domingo, janeiro 30, 2005

Que Maçada...



Depois de um período relativamente calmo referente a notícias sobre o Iraque, eis que a passada semana regurgitou de registos de acontecimentos terroristas, análises (sem faltar o inevitável general Loureiro dos Santos) militares e políticas, onde não faltava a certeza duma quase total abstenção às urnas.

Eis que, lamentavelmente, o pivot da RTP lá foi dizendo hoje que, surpreendentemente, a afluência às urnas se cifrava nos 70% (superior à nossa) e que Bagdade estava calma.

A cara do pivot era semelhante à de um benfiquista à Segunda Feira quando o Benfica perde ao Domingo e é esta pose que me causa alergia e náusea. Que chatice... então não é que não morre ninguém hoje? Não é que afinal cerca de 70% dos Iraquianos estão a votar? E depois lá apareceu um professor Azeredo Lopes, do Porto, a fazer um comentário do tipo pois, não só, mas também e como quem diz: mas não percamos esperança que a contagem dos votos não acabou e aquilo ainda vai dar bernarda.

Esta nossa forma de estar é o quê? É sermos de esquerda? Desonestos? Ou pura e simplesmente idiotas?

P.S. – Depois de publicar esta nota, tive ocasião de verificar que o Jaquinzinhos fez um post versando o mesmo assunto. Pensei que era eu que estava a embirrar...

Descer na Vida

Hoje acordei assim...



e acabei a manhã assim



É impossível que eu não esteja a "descer na vida"...

sábado, janeiro 29, 2005

Pérola Para o Fim de Semana



De João Miranda no Blasfemias:

O Bloquista coerente

Era uma vez um bloquista coerente. Vivia do rendimento mínimo numa casa okupada com um@ amig@ toxicodependente. Já tinha gerado vida com uma antiga namorada. Mas, infelizmente, ela achou-o um bocadinho irresponsável e ... abortou

Fim de citação.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Tugir



Há blogs de que gosto, mesmo quando frequentemente discordo do conteúdo de muitos dos seus posts. E gosto porque, mesmo discordando, aprecio a elevação e a elegância com que os assuntos são abordados, o que nem sempre acontece com outros. E quando esses atributos são acompanhados de uma boa dose de humor, melhor ainda. O Tugir é um deles, faz um ano e daqui lhe mando uma saudação amiga.

As "Cartas Ridículas"





It’s overcast, grizzly cold and awfully grey!
Yet, It’s nothing else but another day...
Like all the other days where I stiff my mind,
Looking for something real to find.
For everything I see is strenuous and worthless!
Amid the cold, the dark and sad emptiness
I see no joy, fun, enthusiasm or clarity,
But rather notorious signs of tireness and vanity.
I see, yet, a frame of awfull routine and scaring signs
Of fear, despair and anger between the lines
That shape my route which is getting narrow and short,
With plenty of bends, slippering grounds and far from the port
That once I dreamed of, where I could tie my ship
After my already long, hard and tiring trip...

But I see a shining star inside my ageing soul.
It twinkles and cries and leaves an undeniable call,
That I feel impelled to take as my trustful guide,
Along my still possible and feasible ride.
For I see its leading appeal and protecting wisdom
Trying to show me the way, the path of love, the door to my freedom.
She’s like a moving star that doesn’t move... but rather stands still
In a deep dark sky full of very many stars that fill
The universe with erratic feelings, burning passions and lies.
There she is. Small, brilliant, gold and blue. She looks at me and cries...
Waking my dormant hopes and shaking my mind,
Bringing that warm breeze of summer and joy of all kind!
She tells me a name for me to place on a person of a dream come true.
And that name,my love, is of a special woman like you





Cascais, Novembro de 2003

Je, moi même...ou de como às vezes, sem querer, começo a limpar tralha do computador e dou comigo a pensar em como depois do meio dia começa a tarde! E vem aí o fim de semana. Para quê falar nas trapalhadas do Santana e não ser "ridículo" de vez em quando?


quinta-feira, janeiro 27, 2005

Isto está mau...

"Isto" está mal...
Os restaurantes continuam a cheirar a Fula, ainda não se calaram com as boutades merdosas do Louçã (termo surripiado à Prima com a devida vénia), Guterres ataca de novo com a tralha velha, Freitas do Amaral vai votar no PS (o tal Partido que lhe chamou, num passado recente, fascista beato), o PSD está a subir nas sondagens o que me faz pensar o que é que Sampaio jantará no dia dos resultados das eleições se ficarmos com o mesmo governo que ele demitiu por... razões de todos conhecidas, disse ele, mas eu já não me lembro bem, o debate entre Sócrates e Santana vai dar na 2: (!...) e na SIC, o Sporting perdeu a penalties um jogo que poderia ter ganho com mérito, mesmo depois da expulsão de Hugo Viana por força da rábula daquele miúdo João Pereira que anda a aprender depressa o métier, o RAP é do Bloco, mas não é do Bloco, quer dizer... é, não é, ele fala, fala e não faz nada e a gente assim um dia vai-se chatear, pá, a Fatinha mudou de penteado, o Mourinho é o melhor do mundo, os blogues estão ensossos, as water colours da Vit estão cada vez mais lindas, a vaga de frio, afinal, não quiz nada connosco (quer dizer, fez frio, mas não foi friiiio, friiiio, friiiio, apesar dos esforços dos repórteres dos directos), as castanhitas estão a desparecer, os filmes não dão pica por aí além, os hospitais nunca mais são SA ou EP para eu saber como é que hei-de dizer, a Casa Pia não anda nem desanda, os árbitros idem, o Pinto da Costa gosta de António Nobre mas está cada vez menos , o Vital Moreira acha que o Louça é uma besta e o Barnabé (sem link, que toda a gente sabe onde mora) anda a dar uma de pluralista e autocrítico... resumindo, não há por aí nada de muito interessante. E, assim sendo, vou escrever sobre o quê?
Ainda se eu soubesse quem é uma mulher lindíssima que vi ontem, de olhar sereno e com os dentes mais certinhos que conheço (claro que estava a sorrir, senão como é que eu saberia?) mas que não sei de onde vem nem onde para vai...
Como não sei, acho que vou fazer uma pausa. Aliás, tenho de ir ali e já venho.






quarta-feira, janeiro 26, 2005

Benfica 1000 Sporting 1000





Que me perdoem os dragões, dragonas, andrades e morcões. Mas derby só há um. Este e mais nenhum. E metam lá a sertã dentro do cacifo, fechem-no bem com um aloquete, pendurem o cachecol numa cruzeta, façam xixi no pote, bebam um cimbalino, mas rendam-se à magia de um jogo como o de hoje. E então aquele golo do Paíto (ganda puto...) solta em mim um irreprimível juro, palavra de honra, sinceramente, olhábunda dela, me deixa ir cum ela, que tou numa naice e me apetece gritar, Paíto furou, Luisão desconseguiu, o golo se apontou e o Paíto fugiu. Paíto, como anima. E perdoem-me os tugas que desconseguem de perceber esta saudade anoitecida (com licença do Mia).

