quinta-feira, novembro 26, 2015

O terrorismo e os pobrezinhos


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Não sou muito de me referir ao Papa. Por uma questão de respeito pela figura e porque, geralmente, a religião é none of my business.

Infelizmente eu e muitos como eu continuamos a ser muito do business delas e, por vezes, as coisas incomodam. Se por incidência geográfica e cultural tive uma educação judaico-cristã, é natural que do Papa espere um comportamento harmonioso com os ditames do cristianismo e, sobretudo, um lastro cultural que contribua para a resolução dos grandes problemas sociais.

O Papa Francisco não será exactamente um exemplo do que eu gosto num Papa. Depois de umas recentes declarações que fez no Quénia, por exemplo, alguém deveria explicar a Sua Santidade que o peronismo acabou de ser (e, espero, que finalmente) remetido a uma condição mais ou menos museológica, com a derrota de Kirchner. E que não tivesse sido. Sua Santidade deveria ser cuidadoso no enunciado do verbo e perceber quando as suas palavras poderão ser interpretadas erradamente.

Já uma vez me irritei quando SS acusou frontalmente a Europa dos problemas do mundo, mormente dos refugiados do Médio Oriente. Acho mesmo que se passou dos carretos quando disse que todos nós (os europeus) devíamos ter vergonha pelo que se estava a passar. Vergonha, foi a palavra que ele usou. Por mim, não sinto vergonha nenhuma, salvo a vergonha de me ver envolvido frequentemente neste complexo de culpa e vergonha em que a Europa acha por bem vestir-se.

Desde os Mau-Mau (que por acaso nao eram bem os pobrezinhos, mas uma organização de Kykuyus, agricultores e criadores de gado que combatiam a soberania britânica) que não há terrorismo que se veja, no Quénia. E os actos de terror lá perpretados recentemente têm sido levados a cabo por gente que tem a ver com tudo menos com o Quénia que, reconhecidamente, é um país com elevados índices de desenvolvimento e cidadania, quando comparado com muitos outros países africanos. SS devia informar-se um pouco melhor antes de se excitar e debitar vulgaridades.


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domingo, janeiro 18, 2015

Quem se mete com a mãe de Sua Santidade, leva


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Eu sei que o Papa, organicamente, é um homem como os outros, deve ter dores de cabeça, gastroenterites e mesmo, aqui e ali, encrava uma unha. Mas é o chefe da Igreja Católica, tem a força e o pendor natural das santidades, um dia poderá mesmo vir a ser santo e sabe ou deveria saber que a sua palavra é a palavra de Deus, junto dos católicos.

Logo, se o Papa diz que se chamarem um nome à mãe ele resolve a coisa a murro ele revela uma forma estimável de amor filial, mas não percebe que está automaticamente a patrocinar, defender, desculpar e legitimar, os assassinos que resolveram matar uns quantos caricaturistas por terem desenhado o profeta, ainda que com evidente mau-gosto.

Essa é, para mim, a parte grave da questão. Um Papa não pode deixar esta ideia junto dos seus acólitos nem, muito menos, junto dessa fauna sub-humana que anda por aí a cortar cabeças, lapidar mulheres adúlteras, chicotear blogueiros e a atirar gays dos parapeitos dos prédios mais altos de Mossul e outras cidades, só porque são gays. O Papa devia ter tento na língua e perceber que a simpatia da sua figura se formou à custa de alguns episódios mais ou menos populistas e, exactamente por isso, sentir os limites do seu populismo. A menos que ele pense isso mesmo, que quem chamar nomes à mãe deve levar um soco e, outrossim, os ofendidos pelos desenhos do profeta tenham legitimidade para andar para aí aos tiros, a matar quem está. E, a ser o caso, acho que ele deveria ter rezado essa noite um acto de contrição e pedir a Deus que o ilumine.

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terça-feira, outubro 08, 2013

Vergonha de quem?


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Por razões várias andei um pouco arredado de blogues. Mas um post da Margarida fez-me recordar este episódio que, na altura, confesso, também me fez reflectir. Tem a ver com o Papa Francisco achar que o trágico naufrágio em Lampedusa foi uma vergonha. Eu também acho que foi. Só que o Papa não terá sido bem explícito ou as notícias, com a habitual comunicação social atenta a estas coisas, logo tratou de sugerir que a vergonha era dos países europeus que não sabem ainda tratar bem os infelizes que tentam fugir, com as respectivas famílias, de países párias, tiranizados por gente corrupta e indiferente ao sofrimento dos seus cidadãos e mentores de regimes mais ou menos conhecidos por todos nós.

Simpatizei com o Papa Francisco, apesar de me soar um pouco a Renault 4 L a mais e a histórias de sapatos baratuchos mais ou menos populistas. Enfim, são estilos, mas algo me dizia que mais tarde ou mais cedo o Papa Francisco acabaria por cair num episódio infeliz como este de deixar transparecer a ideia de que temos todos uma culpa imensa por terem morrido mais de duzentas pessoas num naufrágio, enquanto tentavam fugir do despotismo e miséria dos seus países de origem. No caso vertente, os países de origem eram o Gana (onde há escravatura), a Eritreia e a Somália, países modelo de virtudes que todos nós conhecemos. E o Papa acha que é uma vergonha. E eu, pergunto, tal como a Margarida já o fez, vergonha de quem?

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segunda-feira, julho 29, 2013

Um espectáculo único


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Foi um espectáculo único. Ver três milhões de pessoas no areal de Copacabana, um Papa bem disposto e folgazão e um grupo de normalmente hirsutos cardeais participando, de braços levantados, em cantoria e dança, comungando da alegria reinante, não é para todos os dia. Por mim, nunca tal tinha visto e não sei se será fácil ver outra vez.

Não sei se a virtude vem de um Papa genuinamente popular, se de uma multidão espontânea e naturalmente entregue à sua fé. Ou tudo junto. Mas que foi bonito de ver e comovente, foi.
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