sexta-feira, janeiro 21, 2005

Joe Littlepeople





O Joe Littlepeople é uma versão upgrade da versão de Bordalo Pinheiro, cujo centenário se celebra agora.

O Joe Littlepeople já não tem barba de dois dias nem o cabelo em desalinho, mas ainda guarda, à sorrelfa, o toalhete perfumado do avião da Tap que o leva a Bruxelas, enquanto lê a edição internacional do "Herald Tribune" com ar entendido e morre de curiosidade por saber o que trará o "Correio da Manha" e "A Bola".

Continua a ser manhoso, intriguista e invejoso, mas disfarça estes atributos com maneirismos que aprendeu na faculdade e continua a ser razoavelmente ignorante, condição que disfarça sempre que ouve falar, por exemplo, de Pessoa e vai a correr ao Google ver umas datas e uns títulos de algumas poesias que há-de papaguear à namorada, num passeio ao Colombo, Sábado á tarde.

Já fala menos mal do governo e dos políticos porque ele próprio é, possivelmente, um deles e até fala inglês, arranha o francês e conhece umas citações latinas, tipo "e pluribus unum" ou "posteriori", ficando-lhe, porém, a dolorosa dúvida se "anteriori" também é aplicável, já que não lhe soa lá muito bem.

Conduz um carro reluzente por entre o inferno de Lisboa e insulta mentalmente os "idiotas" que ziguezagueiam em furgões comerciais, atrapalhando o trânsito como na "Construção" de Buarque de Holanda, de quem, aliás, já ouviu falar e tem uma vaga ideia de ter sido um pintor de Buarcos… ou de Amsterdam… quem sabe? Mas isso também não interessa nada. Chato, chato, é ter prometido aos pais "ir à terra" no fim de semana comprido que se avizinha e não ter pachorra para aquela cena da aldeia, do café e dos pais a perguntarem-lhe se se dá bem na capital.

Trabalha numa empresa moderna, com computadores e tudo e procura sair o mais tarde possível, para poder dizer à namorada que anda cheio de stress e de trabalho o que, aliás, lhe justifica as fracas performances recentes. Vai dizendo que o excesso de trabalho lhe amolece as ideias e afecta o instrumento ou "the other way round", que é uma expressão que ele ouviu num seminário no Marriot e que vem dar ao mesmo, para infelicidade da parceira.

Acha que o PS ou o PSD continuarão, fatal e alternadamente a gerir o país mas vai pensando se não será de estudar melhor aquela "cena" do Bloco. Não que os bloquistas lhe digam alguma coisa, mas porque "sente" que há ali qualquer coisa que "está a dar", embora ele não faça a mais remota ideia o quê.

O Joe Littlepeople está na mesma. Fez a barba e não deixa crescer bigode. Manteve e sublimou os tiques de antanho e só mudou numa coisa, fundamental aliás. Já nem um manguito sabe fazer.

5 Comments:

At 3:44 da tarde, Blogger Nada de novo na frente ocidental disse...

Sempre detestei a imagem do Zé Povinho. Não pela iamgem em si, ou pela criação de Bordalo Pinheiro. Mas pelo que representa, da nossa pequenez, como povo- que alguns, com frequência, pretendem exaltar, precisamente baseados em tal imagem- pelo nosso provincianismo nunca resolvido, pelo nosso atraso social e cultural, blá, blá, blá...

Mas, homem! Você conseguiu fazer-me ficar com saudade do original Zé, quando me lembra coisas- pessoas- recentes, da nossa vidinha, social, empresarial, etc...com este mal-amanhado- ele, não o seu texto!- Joe.

Belo posto!
Um manguito elogioso(?) para si...

 
At 1:28 da manhã, Blogger Madalena disse...

Por um lado, faz-nos rir....
mas....é de nós proprios!
Beijinho Espumante
Vou também referir-me ao Zé, na versão tuga, mas ainda tenho de ir ao google buscar umas dicas...

 
At 2:14 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Ocidental
Essa de me fazerem um elogio com um manguito é obra. Um dia destes, se e quando vir uma mulher bonita por aí, experimento. Qualquer coisa do género: - Os seus olhos são o sol do meu inverno (pirosada, mas é para exemplo), ao mesmo tempo que lhe faço um estrondoso manguito. Veremos o que sai daí... se não souber de mim na segunda, talvez telefonando para as urgências do Stª Maria :)

 
At 2:16 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Azenhas

Pois há, pois há. E aos molhos, como diz, tal qual o alecrim. Só que o alecrim ainda serve para alguma coisa, mais não seja para celebrar o Stº António... :)

 
At 2:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Madalena

Fico à espera dessa versão tuga :)

 

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