Jogatana das antigas. Sou lagarto, mas um jogo destes nem dá para interessar quem ganhou E viva a moirama...

terça-feira, janeiro 25, 2005

Ioiôs



Pussy (chamar pussy a um gatão destes é, necessariamente, da mais profunda injustiça): I'm the smart guy around here
Birdie: Of course you are...



Hoje comi uma coisa execravelmente quente e ingeri uma coisa deliciosamente fria. Leia-se, comi favas à portuguesa, a fumegar (vem aí a tal onda de frio) e a nadar numas dezenas de unidades proteicas, centenas de unidades hidrocarbonatadas e milhares de milhões de unidades de lípidos cruéis e idiotas e inalei litros e litros de ar frio, puro e oxigenado, num pequeno passeio pelo jardim da Estrela, que é um dos mais aprazíveis locais de Lisboa, apesar de uma obras que devem ser muito complicadas, pois já se arrastam há um ano.
Mas uma pequena caminhada pelo jardim depois de comer favas é sempre um programa balsâmico e estimável e ajuda a que não deixemos de gostar desta cidade, mesmo sabendo que do jardim ao escritório vou ter de efectuar uma prova de perícia entre dejectos caninos e carros a monte e, horror, as "cúpulas" da UGT que, por razões para as quais não fui ouvido nem achado, almoçam (bem) quase todos os dias nos mesmo locais que eu.

Voltando ao jardim, lá estavam duas miúdas, não mais de doze anos, a rir e a brincar com uma coisa que eu há muito não via e que nem sabia que ainda existia. Dá pelo nome de ioiô (e perdoe-se-me a possibilidade de eu errar a grafia, mas também a Zezinha ontem disse hospitalocêntrico e ninguém lhe foi à mão por isso). As miúdas faziam evoluir o brinquedo com uma destreza admirável, içando e fazendo baixar o disco colorido com volúpia, saber e eficácia, a avaliar pela forma como os ioiôs obedeciam caninamente aos movimentos sábios das mãozinhas das crianças. Mãos que um dia serão de mulheres e que manterão, estou certo a mesma destreza, elegância e eficácia a manipular o que quiserem.
Não creio que alguma vez algum rapaz possa brincar com ioiôs tão bem como uma rapariga. Será cromossomático, será porque sim. Mas não consigo imaginar um rapaz a brincar tão habilmente com um ioiô como uma rapariga. Da mesma forma que mais tarde, os homens serão sempre ioiôs nas mãos hábeis duma mulher, mesmo que aqueles pensem que estão a ganhar aos pontos e que estas alguma vez entendam porque razão são tão boas a brincar com ioiôs. Basta imaginar um homem, qual ioiô, a subir e a descer alternadamente convencido que está a dominar a situação e a exercitar um apelativo exibicionismo e uma mulher que, com um simples e quase imperceptível movimento de mão, faz do ioiô o que quer…

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Hospitalmente



hospitalocentricamente com dor de cabeça

Hospitalmente e hospitalocêntrico são dois vocábulos novos para a minha gaveta do conhecimento.

Os neófitos foram dados à luz por Maria José Nogueira Pinto, do CDS/PP que não só os mencionou como repetiu, o que me leva a considerar uma consulta aturada e rápida a uma boa enciclopédia.

"Isto" passa-se no debate sobre a saúde em Portugal que está ainda a desenrolar-se no Canal 1. A falta de conhecimentos na matéria aconselha-me a não pôr pé em ramo verde. Ou seja, não consigo ter uma ideia bem formada sobre a problemática dos hospitais SA ou EP, como defende o professor Correia de Campos. Por isso, cala-te boca. Não consigo, porém, iludir uma desconfortável sensação de que Filipe Pereira (ministro demissionário da saúde) não foi contraditado com substância nem com verdadeiros argumentos que não fossem claramente eivados de óptica partidária. Para além de um irritante paternalismo e ar de "já te apanho" por parte do professor Correia de Campos que, com a pose própria de quem vai ser irremediavelmente o novo ministro, foi desfiando uma série de medidas claramente carecidas de fundamento. Um exemplo: Questionado sobre a enorme dívida da Saúde, respondeu que as dívidas são para ser pagas. Mas como? Perguntavam-lhe! Repare, dizia ele... este "repare" é recorrente sempre que se anuncia coisas sem se explicar como. Entretanto chamou por três vezes ex-ministro a Filipe Pereira e imediatamente pedia desculpa, dava-lhe uma palmadinha no joelho (juro, eu vi) e corrigia para ministro demissionário.

Hospitalmente, fico a aguardar o que vai acontecer, na minha qualidade de potencial utente, assente numa despesa pública do sector que é SÓ a mais elevada da União Europeia. Com a eficiência que se conhece. E para que não digam que tenho uma visão hospitalocêntrica da coisa, irei ao meu médico de família de vez em quando. E se o médico de família EP me marcar a consulta para 3 meses depois, faço um crédito pessoal e vou a um médico SA.

domingo, janeiro 23, 2005

Nariz de matraquilho??




Nariz de matraquilho, cabelo de enxofre...

Este comunista de mau feitio, “desarrincou” o mais conseguido e bem humorado epíteto para Clara Ferreira Alves. É um epíteto contundente, aceito, mas não pude deixar de sorrir só em pensar que se ele não tivesse mencionado o nome da criatura eu teria adivinhado de qualquer maneira.

sábado, janeiro 22, 2005

Yellow Primrose



Primulaceae, Primula eliator
Brittish wild flower

Afinal, será que alguém me ajuda a saber o nome comum português desta flor? Casa de ferreiro...

