Estou em Luanda. Por três dias. Vim na TAAG por ser um voo
diurno e eu gostar de chegar, “duchar”, dormir e no dia seguinte estar fresquinho
e energizado para uma reunião importante hoje de manhã.
No avião fui surpreendido com uma indicação de “on flight wi-fi”.
Mandei algumas mensagens que deram “erro”. Desisti. Liguei um filme… sem som.
Não tinha legendas, Chamei uma assistente que me pediu desculpa mas aquele lote
de auriculares tinha os “pins” colocados ao contrário. Perguntei porque é que
os tinham então distribuído. Ela riu. Olhei para o filme, como não tinha som
nem legendas, escolhi um que já tinha visto e que serviu para adormecer. Aterro em Luanda às 19:00 com 29 graus. Chego a um hotel de 4 estrelas. Entrego o
voucher… não tinham reserva. Mas deram-me o quarto e que na manhã seguinte iam
“esclarecer”. Agradeci e a menina diz-me: vou levá-lo ao quarto. Olhei a “piquena”
de soslaio… e embatuquei um bocadinho. E gracejei… olhe, eu já estive neste
hotel, sei onde é o quarto. Ela diz: - problema é que não temos cartão-chave,
só amanhã, por isso eu tenho que ir contigo para usar o cartão-mestre. Lá vim
com a moça e ainda pensei, querem ver que ainda se oferecem para me levar
a bagagem? Não se ofereceram. Entrámos no quarto… ela acende a luz, mas a luz
não veio. Não veio. Ela diz para eu desculpar e que esperasse um pouco, devia ser
do quarto desta secção e que ia à recepção tratar do problema. Estirei-me na
cama, com as costas a escorrer suor e eu a pensar por que carga de água é que
ainda acho graça a estas coisas… Cerca de meia hora depois chega um homem e repõe
a luz. Em 10 segundos. Mexeu não sei aonde e a luz veio. Encantado da vida, liguei
o ar condicionado, desfiz a mala e fui jantar, não fosse a sala fechar. Volto
ao quarto a antecipar o friozinho do ar condicionado do A/C e a listar umas
quantas coisas que tinha de preparar para a reunião da manhã seguinte. Entro no
quarto e vejo que a temperatura dava para cozer um pão-de-ló… Telefono à D.
Estela e digo que tenho luz mas o ar condicionado estava totalmente “descondicionado”
e soprava calor. A D. Estela faz uma pausa e diz: - o melhor é mudar de quarto.
Isto tem um problema. Meia hora depois de ter reposto a roupa na maleta sigo
para outro quarto. Pela trela da D. Estela porque os cartões – chaves só
amanhã. Entro no quarto e corro para o controle do ar condicionado. Ligou e fez
frio, A D. Estela diz-me: - está a ver, aquela luz verde é sinal que está a
fazer frio, no outro quarto o ar condicionado não estava a fazer a luz verde.
Olhei para ela… e não consegui dizer nada. A D. Estela foi embora. Desfiz a
mala, fruí (enquanto pude) o ar gélido dos 16 g do quarto, que era a graduação
que não mudava, por muito que martelássemos o controle, tomei um duche
pecaminoso de prazer e estiquei-me na cama. Ligo a televisão. Nada. Carrego no
botão do ON/OFF e… nada. Ligo o 9 para a recepção. D. Esteeeeela, a televisão
não dá. E ela, acabada de rir com alguma colega diz: Ah! Olha, deve ser pilhas. E eu digo… mas eu não tenho pilhas. Pois é…
já vou aí. Veio. Trouxe pilhas. Acende o televisor. Contentinho como uma
criança a quem se dá um brinquedo, tentei mudar da estação local para outra.
Nada. D. Esteeeeela, não vá embora, isto não muda de canal. Ela, que estava já
à porta, volta para trás. Abana o controle bate com ele, com violência, na palma da mão e aquilo
“salta” para a RTP Internacional. Eu digo: bata lá com o controle e procure a
SIC Notícias ou a TVI 24. E a D. Estela foi dando bordoadas no controle, diz-me
que a SIC estava proibida e ao fim de um verdadeiro “arraial de porrada” aparece
a TVI24. D. Esteeeeeela. Alto, Fica aí. E ela ficou.
Digo à D. Estela que este é um hotel de quatro estrelas mas
que estava a ficar muito mal. TRÊS, diz ela orgulhosamente. Era quatro mas
fomos desqualificados, agora somos só três.
Atenção aos incautos que conhecem Luanda. O Hotel é o “Vila
Alice”. A D. Estela é simpática, mas os percalços até tomarmos banho e
dormirmos são muitos E as refeições são medíocres e não digo o preço por pudor.
Pela minha parte, estiquei-me finalmente na cama, com o ar
frio e com TVI24 para o resto da noite (imagine-se a minha penitência, ter apanhado a D. Constança descobrir um defeito de PPC de cada vez que cri[gostava]ticava alguma medida da Gerinconça). Adormeci na paz do Senhor e não precisei
mais da D. Estela. Até hoje de manhã, quando ela vai ter comigo à sala do
pequeno-almoço e me diz que afinal não tinha reserva. Liguei para Lisboa, comuniquei
à Agência com que normalmente trabalho (devo acrescentar que com permanente
satisfação, competência, simpatia e contagiante energia...) e acho que a coisa está resolvida.
A grande questão. O que será preciso para eu começar a estar
farto de Angola? Porque será que todos estes episódios se combinam num enredo
que fazem com que eu venha a Angola sempre com esta estranha sensação de prazer
e desfrute, ainda que mesclado com picos de irritação que ameaçam, aqui e ali,
uma fatal apoplexia? Há-de haver uma razão, com certeza. Um dia vou descobrir.
Nota: Escrevi esta nota hoje de manhã. Porque a internet
está com soluços desde que cheguei, só agora consegui postá-la.
*
*
Etiquetas: angola, biz travelling