiro simpático, pescador como eu e, enquanto cada um de nós puxava um peixe, percebi que o grande objectivo de vida daquele homem era ter um BMW. Devagarinho, com cuidado, expliquei-lhe que, por acaso, eu tinha um, quase novo, mas… e lá contei a história do diferencial. Saímos da pesca e levei-o a ver o carro. Lá estava ele na garagem de casa, lindo de morrer, luzidio e mostrei-lhe a conta da reparação, bem assim como uma carta do Agente, na qual se afirmava que o carro estava em rigoroso estado.
O enfermeiro tinha um Simca 1501 (!!!!!!). Eu tinha uma vaga ideia que havia Simcas mas juro que nunca tinha reparado em nenhum. O enfermeiro propunha então entregar-me o Simca e sessenta contos (exactamente o que me faltava ainda pagar) por troca com o BMW. Pensei (mais uma dor de cabeça incómoda, pensar, na casa dos vinte anos, pode ter efeitos colaterais graves), dei uma volta no Simca…tive uma sensação de ter estado a degustar uns canapés de caviar e, de repente, ter metido uma mão de tremoços à boca. Pensei outra vez (outra dor de cabeça…) e disse que sim.
Passei a ser um (in)feliz detentor de um Simca, mas sem dívidas. O carro tinha, a seu favor, o facto de ser amarelo-torrado, uma cor muito em voga nos anos setenta. A verdade é que continuei a ir a todo o lado, em razoável conforto. É certo que os queques das festas queques da queque Nova Lisboa deixaram de reparar na grelha pintada de preto fosco e no emblema 1800 do lado direito do painel traseiro, mas acabaram por se habituar. Houve até quem dissesse que o Simca era um excelente carro!...
.
Os tempos iam maus. Três carros depois de eu ter tido o meu primeiro, via-me possuidor de um carro de luxo, ainda que com o diferencial gripado. Parei um bocadinho para pensar (coisa que nesta idade me dava uma incómoda dor de cabeça) e percebi que ainda devia metade do carro, tinha uma conta pesada para o conserto do diferencial e eu, acabado de sair da tropa, tinha um filho a gatinhar em casa, uma filha a caminho e era, ainda, funcionário público (assistente técnico de 2ª classe não sei quê não sei quantas… não é exagero, não me lembro mesmo, nesta altura a gente dizia baixinho que éramos funcionários públicos quando nos perguntavam a profissão, entretanto as coisas mudaram, como se sabe).
Um dia, numa manhã de pesca às tilápias numa barragem do Uíge, tropecei num enfermeiro simpático, pescador como eu e, enquanto cada um de nós puxava um peixe, percebi que o grande objectivo de vida daquele homem era ter um BMW. Devagarinho, com cuidado, expliquei-lhe que, por acaso, eu tinha um, quase novo, mas… e lá contei a história do diferencial. Saímos da pesca e levei-o a ver o carro. Lá estava ele na garagem de casa, lindo de morrer, luzidio e mostrei-lhe a conta da reparação, bem assim como uma carta do Agente, na qual se afirmava que o carro estava em rigoroso estado.
O enfermeiro tinha um Simca 1501 (!!!!!!). Eu tinha uma vaga ideia que havia Simcas mas juro que nunca tinha reparado em nenhum. O enfermeiro propunha então entregar-me o Simca e sessenta contos (exactamente o que me faltava ainda pagar) por troca com o BMW. Pensei (mais uma dor de cabeça incómoda, pensar, na casa dos vinte anos, pode ter efeitos colaterais graves), dei uma volta no Simca…tive uma sensação de ter estado a degustar uns canapés de caviar e, de repente, ter metido uma mão de tremoços à boca. Pensei outra vez (outra dor de cabeça…) e disse que sim.
Passei a ser um (in)feliz detentor de um Simca, mas sem dívidas. O carro tinha, a seu favor, o facto de ser amarelo-torrado, uma cor muito em voga nos anos setenta. A verdade é que continuei a ir a todo o lado, em razoável conforto. É certo que os queques das festas queques da queque Nova Lisboa deixaram de reparar na grelha pintada de preto fosco e no emblema 1800 do lado direito do painel traseiro, mas acabaram por se habituar. Houve até quem dissesse que o Simca era um excelente carro!...
.
Etiquetas: Os meus carros
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home