segunda-feira, junho 20, 2016

O sol a morrer de frio



[5412]

Hoje começa o Verão. Logo à noite, às 23h34. Os portugueses têm uma costela infantil que vibra com tudo o que é quente: é a bica bem escaldada, a sopa fumegante quase em ebulição, o ar abafado de Agosto do restaurante onde uma mulher friorenta “interdita” o funcionamento de qualquer aparelho de ar condicionado, é a camisolinha ao fim do dia (mesmo em Agosto) por causa da “friagem”, a janela fechada para evitar a “correspondência”, a água natural porque o gelo faz muito mal à garganta e às gengivas… é, enfim, esta pedo-excitação (passe o palavrão) pela chegada do Verão. Que chega hoje às 23h34, dizem as TV’s, os jornais, as rádios e toda a gente que me rodeia e por quem passo. E dizem-no com deleite e olhos de reconhecimento aos céus.

Um dia, espero, perceberei a razão desta histeria estival. Ou não. Até lá, resta-me manter o a/c em modo de permanência e ser romano em Roma, ou seja, dizer só para dentro (e baixinho para ninguém ouvir) que está um calor do caraças e sorrir para aquela senhora lá ao fundo do restaurante que acabou de pedir ao empregado, com um arreganho de censura pelo atrevimento em se ligar uma coisa daquelas, para desligar o a/c por causa das crianças.


*
*

Etiquetas:

quarta-feira, setembro 28, 2011

Ó senhor Vitorino, desligue lá aquilo... já estamos no Outono




[4428]

Para aqueles que se esquecem da nossa vertente terceiro-mundista (nem acredito que disse isto) aí está este Setembro quente, abafado, pesado e na casa dos trinta graus. A coisa torna-se particularmente grave porque é nestas alturas que vem ao de cima um dos grandes preconceitos das lusas gentes sobre o ar condicionado. Uns porque espirram, outros porque acham que se constipam e outros porque são alérgicos. Também há quem diga que os ácaros são mais e mais activos no Outono. Nos restaurantes, os aparelhos de ar condicionado continuam a ser apreciados objectos de adorno e ai de quem os ouse ligar. Há sempre alguém que diz não, como o poeta Alegre. Uns porque o ar condicionado lhes bate na cara, outros porque a sopa arrefece e outros ainda porque…estamos no Outono, soit disant, que o Outono é estação já para umas camisolinhas de lã, quem sabe um cachecol fininho para proteger as nossas frágeis e sensíveis gargantas. O resultado é andarmos todos nesta estufinha morna e peganhenta, suados no colarinho e suportando um desagradável e inominável odor que, a acreditar na minha pituitária, se encontra algures entre as virilhas cozidas e as virilhas azedas. Há casos também, em que cheira a fénico (nunca soube, desde miúdo, o que é cheirar a fénico, mas o meu avô dizia-o com frequência), peúgas calçadas com ténis durante quinze dias, concentrado de atmosfera de metropolitano e, em casos mais graves, a cabelo com caspa de gente que nunca lava a cabeça porque acha que vai ficar careca.

Preparado para mais um dia de 30 graus com sinal vermelho para o ar condicionado, aqui vou eu trabalhar. Vale-me o magnífico, saudável, fresco e revigorante ar condicionado do meu carro que me confere e armazena paciência e denodo para mais um dia de 30 graus e de gente prestes a constipar-se. Mas isto sou eu, que tenho a mania!
.

Etiquetas: , , , , ,