segunda-feira, junho 26, 2017

A D. Natércia



Serra do Caldeirão - 2012. A D. Natércia não aparece, devia estar em ensaios

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Por duas vezes, em poucas horas, a SicN transmitiu um compacto de largos minutos sobre um “grande incêndio” na Serra do Caldeirão.

Fui ouvindo, incomodado, pensando que ali estaria outro incêndio com consequências imprevisíveis. O compacto era razoavelmente longo e o cenário era o habitual, gente a chorar, as labaredas altaneiras cumprindo a sua destruidora missão e gente a apagar o fogo com os baldes da ordem e mangueiras de jardim. Vários populares se queixavam sobre a falta de bombeiros, desorganização, matas por limpar e dificuldades de ligação. Não se falava em mortos. Mas as reclamações sobre a desorganização e incúria continuavam e há uma D. Natércia (nome real) que gritava, e cito, “este governo é uma merda, este governo é uma merda”. Depois de largos minutos, a SicN (porque é da SicN que se trata, acabou por dizer que este incêndio era de 2012 e que, imagine-se já em 2012 havia incêndios com deficiências deste género. Não morreu ninguém mas havia uma D. Natércia aos gritos “este governo é uma merda, este governo é uma merda”.

Fiz umas contas de cabeça e percebi que em 2012, o governo era o de Passos Coelho. Porque é que a SicN passava aquela longa peça aos gritos é que não percebi. Mas cerca de duas horas depois, quando a estação repetiu a pantomina com a D. Natércia, percebi.

Fiquei sem saber se a pobre da D. Natércia recebeu algum pagamento pelo serviço e se passou recibo, mas se não recebeu devia ter recebido, já que os seus “este governo é uma merda” foram repetidos à exaustão de forma convincente e assinalável competência.

A SicN perdeu o resto da vergonha que tinha. E uma vez mais fico sem perceber esta sanha contra Passos Coelho (não se confunda o que digo com partidarite. É factual). E quanto ao Partido Socialista, bem nutrido com estes mimos da comunicação social, continua a usar técnicas comunicacionais que eu julgava de há muito expurgadas, desde a queda do muro de Berlim. Pelo visto, aqui em Portugal ainda não. Continuam de boa saúde e recomendam-se. O que é, no mínimo, confrangedor. E reflectem fielmente como é possível que em Portugal estas técnicas ainda funcionem.

Nota: Esta preciosidade de comunicação teve lugar ontem, no período da tarde. Desconheço se durante a manhã houve mais “este país é uma merda”.


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