Tinha jurado a mim próprio que ignoraria a meteórica ascensão
e pasmosa consolidação da figura messiânica de António Costa. Mas há dias, num
jantar de amigos, eis que me vejo rodeado por um grupo de «costistas»,
indefectíveis da extraordinária criatura, aos quais, perante a alegação que
estavam fartos dos políticos que nunca tinham feito nada a não ser estudar para
ser políticos, perguntei o que é que Costa teria realmente feito para
merecer a distinção corrente. A resposta
veio célere de uma amiga – fez a reabilitação da baixa. E como o túnel de Santana
Lopes era uma obra caríssima e sem qualquer préstimo, Costa teve de dar um
jeito com aquela baralhada que arranjou na Rotunda, Para corrigir o túnel, está
bem de ver.
Perante esta argumentação eu tinha duas alternativas. Ou
bebia outra margarita ou sintonizava a conversa para o Porto x Sporting do dia
seguinte. Escolhi a margarita.
Hoje, excretados os malefícios das margaritas e confortado
com os 3-1 do Sporting, penso sobre o que levará gente escovada e formada a
emular um homem que pelo meu acervo de conhecimentos se notabilizou pelo
seguinte:
1 - Promoveu uma corrida entre um burro e um Ferrari na
Calçada de Carriche. Parece que ganhou o burro e o povo gostou imenso e faltou
pouco para se gritar abaixo os Ferraris e vivam os burros;
2 – Foi um socratista atento venerador e obrigado e activo
participante (cúmplice, diria eu…) das diabruras e malfeitorias de um Partido
que se entreteve a espatifar a fazenda e o prestígio nacionais. Para tal, foi
ministro da justiça do XIV governo e ministro da administração interna do XVII
governo. Não me ocorre nada de relevante que tenha feito nestas funções, salvo
a permanente aquiescência e reverente atitude perante a magna figura dos seus
chefes, dando sempre sinais de um desprezível proselitismo;
3 – Autarca da capital, onde se tem entretido a revitalizar
a baixa (lá está…) promovendo restaurantes, esplanadas (com o «Zé faz falta» a
perorar sobre a cor e tamanho das toalhas, lembram-se?) e zonas pedonais, dada
a sua manifesta fobia pela coisa motorizada, como ensina a cartilha socialista.
Ah! E fez uma ciclovia por cima da 2ª Circular onde eu aguardo pacientemente
ver passar uma bicicleta, depois de me incluírem no rol de pagantes e de ter
aguentado com estoicismo vários meses de engarrafamentos.
Fica por registar algumas acções pelos bombeiros, a Associação
para o Polo Tecnológico de Lisboa (que eu não sei bem o que é, mas Costa deve
saber), apadrinhar (entenda-se, dar) mais umas massas para a fundação Mário
Soares, a novela Saramago e uma participação contínua na Quadratura do Círculo,
onde produz arrepiantes banalidades e, surpreendentemente, é acolitado pelo
Pacheco Pereira e delicadamente contraditado pelo Lobo Xavier.
Este homem vai ser, muito provavelmente, o primeiro-ministro
da minha terra e eu não consigo perceber porquê. Produz diariamente um molho acabado de banalidades e aos costumes diz nada. Sound bytes como não há
solução para as inundações, ou subordinados que acusam o SMA de não avisar a tempo
sobre intempéries, acabam por cair bem neste regime de manadio em que nos mantemos,
em que a etimologia da palavra socialismo continua a deslumbrar uma fatia
enorme da população que, ao que parece, andou distraída de cada vez que os
socialistas pegam no poder e espatifam o que vai havendo (ainda) por espatifar.
Costa vai, provavelmente, manter o mesmo discurso que usou
para a fatalidade de não haver solução para as inundações, para o défice,
desemprego, dívida pública e outras minudências. A herança de Passos Coelho vai
ajudar imenso, também, na desculpa de muitas medidas a que ele se vai sentir
obrigado a tomar. Entretanto vai-se rodeando de um friso de arrepiantes
criaturas, escolherá «diferentes quadrantes» mas, naturalmente, ater-se-á aos
suspeitos do costume, exactamente aqueles que contribuíram objectivamente para
nos atascarmos. Só economistas já são desassete. E com jeitinho ainda nos aparece por
aí um filósofo formado em Paris. Ao menos que não se tenha licenciado num
Domingo!
Mas os portugueses gostam. Costa dá um pum (ele deve dar,
como as pessoas…) e a malta aplaude. Espirra e o pessoal diz santinho. E, com
jeitinho, vão até dar-lhe uma maioria absoluta. E a comunicação social alimenta e afaga esta masturbação colectiva, chegou mesmo a usar photoshop para pôr o homem mais
alto e mais branco. O que é, no mínimo, para além de uma rematada imbecilidade,
lamentavelmente racista. Mas foi o que aconteceu durante as primárias. Como é
que se vai aturar esta gente de novo?
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