Ali atrás na TV oiço vários peritos em poupança a explicar
aos portugueses como é que um português que ganha 1.000 euros deve fazer uma
folha de receitas e despesas, usando uma folha de papel e uma esferográfica ou
usando o “Excel”. Aí deve-se registar as receitas (ou seja o que ganha) e s
despesas (ou seja o que gasta). E não se deve esquecer de registar 35% para
poupança (ou seja 350 euros). Procurei ser literal.
A coisa depois passa para uma escola (parei de trabalhar e
olhei para trás) onde algumas professoras dissertam sobre este princípio de
poupança, numa linguagem mais acessível, já que se trata de crianças entre seis
e oito anos. E entre várias explicações às criancinhas de como devem acautelar
o seu futuro, poupando, uma professora enceta o seguinte diálogo, com uma
menininha amorosa:
Menininha: Sô professora, eu ontem engoli um euro. Acha que
me vai fazer mal?
Professora: Não, minha querida, os políticos comem muitos e
não lhes faz mal nenhum.
Não sei bem o que chamar a este exemplo de indigência. Nas vinhas
há uma praga chamada filoxera, conhecida por se alimentar exclusivamente da
madeira das videiras e das fêmeas serem ápteras (sem asas) e se reproduzirem
assexuadamente. Entre nós há evidentes semelhanças. Não temos asas (excepto as
vacas do Costa) e a nossa madeira alimentar assenta exclusivamente num atavismo
congénito com os resultados que se conhece. Por enquanto ainda não nos
reproduzimos assexuadamente, mas para lá caminhamos.
O resultado é o aparecimento gradual, mas firme, de uma
sociedade estereotipada no ódio e desprezo por uma classe social. Quando era pequenino
ensinavam-nos a odiar os polícias. Hoje, começamos de pepino torcido a odiar os
políticos.
Verdade seja dita que tantos os polícias como os políticos
têm bastas razões para ser odiados, mas a culpa é de todos nós em geral. Porque
com este tipo de educação os polícias se foram tornando cada vez maiis brutos e
os políticos comem, impunemente, cada vez mais euros. E nós continuamos,
alegremente, a ser cada vez mais estúpidos. Não que não alimentemos esta
dinâmica educacional ao longo dos anos.
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Etiquetas: Ai Portugal, Dia Mundial da Poupança