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Ouvi a entrevista toda de Passos Coelho. Não ouvi a entrevista toda de A. Costa. Por falta de oportunidade, não porque tenha já uma dificuldade intestina em ouvir semelhante criatura. Mas deste, ouvi excertos e transcrições.
O que me ficou do que vi e ouvi foi que, com tristeza, verifico estarmos mais ou menos num contexto manipulativo de uma maioria de jornalistas seguidistas, oportunistas, incultos ou, mesmo, irremediáveis devedores à natureza de um módico de inteligência que deveria ser uma das condições primeiras para se desempenhar o cargo.
O período pós entrevistas demonstrou isso mesmo, Os “leads” (agora diz-se assim não é?) de ambas as entrevistas demonstravam isso mesmo. Enquanto que, por exemplo e metaforicamente, Costa dizia que quando uma nuvem tapa o sol se faz sombra, Coelho apontava, com alguma inabilidade e nervosismo, admito, argumentos válidos e sérios para justificar as perguntas, mais ardilosas que interessantes, que lhe colocavam. Um resultado avulso deste cenário foi o arraial feito por Costa ter dito que se alcançasse a maioria absoluta não deixaria de contar com os Partidos à esquerda que agora suportam o governo e a comiseração mostrada, por PPC ter dito que se perdesse as autárquicas não veria motivo para se demitir. Esta última afirmação, então, foi glosada com abundância e com um acervo de críticas, vá lá saber-se porquê.
Repito. É difícil ser-se Passos Coelho. É preciso ter muita presença de espírito e domínio do Grande Simpático para não mandar um berro e remeter estes aprendizes de feiticeiro para a mãezinha que os pôs neste mundo. Ocorre-me avulso a insistência daquele jovem jornalista que fez parelha com o José Gomes Ferreira que por três vezes insistiu, excitado: - Então felicita o governo, não é? Isto a propósito desses números mágicos que circulam por ai e que produzem o “bem-estar” que, em estilo bovino, desfrutamos. PPC tentava explicar como é que aqueles números tinham sido atingidos (basicamente investimento estatal zero, profunda degradação dos serviços públicos, dívidas crescentes de sectores como a saúde, juros aterradores e crescimento incontido da dívida pública e a insustentabilidade do sistema, já que não será possível manter a mesma engenharia financeira por mais anos, sob pena de o “castelo ruir”, como qualquer cidadão medianamente informado percebe) e o jornalista insistia: - Mas felicita o novo governo? Mas felicita o novo governo?
Não sou “Coelhista”, votei numa coligação onde ele estava, o que é algo diferente. O que não me impede de reconhecer ver nele um homem sério, isento das trapalhadas e conluios em que o PS é fértil e de uma notável coerência. E que vive num caldo político em que a oposição se faz à Oposição ao invés de ser feita a um governo trapalhão, fraudulento, jacobino, que toma como conteúdo valorativo do seu currículo a sua acção como “resistentes do Estado Novo” ou, frequentemente, filhos desses resistentes, com uma pulsão conducente à submissão do rebanho e que nos conduz alegremente para um beco sem saída e que não nos dignifica no exterior. Entenda-se por “exterior”, termo de onde vamos pedir dinheiro emprestado que achamos que os países ricos têm obrigação de nos proporcionar, sem recalcitrar e achando-nos graça pelo clima, praia e pastéis de nata.
E quanto a jornalistas, não há muito que dizer. Salvo honrosas excepções, constituem um grupo alargado de maus profissionais. Venais, incultos, que fazem da venalidade e da hipocrisia o seu motto (alguns não saberão o que motto quer dizer, mas podem sempre ir ao Google…). E que por razões que não descortino bem, conseguem campo propício às suas diatribes, por parte de quem lhes paga o ordenado e outras benesses. As televisões são um bom exemplo, com um extenso rol de comentadores e especialistas que, frequentemente, confrange ver e ouvir.
É difícil ser Passos Coelho.
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