E agora é que é. Bom fim de semana!

Missão "Comprida"



A esquerda reciclada às vezes faz obra.

Judas, no pretérito mandato da Câmara da minha paróquia, conseguiu a proeza de atenuar a pirosice da “rotundite”, uma doença que parece propagar-se à velocidade dos fogos de verão, com uma excelente ciclovia de cerca de sete quilómetros e que vai da Casa da Guia ao Guincho. E eu hoje acordei cheio de energia e vontade de fazer coisas. E uma das coisas que eu poderia fazer disse-mo o espelho matinal.

O espelho é aquela invenção imbecil que nos transmite a imagem matinal da barba de 24 horas e nos avisa que também já há pelos brancos ali pelo queixo e ao nível do maxilar inferior, dos olhos mal dormidos e do cabelo em desalinho e que contribui decisivamente para que as nossas consortes comecem a achar os colegas do serviço muito mais atraentes, esquecendo-se da transição brusca da visão de um homem a sair da cama e outros, ainda que muito mais feios e desinteressantes, acabadinhos de chegar ao escritório, cheios de gravata, camisa engomada e a espalhar “allure for men” pelos corredores. Not fair...

Mas voltando ao Judas. Olhei-me ao espelho e não gostei. Primeiro porque odeio a ideia de vir a ter a barba como o Pacheco Pereira que eu, a preto e prata, só o Casino e não é sempre. Depois porque me senti hummm... perro. Tomei uma decisão importante, agarrei na bicicleta da miúda e tomei aquilo que se veio a tornar numa “cicló”pica decisão. Da minha casa à Casa da Guia é a descer, mas não se nota. Da Guia ao Guincho é a descer... mas não se nota. E lá fui eu, desportivo, radical, fresco, saudável, mente sã em corpo são (liberdade poética. Porque fumo e a mente nem sempre é sã, há bastantes motivos na ciclovia para que passemos à fase de dirty mind, mas isso é outro departamento) e a achar que a vida é bela e que a bicicleta foi a melhor invenção do mundo, a seguir ao controlo remoto da televisão. Houve mesmo alturas em que me entusiasmei com a velocidade e com o cenário (do mar, do mar... nada de dirty minds de juízos apressados) e ia colidindo com skaters, roller skaters. walkers, bird watchers que achavam que a ciclovia era só para eles. E desculpem-me as expressões inglesas, mas experimentem lá dizê-las em português...

Cheguei ao Guincho, parei, pousei a bicicleta e olhei deleitado para os meus cúmplices, maioritariamente mulheres. Frescas, rosadas e a fazer exercícios respiratórios. Achei que seria de péssimo gosto puxar de um cigarro, pelo que acabei por aderir ao cenário e meti uns litros de ar puro e maresia nos pulmões... e diabos me levem se eles não estranharam. Mas soube bem, não há como negar. Ainda houve uma old nice lady que me disse que Cascais era ”superb, you people would never know the paradise you actually live in, the sun shines like no other place in the world... in winter, oh dear, oh dear, oh dear!” e eu disse que claro, pois, sim, of course, coisa rápida , na esperança que as considerações sobre o nosso clima se alargassem a interlocutoras menos oh dear, oh dear, oh dear, mas estavam todas absortas na oxigenação do sangue que lhes corre nas veias que lhes irrigam as pernas que... pois - hoje é dia de mente sã e deixemos de pensar por onde passam as veias.

Regresso a casa. Eram mais sete quilómetros. Tinha sido tão fácil... a questão é que, embora suave, sentia-se claramente que era a subir. Fui pedalando, pedalando, fui mexendo nas mudanças (ainda não percebi porque é que o meu carro tem cinco velocidades e a bicicleta da minha filha tem 23 e foi muito mais barata...) e eu seja ceguinho se a única mudança que me conseguiu fazer chegar não foi aquela em que damos trinta voltas aos pedais para nos deslocarmos meio metro. Mas consegui. Confesso que o cenário já me passou um bocado mais ao lado, a Casa da Guia perdeu o encanto e aquela derradeira subida até casa me pareceu o calvário de Cristo. Mas cheguei. “Atirei” com a bicicleta, meti-me no duche e “despenhei-me “no sofá.

Minimamente recomposto, levantei-me para repor os níveis de cafeína e nicotina. Tenho uma sensação esquisita no corpo, assim uma espécie de impulsão vertical de baixo para cima tipo Arquimedes na banheira, mas estou muito mais compostinho. Já fui ao espelho e já lhe perguntei. Espelho meu, espelho meu, há no mundo alguém mais idiota do que eu? O espelho disse-me: - Não, mas continua a ser idiota e repete o exercício todos os Sábados e Domingos senão qualquer dia és uma mistura adipo-balofo-rugo-qualquer coisa, mesmo antes de ter a barba como o Pacheco Pereira.. Parti o espelho e vim escrever isto.

ET – Mesmo sem ameaças de adipo-rugo-etc., recomendo vivamente este passeio. Estou quase a concordar com a velhinha inglesa. Oh dear, oh dear, oh dear!

Bom fim de semana para todos

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Joe Littlepeople





O Joe Littlepeople é uma versão upgrade da versão de Bordalo Pinheiro, cujo centenário se celebra agora.

O Joe Littlepeople já não tem barba de dois dias nem o cabelo em desalinho, mas ainda guarda, à sorrelfa, o toalhete perfumado do avião da Tap que o leva a Bruxelas, enquanto lê a edição internacional do "Herald Tribune" com ar entendido e morre de curiosidade por saber o que trará o "Correio da Manha" e "A Bola".

Continua a ser manhoso, intriguista e invejoso, mas disfarça estes atributos com maneirismos que aprendeu na faculdade e continua a ser razoavelmente ignorante, condição que disfarça sempre que ouve falar, por exemplo, de Pessoa e vai a correr ao Google ver umas datas e uns títulos de algumas poesias que há-de papaguear à namorada, num passeio ao Colombo, Sábado á tarde.

