terça-feira, abril 11, 2017

Vá... É às Segundas



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Eu classificaria os meus compatriotas em duas fatias de gente. Os que nunca vêem novelas ou “bigbrothers” e os que nunca vêm programas desportivos.

Novelas e “bigbrothers”, concordo e aceito a ideia, eu próprio tentei e insisti, com um par de dias a Pantoprazol, mas não deu. Tudo aquilo é demasiado pornográfico, não propriamente pelas quecas que dão mas por aquelas mentes formatadas em coisa nenhuma. Já com os programas desportivos, a coisa é diferente. É digerível, é didáctico e de valor acrescentado para compreendermos melhor o que somos, porque somos e o que provavelmente nunca viremos a ser.

Um programa de comentários desportivos, pintalgados por gente de projecção social como advogados, humoristas, industriais de moda ou directores de canais televisivos é um manancial de informação que nos mostra com crueza e verdade o pano de fundo do nosso “Portugalório” (com licença do João Gonçalves que usou este termo e gostei), na política, nos serviços, na gerência do nosso dia a dia neste país de sol e alheiras e pastéis de nata, mas que, descascado, revela o que somos, o que pensamos (???), como agimos e como nos responsabilizamos perante o estrangeiro e perante nós próprios.


É indispensável, pois, assistir a um “Dia Seguinte“ ou a um “Prolongamento” para nos apercebermos e, com um pequeno esforço, encontrarmos a razão de sermos o país que somos, devendo dinheiro a toda a gente e achando que não devemos pagar, sendo novos ricos incorrigíveis, atrasados de vinte a vinte e cinco anos em relação à comunidade internacional (desde que me conheço que acho isso, desde a independência das colónias e da forma como foi feita, às ideologias que ainda hoje grassam por aqui, orgulhosamente sós, passando pela nossa reverencial chico-esperteza, malandragem, pretensamente cheios de hormonas latinas consubstanciadas em Zezés Camarinhas que após um par de suecas ganham projecção mediática e… pois, já me passava esta… sacanice.

Repito. É indispensável ver um ou todos os programas de comentários desportivos para perceber tudo isto. A forma como as coisas se desenrolam, a sem vergonha como um clube como o F.C. Porto se arroga  em moralista, depois de ter protagonizado uma das maiores sujeiras no futebol nacional e de ter tido nos seus quadros alguns dos maiores sarrafeiros e mentirosos futebolistas, é exasperante. Mais ou menos semelhante, surge agora o Sporting (o clube que, sem que eu saiba verdadeiramente porquê, refiro como sendo o meu clube) com um truculento presidente que desde os mais ridículos números de circo chegou mesmo a mandar todos os não-sportinguistas à bardamerda aos microfones nacionais, com cenas manhosas pelo meio que me dispenso de referir (vejam os programas…) a fazer tandem com o F.C. Porto, apenas porque há indícios de que o Benfica possa vir a ganhar novo título permitem-me entender como as “coisas” funcionam. Inveja, mau perder, sacanice e, sobretudo, uma grossa fatia de cretinismo. Com o Sporting, a cena é agravada, do meu pessoalíssimo ponto de vista, já que se tornou um covil de socialistas do tipo “temos de partir as fuças à direita”, como dizia o, agora, “inactivo Guterres”.

Estamos todos ali. Nos programas e comentaristas desportivos. Não esquecendo os “pivots”. Não precisamos de crianças a partir hotéis,  secretários de estado patéticos em frente ao presidente do Eurogrupo sem saber bem o que dizer, não precisamos de primeiros-ministros mentirosos, governos fraudulentos, de repartições estatais de indizível mau atendimento, de estupidez crassa pela forma como afugentamos o investimento internacional, de esganiçadas razoavelmente histéricas, de branqueamento de crimes capitais (como os de Otelo e Mortágua), de comerciantes chicos-espertos, de polícias venais, de juristas comprometidos com o regime, nem duma mente estranha que um dia alguém conseguirá saber explicar.

“Prolongamento” e “Dia Seguinte”, pois. Está lá tudo. Estamos lá todos. E, mesmo nunca esperando um dia dizer isto, o que se passa neste preciso instante no mundo da bola, a despeito de problemas momentosos como o terrorismo, a economia, as tragédias que salpicam o mundo, o futuro estranho e mais ou menos enegrecido para os nossos filhos e netos, apetece-me dizer: “Je suis Benfica”.





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