quarta-feira, março 10, 2010

Retornados, outra vez?


a velha mala de porão

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Via Tomás Vasques tropecei num blogue novo e dei de caras com um post sobre retornados. Ou melhor, o post não é bem sobre retornados, mas também. É um tal Ricardo Noronha, que deve ser jovem, já que refere ter um avô que regressou no 25 de Abril. E parece também saber imenso de História já que, a ser ele, se vai doutorando na mesma.

Mete-me sempre muita aflição de cada vez que me saem ao caminho estes paraquedistas da história distribuindo alegremente conceitos e teorias sobre “retornados”, “colonialismos” e assim. Na maior parte das vezes não merecem sequer o tempo que levaria a retorquir sobre situações específicas que os historiadores da matéria usam para os habituais florilégios sobre o colonialismo português. Deste blogue retenho, mesmo assim, a confusão de Ricardo Noronha, estabelecida á volta do facto de os retornados não poderem ser chamados de coitadinhos, que a questão hoje, só existe no grupo de leitores do Diabo (não sabia que ainda havia este jornal…) e que os retornados são hoje gente próspera e bem instalada na vida, E, ainda, que o avô “retornou” mas o irmão do avô ficou. O que prova que os retornados tiveram opções que puderam, em boa verdade, considerar.

Tudo isto é simplista e redutor, mas não me apetece ter de explicar aqui um punhado de coisas a Ricardo Noronha, provavelmente ele acabará por lá chegar, no seu doutoramento em História. Ou não, mas isso é um problema dele. Direi apenas que achar que os colonos tiveram opções entre ficar ou retornar é tão-somente uma obervação mais ou menos idiota e distorcida de quem, realmente, não percebe nada do assunto. E, ainda, de uma desprezível falta de respeito pelos milhares de portugueses que “optaram” por sair de África e que hoje estão posicionados em lugares de relevo. Mas por força do seu engenho e capacidade e nunca, ou muito poucos, por força de prebendas de jobs para os boys do nosso descontentamento, preenchidos por uma rapaziada que antes de escrever sobre colonialismos ou retornados deveria contar até dez. Ou vinte. Ou levar o resto da vida a contar, porque pode bem acontecer nunca virem a entender devidamente a matéria.

Nota: O resto do post de Ricardo Noronha vagueia entre indianos, “frôres” monhés e correlativos, cujo sentido não entendi bem, mas que me pareceu um posicionamento mais ou menos mimético em relação ao sempiterno racismo. Ah! E Angola, Moçambique e até Cabo Verde e S. Tomé estão, neste momento inundados de jovens candidatos a “neo-colonos”, desesperadamente à procura de emprego. Será que não poderiam “optar” entre emigrar e ficar em Portugal?
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