Já fala menos mal do governo e dos políticos porque ele próprio é, possivelmente, um deles e até fala inglês, arranha o francês e conhece umas citações latinas, tipo "e pluribus unum" ou "posteriori", ficando-lhe, porém, a dolorosa dúvida se "anteriori" também é aplicável, já que não lhe soa lá muito bem.

Conduz um carro reluzente por entre o inferno de Lisboa e insulta mentalmente os "idiotas" que ziguezagueiam em furgões comerciais, atrapalhando o trânsito como na "Construção" de Buarque de Holanda, de quem, aliás, já ouviu falar e tem uma vaga ideia de ter sido um pintor de Buarcos… ou de Amsterdam… quem sabe? Mas isso também não interessa nada. Chato, chato, é ter prometido aos pais "ir à terra" no fim de semana comprido que se avizinha e não ter pachorra para aquela cena da aldeia, do café e dos pais a perguntarem-lhe se se dá bem na capital.

Trabalha numa empresa moderna, com computadores e tudo e procura sair o mais tarde possível, para poder dizer à namorada que anda cheio de stress e de trabalho o que, aliás, lhe justifica as fracas performances recentes. Vai dizendo que o excesso de trabalho lhe amolece as ideias e afecta o instrumento ou "the other way round", que é uma expressão que ele ouviu num seminário no Marriot e que vem dar ao mesmo, para infelicidade da parceira.

Acha que o PS ou o PSD continuarão, fatal e alternadamente a gerir o país mas vai pensando se não será de estudar melhor aquela "cena" do Bloco. Não que os bloquistas lhe digam alguma coisa, mas porque "sente" que há ali qualquer coisa que "está a dar", embora ele não faça a mais remota ideia o quê.

O Joe Littlepeople está na mesma. Fez a barba e não deixa crescer bigode. Manteve e sublimou os tiques de antanho e só mudou numa coisa, fundamental aliás. Já nem um manguito sabe fazer.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Francisco Assis





Não posso ficar indiferente a uma atitude digna; sobretudo vinda de uma pessoa ligada a um partido que poucas razões me dá para o ter em apreço.
Francisco Assis já dera um forte contributo para a dignificação da política e dos políticos quando da manifestação caceteira e provinciana de Felgueiras. Desta vez, perante a atitude patética e deplorável de um dos seus correlegionários, não hesitou em se demarcar do pântano e despudor de Nuno Cardoso, como ainda deu uma valiosa prova de sentido cívico e dignidade em não se deixar arrastar pelas diatribes de um gigantone pateta.
O Partido Socialista ganhou com a acção de Francisco Assis, o PSD vai ter mais dificuldades em ganhar a autarquia quando se perfilar um candidato melhor e mais sério que Nuno Cardoso e ganhou, sobretudo, a cidade do Porto que bem merecia melhor sorte nos cidadãos que habitualmente a representam. E ganhámos todos nós, afinal.
Fico à espera de ver agora o resultado do processo de difamação. E, já agora, da história dos terrenos...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Arghhhh



Se um dia tiver uma letra enorme para pagar no dia seguinte e, simultaneamente, a sua mulher lhe fugiu com o homem da TV Cabo, se a sua miuda engravidou aos 15 anos com o filho da porteira, se o seu carro apanhou uma traseirada do próprio reboque que o ia buscar por estar estacionado em cima do passeio, se a sua gata (oportunamente esterilizada) o presenteou com uma ninhada de seis gatinhos, isto pouco depois de lhe ter rasgado uma almofada, se se sentar no sofá e entornar o café inteiro sobre as pernas anquanto José Sócrates vai dizendo na TV que vai arranjar emprego para 150.000 portugueses e reactivar a co-incineração, a empregada lhe entrar na sala a dizer que a "a máquinia de lavagem avariar porque senhior não comprar Calgonieti", se o informático lá da empresa lhe disser com um sorriso rasgado e sabedor que lhe introduziu o "XP", um "adware", um Mc Affee, lhe falou em rames e baites 5 minutos antes do computador se recusar a funcionar e perder um relatório importante que estava a fazer, se acabou de ler mais uma crónica barnabética (para se manter informado), se, dizia eu e é melhor não dizer mais antes que Kipling me mande prender, tudo isto lhe acontecer num dia, MESMO assim tenho a certeza que não conseguirá fazer a mesma cara de enterro que Rui Veloso faz naquele anúncio da Antena Um tocando viola ao pé da locutora de serviço...

Aquela imagem é um fidelíssimo bilhete postal do nosso facies de exportação e a mais conseguida composição da nossa apagada e vil tristeza. O homem nem canta mal... mas não haveria uma cara fresca e minimamente contente para usar num anúncio duma estação de rádio?

E depois dizem que sou eu que sou azedo!

terça-feira, janeiro 18, 2005

Impunidades






Coisas que me ficaram do debate de ontem na RTP1

(sem cronologia nem prioridades)

Mário Soares (MS) – Cada vez é maior o fosso entre ricos e pobre em Portugal;

Freitas do Amaral (FA) – Os portugueses têm duas missões fundamentais no dia 20: Uma é escolher, em consciência, o partido em que vão votar. Outra (abrindo muito os olhos…) é decidir sobre se a actual direcção do partido no Governo deverá ficar ou ser substituída;

Fátima Campos Ferreira (FCF) – Brururrrrrummmm…

MS – Cada vez é maior o fosso entre ricos e pobres em Portugal;

FA – Cada vez é maior o fosso entre ricos e pobres em Portuga;

Pinto Balsemão (PM) – Cale-se, deixe-me acabar o discurso (para a Fatinha);

Adriano Moreira (AM) – É importante que a classe política se credibilize através de uma acção concertada sobre as grandes questões nacionais;

MS – Mas os responsáveis não podem ficar impunes;

FA – Cada vez é maior o fosso entre ricos e pobres em Portugal;

MS – O Governo de Guterres foi mau, mas o seu a seu a seu dono, ele deu uma imagem positva do país no estrangeiro;

FCF – Brurururrrrrrrummmmmmm…

MS – É importante que nos unamos e não passemos a vida a rebuscar os erros do passado. Mas os responsáveis pelo actual descalabro nacional não podem ficar impunes;

FA – Cada vez é maior o fosso entre ricos e pobres em Portugal;

MS – Mas os responsáveis não podem ficar impunes;

PB – Cale-se (para a Fatinha);

MS – Mas os responsáveis não podem ficar impunes;

FCP – brururrrrruuuummmm (nesta parte tenho dúvidas se era a Fatinha a falar ou se as gatas deitaram uma jarra ao chão);

José Manuel Fernandes (JMF) – humm, ahhh… uuu… hammm… mmmm… hah… huuu…

PB – Vou votar PSD;

Gatas lá de casa (GLDC) – brurururrrrruuuummmmmm (ou seria a Fatinha?)

