O meu pai é farmacêutico, passa a vida a fazer pírulas. E eu, só pró chatear, vou à gaveta e tiro-las
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1 - Não sou uma figura
pública. O meu pai sabia pouco de finanças, mas tinha uma razoável biblioteca.
Já a minha mãe lia nos livros do meu pai e confiava, fiel e amante, nele. Mas
não eram comunistas. Quiçá isso me terá privado dum futuro brilhante (!!!) como
o do menino de oiro.
Mesmo assim, os meus
pais fizeram, criaram e educaram quatro filhos dando a cada um deles um curso
superior, o que nos possibilitou ir para o mercado de trabalho sem termos de
recorrer a qualquer enfeite político.
2 – Não sou uma figura
pública (lá está…) por isso as pessoas não têm obrigação de saber que fui um
razoável (ia a dizer bom, mas sem a costela comunista ganhei alguma modéstia)
pescador desportivo. Para quem não saiba (é caro, é preciso mar fértil e barco
apropriado e bem aparelhado), há dois tipos de pescadores desportivos. Os que
usam “lure” (sometinhg that attracts, entices, or allures) e que consiste num
dispositivo colorido e com um jogo de espelhos que, reflectindo o sol, acaba por
funcionar como chamariz do peixe graúdo. E os que não usam lure, uma espécie de
pescadores virtuosos que acham que um marlin, um veleiro ou um veloz wahoo
devem ser apanhados sem lure.
Posto isto, tenho de admitir
que viver num país em que:
Primo: Ter sangue
comunista é um item importante no currículo de um cidadão;
Secundo: Que ter sangue
comunista ainda hoje funciona como lure e é a prova acabada que vivemos ainda
num país cheio de complexos contextos e mecanismos que promovem e agraciam
currículos baseados na ascendência comunista de cada qual. O que provoca uma
sensação de lástima pelo reconhecimento que vivemos num terceiro-mundismo com pretensões
mas, ao mesmo tempo, no seio de um número de exemplos que fazem brilhar de
orgulho e realização pessoal todos os que não precisam de lure para atrair seja
o que for e apresentam currículos limpos e reveladores do seu talento e valia. Sem precisar de patetices, pantominas e manipulações para atingir o Nirvana.
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Etiquetas: Ai Portugal, currículos por via seminal
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