Não sei que título hei-de dar a isto...
Começam a surgir alguns vultos por aí, que se auto-avaliam
em supra-sumos da iluminação cerebral com que cada um de nós é dotado ao nascer,
clamando pela inevitável queda da plebe cultural na politiquice baixa, usando o
rescaldo (literalmente) da tragédia que nos bateu à porta.
Não há como convencer esta gentinha de que a politiquice
baixa está precisamente em achar politiquice baixa a enumeração de alguns dos
mais elucidativos exemplos da nossa peculiar desorganização, ânsia de
protagonismo e absoluta falta de sentido de responsabilidade nas diferentes
tarefas que nos são cometidas. Um pais como o nosso só podia mesmo ter uma multitude
de organismos, organizações, comissões, institutos, presidentes disto, daquilo e daqueloutro, centros de decisão
(bombeiros profissionais é que nem por isso), numa variedade, enfim, de gente
que ganha o seu minuto de ouro em vir a uma qualquer televisão botar uma
faladura qualquer, dizendo nada, antes exibindo uma forma pueril de estar que
nos envergonha e atrofia a réstia de sentido cívico que não fazíamos mais que a
nossa obrigação em ter.
Ele é o SIRESP (que nem sei bem o que é) que não funciona, ele
é o camião frigorífico que avariou (obrigando ao aluguer de uma camião de
transporte de peixe…), ele é o avião que caiu mas que afinal era uma roulotte
com gás, ele é um secretário de estado
com uma deplorável dicção e que vai debitando umas tretas, ele é uma ministra
que fala como se estivesse a fazer um grande frete e lhe devêssemos dinheiro, ele
é o IPMA (isto sei o que é…) a explicar o que é uma trovoada seca, ele é a
jornalista que noticia já se ter encontrado a árvore que apanhou com um raio (atingida
por um relâmpago, segundo o Paulo Baldaia) ele é a GNR que nem percebe bem o
que está a acontecer e dá indicações erradas, ele é os Kamov que não voam, ele
é o atropelo geral das pobres pessoas despojadas, feridas ou mortas em sessões contínuas
duma tragédia que tem como único responsável um chamado estado social que de
social não tem porra nenhuma a não ser o desfile idiota de figurinhas inoperantes
e patéticas que vão dizendo o que podem, mal, ele é um presidente da República estranho
que vai ensaiando a sua comoção e coração destroçado por via de abraços e
beijinhos enquanto brada, poucos minutos depois do início da tragédia, que era
impossível fazer melhor, ele é, enfim, uma comunicação social espúria e venal
que se desdobra numa acção indescritível de desculpabilização de um governo não
eleito, onde não se vislumbra competência para além dos pontapés gerais na
gramática e no bom senso, sem qualquer sentido de Estado que não seja bater na Oposição
(como o inenarrável Capoulas Santos), uma comunicação social que leva já dias
seguidos de transmissão ininterrupta com tantos momentos idiotas e
estupidificantes (como a Judite de Sousa a mostrar um cadáver, acho que faltou
pouco para levantar uma pontinha do lençol), como o número de especialistas que
surgem do nada para explicar ao rebanho meio estupidificado uma série de vulgaridades,
desde o acompanhamento psicológico até às verdadeiras razões dos incêndios, onde
não podiam faltar especialistas silvícolas, como aquele estranho Miguel Sousa
Tavares que fala de eucaliptos com a mesma segurança e assertividade com que eu
falo das diferentes técnicas de hibridação de aves canoras.
Uma lástima. E um desrespeito condenável pelos mortos. Pelos
cidadãos. Pelos eleitores que ciclicamente vão depositar um voto que permite a
esta gentinha continuar a não perceber nada do assunto e a passear a sua
arrogância e insignificância, de repente transformada numa significância que
não merecem.
Passos Coelho tem passado ao largo e faz muito bem. Um
deputado do CDS por ter falado em “beijinho no doi-dói” ia sendo esfolado vivo.
Também já houve um, do milhão de especialistas e comentadores, que já
experimentou trazer à liça o facto de Passos Coelho andar muito calado. Não
teve grande êxito, provavelmente porque há outros que há bem pouco tempo se desfizeram
em dislates idiotas e hoje andam calados como ratos. Refiro-me, naturalmente, àquele
rancho pateta de gente que dá pelo nome de “esquerda” não sei das quantas a
quem Costa deu o respaldo e o quentinho de uma coisa que nunca tinham experimentado
e que lhes está a proporcionar sensações orgásticas que não esperavam – o Poder.
E aqui refiro-me, naturalmente, a essa gentinha do Bloco e do PC, um grupo de
gente anquilosada, sentada em teorias anquilosadas que nos vão tolhendo o progresso.
E pronto, apeteceu-me dizer isso. Dificilmente voltarei a
falar no assunto. Faltou dizer que corre à boca cheia que estão a ”tratar” o
número real de mortos, que parece ser bem superior à realidade. Mas admito que
seja boato da reacção.
*
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Etiquetas: Ai Portugal, incêndios
5 Comments:
Palavra por palavra. Aplauso
Sempre, comentário lucido e correcto, sempre.
Agrada-me muito saber que não estou só na analise desta pulhice humana que nos rodeia e "governa".
Aplauso por todos os comentários publicados que leio religiosamente.
Sempre, comentário lucido e correcto, sempre.
Agrada-me muito saber que não estou só na analise desta pulhice humana que nos rodeia e "governa".
Aplauso por todos os comentários publicados que leio religiosamente.
JOSÉ PIMENTEL TEIXEIRA
Um comentário num blog,pelo menos no meu, tornou-se uma coisa rara... nest época de "likes" :) Um abraço pela cortesia e acredite que não está só, não senhor.
CARLOS OLIVEIRA
Muito obrrigado pela cortesia. É bom saber que nos lêem... mas ainda quando vemos que concordam com o que dizemos. Um abraço
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