MS – Os responsáveis não podem ficar impunes (por acaso eu também acho, nota minha, poder-se-ia começar por ele…)

Nota: Num registo mais sério, eu acho que foi um debate interessante. Gostei de ouvir a voz sábia de Adriano Moreira, o pragmatismo de Balsemão, a lucidez ( a espaços…) de Freitas de Amaral e Mário Soares manteve a esperada toada de rebimbómalho e incoerência do discurso do PS que temos, do que tivemos e do que ele (Soares) gostaria que tivéssemos. Foi aliás flagrante e notória a diferença entre o discurso sóbrio, inteligente e sábio de Balsemão, Moreira e Freitas do Amaral e as linhas tortuosas do pensamento político de um homem que, por razões que ainda me escapam, é considerado, hoje por hoje, a referência política nacional.

domingo, janeiro 16, 2005

Nacional 3 Sporting 2



Este Sporting é o PSD (Dias da Cunha que tome um antialérgico...) por uma pena. Tem jogadores, tem futebol, tem banco, tem treinador e só faz asneiras. E depois tem um presidente que passa a vida a dizer que a culpa é do sistema...

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Falta De Assunto



Nu indecentemente roubado de Christian Coigny

Palavra de honra que ando com falta de assunto. Isto é... assuntos há por aí muitos mas são sempre os mesmos. Não que eu não lhes conceda um estimável capital de esforço no sentido de neles me embrenhar; mas falta a suculência, o desafio e o fascínio de um tema que vá para além da vulgaridade.

Pode ser que a coisa se componha (nada há pior que coisas descompostas...) e que de um momento para o outro me apeteça escrever outra vez.

Até lá, recomendo-vos um restaurante indiano aqui em Cascais, logo ali abaixo ao Cidadela, que serve um chacouti de borrego obsceno (o chacouti, o borrego coitado, é perfeitamente digno) e um caril de camarão em que o chef usa um blend de caril que recebe dum amigo que é marido duma senhora que é vizinha dum motorista de taxi que é casado com uma senhora que tem um tio Paquistanês que faz o favor de lhe fazer chegar o pozinho magico regularmente. O preço é aceitável,a comunidade mastigante é escovada e simpática e até há lugares para o carro. Ah! E fuma-se à vontade...

quinta-feira, janeiro 13, 2005

A diferença



Hoje fui ao Imaviz.
E, por um triz,
As lojas sorriram;
As portas abriram
Para eu entrar,
Sem pensar.
Pelo menos sem questionar
Nada nem ninguém,
Para o mal ou para o bem.
E foi assim que entrei.
E por tudo aquilo que sei
Resolvi apreciar,
Até para o tempo passar,
Como estava aquilo por dentro
Que era feito daquele Centro
Que há tanto tempo não via,
Nem dele nada sabia.
E tinha tanto de seu
E que saudade deus meu...
Mas foi curta a ilusão;
Pois em mera observação
Vi que tudo estava na mesma
Diz o povo, como a lesma.
Na mesma não é bem assim.
Havia por ali um fim,
Qualquer coisa de acabado,
Diferente, desajustado
Às novas realidades.
Mesmo as lojas de vaidades
Pareciam de outro cenário,
De diferente itinerário.
Tudo, enfim, era diferente!
Outra vida, outra gente.
E assim me vim embora,
Deixando ali a memória
De outros dias, outras vidas
Noutro contexto vividas.
Talvez seja a diferença;
De outra ser a pertença
De um local vivido a esmo
Que, hoje com outra nuance,
Se veste de fria outrance
E não é realmente o mesmo...

terça-feira, janeiro 11, 2005

O Silêncio Dos Não Inocentes

Eu queria dizer exactamente isto e não sabia como. Achava que me perderia em extensas divagações mais ou menos estéreis e não resistiria a entrar pelos tortuosos caminhos da repulsa que, frequentemente, nos oblitera a visão e sonega a razão. Obrigado JPP.

A única coisa que me atreveria a acrescentar a tão brilhante quanto objectiva análise é a de que o silêncio dos hipercríticos não é tão misterioso assim. Há muito despudor, muita promiscuidade e uma notável sobranceria crítica por parte de quem não tem estrutura para mais, que não seja precisamente a de cavalgar a tal onda. Está-lhes nas tripas...

Fornicação Natalícia




Uma das diferenças entre um blog de referência e um blog modesto é que aquele consegue resistir a mencionar notícias sobre coisas e pessoas sem quaisquer comentários. Sem a responsabilidade advinda da tal referência, já eu não consigo resistir à tentação de ,perante esta diatribe do professor universitário Fazwan Al-Fazwan, convidar alguns iluminados que circulam aí pelos jornais e mesmo por esta honrada confraria da Blogos a prestarem-se ao exercício da relativização cultural que tanto apregoam e que usam para justificar as malfeitorias dos cruzados que somos todos nós. Miguel Portas e Louçã são bons exemplos desta relativização.
Talvez pudessem usar esse exercício para explicar a razão de os dez países que prestaram maior ajuda material às vítimas da catástrofe do Sudeste Asiático serem todos infiéis, vis fornicadores e pecadores sem volta, enquanto que o país do senhor professor Al-Fazwan se entretém a vituperar aqueles que foram a Phuket dar a queca natalícia. Isto enquanto, muito provavelmente, se compraz com dois ou três meninos púberes à volta e que lhe vão mitigando as insconstâncias hormonais. Mas isto, claro, embora comum e frequente, é cultural. E, como tal, Miguel Portas relativizá-lo-á.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Para Quando?



