Quem se mete com a mãe de Sua Santidade, leva
Eu sei que o Papa, organicamente, é um homem como os outros,
deve ter dores de cabeça, gastroenterites e mesmo, aqui e ali, encrava uma
unha. Mas é o chefe da Igreja Católica, tem a força e o pendor natural das
santidades, um dia poderá mesmo vir a ser santo e sabe ou deveria saber que a
sua palavra é a palavra de Deus, junto dos católicos.
Logo, se o Papa diz que se chamarem um nome à mãe ele resolve
a coisa a murro ele revela uma forma estimável de amor filial, mas não percebe
que está automaticamente a patrocinar, defender, desculpar e legitimar, os
assassinos que resolveram matar uns quantos caricaturistas por terem desenhado
o profeta, ainda que com evidente mau-gosto.
Essa é, para mim, a parte grave da questão. Um Papa não pode
deixar esta ideia junto dos seus acólitos nem, muito menos, junto dessa fauna
sub-humana que anda por aí a cortar cabeças, lapidar mulheres adúlteras,
chicotear blogueiros e a atirar gays dos parapeitos dos prédios mais altos de
Mossul e outras cidades, só porque são gays. O Papa devia ter tento na língua e
perceber que a simpatia da sua figura se formou à custa de alguns episódios
mais ou menos populistas e, exactamente por isso, sentir os limites do seu
populismo. A menos que ele pense isso mesmo, que quem chamar nomes à mãe deve levar
um soco e, outrossim, os ofendidos pelos desenhos do profeta tenham
legitimidade para andar para aí aos tiros, a matar quem está. E, a ser o
caso, acho que ele deveria ter rezado essa noite um acto de contrição e pedir a
Deus que o ilumine.
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Etiquetas: Código de Hammurabi a 30.000' de altitude, Papa Francisco
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