Ed Harris em As Horas

Reparei neste homem pela primeira vez em 1983, num cinema fora de Portugal, num filme divertido, all american, que dava pelo nome de "The Right Stuff".Personificava John Glenn, o filme não era nada de muito especial, mas reparei em Ed Harris. Pouco mais tarde vi "The Abyss", tomei-lhe o gosto e procurei ver tudo o que tinha a ver com ele.

Este homem pertence a um grupo privilegiado e talvez restrito de actores que dão a impressão que não ensaiaram, não estudaram o script e representam tal qual como respiram. Todavia,fica-me a ideia que poucos o conhecem... com excepção de críticos da especialidade. Mesmo tendo sido já nomeado quatro vezes pela Academia, uma delas como actor principal em "Pollock", como personagem de Jackson Pollock com quem, aliás, tem evidentes semelhanças físicas.

Ontem revi "Pollock", com mais atenção e cada vez me convenço mais que este excelente actor já deveria ter direito à estatueta há muito tempo, apesar do filme não ter colhido muitos favores da crítica. Mas um dia será. Tenho a certeza. E terei muito gosto em vê-lo com a estatueta na mão a fazer os agradecimentos da praxe. Será da mais elementar justiça!

domingo, janeiro 09, 2005

Os Pilhões



Anda por aí um anúncio muito ecológico e assim, mas que me tem causado sobressaltos escusados. Sobretudo quando a televisão está ligada e a ouvimos tipo ruído de fundo. É que está um cidadão muito descansado a ler, a escrever, a comer ou em outras quaisquer nobres tarefas de ócio doméstico e eis senão quando ouve-se uma voz grossa, monocórdica e trapalhona a queixar-se... "pois, não há pilhões em Portugal"!

Palavra de honra que já não são uma nem duas, nem três vezes que me arrepio quando oiço o tal slogan, cuja percepção auditiva começa apenas no "ões"... daí a pensar que, de repente, em Portugal está tudo capado é um passo.

Felizmente que parece não ser (ainda, pelo menos) o caso e que os pilhões continuam a existir no País. Não damos é por eles, tal como aliás diz o anúncio...

sábado, janeiro 08, 2005

Always in my Mind...



Foi o meu primeiro ídolo. Eu era muito miúdo mas depressa concluí que sim. Cheguei a pentear-me como ele e a cantar ao espelho o Dont’be cruel, o Blue Suede Shoes, a dançar sozinho, no quarto o Jailhouse Rock e, já um pouco mais tarde, a ensaiar o meu potencial de charme cantando baixinho o Are You Lonesome Tonight às namoradinhas que se iam atravessando no caminho da minha adolescência.

Mais tarde, já mais crescidinho, tive uns “arremedos” com os Beatles e Rolling Stones. Mas ídolo, assim à séria, só ele mesmo.

Faria hoje setenta anos. Afinal bem poderia cá estar ainda e levar-nos com ele no imaginário das suas fabulosas canções e na melodia da sua extraordinária voz. Há muitas mais coisas à volta da sua vida mas, para mim, ficou-me a voz, o sentimento e o génio daquele que terá sido um dos mais extraordinários intérpretes de todos os tempos. Disse...


Are You Lonesome Tonight?

(Roy Turk and Lou Handman)


Are you lonesome tonight,
do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stay to a brighter sunny day
When I kissed you and called you sweetheart?

Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?

- Elvis talks:
I wonder if you're lonesome tonight
You know someone said that the world's a stage
And each must play a part.
Fate had me playing in love you as my sweet heart.

Act one was when we met, I loved you at first glance
You read your line so cleverly and never missed a cue
Then came act two, you seemed to change and you acted strange
And why I'll never know.
Honey, you lied when you said you loved me
And I had no cause to doubt you.
But I'd rather go on hearing your lies
Than go on living without you.

Now the stage is bare and I'm standing there
With emptiness all around
And if you won't come back to me
Then make them bring the curtain down.

Elvis sings again:
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?


Só eu sei...



Vai ser assim...

Haverá por certo uma razão poderosa para se gostar de futebol. Mesmo os que não vão ao futebol, como eu.

Não me lembro há quantos anos fui a um estádio pela última vez, mas sei que tive o cuidado de levar os filhos, ainda bem miúdos, porque sempre achei que ir ver futebol ao vivo era uma experiência de vida. E eu tinha a mania que os meus filhos tinham de ter muitas experiências de vida.

Foi na Luz e era um Benfica vs Sporting. E lembro-me do homenzinho baixo e já idoso, sentado um degrau abaixo, de casaco preto e um lenço ao pescoço. O lenço tapava-lhe uma visível traqueotomia que lhe teria sido feita muitos anos antes. O homenzinho estava acompanhado de um amigo, sem lenço nem traqueotomia visível e eu reparei que cada vez que falavam o traqueotomizado tinha de encostar um vibrador ao pescoço para fazer ouvir a sua voz muito rouca e quase imperceptível. A verdade é que cada vez que as coisas corriam mal ao Benfica, o homenzinho levantava-se de supetão, encostava o vibrador ao pescoço e “gritava” - filho da puuuuuuuta. A expressão era audível num raio de apenas um metro, não mais, tal era rouquidão e tão escassos os decibéis. Mas, "prontes", estava o insulto feito e a missão cumprida. Lembro-me bem da cara dos meus filhos a presenciarem a cena e tenho a certeza que ela, juntamente com a moldura de muitas dezenas de milhares de pessoas em permanente catarse terão sido um momento ímpar da tal experiência de vida de que falei no início.

Nunca mais fui ao futebol. Mas acompanho-o pela televisão e sou lagarto. Não sei porquê, não faço a mínima ideia, mas sou. Se calhar pela mesma razão que outros são lampiões. Talvez seja essa a magia do futebol. Gostar-se do jogo e “ser-se de um clube” sem sabermos nem nos importarmos porquê. Hoje, como de costume, no derby (que me desculpe a Invicta, mas derby só há um: Benfica/Sporting e mais nenhum...) irei ver o jogo à pastelaria da esquina com amigos. Com muito fumo, berraria, pipis, pica-paus e camarões e com aquela perspectiva de ver metade dos presente levantar-se a festejar de cada vez que houver um golo, enquanto a outra metade insulta o árbitro.

Ahhh... e o Sporting vai ganhar, com certeza!

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Catarse Obscena





Isto está mau. Os restaurantes aqui da zona continuam a impregnar-me a roupa de óleos alimentares e a escolha começa a ser cada vez mais escassa. Já se fala, entre mim e colegas, em irmos ao restautrante "X" que usa Fula e não ao restaurante "Y" que usa produto branco PingoDoce…mas não há uma entidade qualquer que monitorize estas situações?
Resta-me a esperança que o próximo Governo, especialista nestas coisas e com o Armando Vara disponível, arrange uma qualquer Fundação de Observação De Aromas - Saponificantes Essenciais, sem fins lucrativos claro, que obrigasse os nossos "industriais de restauração" a manter os sistemas de exaustão das cozinhas em bom estado de conservação e funcionamento e evitasse que chegássemos a casa todos os dias com a roupa a cheirar a uma qualquer variante de C18H36O33 e um ou outro oxidrilo mais mal cheiroso que o do dia anterior.
Esta Fundação poderia ser anunciada todos os dias na TV, para que os utentes soubessem que os seus direitos estão bem protegidos. Depois das 22, claro e com bola vermelha para que, já sem criancinhas na sala pudéssemos ler a sigla, alto, claro e bom som e que é exactamente o que me apetece dizer todos os dias quando acabo de almoçar, por exemplo, peixe cozido com legumes e chegar ao gabinete a cheirar a chicharro frito…

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Pluralismo Cultural



CANTINFLAS, by João César Monteiro

Estava a ver o “Quem quer ser milionário”, género com um olho no burro e outro no cigano, sendo que o cigano era claramente o computador, quando deparo com a seguinte questão posta a um homem de cerca de 30 anos, sociólogo e que consistia no seguinte:

- Que personagem foi imortalizada pelo cineasta português João César Monteiro? João de Deus, Cantinflas, Zeca Diabo ou o Pai Tirano?

O concorrente pensou, pensou, disse que estava inclinado para... Cantinflas... na dúvida, pediu a ajuda do público. Irritado com a ignorância do sociólogo (quanto mais não fosse por exclusão de partes), assisti à seguinte votação do ilustre público presente:

- 44% achava que foi João de Deus
- 38%... segurem-se...Cantinflas
- 10% achou que foi o Pai Tiramo
- 8% votou no Zeca Diabo

Ora aqui está um exemplo vivo de pluralismo cultural!

Posto isto, vou-me deitar. A minha cama não é Queen Anne que, como todos sabem foi rainha da Prússia, filha de Teresa de Áustria que mandou construir o Coliseu de Roma em Milão, mas é de cerejeira que, como sabem, é aquela fábrica lá para o norte que faz umas mobílias porreiras e que se vendem ali no Centro Comercial do Parque das Nações para onde, se não souberem o caminho, basta seguir as tabuletas que dizem Expo 98, que foi uma exposição que serviu para inaugurar a ponte Vasco da Gama que , como todos sabemos, foi ajudante de campo de Pigafetta na viagem de circum-navegação, antes de ele próprio ter dobrado o Cabo Bojador, direitos que mais tarde negociou com Diogo Cão, nos idos do século XIX, pouco depois de Flemming ter descoberto a vacina da raiva e pouco antes de Pasteur descobrir a penicilina...

Rats...

Há dias em que não apetece escrever nada e outros em que apetece escrever coisa nenhuma. Por isso, sendo hoje o segundo caso, aqui vai:

- COISA NENHUMA

terça-feira, janeiro 04, 2005

Intensive Care...



Pedro Santana Lopes poderia afastar-se da vida política activa, com efeitos imediatos. Seria um serviço que prestaria ao País e a ele próprio.

Ele não entende ou não quer entender que as suas atitudes e procedimentos recentes estão a contribuir decisivamente para a desagregação do Partido a que preside, para a classe política em geral e, em última análise, para todos os portugueses.

As últimas boutades do convite a Pôncio Monteiro para número dois do PSD no Porto e a rábula do cartaz chegam a ter uma carga de vexame pessoal que dificilmente aceito que ele não entenda,. O homem não está à vontade, já não consegue falar aos jornalistas e a sua expressão é a de um homem acossado. E ele não vê isso? Qual é a dificuldade de ele se retirar JÁ do cargo que ocupa no Governo e no Partido? Que consequências seriam assim tão gravosas para o País se ele for ao médico e lhe diagnosticarem uma depressão qualquer e metesse baixa como as pessoas?

Mais grave ainda me parece ser a existência da corte que o rodeia, na expectativa de um golpe de asa que lhes traga prebendas e panache... não vejo outra razão para que PSL consiga reunir ainda um punhado de pessoas que ou fingem acreditar nele ou se metem numa típica fuga para a frente, por saberem que se o barco naufragar, não haverá porto de abrigo próximo nem possível.

Blurrrpp...



A Musca arrotou aqui. E arrotou muito bem!

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Grande Onda...


"Onde é que ela andará?"




Uma "repórter-enviada-especial-presumivelmente-acabadinha-de-saír-da-faculdade", de voz esganiçada, passo estugado e indicador abrangente, mostrava ontem aos telespectadores da TVI (isto de eu ainda sintonizar a TVI deve ser algum efeito residual de qualquer masoquismo mal resolvido dentro de mim…) os efeitos devastadores da recente catástrofe no Sudeste Asiático, ao mesmo tempo que dizia assim como quem acaba de relatar um golo do Benfica: - "as ONG, voluntários e a TVI numa grande onda de solidariedade, etc., etc."

Vergonha é uma palavra demasiadamente forte para expressar certos sentimentos que me assolam frequentemente, até porque Jorge Sampaio diz que agora é que vai ser, todos juntos, em consenso, breubeubéu e os portugueses vão finalmente ter oportunidade de escolher (aparentemente, até aqui não tinham tido) … e por isso só posso esperar que, depois das eleições e dos consensos, os nossos repórteres vão todos passar a expressar-se correctamente e com um mínimo de decência e sentido de oportunidade. Mas enquanto os consensos vêm e não vêm, não haverá uma onda (muito grande também não, uma coisa assim benigna que não aleijasse…) de bom senso e profissionalismo ali para os lados do IC19 e que desse uma varridela a preceito?

domingo, janeiro 02, 2005

Assim a Modos que Maneiras de Dizer...



I HAVE A DREAM

Disse TUDO e toda e gente percebeu



Tenho um sonho: ganha as eleições quem souber comunicar um sonho para um país combalido na auto-estima e que possa dar uma ideia de austeridade, de constância política, de um percurso linear... in a Capital

Disse NADA e toda gente ficou cada vez mais na mesma.



That's life

Disse uma bela canção...



É a vida...

Pois...

Um Poema de Alda Lara



Alda Lara nasceu em Angola e lá morreu nos idos de sessenta. Nunca a conheci mas, bastantes anos mais tarde, era eu um jovem estagiário em Angola, tive o privilégio de conhecer o marido, médico como ela e o irmão, meu colega, bastante mais velho do que eu e que parecia mais novo que todos nós! Alda morreu de doença e Ernesto (o irmão) apareceu morto numa valeta de rua, supostamente vitimado por uma partida que o excesso de álcool e boémia lhe pregou. Hoje, inesperadamente, vi um poema dela publicado. Mas este, O Testamento, foi sempre o de que mais gostei. Segundo Orlando de Albuquerque, seu marido, terá sido escrito já com a morte na ombreira da porta que a sua pertinaz doença lhe abria.

Testamento

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

sábado, janeiro 01, 2005

Jet Sax



A Turrinha usando um clarinete que recebeu agora pelo Natal

Por acaso até gostava de ter ido ver o Woody Allen ao Casino. Mas tive 500 razões para não ir. Isto se fosse sozinho o que, convenhamos, não tinha graça por aí além.

Woody tocou clarinete. Que nem sequer é um instrumento demasiado esquisito. Mas, aparentemente, para as lídimas representantes da gente bonita (?) da nossa paróquia, é. Pelo menos para a quase totalidade de algumas mulheres entrevistadas pela RTP sobre “se sabiam que instrumento tocava o Woody”. Contei como respostas, com uma margem de segurança de 98% como dizem as empresas de sondagens, 3 trompetes, 4 saxofones e 3 "não sabe/não responde”. Clarinete é coisa que aquelas shining ladies, espartilhadas até ao desespero em vestidos a deixarem transbordar os ombros cobertos de nuances, madeixas e muitos dourados a ornarem cabecinhas claramente a necessitar da cultura instrumental, parecem não conhecer. Houve uma mesmo que disse que o instrumento que WA tocava “era jazz”, entre um sorriso e dois trejeitos para a câmara. O que me leva a pensar que lá por casa não se deve ligar muito a instrumentos.

Ocorre-me questionar se somos mesmo assim ou se fomos todos operados em pequenino...

Réveillons



Last night flute-upgrade do Espumante

Arrastado por uma asa, com indícios preocupantes de PDI, a avaliar pelo binómio de dores no cotovelo (eu, que não jogo ténis há mais de cinco anos...) e na “rotunda” da omoplata, clavícula e úmero, em que todos estes ossos insistem em ter prioridade de passagem, fui parar a um simpático restaurante chamado “Casquinha de Siri”. Siri parece querer significar um caranguejo pequenino que existe lá para o Brasil e que se diz ser muito bom. Não sei se é, porque só me serviram a casca com um molho de camarão lá dentro. Comi o molho, mas a casca achei indigesto, por isso não sei se é bom.

O restaurante é acolhedor, tem uma vista deslumbrante sobre o Tejo e eu tive o privilégio de ficar sentado junto à vidraça, com vista para o Cristo Rei, ponte... pois, o Tejo é magnífico e há momentos assim, que me fazem esquecer o estaleiro da capital e achar que Lisboa é a cidade mais bonita do mundo.

Éramos um grupo de amigos de longa data, outros nem por isso, todos com a dobragem dos quarenta/cinquenta patente, uns com a ternura da dita, outros nem tanto, que a vida não está para graças. Tudo muito bem vestidinho, os homens de gravata e isso e as mulheres esmeradas em toilettes de estilo (eu insisto em reparar nestas coisas...e espero que isso não signifique algum sinal preocupante assim do género, quando me sair o Euromilhões, compro um descapotável, um boné branco de pala curta, calça bege e polo azul claro e vou engatar gajas boas para a porta do casino...).

A proposta musical, ao vivo e a cores, veio de um grupo simpático de três brasileiros. Tirando aquela meia hora pós meia noite em que cantaram o “Mamã eu Quero”, “Cachaça” e correlativos, tudo girou à volta de Caetano Veloso, Gal Costa, Regina, Jobim, Vinicius e outras eminências do género e devo confessar que hesito em pensar se estou a “andar para a idade” ou se é mesmo muito mais agradável uma noite assim com boa música, alegre, “de marca” e, ainda por cima, que permite conversar quando não se dança. Dançar... penso que não dançava vai para quatro ou cinco anos. E não é que ainda sei? E que mesmo com aqueles inestéticos sapatos que as mulheres acharam que agora se usa, com uns bicos a lembrar pica-paus nervosos e a esconder possíveis e indesejáveis joanetes, não pisei ninguém?

Os amigos eram gente agradável, alguns deles há muito que os não via. Estão mais velhos e mais sábios, ao contrário de mim, que me parece que estou mais velho e cada vez menos sei. Por uma vez não se discutiu política, apesar de alguns deles viverem ou dependerem dela...

Logo a seguir à meia noite fez-se um minuto de silêncio pelas vítimas do Sueste Asiático. Foi bonito e genuinamente sentido.

As mensagens de telemóvel chegaram-me, surpreendentemente, cadenciadas e sem os empastelamentos esperados.

O regresso a casa fez-se quase de manhã. Por uma marginal húmida e cada vez mais bonita. Não soprei em balões (eu, que tenho sempre aquele desejosinho traquinas que mo exijam só para ver a cara da autoridade a olhar para o “zero” da maquineta...).

Foi bom. Estive com gente de quem gosto e senti falta de outros de quem gosto muito também. Mas não é isso o que a vida é? E hoje já é Janeiro e já é 2005 e lá vamos para mais uma corrida e mais uma viagem.

Gostava muito que as pessoas de quem gosto tivessem passado uma noite de fim de ano tão agradável como a minha. Espero que assim tenha sido.E para os que a tiverem tido menos boa, um beijo amigo e força para mais um ano.